Eu não estava aguentando mais todo mundo daquele lugar mirando aviões de papéis em mim, e eu não podia fazer nada, já que da última vez que eu surtei o Alphabet Boy teve que pagar pelo meu surto e por alguns objetos quebrados. Por falar nele, já estava ali na porta, e infelizmente, todo mundo percebeu e logo começaram a jogar mais aviões da papéis, o melhor para se fazer era ignorar, entrei no carro dele e fiquei em silêncio até finalmente criar coragem para perguntar:

                - Por que eu tenho que vir pra escola?

— Porque, agora, você é minha namorada e... Eu não já te expliquei? - Sim, ele já havia explicado mais de dez vezes, como eu era agora sua namorada, eu teria que ter notas altas no meu boletim e um diploma, como o dele. E podemos admitir que eu não tinha nada disso - Como vão suas notas, querida?

— Você já sabe a resposta - Falei rápido e direta, não precisava falar pela quinta vez que todas minhas notas eram muito abaixo da média, de vez em quando eu conseguia uma nota passável em alguma matéria, mas isso era raramente - Nós não podíamos ser só eu e você, apenas você com diploma e eu sendo totalmente sua? - Falei passando minha mão pelo seu rosto.

— Cry Baby, eu adoro essa proposta, de verdade, mas eu realmente quero que você tenha um diploma, é importante pra sua vida.

— Quem se importa com a vida? - Falei com raiva e me deitei duma vez no banco.

— Posso ajudar você com a matéria, de pouco em pouco, você consegue melhorar suas notas. Como blocos de construção, de pouco a pouco, surge um prédio.

— E algo aparece para destruí-lo, como uma bomba - Me aproximei dele e fiz "Puft" com a mão imitando uma bomba.

Ficamos calados o resto do caminho até finalmente chegarmos em casa, e ele já foi pedindo pra eu fazer o almoço, e eu ia respondendo até ele chegar perto de mim e sussurrar no meu ouvido:

— Você me ama, não é, Cry Baby?

— Amo...

— Então, linda - Ele disse me dando um selinho - Faça o almoço, eu já volto.

Obedeci a ele e logo fui preparar uma coisa rápida e depois coloquei na mesa, e então ele voltou, sorri e me sentei, começando logo a comer. Devo dizer que minhas habilidades em cozinhas são igual a merda, eu quase vomitei com a primeira colherada na boca, e o Alphabet Boy já estava indo comer a segunda, então eu perguntei pra ele se estava bom:

— Está horrível, obviamente - Ele disse, depois largou a colher e jogou toda a comida que eu fiz no lixo - Cry Baby, você é igual a merda - Espera, eu ouvi isso direito? O garoto que estava me elogiando agora estava me igualando a merda?

— Alphabet Boy...

— Vou pedir alguma coisa, muito melhor que qualquer coisa que você fizer - Então sumiu pela porta.

Isso é sério? Era isso que era amor? Como pôde ver, eu não tive uma experiência muito boa com esse sentimento, então, logo peguei qualquer livro e comecei a tentar ler. Tinham palavras difíceis, e eu, que quase nunca fui pra escola, dificilmente conseguia identificar algumas, mas eu não me sentia burra, eu não queria me igualar ao senhor. alfabeto. Ele chegou algum tempo depois e logo me abraçou e me deu um beijo na bochecha, virei pra ele e agarrei-o, puxando-o para um beijo longo. Depois nos soltamos e eu pensei porque diachos eu fiz aquilo, então, depois de comermos enfim algo decente, como ele disse, ele me levou para a sala e pediu pra eu sentar, depois deixou um livro grande em cima da mesa:

— Isso, minha querida, é um dicionário - Ele falou como se eu entendesse o que era esse tal de dicionário, parece uma magia negra esse nome - Eu vou sair agora, até hoje a noite, eu quero ver você sabendo tudo o que está aqui, pode engolir esse livro, vai lhe ajudar a conseguir seu diploma - E saiu de novo pela porta.

Eu tentei começar a ler qualquer coisa que ali estava escrito, mas como sempre, eu não entendi nada. Fiquei pulando várias páginas e depois o fechei com força e fui para a cozinha pegar um doce, e voltei pra sala comendo aquele candy candle. Abri novamente em qualquer página do dicionário e lembrei do que ele disse "Vai conseguir seu diploma; Quero suas notas melhores; eu só iria namorar alguém que passe em uma faculdade e tenha um ótimo diploma; eu sou inteligente, e tenho um diploma, você tem que ter o seu também; pode engolir o livro". Peguei uma página daquele troço na minha frente e rasguei com força e enfiei na minha boca, puxando uma parte com o dente e outra com a mão, deixando os papéis rasgados todos espalhados pelo chão, fiz isso com várias páginas, até eu me enjoar do gosto e ir andar pela casa.

Parei em frente a uma gaveta, que era onde ele guardava seu diploma, minha vontade de queimar aquilo era tremenda, resolvi testar o que acontecia se eu queimasse o papel. Fui para a cozinha de novo e peguei um isqueiro, guardei no bolso e depois peguei outra candy candle "melhor doce" pensei. Ele chegou de repente e me viu no meio da sala com todo o dicionário destruído:

— Cry Baby... Você é tão burra que entendeu o engolir  o livro ao pé da letra - Falou com uma raiva surgindo em seu rosto.

— Letra não tem pé, idiota - Falei a primeira coisa que veio pela cabeça, então, começou...

— Cry Baby! Eu já tentei fazer de todo o jeito você conseguir o seu diploma, mas quer saber? Você é apenas uma bebê chorona, sempre vai ser - Falou e roubou da minha boca o doce, as lágrimas já iam escorrendo, mas é obvio que eu não ia deixar ele vê-las - Sabe o que é isso, certo? - Ele disse depois de pegar o seu diploma e ficar balançando na minha frente - Você nunca vai ter.

Cuspi naquele papel enrolado na minha frente e em seguida peguei o isqueiro e coloquei fogo naquilo, era uma cena bonita ver o Alphabet Boy mexendo ele tentando apagar o fogo:

— Quanto mais você se mexer, mais o fogo vai se espalhar - Falei e agradeci por ter prestado atenção na aula quando a professora estava explicando sobre fogo.

Ele ficou tentando apagar até desistir e jogar o seu diploma no chão e apagar com o pé mesmo, então, foi nessa parte que eu explodi:

— Sabe a escola, Alphabet Boy? Não me espere voltar pra lá nunca mais, eu sei todos os meus ABC's, eu não preciso aprender nada mais do que eu já sei! E você não manda em mim, queridinho! Você não é meu pai, e eu não sou sua boneca, e seu lindo dicionário - Falei apontando pra todos os papéis no chão - Está destruído! Você pode até roubar meu doce - Falei pegando a candy candle de volta - Mas você nunca vai me ver chorar, tá bom? Outra coisa! Se você conseguir outro diploma e exibir pra mim de novo, não fique surpreso se você aparecer MORTO! - Eu comecei a rir do nada, e fiquei rindo muito - Você é apenas o principezinho do PlayGround, Alphabet Boy!

— Cry Baby...

— Nem adianta vir com maçãs como pedido de desculpas! Eu sei todos os meus ABC's! Não preciso que fique me ensinando tá bom?

— ...

— Foda-se todos os seus brinquedinhos de alfabeto!