Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 11
Canoa, Caiporas, O guardião do lago e o Maravilhoso Castelobruxo


Notas iniciais do capítulo

Eles perderam a Balsa Boto Maroto! Caiporas voadoras! Opa! Se caiporas voassem, seria bem perigoso para os alunos... Enfim, deixemos de devaneios. Agora que perderam a balsa, eles precisam encontrar um meio de chegar a Castelobruxo e parece que existe uma chance de fato. Mas eles precisam correr, se não perderão a cerimônia de seleção das tribos e se perderam, perderão o ano letivo. Caiporas Voadoras Gigantes!



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A Balsa Boto Maroto havia zarpado do cais e eles haviam a perdido. A única condução que vai até Castelobruxo.

— Caramba! O que faremos? – disse Nicko assustado com a situação.

— Por todos os Caiporas Nickolai. Eu te falei para não sair correndo em direção ao local de suas visões. Pode ser perigoso seu bruxinho abobalhado.

— Mas eu tinha visto uma onça pular sobre uma garota.

— O que disse? – perguntou a jovem garota de roupas de lã bem coloridas e de tranças loiras.

— Disse que havia visto uma onça pular sobre uma garota.

— Então você é um bruxo Clarividente? Que rico.

Ela segurava um gato maracajá no colo, que parecia uma pequena onça.

— É, mas um bem ruim – disse Nicko – Eu vi uma onça na visão, não um gato.

— Você viu certo. Amarillo é um animorfo. Sua verdadeira forma é de um Jaguar. Talvez tenha visto o momento em que ele se transformou após aparatarmos aqui. Foi à segunda vez que ele aparatou e se assustou com isso, daí ele perde o controle sobre a transformação. Ele ainda é bem novo.

— E foi por isso que a Muqui subiu naquela árvore. Onças são predadores naturais dos macacos barrigudos, ela ficou com medo e subiu.

— Onça ou Jaguar? – perguntou Nicko, ganhando de sua mãe a leve tapa na nuca toda vez que fazia ou falava besteira.

— Animorfo? – Pensou Tião em voz Alta.

— Sim. É um animal que pode se transformar em outro animal ou tomar outra forma. Mas, isso não vem ao caso meu querido. - disse senhora Amapola seriamente preocupada – Por causa do Nicko vocês perderam a balsa. Mas Sebastião, porque veio atrás de nós? Já estava na balsa, deveria ter ido.

— Não podia ir sem o Nicko. Graças a vocês eu cheguei até aqui.

— Que bela consideração meu querido. Mas agora vocês perderam a única forma de chegar ao Castelobruxo.

— Espere, acho que existe outra forma – disse o índio que acompanhava as garotas – Desculpe o transtorno. Me chamo Guaraci e essa aqui é Allpa - disse ele apontando a garota que segurava o gato animorfo - filha de uma grande amigo meu. E essa rabugenta aqui é minha filha Ceci, uma bela de uma cabeça de madeira oca.

— Já disse que só vou com a Muqui.

— Espere então.

Disse seu pai um tanto quanto irritado. Olhou para os lados, verificou que não havia nenhum trouxa próximo. Pegou um bastão, ornado com penas e sementes e entalhado com figuras de animais e árvores. Ergueu em direção à macaca que estava no alto de uma árvore e disse.

— Invocusfamiliares Muqui.

E magicamente, a macaca desapareceu da árvore e apareceu como numa aparatação nos braços da garota, agarrando-a bem forte e se escondendo de Amarillo, o animorfo Gato-Jaguar.

— Uau! – disse Nicko de olhos arregalados e admirado sobre o feitiço – esse eu não conhecia.

— E porque não fez isso antes? – disse Ceci irritada.

— Porque havia pessoas aqui e poderiam não ser Bruxos. Sabe bem da lei que proíbe magia na presença dos Babaquaras.

— Essa eu também não conheço – disse Nicko meio risonho, levando outra pequena tapa de leve em sua nuca de sua mãe.

— É como chamamos os não bruxos entre os Xamãs, no caso, bruxos indígenas.

— Mas me diga – disse senhora Amapola – qual ideia tem para leva-los até Castelobruxo? Afinal, a magia do lugar não permite aparatações e as caiporas não deixam ninguém se aproximar do lugar.

