O ruído ecoou e Castle pulou da cadeira do escritório. Mesmo se uma guerra civil acontecesse do lado de fora ele não se distrairia, mas quando ela chegava era impossível manter a concentração.

— Richard Castle! – A voz feminina gritou da sala.

— O que eu fiz Beckett? - Ele levantou e seguiu caminhando em direção a ela.

— Estou com fome. – Ela lhe beijou a bochecha antes de agarrar-se ao pescoço do homem.

— Você sempre está. – Castle deixou um beijo no rosto dela e foi em direção ao telefone. – Tailandesa?

— Pode ser. – Deu de ombros, subindo a escada.

Dois minutos depois o pedido estava feito e ela descia as escadas correndo.

— Que pressa é essa, Lucy? Eu já disse para não correr na escada. – Castle repreendeu a filha.

— Desculpa pai. Eu só queria te mostrar uma coisa que vi ontem na internet. Deveria ter mostrado assim que cheguei, mas só lembrei quando vi a foto da mamãe lá no quarto. – Ela estendeu o telefone para ele, logo depois pulando em suas costas.

— Eu estou velho, mas aguento. – Ele resmungou um pouco segurando a filha em suas costas.

— Leia. – A garota apontou para a tela do celular.

— “Anúncio de casamento: escritor Richard Castle e detetive da polícia de Nova Iorque Katherine Beckett têm o prazer de anunciar seu noivado. ” Onde você achou isso, Lucy? – Ele leu em voz alta, chamando-a logo em seguida.

— Eu estava pesquisando sobre você... – Rick a interrompeu.

— O que nós falamos sobre a internet?

— “Pode usar à vontade, contanto que fique longe dos sites de fãs. ” Eu sei, eu sei, mas juro que não estava em um desses. Eu coloquei o seu nome e o da mamãe na barra do Google e apareceu isso.

— Por que você pesquisou isso? – Castle tirou a filha de suas costas para poder olhá-la nos olhos.

— Você nunca conta nada sobre ela. Sempre tenho que perguntar ao tio Javi ou ao tio Kev, e eles nunca respondem da forma que eu quero.

Castle abaixou o rosto olhando para os próprios pés. Mesmo depois de 14 anos aquilo doía como se estivesse acontecendo no instante presente.

— Lu... – Ele prendeu o rosto da filha entre suas mãos – O que você quer saber sobre Katherine Castle?

A pergunta surpreendeu a garota. Geralmente seu pai fugia do assunto quando o tópico era ela. Lucy respirou fundo e respondeu.

— Como ela era? – Ele franziu a testa pronto para pegar uma das fotos dela. – Não em aparência, é só eu olhar no espelho que eu a vejo, você já me disse isso. Quero saber em questão de atitude, sentimentos, esse tipo de coisa.

— Essa é fácil e difícil ao mesmo tempo. – Ele riu. – Bem, sua mãe era a pessoa mais extraordinária que eu pude conhecer em toda a minha vida. Determinada, durona, teimosa, boa em esconder o que sentia, porém ainda assim podia ser charmosa, sexy, provocadora, amorosa e acima de tudo: minha musa inspiradora.

— Uau! Eu nunca vi seus olhos brilharem tanto, nem quando eu te dei um sabre de luz. – Lucy bateu em seu ombro, um pedido claro para que ele continuasse. – Quando vocês se apaixonaram?

— Que tal você fazer outra pergunta?

— Por quê?

— Acredite, já fizemos essa pergunta a nós mesmos e não chegamos a lugar algum. Tivemos que perguntar a Espo e Ryan enquanto sua mãe estava em pé sobre uma bomba.

— Ok. Essa é nova. Conta! – A campainha tocou contendo a alegria da garota. – Você não vai fugir dessa. Espere aqui que eu atendo a porta.

Lucy correu até a porta trazendo a comida para perto do pai logo em seguida.

— Conta! – Ela cruzou as pernas abrindo uma das caixas brancas.

— Você é igual a ela. – Richard suspirou, sabia que teria que contar. – