Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 16
Investigação




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Tomei banho o mais rápido que consegui, e me vesti, enfiando em seguida algumas roupas numa mochila. Não sairia mais do hospital um segundo sequer. Ficaria lá até Ressler receber alta. 

Estava quase pronta quando meu celular vibrou, em cima da mesa. O alcancei, vendo uma mensagem de Elizabeth.

RESSLER ACORDOU. TEM ALGUNS PROBLEMAS COM A FALA, ESTÁ CONFUSO E NÃO LEMBRA DE NADA DO DIA DO ACIDENTE. FALEI QUE VIRIA PRA CÁ E ELE SE ANIMOU. VENHA MAIS O RÁPIDO QUE PUDER.

Li a mensagem de novo. “Não se lembra nada do dia do acidente”. Então ele não se lembrava do que aconteceu antes que saísse para a missão. Agarrei a mochila, o celular e saí, rumo ao esconderijo do FBI.

Praticamente corri para fora do elevador, olhando em volta, procurando por uma pessoa. 

—Achei que estaria no hospital. –Meera disse. –Ressler acordou...

—Eu sei. Eu... Preciso que me libere por uns tempos.

—Entendo, quer ficar ao lado dele...

—Não. Eu... Tenho... Uns problemas pessoais para resolver.

—Então... Venha comigo assinar alguns papéis.

Quando ela me liberou, alguns minutos mais tarde, eu saí rumo à antiga base da Dangerous.

Não estava pedindo pra ela me deixar de fora da equipe para cuidar de Ressler, e sim para investigar a morte da minha equipe.

Sim, eu sei que era idiota ignorar o fato de que Donald havia finalmente acordado. Mas depois de passar todos aqueles dias ao lado dele, esperando-o acordar do coma, eu não pensei na hipótese de ele despertar sem lembrar do que havia acontecido horas antes do acidente. Na minha imaginação idiota, eu tinha visto que Ressler acordaria, e que nós conversaríamos, então tudo ficaria bem.

Que tolice!

Eu não estava pronta para lidar com isso. E se eu dissesse o que tinha acontecido, e ele não acreditasse em mim? Talvez fosse melhor deixá-lo se lembrar sozinho, ou deixar aquele dia no vazio do esquecimento.

Pedi a ajuda de Reddington para conseguir os arquivos sobre a morte da minha equipe (Daniel, Luke, Ivan e Paul tiveram as mortes noticiadas como se fossem simples civis), mas não sabia por onde começar. Eu não era boa em trabalho de escritório, não era uma investigadora. Era, como Reddington havia dito uma vez, um cão de caça.

Religuei a energia da base, e me sentei na pequena cozinha que eu havia montado quando escolhemos aquele lugar para ser nosso. Abri as pastas e comecei a olhar uma por uma.

De acordo com os relatórios, todos da minha equipe morreram por arma de fogo, levando mais do que dois tiros cada um. Morreram na hora. Sem chance de revidar. Estavam todos desarmados. Paul, o que estava mais perto da porta, havia levado um tiro na cabeça, além de outros quatro tiros no peito.

Meu celular vibrou. Outra mensagem de Keen.

ONDE VOCÊ ESTÁ? RESSLER ESTÁ PERGUNTANDO SOBRE VOCÊ.

Deixei o aparelho de lado, sem responder, e voltei a me concentrar nas pastas.

Nosso único prisioneiro na base, Max Hiller, já estava morto quando o FBI chegou. Morreu por causa do tiro que dei nele. Enquanto isso, eu estava caída na porta da sala de reunião, com a cabeça sangrando, alguém havia me dado uma pancada na cabeça. Por que não me mataram era um mistério. 

Olhei para a lista dos agentes que haviam entrado na base após ver que nosso sinal de comunicação havia sido desligado. Ressler estava entre os dez agentes, e havia me levado para o hospital ao constatarem que eu não estava morta. Franzi o cenho. Ele nunca havia dito nada sobre isso.

Analisei com cuidado as fotos tiradas naquele dia. Daniel, Luke, Ivan e Paul, caídos nos mesmos lugares onde estavam quando os encontrei. Dei mais uma olhada nas fotos. Tinha quase certeza que Daniel estava caído no chão, e não sentado como os outros. Balancei a cabeça. Talvez minha mente tenha apagado algumas coisas por causa do choque. 

Em outra pasta havia informações confidenciais sobre nós, que eu nem sabiam que existiam. A vida inteira da nossa equipe estava ali. Curiosa, peguei a minha ficha.

“Jenna Mhoritz. 15/05/1987.

Pai: Martin Mhoritz.

Mãe: Cassandra Rivera Mhoritz.”