— A única forma de chegar até lá é de barco, como o Boto Maroto – respondeu ele.

— Mas o caminho que liga o rio ao lago do Castelobruxo só se abre para a passagem da balsa, além do feitiço que confunde e faz todos que entram no perímetro do castelo se esquecerem e se perderem.

— Sim, eu sei. Se formos rápidos, poderemos chegar praticamente junto e entrar junto com ela pelo caminho, pois quando a balsa entra no perímetro, naquele percurso o encantamento é suspenso por um pequeno período de tempo.

— Não acha que o guardião do lago poderá estranhar?

— Temos que correr o risco se não as crianças não entrarão em Castelobruxo esse ano e talvez não recebam a carta convite ano que vem.

Conversavam Guaraci e senhora Amapola, decidindo como fazer para levar as crianças a tempo para a cerimonia da Andurá. Enquanto isso os meninos também conversavam.

— Droga Tião. Eu tenho que parar de sair correndo toda vez que tenho uma visão, da próxima vez, se estiver perto. Me petrifique.

— Mas você tentou salvar alguém. Isso foi muito heroico.

— Sim. Muito heroico e rico “tico” – disse a menina do gato animorfo se aproximando - Gracias por tentar me ajudar. Chamo-me Allpa, como tio Guaraci já falou.

— É. Eu sei – disse Nicko encabulado.

— Prazer. Eu sou Tião e esse descabelado aqui é o Nicko.

— Ow! Cuidado ai com a intimidade rapaz – disse ele serio e depois sorriu.

— Pois é! Agora não conseguiremos entrar para Castelobruxo – disse a jovem índia Ceci meio irritada.

— Me desculpe Ceci, eu disse antes de aparatarmos que Amarillo tem medo de aparatações.

— Eu sei. Disse para ele se acalmar, mas acho que seu gato-jaguar não me entende ou finge que não entende. Nesse caso, pedisse a meu Xiru para usar um feitiço do sono nele antes.

— Eu nem pensei nisso. Desculpe – disse a pobre garota bem triste com as sobrancelhas contraídas numa feição de culpa – estava muito empolgada por começar a estudar magia, que acabei esquecendo desse detalhe.

— Tudo bem Allpa, sei que não fez por mal. Mas já esse gatinho aí. Ai ai.

— Amarillo é do bem. Ele é um bom familiar não é meu querido?

E o gato maracajá fechou os olhos com o carinho da garota e pareceu sorrir com a língua levemente para fora. Os bruxos adultos retornaram para próximo dos garotos com decisões tomadas.

— Bem garotos, achamos que temos uma chance. O Xamã Guaraci tem uma canoa e com ela pode-se chegar até Castelobruxo se sairmos imediatamente e ele nos ofereceu ajuda para irmos com eles.

— É mínimo que posso fazer, já que a pequena confusão com a macaca amiga da minha Filha causou esse transtorno todo.

— Na verdade foi o gato da Allpa – disse Ceci um tanto quanto mal humorada.

— Mas uma canoa conseguira ser rápida o bastante para alcançar uma balsa daquelas?

— Com o feitiço certo sim. Então vamos logo, minha canoa está na minha tribo rio acima e se aparatarmos agora, poderemos chegar lá a tempo.

— Sim. Vamos, mas meninos. Onde estão as malas de vocês.

— Caramba! Eu esqueci na balsa – disse Tião aparentemente surpreso ao lembrar-se desse detalhe.

— Tudo bem Sebastião. Se elas estão no Boto Maroto, eles guardarão elas, não se preocupe. Agora vamos.

E todos saíram apressados em direção à estrada que dá acesso ao porto, logo eles observaram se vinha alguém e entraram floresta adentro. Em certo ponto, eles se distanciaram o suficiente e o Xamã Guaraci disse:

— Aqui está bom. Senhora Amapola, certo? Talvez eu não consiga apartar todos de uma só vez. Então, Aparate comigo até a Aldeia e depois retornamos e aparatamos as crianças, ok?

— Está certo.

E ela segurou o braço do senhor Guaraci, que pegou a mala das garotas para evitar volume na próxima aparatação. Eles olharam bem em volta na mata e pareciam fixar na memoria pontos específicos da mata. Após isso eles aparataram, ficando apenas as quatro crianças em meio à floresta.

