Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 27
Férias Forçadas




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Todas as bombas “aranhas” foram desarmadas. A energia voltou, nossa comunicação também, além dos celulares voltarem a funcionar.

Tudo estava bem. Não para Reddington.

—Como assim, vai embora?-Keen perguntou, enquanto os dois passavam por Ressler e eu. Começamos a segui-los.

—Sua base se diz segura, mas toda vez é invadida. A base da Dangerous não tinha nem metade disso tudo e só foi invadida uma vez. –Sorri. É. Nós éramos bons mesmo em nos esconder.

—Precisamos da lista.

—Me recuso a trabalhar enquanto não aumentarem a segurança e medidas forem tomadas. Estou tirando férias a partir de hoje.

—Não pode entrar em férias. –Ressler avisou.

—Quer apostar?-Tentei não rir.

Red olhou pra todos nós e saiu, deixando Keen e Ress chocados. E eu... Bem, eu definitivamente estava rindo.

—Jen. –Donald repreendeu.

—Desculpa. É que... Tipo, ele é o criminoso, e manda em todo mundo aqui. É... Engraçado. Ele dá mais ordens do que Cooper dava.

—Nisso ela tem razão. –Elizabeth concordou, então saiu, tentando alcançar Raymond.

—Viu? Até Lizzy sabe que estou certa.

—Talvez. –Ressler disse. –Mas se não fosse assim, Reddington não entregaria a lista.

—Verdade. Mas ainda assim estou certa.

—É, você está.

—Estou, eu sei. Sou a voz da razão. –Riu. –Vamos, Meera deve querer nos escravizar mais um pouquinho.

***

Reddington realmente tirou férias. Ninguém conseguia encontrá-lo, nem entrar em contato com ele (nem mesmo Keen). Era incrível a habilidade dele de desaparecer.

Ressler estava bravo de novo, porque mais uma vez estávamos sem a lista. Sério, não sou só eu que tenho problemas.

—Ress, para de surtar. –Pedi, entrando atrás dele em seu apartamento. –Red não está desaparecendo de vez. Ele quer falar, ele quer que peguemos os caras da lista. Confie em mim, ele vai aparecer.

—Ele não devia sumir assim. Age como se o acordo fosse brincadeira.

—Quanto mais irritados ficarmos, mais ele fará isso. Ele gosta de nos deixar putos da vida. Relaxa.

—Você parece tranquila. –Sorri, largando a arma e o celular na mesinha.

—Sem Red, fico sem trabalho. Sou exclusiva dos casos da “lista negra”, então... Estou de férias, de novo.

—Vai pirar em uma semana se Reddington não aparecer.

—É, eu vou sim. Mas posso arrumar algum passa-tempo. Tipo... Caso você fique de férias também. –Pisquei.

—Entendi. Mas eu não sou “exclusivo” então tenho que voltar ao trabalho ainda hoje.

—Caramba, Meera podia te dar pelo menos um dia de folga, né?-O segui até o banheiro, me encostando na pia enquanto ele se preparava para o banho.

—Somos do FBI. Férias? Só se morrermos.

—É. Ou se levarmos um tiro. Posso te dar um tiro, se quiser férias.

—Aposto que adoraria, Dangerous.

—Você me conhece. –Sorri e o beijei.

***

Eu realmente ganhei férias. Só apareci no “esconderijo nada secreto” para entregar um relatório e pedir novidades sobre o sumiço de Red. Meera parecia querer enforcar nosso criminoso favorito, e não duvidei de que faria mesmo.

Keen parecia brava por ter sido colocada de escanteio. Red realmente não estava entrando em contato com ela, o que no inicio eu duvidei ser verdade.

Ressler estava atolado de coisas pra fazer. Meera definitivamente era cruel. Acho que no fundo ela estava só tentando compensar o fato de eu estar “de férias”.

Mesmo que Raymond tivesse sido responsável pelo meu sumiço (quando forjei minha morte) eu não sabia como ele fazia esse tipo de coisa. Eu apaguei no carro e quando acordei estava num lugar completamente diferente, com uma vida falsa para usar. Eu tinha todo tipo de documento em nome de Katherine Fray. O cara era bom nessas coisas. Nesse momento, ele podia estar em qualquer lugar do mundo. Qualquer mesmo.

