Wakanda era um ótimo lugar, ótima tecnologia, ótimas pessoas, ótimo tempo, era tão ótimo que depois de dois meses Steve começou a ficar entediado. Claro que jamais deixaria de ser grato pela ajuda daquele povo em manter ele e seus amigos seguros, mas ele sentia que precisava ver o mundo.

Precisava saber se tudo estava bem e estar fora da ativa o deixava desanimado.

Estava quase torcendo para que o governo invadisse Wakanda.

— Você está fazendo aquela cara de novo. – Wanda disse enquanto se aproximava do capitão que olhava entediado pela enorme janela.

O loiro a encarou de soslaio e apoiou os cotovelos no batente da janela.

— Que cara? – Perguntou confuso voltando sua atenção para as ruas.

— A cara de que está torcendo para que alguma coisa interessante aconteça. – Ela respondeu tocando seu ombro gentilmente. – Eu entendo Steve, você é do mundo e estar trancafiado aqui está te matando aos poucos.

Steve suspirou e levantou as mãos em um sinal de rendimento enquanto se afastava da janela indo em direção a cama.

— Como vão as coisas com Bucky? – Perguntou ele na tentativa de mudar de assunto.

Wanda sentou-se ao seu lado no colchão e negou com a cabeça, visivelmente chateada. Já haviam se passado seis meses desde que eles estavam ali e ela mais do que todos, havia se comprometido na tentativa de salvar o melhor amigo de Steve, mas ela simplesmente não conseguia.

— Me desculpe, Steve. – Afirmou ela com um certo nível de melancolia. – Eu tenho todo esse poder e eu sinto dentro de mim que ele é ilimitado, entretanto eu não sei controlar ele completamente, eu simplesmente não consigo entrar na mente dele e tirar toda a lavagem que a HYDRA fez.

O capitão assentiu e segurou a mão da morena demonstrando apoio.

— Não é sua culpa. – Disse por fim. – O que houve com Bucky é somente minha culpa, eu devo dar um jeito de salvá-lo e não você.

— Eu continuarei tentando! – Garantiu ela. – De todo modo, tem falado com Sharon?

A pergunta o pegou desprevenido, não havia conseguido contato com a garota desde que haviam se beijado há seis meses. Abriu a boca para tentar proferir uma resposta, mas no mesmo instante aconteceu algo que ele jamais esperaria:

O alarme tocou desesperadamente.

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— O que houve? – Steve perguntou diante da confusão de milhares de seguranças correndo para todos os lados enquanto o alarme soava tão alto que parecia que estouraria os tímpanos do loiro.

Wanda olhou para o mesmo desconfiada e saiu correndo atrás dos amigos que estavam espalhados pelo prédio, se fosse uma invasão do governo atrás dos vingadores, ninguém estaria de fato seguro.

Steve procurou com os olhos e encontrou T’Challa rodeado de alguns seguranças que insistiam em proteger o mesmo. Fazendo contato visual com o mesmo, Rogers se direcionou rapidamente até o mesmo, desviando das pessoas que corriam em diversas direções.

— O que houve? – Perguntou sistematicamente ao pantera que se juntou a ele.

— Invadiram Wakanda. – Respondeu somente como se fosse óbvio sem demonstrar preocupação.

O loiro franziu o cenho confuso.

— Eu achei que fosse um local impossível de invadir. – Proferiu impaciente para o homem que o encarou profundamente.

— Eu também. Mas cuidaremos deles, não é necessário a preocupação.

E no instante seguinte os olhos de Steve captaram algo voando contra as janelas em sua direção e se jogou institivamente em cima de T’Challa fazendo com que ambos caíssem no exato momento em que o conteúdo explodiu os jogando longe.

O capitão se chocou contra a parede perdendo o ar por alguns segundos e procurou com a visão turva pelo amigo que se levantava devagar com alguns cortes no rosto. Steve arfou de dor enquanto se levantava.

— Eu acho que devemos nos preocupar! – Exclamou Rogers sarcástico.

— Não é o governo americano. – Disse T’challa nervoso olhando para o enorme buraco no chão. -  Mas seja lá quem for, eu o farei pagar.

E então o homem saiu correndo enquanto Steve gritava seu nome sem efeito. Alguma coisa estava errada, isso era somente uma distração, estavam atrás de outra coisa. Haviam jogado uma bomba na direção dele e de T’Challa, então não estavam atrás do rei e muito menos dos vingadores, e a única coisa que se encontrava presente e não estava nessas classificações era...

— Bucky. – Steve proferiu vagaroso.

E então começou a correr na direção do setor em que o soldado invernal se encontrava. Pulava os corpos caídos e desviou dos estilhaços dos vidros, esperava chegar a tempo. Seria a Hydra?

Sentiu seu corpo diminuir um pouco a velocidade pela falta de exercício nos últimos meses, e impulsionou-o um pouco mais sentindo os músculos de suas pernas latejar. Não acreditava que em alguns minutos havia desejado que exatamente isso acontecesse, ao ver todas essas pessoas assassinadas de modo brutal lhe doía a alma.

Era sua culpa, se não estivesse lá, nada disso teria acontecido com aqueles cidadãos.

E então finalmente parou ao ver a porta de ferro do laboratório onde Bucky se encontrava, havia alguns médicos caídos enquanto deles formavam poças de sangue. Rogers engoliu a seco enquanto passava lentamente por eles. A porta de ferro estava entreaberta, como um convite irônico para que alguém se atrevesse a entrar após ter visto a comissão de frente.

Sentiu falta de seu escudo por um momento, mas sabia que já não podia mais contar com ele. Então em passos calculados e compassados, entrou com seus sentidos em alerta. A porta rangeu ao ser aberta e o mesmo não fez questão de fechá-la após passar.

Todos os médicos estavam caídos no chão, embora ele não pudesse identificar se estavam mortos ou não. Havia alguns seguranças no mesmo estado, como se tivessem ouvido a gritaria e ido verificar.

Steve chocou-se ao esperar ver no mínimo cinco inimigos pela quantidade de estrago, mas seus olhos só conseguiram captar uma mulher de costas com os cabelos castanhos soltos e com uma roupa completamente casual, como se fosse uma turista.

Ela encarava a câmara criogenizada na qual Bucky se encontrava hibernando sem ter a mínima noção do que acontecia a sua volta.

— Você acha que ele está em paz?

Steve surpreendeu-se ao ouvir a voz da mulher, era suave e pelo tom dava-se para notar que era uma pessoa muito jovem. Talvez da idade de Wanda, o que a fazia em sua concepção uma quase criança.

O capitão encarou o melhor amigo que possuía uma expressão tranquila.

— Não. – Respondeu sinceramente. – Acredito que onde ele esteja seus demônios o perseguem.

— Faz sentido. – Ela afirmou somente.

Steve ouviu passos atrás de si e viu Sam e Wanda chegando apressados atrás de si, e com a mão fez um sinal de espere que os deixaram confusos.

— Você matou essas pessoas? – Perguntou Steve ainda encarando as costas da garota.

— Se eu dissesse que não você acreditaria? – Ela questionou sarcástica.

Steve ponderou por um segundo a idiotice de sua pergunta e quase riu de si mesmo.

— Não se preocupe... – Ela virou-se para Steve. O capitão congelou no lugar ao encará-la. Seus olhos azuis eram tão frios e sombrios que não havia dúvidas da capacidade assassina daquela pessoa, entretanto, eram acompanhados com uma tristeza quase empática. Era de fato tão jovem, mas com olhos tão duros que não deveriam estar presentes em uma criança. — Eles estão em paz, estão em lugar em que os seus demônios não podem os alcançar.