— Será que isso vai dar certo? – Perguntou Tião para Ceci.

— Meu Xiru é um Xamã muito talentoso. Ele é pajé de nossa tribo. Eu tenho certeza de que ele irá conseguir nos levar a Castelobruxo.

— Desculpe, mas o que é Xuri?

— Xiru é o que ele é meu ué!

— Significa pai em tupi-guarani – disse Allpa.

— A sim – respondeu Nicko meio encabulado.

Nesse momento senhora Amapola e Pajé Guaraci retornaram aparatando próximo a eles novamente.

— Bem, venham meninas. Segurem meus braços.

— E vocês também garotos – disse senhora Amapola – Segurem em um braço cada um.

E assim todos os quatro garotos fizeram. As meninas seguraram firmemente seus familiares contra o peito para evitar que eles se soltassem, assim como a calda deles, para que essa não estuporasse. Então, Allpa disse:

— Tio Guaraci, pode usar um feitiço do sono em Amarillo para que ele não fique nervoso novamente?

— Tudo bem – disse ele – Sonolentia!

E o pequeno gato caiu no sono profundo. E eles então aparataram. Ao chegar, Tião vomitou. O que ele não tinha feito quando viajou com seu tio de chave de portal. Mas é compreensível, pois diz que uma boa aparatação sempre faz vomitar quem a faz pela primeira vez. Eles chegaram à beira do rio, onde longas canoas de madeira estavam atracadas. Andando apressados em direção a uma específica, já com a mala das jovens meninas, o senhor Guaraci desamarrava uma corda de uma árvore que prendia a canoa.

— Vamos, entrem todos, Agora.

Todos entraram. Assim que todos sentaram. Ele empurrou a canoa da margem, pegou um remo e começou a remar para o meio do rio.

— Será que vamos chegar a tempo assim? – sussurrou Nicko para Tião, audível por todos, principalmente por sua mãe que apenas mostrou-lhe a mão, pois estava a certa distância dele e não poderia dar-lhe a leve tapa na nuca que sempre dava de forma de repreensão.

— Se acalme jovem bruxo. Preciso apenas estar longe da margem o suficiente. Senhora Amapola, poderia fazer uma azaração de camuflagem no barco se possível?

— Sim. Claro. Camuflagem é um forte de nós bruxos ciganos.

Disse ela pegando sua varinha sacundi-a e dizendo algumas palavras e então finalmente disse:

— Barco Ofuscado.

Então senhor Guaraci ergueu e pôs seu bastão mágico na água e disse:

— Aquamotus.

E um turbilhão de água saiu da ponta do bastão mágico de senhor Guaraci, como um motor de barco, mas bem mais potente e rápido. Fazendo a canoa se movimentar bem veloz pelo rio. Após todos finalmente se acalmarem, Guaraci quebrou o pequeno silêncio de nervosismo de todos.

— Ceci, porque não falou para o gato animorfo para ficar calmo?

— Eu disse da outra vez, mas parece que ele é medroso ou não me entende.

— Porque pediu para ela dizer ao gato e não a própria dona dele? – perguntou Tião meio intrigado com aquela colocação, já que tudo no mundo dos bruxos continha magia na explicação.

— Porque Ceci é Zooliglóta. Ela consegue falar com alguns tipos de animais.

— Caramba. Mesmo? – impressionou-se Nicko com aquela revelação – Zooliglótas são muito, mas muito raros. Você tem sorte.

— Eu sei – disse a garota um tanto quanto orgulhosa e pouco humilde.

— E Você Allpa. Já deveria ter aprendido a se comunicar com seu felino familiar, afinal é uma habilidade bruxa de sua família – disse senhor Guaraci para a garota de duas tranças douradas.

— Eu sei, mas eu não sei se tenho esse dom tio Guaraci. Eu o entendo às vezes e às vezes até consigo sentir ele de alguma forma, ou simplesmente é só ele sendo preguiçoso, mas ainda nada que seja significativo.

— Uau! Você é uma Animoelíata?

— Felinolíata pra ser mais exato, mas ainda não sei se sou de fato – disse a garota risonha e constrangida, que corava as bochechas quando ria.

— Nossa! Temos alunos do primeiro ano de Castelobruxo um tanto quanto exemplares nessa canoa – Disse Senhora Amapola.