—Estou procurando o rosto de Reddington em todas as câmeras que consigo acessar ao redor do mundo todo. –Aram disse, quando perguntei pra ele como as “investigações” iam. –Nada até agora.

—Acho que dessa vez ele vai ser mais esperto. Tipo... Ele foi pego uma vez, em um selfie, então com certeza vai ser mais cuidadoso.

—Algum deslize ele tem que cometer.

—Raymond Reddington não comete deslizes. Mas, me avise se encontrar alguma coisa.

—Está preocupada?-Sorri.

—Não. Só quero ver quanto tempo ele consegue se esconder.

—Meio que está rolando uma aposta sobre isso.

—Opa, também quero participar.

***

—Sabia que estão apostando sobre o sumiço-férias de Red?-Perguntei, me sentando em frente à Ressler. A mesa dele estava praticamente escondida por diversos papéis e pastas.

—Me deixe adivinhar: entrou nas apostas também.

—Com certeza!

—Só não deixe Meera pegar você.

—Tudo bem. Então, que furacão arrasou sua sala?

—Meera acha que deixamos algo passar, na investigação sobre Cooper. –Olhei para a bagunça.

—Com certeza é assim que vai achá-lo. –Zombei. –É melhor organizar isso.

—Preciso terminar de revisar essas coisas ainda hoje.

—Que bom que tem uma namorada super organizada. –Me levantei, empilhando papéis em uma pilha e pastas na outra.

—Organizada, você?

—Estou tentando. Mas sempre guardei documentos e coisas assim muito bem. Só não sou boa com louças e roupas sujas.

—Novidade. –Sorriu.

—Palhaço.

—Vai ficar por aqui?

—Não tenho nada pra fazer em casa. Já limpei aquilo três vezes, só hoje. –Me sentei de novo, após terminar com os papéis e pastas. –Me empresta a chave do seu apartamento?

—O que vai fazer lá?

—Limpar, organizar, sei lá. –Olhou pra mim.

—Jen, para uma assassina treinada, mal educada e sarcástica, você limpa demais.

—O que? Só por que sou tudo isso aí eu não posso limpar coisas?-Fiz cara de ofendida, era boa nisso, devia ser atriz. –Que feio, Ress. –Jogou a chave na minha direção.

—Só não queime nada e nem jogue o sofá pela janela.

—Pode deixar. –Deixei um beijo rápido nele e saí. Esbarrei com tudo em Keen, no fim do corredor.

—Ai. Olha por onde anda, garota.

—Está bem animada, pelo jeito. –Comentou, ajeitando uma pasta embaixo do braço.

—Totalmente. Notícias de Raymond?

—Nada. Ele sumiu. De vez.

—Ele logo volta. Sabe, acho que ele só sumiu porque tem algum assunto pessoal pra resolver e não quer que o FBI meta o bedelho nisso.

—Acha que ele foi matar alguém?

—Possivelmente. –Arregalou os olhos, o que me fez rir. –Relaxa, Elizabeth. Ele vai voltar. Não pode ficar muito tempo longe de sua ponte com o FBI, de seu cão de caça e de seu tapete.

—O tapete é Ressler?

—É. -Rimos. –Só não conta pra ele. Agora tenho que ir.

—Alguma missão?

—Não. Só vou dar uma geral no apartamento do Ress. –Ela sorriu.

—Vocês parecem estar indo bem.

—É, isso até eu surtar de novo. Mas tudo bem.

***

Eu gostava de organizar coisas. Daniel dizia que era justamente o que eu devia fazer, por ser mulher. Dei uma surra nele e o fiz limpar meu quarto por uma semana. Depois dessa, todo comentário machista sumiu. Eu era mais macho que Dan, Paul, Ivan e Luke juntos. A única coisa era que eu gostava de homens. Mas eu era bem macho quando precisava.

Ok, eu geralmente jogava minhas coisas pra todo canto no meu apartamento, mas eram apenas coisas sujas, e elas começavam a acumular, até eu perceber que morava num lixão, praticamente, então lá ia eu fazer uma faxina total.

É, eu notei que sou estranha. Como Ress disse, eu era infantil, impulsiva, inadequada, impossível, rebelde e grosseira. Além disso, era agressiva, mal humorada, facilmente irritável, linguaruda, teimosa, impaciente, e preguiçosa às vezes. Além desses “defeitos” eu era determinada, fiel, e companheira. Ninguém, amigo ou colega, ficava pra trás. Nunca traí a confiança de ninguém.