Toquei o nome dos meus pais. Fazia anos que não ia ao cemitério levar flores. Tinha que fazer isso em algum momento, mas sempre que ia até lá tinha uma crise horrível de choro. E eu odiava chorar. Ao ser criada pela Dangerous, me ensinaram que chorar era sinal de fraqueza. 

Na minha ficha estava escrito que meus pais foram assassinados quando eu tinha dez anos. E que fui levada para um lar adotivo e então para o FBI, que criou a Dangerous.

—Lar adotivo?-Murmurei, relendo para ter certeza que não havia lido errado. –Que lar adotivo?

Tentei encontrar alguma coisa na minha mente, mas não me lembrava de nada. Como pude esquecer quatro anos da minha vida? Estive em algum lugar até ser levada para ser uma Dangerous. Mas onde eu estava? Revirei toda minha ficha, mas não encontrei mais nada sobre isso, e nem informações sobre o lar adotivo. Quem deveria saber algo era Harold, mas ele não havia sido encontrado. Minha única fonte era ele. Quem mais poderia me dar respostas?

Peguei a ficha de Daniel. Eu não sabia nada sobre o passado dele. Ali dizia que o pai foi preso por agredir a mulher e o filho. Romena, mãe de Dan, morreu algum tempo depois, de tanta pancada que levou na cabeça, do marido. Daniel foi preso aos dezesseis anos, e fez o maior caos no presídio, agredindo detentos e carcereiros. Acabou que o FBI achou uma boa ideia leva-lo para o projeto Dangerous. 

“Daniel Vidar tem problemas em controlar a raiva, e têm explosões o tempo todo, semanas atrás, agrediu o colega Ivan Arrel.”

Quase ri com isso. Dan e Ivan não se gostavam muito no começo. Acho que é aquela coisa de garotos verem alguns garotos como ameaça ao território. Um dos garotos seria o “chefe” ali dentro, e Daniel e Ivan eram bons candidatos. No começo eles brigavam muito. Luke dizia que era pelo “território e pela garota”, ou seja, pela liderança da equipe e por minha causa. Eu era a única garota na área, tirando as raras mulheres da limpeza que apareciam de vez em quando, e que eram bem mais velhas que nós.

Acabou que eu gritei com os dois, mandando-os parar com aquela palhaçada. Eu devia ser bem convincente, por que eles pararam. E viraram amigos. 

***

Minha investigação durou quase dois meses, então, ao ver que não ia descobrir nada, acabei desistindo e voltando ao FBI. Liguei para Meera um dia antes, e avisei que o cão de caça deles estava de volta.

—É bom tê-la de volta, Jenna. –A mulher comentou, enquanto eu assinava alguns documentos na sala dela. –Mas por que se ausentou?

—Alguns motivos pessoais, prefiro não comentar. Então, temos algum caso em andamento?

—Estamos lidando com um assassino que veio da lista de Reddington, mas já o pegamos, então não será necessária.

—Ok. –Me levantei. –Vou ver o que se há pra fazer. –Acenei com a cabeça e saí da sala.

Empaquei no corredor. Sabia que Ressler havia voltado ao trabalho, e estava cem por cento recuperado (porém, com alguns problemas em lembrar o que aconteceu no dia do acidente), mas vê-lo ali, normalmente, e não parecendo morto... Foi um pouco forte demais. Me perguntei se devia ir falar com ele, quando Keen se aproximou do mesmo, apontando para um papel que segurava. Meus olhos se estreitaram ao vê-la tão perto dele. Fico quase dois meses fora e eles viram amiguinhos?

—Ah, Mhoritz, que bela cara de ciúme. –Reddington provocou, parando ao meu lado. –Não falou com Donald ainda?

—E falar o que, Raymond?

—Como assim? Vocês não tinham coisas para acertar? O que está esperando?

—Ele não se lembra. Não se lembra daquele dia.

“—Tenho que ir.

—Nós precisamos conversar.

—Eu juro que conversamos quando voltar.”

Suspirei. Ressler se virou e saiu com Keen. Ele não tinha me visto.

—Não posso chegar nele e dizer o que aconteceu.

—Por que não?-Reddington perguntou

—Por que... Ele vai achar que estou mentindo.

—Ele não tem motivos para achar isso.

—Tem sim. E quer saber? Nunca daria certo. Somos completamente diferentes. Ele segue regras, eu as odeio. E uma série de outras coisas. Nunca, nunca daria certo. Sou uma Dangerous. Dangerous não amam.

—É uma pena que pense assim. Acho que tem que falar com ele. Não pode dizer que não dará certo se não tentar. –Então se virou e saiu. 

Será que ele tinha razão? Achei melhor não arriscar, no momento.


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