— Até o Tião. Eu nem te contei mãe, mas a varinha dele...

E Tião apertou bem forte o braço de Nicko que gritou alto dizendo.

— Ai! O que?

Tião apenas arregalou os olhos o mais disfarçadamente que pode tentando dizer para ele não falar nada da sua varinha sem núcleo.

— O que foi Nickolai? – Perguntou sua mãe surpresa com o grito, seguido do olhar de todos no barco.

— Nada. Acho que tive outra visão.

— O que falava sobre a varinha do Sebastião?

— Que ela é bem estranha, isso faz dele diferente também, não faz? – e sorriu o menino com a desculpa que inventara na hora.

Parecia que Nicko havia entendido o recado passado com o olhar por Tião. Ele até queria dizer que de alguma forma, que ele nem entedia direito, ele também era um bruxo especial, um avarador. Mas ele havia decidido junto a seu tio avô que seria melhor não dizer isso a mais ninguém. Nicko então se aproximou bem perto e disse bem baixinho perto de seu ouvido.

— Depois você me explicar porque disso rapaz.

E pelo jeito, Tião teria que se explicar para Nicko sobre o acontecido, mas depois ele pensaria no que diria.

A viagem foi longa, afinal, a balsa chegaria por volta das dezoito horas no porto de Castelo bruxo, para a cerimônia de iniciação dos alunos do primeiro ano. Durante ela, senhora Amapola e Guaraci conversaram alguns assuntos sobre Xamãs, os bruxos índios e os bruxos ciganos. Enquanto os garotos falavam se conseguiriam ou não chegar a tempo e sobre em que tribo achavam ou queriam entrar.

— Se conseguirmos chegar a tempo, eu tenho quase certeza que vou entrar para Iara – disse Nicko para Allpa, que segurava ainda desacordado seu gato Amarillo.

— Eu tenho certeza que irei para Inhagá. Toda minha família entrou pra Inhagá, ninguém nunca foi para outra tribo. Isso se chegarmos a tempo - disse a garota do gato.

— E você Tião? Já tem ideia para onde vai? - perguntou Nicko.

— Segundo meu tio todos da família matoso vão para Curupira. Mas houve alguns que foram para Inhagá e aquela outra sem ser a Iara.

— Uiratatá – disse Ceci, que até então não estava conversando praticamente nada com eles.

— Isso, essa mesma.

— Tião, precisa aprender melhor as coisas se não quiser ser chamado de “entrouxa” – disse Nicko.

— Entrouxa? O que seria isso? – perguntou o menino.

— É o nome que eles dão aos trouxas que entram para Castelobruxo e não entendem nada. São sempre os piores da turma, segundo meu irmão Tayrone.

— Não de ouvidos a esse tapado Sebastião. Muitos bruxos famosos e talentosos nasceram trouxas.

— Minha mãe era Babaquara, ou trouxa, como vocês dizem – falou Allpa – conheceu meu pai em Castelobruxo, se apaixonaram e se casaram. E tiveram a mim e minha irmãzinha. Ela é uma excelente Herbologista.

— Viu? Essa história de nascer trouxa não te torna pior que ninguém meu querido. Não deixe ninguém te diminuir por isso.

— Tudo bem – disse Tião, afinal, ele nem havia se preocupado com isso e tão pouco pensado que ser filho de uma não-bruxa seria algum problema pra ele na Escola.

— Então você é uma Felinoelíata? Consegue enxergar pelos olhos desse seu gato animorfo? - Perguntou Nicko Curioso.

— Ainda não. Mas meus pais e tios conseguem.

— Uau. Sempre quis poder me aliar a um animal para poder ver lugares que eu não posso entrar – riu ele e acho que todos perceberam que ele falava de algum lugar um tanto quanto indiscreta.

— E você fala com animais, certo? – perguntou Tião a Ceci, que não participava da conversa, sentada quieta segurando sua familiar Muqui.

— Não todos, apenas alguns. Ainda não consigo falar com alguns tipos.

— Dizem que é um dom muito raro, bem mais até que o de ofidioglossia e canaroglossia.

— Pois é, consigo falar com alguns mamíferos. Mas quanto menos inteligente ou pacifico ele é, mais difícil.

