Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 21
Natureza Destrutiva




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690458/chapter/21

—Pode me responder por que raios eu tenho que te acompanhar?-Perguntei, seguindo Red pelo shopping. –Achei que você fosse o tipo de cara que contrata pessoas para irem até sua casa com roupas.

—Esse é um caso especial, Jenna. –Bufei.

Eram seis e meia da manhã quando Reddington me ligou, me mandando ir buscá-lo na casa dele. Ele queria fazer compras, e eu devia acompanhá-lo, armada.

—O que você está aprontando agora?

—Não posso fazer compras?-Perguntou, parando em frente a uma vitrine.

—Pode. Mas por que me chamou? E por que me mandou vir armada?

—Proteção. O FBI me deve isso. –Tentei não revirar os olhos e o segui quando voltou a andar. Um cara esbarrou com tudo em Red. Minha mão foi direto para o coldre, escondido pelo casaco longo, mas o homem apenas se desculpou e continuou andando.

—Essas pessoas não olham por onde andam, não?

—Não seja tão rude, Mhoritz.

Red me fez carregar suas compras. Dois chapéus novos, um relógio, uma corrente (feminina, que eu apostava ser para Elizabeth), e duas camisetas. No fundo ele nem parecia interessado pelas compras, o que me fez suspeitar ainda mais de suas reais intenções no shopping.

—Sério, qual é a sua?-Exigi. –Me traz pro shopping, me faz carregar suas compras e...

—Jenna, por favor, se puder falar mais baixo, seria bom. E coloque na sua cabeça que hoje é apenas um dia comum.

—Não, não posso falar mais baixo. E você... –Fui interrompida por som de vidro quebrando e pessoas gritando. Meu olhar caiu em dois homens armados na nossa frente, um deles com a arma pra cima. Havia dado um tiro no teto.

Larguei as bolsas de Red e o empurrei para fora do alcance dos atiradores, que começaram a atirar na nossa direção.

—Só um dia comum, não é?-Perguntei, sacando a arma.

—Daqui não conseguirá acerta-los.

—Não estava planejando atirar daqui.

Respirei fundo, e saí do ponto cego onde havia nos metido, atirando. Isso surpreendeu os atiradores, e eles perderam a própria mira. Então se recuperaram e voltaram a atirar.

Recebi dois tiros no peito, mas atingi a cabeça dos atiradores antes de cair com tudo no chão.

—Jenna, o que foi isso?-Red perguntou, colocando minha cabeça em seu colo. –Foi algum tipo de ataque suicida da Dangerous?

—Às vezes eu não penso. –Sussurrei.

—Eu reparei.

***

—Por que você faz isso?-Me virei devagar na direção da porta. Movimentos rápidos eram dolorosos. Eu ainda estava no hospital. Havia saído de uma cirurgia três horas atrás, para remover as balas e lidar com meus ferimentos.

—Ress, eu não sei. –Respondi.

—Podia ter morrido.

—Eu sei.

—Você nunca pensa. Sempre faz coisas perigosas sem pensar, sem planejar... Está tentando se matar?

—Não. Eu... –Suspirei. –Eu sou assim, Donald, fui treinada assim.

—Isso não faz parte de um treinamento, e sim de uma natureza destrutiva. Você faz isso de propósito.

—Não, não faço.

—Faz. Até agora só vi você se arriscar e se machucar. O que é isso afinal?

—Ress...

—Jenna, isso não vai dar certo. Você tem que parar...

—Parar? Parar o que? De ser eu mesma? Se não pode lidar com a minha “natureza destrutiva”, então não lide mais. Procure por alguém que não arrisque tanto. Vai ser melhor, para ambos.

Ele olhou pra mim, parecia querer falar alguma coisa, mas então desistiu, se virou, e foi embora, sem olhar para trás.

Cobri o rosto com as mãos... E chorei.

***

Um pequeno filme estava passando na minha cabeça. Todas as minhas missões como Dangerous.

Quatro dias atrás eu havia saído do hospital. Nesses quatros dias eu fiquei afastada do trabalho, por ordem direta de Meera, que insistiu que eu não estava bem para voltar à rotina perigosa do FBI e da lista de Red.

Nesses quatro dias tudo o que eu pude fazer foi sentar no meu velho sofá, e pensar, pensar e me culpar.

Ressler tinha razão. Eu realmente tinha uma natureza destrutiva, mas não era intencional. Era... Automático.

Meu celular tocou. O enfiei embaixo de uma almofada, tentando não ouvir o som, mas não deu muito certo, então acabei atendendo. Era Keen.

—Jenna? Preciso falar com você.

—Eu. Não. Estou. Bem. Elizabeth. Me deixa quieta aqui, eu não estou bem. –Desliguei, largando o aparelho, que caiu no chão.

Definitivamente, eu não estava bem. Quatro noites de pesadelos, de lembranças e de culpa não faziam bem a ninguém.

Me levantei e segui para a cozinha. Abri uns dois armários até encontrar o que queria, uma caixa com remédios. Talvez tivessem passado da validade (antes que não ser mais uma Dangerous eu passava muito tempo na base), mas eu não estava dando bola.

Me sentei no sofá, com a caixa, e escolhi os remédios mais fortes. Eles iam ter que servir.

***

—Jen. Jen, abre os olhos. Jenna.

A escuridão era boa, mas a voz me chamando acabou por me despertar. Era Ressler, e ele parecia bem nervoso. Pisquei os olhos, confusa, e tentei perguntar que raios estava acontecendo. Não consegui. Tinha alguma coisa me empurrando para a escuridão de novo.

—Jen, você vai ficar bem. Apenas fique acordada. –Movi os olhos, sem mexer a cabeça. Havia caixinhas de remédios jogadas no chão, perto do sofá. Ressler estava me segurando como se eu fosse um bebê, apoiando minha cabeça. Ah, eu tinha tentado me matar. Putz, eu nem lembrava disso. –Jenna. Por que fez isso?

—Natureza destrutiva. –Sussurrei, então me empurraram mais uma vez para o escuro.

***

—Eu não sei o que aconteceu. –Avisei, pela décima vez. Reddington parecia não entender. –Pare de perguntar.

—Dois dias atrás você ingeriu um monte de remédios para se matar, e agora não sabe o que aconteceu?-Suspirei.

—Eu... Estou... Nervosa, sei lá. Tem... Umas lembranças bem ruins e... Fico me lembrando de umas coisas que... Deveria esquecer.

—Sei o que está acontecendo com você, Jenna. –Me sentei na cama de hospital.

—E o que tem de errado comigo?

—Chega um momento em que todo somos assombrados por fantasmas do passado. Agora os seus fantasmas vieram assombrá-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dangerous" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.