Também era corajosa (entrei numa casa em chamas pra salvar Ressler quando simplesmente o achava irritante), e uma boa agente (ok, atirei na cabeça de uns criminosos que não deveria ter matado).

Fora isso, eu gostava de ficar sozinha, de ouvir música e assistir séries. Por mais que fosse proibido (na Dangerous passaram uma dieta rigorosa pra nós) eu adorava devorar barras inteiras de chocolate e muitas pizzas. Odiava salada e o calor. Organizar coisas era um passa-tempo, assim como correr de manhã cedo, ou após o sol se pôr. Cozinhar não era o meu forte (nunca aprendi, confesso).

É, Jenna Mhoritz é bem esquisita. Mas, bem, todos somos esquisitos, se olhar por um lado.

O apartamento de Ressler não era bagunçado, como era o dos meus colegas (mortos) da Dangerous. Sério, os meninos deixavam suas roupas íntimas até em cima do abajur. Donald era organizado, mas com a rotina de agente do FBI, qualquer um deixaria algumas coisas bagunçadas.

Comecei a arrumar tudo de onde sempre começava: da cozinha. Era uma mania. A cozinha era sempre meu lugar preferido, de qualquer lugar. Em seguida o quarto.

Comecei a mexer em uma gaveta no criado mudo de Ress. Havia uma pasta com fotos, que eu acabei deixando cair. Me abaixei pra colocar as fotos no lugar, quando uma me chamou a atenção. Eu não conhecia a mulher na foto.

—Jen?-Ressler chamou, parando atrás de mim. Como é que eu não o ouvi entrar?

—Quem é ela?

—Audrey. Minha ex-mulher.

—Ah. –Olhei pra foto de novo. Incrivelmente, eu não sentia um pingo de ciúme sequer. E não era só porque ela estava morta. Eu entendia bem esse negócio de “passado”. –É bem bonita. Lamento que tenha morrido.

—Você é mesmo Jenna Mhoritz ou te substituíram para que fugisse com Red?-Ri.

—Idiota. –Guardei a foto e a pasta. –Chegou cedo.

—Se passou uma hora e meia desde que nos vimos.

—Uau, eu estava mesmo distraída.

—Fez uma boa faxina.

—Eu sei. Sou ótima em tudo. –Sorriu. –Terminou o que tinha pra fazer?

—Não, mas Meera dispensou Keen e eu.

—Olha, ela não é tão má. –Me joguei em cima da cama. Ress fez o mesmo. –Audrey era legal?

—Jen.

—O que? Eu não sou uma daquelas mulheres paranóicas e ciumentas que odeiam a ex-mulher do namorado. Só fiz uma pergunta. Sim ou não?

—Sim.

—Se não quiser falar sobre ela, eu entendo.

—Posso anotar compreensiva nas listas de coisas que você é. -Sorri, pegando a mão dele. –E seus pais? Você quase nunca fala sobre eles.

—Correção: eu não falo sobre eles. Não acho que isso tenha me traumatizado completamente. Só... Tenho medo que as pessoas vão me achar chorona e estúpida caso eu comece a chorar, sabe.

—Chorona e estúpida? É comum chorar.

—Você chora, agente ultra mega durão do FBI?

—Claro. Todo mundo chora. Como seus pais eram?

—Minha mãe era o tipo que adorava cozinhar. Fazer doces e me fazer experimentá-los. Eu era uma criança magra, até, para alguém que só comia besteiras. Meu pai... Ele gostava de ler. E me fazia ler com ele, sempre. Isso me fez gostar também, mas acho que me afastei disso depois que eles morreram. Eram bons pais. E... –Engoli seco, em qualquer momento ia começar a chorar. –E fazem falta. Sempre tentei... Me convencer de que é a vida, sabe. Que todos tem que morrer na hora certa, mas quando é sobre eles... Não consigo. –Ress me puxou pra mais perto e me abraçou. Lágrimas começaram a cair. –Sou uma estúpida garotinha chorona, não é?

—Não. É só uma mulher com sentimentos.

O apertei com mais força. Donald estava me ensinando a ver as coisas de uma forma diferente.


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Notas finais do capítulo

Fofos esses dois, não é? Pena que vem treta por aí...



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