— Ou seja, os ferozes mesmo você não consegue – disse Nicko meio desdenhoso desde que percebeu que a garota tem um ar superior.

— Seria o mesmo que falar com alguém enfurecido e fora de sí, impossível.

— Faz sentido – disse Nicko meio que tirando por menos.

— E você é um bruxo Clarividente – disse Allpa para Nicko – é um dom especial também.

— Quando funciona sim. Minha mãe consegue ver certas coisas quando quer, né mãe?

— Sim, eu acho – disse senhora Amapola ao ser solicitada, mas sem prestar atenção na conversa dos meninos, uma vez que conversava com senhor Guaraci nos fundos da canoa, enquanto os garotos conversavam na ponta da mesma, que era bem longa.

— Viu? Agora eu, eu tive a minha primeira ontem e foi com a mala do Tião, né Tião? Por isso eu adotei ele como meu mascote da sorte.

— E quem disse que você me adotou? Eu te adotei como minha mascote vidente – disse Tião retrucando a fala de Nicko e todos sorriram menos Ceci.

— Você não é muito de falar né?

Perguntou Nicko para Ceci que apenas o olhou com um olhar desdenhoso e sorriu sarcasticamente. E para desconversar, Tião perguntou.

— De onde você é Allpa? É esse seu nome né?

— Sim. Chamo-me Allpa Castillo Huamán Moralez. Eu sou do Peru. Vivo numa tribo escondida no alto das montanhas, em meio a Floresta Amazônica, o povo das nuvens.

— Legal. Já ouvi falar de vocês – disse Nicko à garota – Vocês são uma tribo de pele clara e cabelo dourado, bem que havia notado que você não parecia nativa da América Latina de fato, por ser loira sabe?

Ele falava isso devido às roupas, muito similares às típicas dos povos nativos dos Andes.

— E vocês?

— Eu sou um bruxo Cigano, vivemos um pouco aqui, um pouquinho lá. Não temos lugar certo. Mas minha família veio da Europa, há muito tempo e dai foi casando com gente de tudo que é canto e hoje tenho minha abuelita que é Argentina, minha tia Carmenzita da Venezuela, Meu tio Estefan da Bolivia, Meu primo de segundo grau...

— Já deu pra entender – disse Tião tocando de leve seu ombro e sorriu.

— E você? – perguntou Allpa a Tião.

— Eu sou de uma cidadezinha do interior que fica na divisa de três estados, no Brasil mesmo. Morava com minha avó e nem sabia que era bruxo – riu ele – soube de tudo com a chegada da carta convite de Castelobruxo.

— Mas disse que sua família tinha ido para algumas tribos. Você foi adotado recentemente?

— Caramba! Eu perguntei a mesma coisa – disse Nicko empolgado – viu Tião? Eu não fui o único.

— Não – riu Tião – eu sou neto de bruxo, mas meu avô morreu antes de eu nascer – e pensou melhor não contar toda a história – enfim, história longa. Mas minha avó não queria que eu fosse bruxo, por isso não contou, mas depois ela queria e daí me deu a carta e eu estou aqui.

— Legal – disse Allpa sorridente.

Eles continuaram a conversa por muitas horas, que foi todo o percurso que percorreram. Passavam por barcos no caminho, mas esses pareciam não vê-los, apenas o rastro que o barco deixava. Isso eles não conseguiam esconder, por isso Senhor Guaraci reduzia a velocidade até se distanciar o suficiente, o que atrasaram eles um pouco.

Após uma tarde inteira de viagem rio acima em direção a Castelo bruxo, finalmente a tarde aproximava-se do fim e o sol começava a se por atrás da Floresta alta. Eles saíram do rio amazonas e entraram em um de seus afluentes, depois em outro, e outro, e finalmente o rio havia se reduzido a um rio ainda largo, mas bem menor que o rio Amazonas. Em meio às árvores, nas margens do rio, vários bichos se moviam por sobre elas e abaixo, em meio à floresta. Parecia que eles os perceberam mesmo com o feitiço de Ofuscamento. Quando eles sentiram passar por algo, uma barreira invisível e o feitiço de Ofuscamento desapareceu, assim como o de mover o barco sessou, mas Guaraci reconjurou o feitiço e esse voltou a funcionar.

Gritos em meio a Floresta começaram a aumentar, junto a assovios e grunhidos que parecia de porcos.

— Passamos a barreira de proteção – disse o Senhor Guaraci – devemos estar perto da entrada da balsa.

E logo à frente eles viram um pequeno rio que entrava mata adentro em meio a um túnel de Floresta alta e densa.

— Veja, a entrada – disse Senhora Amapola animada – Eles devem ter passado há poucos instantes.

— Isso é um mau sinal – disse Guaraci – porque temos pouco tempo.

Então ele disse meio nervoso entrando no túnel de árvores.

— Aquamotus Maxímum.

E a canoa começou a ir ainda mais rápido, arrancando e fazendo todos serem levemente impulsionados para trás. Os seres que faziam barulho na Floresta agora estavam bem próximos e corriam e saltavam pelas árvores próximas a eles ou sobre eles. Logo começaram a ser lançado sobre eles, fruta, sementes, caroços e quanto mais iam, maiores e mais perigosos ficavam os objetos lançados, acompanhados de gritos, urros, assobios e grunhidos.

— São os Caiporas. Eles estão achando que somos intrusos.

— Nós somos intrusos – disse Ceci – só o barco do Boto Maroto pode entrar aqui e eles sabem.

— Não se preocupem. Caiporas tem medo de água, por causa das Mães D’água – disse Guaraci que ia o mais rápido que podia, enquanto os meninos cobriam as cabeças e o rosto com os braços, das frutas e pedras lançadas. Senhora Amapola fez um feitiço de proteção sobre eles, mas esse ficava falhando devido à magia do lugar que estava retornando aos poucos

— Ainda bem que eles não sabem nadar, se soubessem, acho que não serviriam salada de frutas voadoras pra gente – disse Nicko sorrindo de sua piada e um cajá maduro o atingiu bem na cabeça, espatifando e o sujando.

— Você mereceu – disse sua mãe.

Mas o pior ainda estava por vir. De repente, o corredor de árvores começou a fechar atrás deles magicamente, criando uma pequena onda. Ela até os ajudou a impulsionar para frente, mas logo, as árvores se fechando e sumindo com o riacho que entrava entre floresta começou a se aproximar rápido de mais da canoa, aproximando-os ainda mais da floresta, sendo possível começar a ver os caiporas nas árvores ou montados em porcos de pernas compridas e finas e crinas desgrenhadas, com olhos vermelhos, correndo em meio à floresta. Após alguns minutos de sufoco, finalmente eles conseguiram terminar o corredor e saíram em um imenso lago. O caminho que os trouxera até ali, desapareceu e eles puderam ver o Castelobruxo margeando o lago.

Era lindo e imenso. Ele era dourado e reluzia fortemente sob a luz do por do sol. Havia uma edificação principal que parecia uma pirâmide que se erguia no centro, onde a cada andar ela diminuía gradativamente e duas pareavam ao lado, uma de cada lado da central. A maior tinha aproximadamente uns dez andares de altura e as pirâmides menores, aproximadamente quatro, isso acima de toda uma longa construção, coberta por floresta. Essas edificações mais baixas, aparentemente de dois ou três andares, se estendiam por quase toda a margem oeste. Sobe as pirâmides, samambaias e outras plantas cresciam, mas as que se destacavam eram as samambaias douradas, mais abundantes. Era um lugar fascinante e todos os quatro garotos estavam fascinados.

A balsa do Boto Maroto estava atracada a beira do pequeno cais que ficava próximo da grande pirâmide. Aparentemente todos os alunos já haviam desembarcado e eles estavam agora bem ao meio do lago, mais um pouco chegariam ao porto de desembarque. Os caiporas ficaram fazendo algazarra nos limites do lago, tacando pedras e frutas em direção a eles, mas fora de alcance.

— Já não vão nos alcançar Caiporas, agora podem parar – disse Nicko todo alegre.

— Eles não querem nos acertar – disse senhor Guaraci atento, enquanto senhora Amapola segurava sua varinha em riste – eles querem acordar o guardião do lago.

— E quem seria? – perguntou Tião curioso.

— Ele – disse Ceci arregalando os olhos e apontando para trás.

Debaixo d’água, uma luz forte começava a emergir, logo os caiporas todos cessaram a algazarra e aparentemente se distanciaram do lago. A luz que vinha de próximo a borda e começou a subir cada vez mais próximo da superfície. Essa começava a tomar a forma de uma coisa esguia e comprida, brilhante como a luz da lua, em um tom dourado e bem luminescente.

— O que é aquilo? – perguntou Allpa segurando forte seu gato Amarillo, o que o fez acordar finalmente.

— É Boiúna, o guardião do lago de Castelobruxo.

E uma serpente completamente iluminada em uma luz amarela dourada e imensa, tão grande quanto um basilísco, subiu a lamina d’água e começou a se aproximar ferozmente da canoa. O que fez todos os garotos gritarem de pânico. Senhora Amapola, mirou sua varinha em direção e começou a conjurar feitiços, tentando afastar a criatura que se aproximava, atingindo ela em uma das tentativas, a fazendo incandescer ainda mais e afundar novamente. Enquanto isso senhor Guaraci tirou o seu bastão da água, já bem próximos da margem e gritou.

— Se preparem para saltar – usou uma combinação de feitiço para lançar as malas das garotas para a margem.

— Wingardium Leviosa Alarte Ascendare.

As malas voaram pelo ar e caíram no porto de pedra branca comum, próximo onde o boto maroto estava atracado.

— Agora venham, segurem-se em mim – disse para as meninas – e senhora, use Mobili Corpus também.

— Venham garotos, segurem-se em mim rápido – disse Senhora Amapola.

E assim eles fizeram, na hora exata, pois ao lançarem o feitiço Mobili Corpus, eles saltaram da canoa na exata hora que a Cobra Boiúna emergia debaixo da mesma, quebrando-a no meio com uma bocada e fazendo voar para todos os lados pedaços de madeira. Antes de cair, Senhor Guaraci usou Aresto momentum para evitar que eles caíssem com muita força no chão, aliviando sua queda. A confusão havia sido tão grande, que alunos e professores começaram a sair do salão da Andrurá e descer as escadarias até o porto.

Boiúna ainda estava indo para o porto após destruir a canoa completamente, quando uma luz azul prateada cortou a noite que começara a cair, atingindo boiúna.

— Tranquilum bestia!

O que fez a cobra feroz se acalmar, reduzir o seu brilho e submergir novamente ao fundo do lago.

— O que Anhanguera está acontecendo nesse Colégio?

Disse a voz da pequena mulher de cabelos brancos e aparentemente bem idosa, mas muito ativa que lançara o feitiço, descendo as escadas intensamente, com todos alunos abrindo caminho e professores no seu encalço.

— Guaraci Pitanga e Amapola Bravanera. O que estão fazendo aqui?

— Mil desculpas professora Orumã. Mas nossos filhos perderam a balsa do boto Maroto e tivemos que trazê-los, se não, perderiam a cerimônia de iniciação.

— Guarde suas explicações. Agora, me escutem todos – e apontou a varinha para sua garganta e disse “sonora” – Quero todos os alunos de volta ao Salão de Andurá, afinal, estamos apenas começando as comemorações da cerimônia da seleção das Tribos. Por isso, voltem todos pra lá, agora, por obseqvor.

— Obseqvor? – perguntou Nicko para Tião num tom baixo, mas que fora audível pela Diretora Arumã.

— Obsequio e por favor. Gosto de economizar saliva juntando palavras. Às vezes uma palavra não é suficiente e duas seriam demais, não acha?

Disse a diretora ainda com o feitiço sonora na voz, fazendo com que todos a ouvissem, causando alguns risinhos em meio aos alunos.

— Opa! – disse ela, então disse – Quietus – e o som de megafone sessou.

— Professor – fez uma pausa e olhou a volta e então disse – Professora Ariel, por favor, verifique se todos os alunos entraram. Breve retorno as confraternizações. Os outros professores façam o mesmo por Favolesa.

E uma professora muito bonita acenou com a cabeça que sim e entrou. Junto aos outros professores.

— Professor Olívio, poderia acompanhar nossos convidados indevidos e nossos alunos retardatários a minha sala. Já me encontrarei com vocês em alguns instantes.

E assim eles fizeram. Pais e alunos se encaminharam pelo Castelobruxo até a sala da diretora Iracema Orumã e lá aguardaram ansiosos para saber o que seria deles agora.


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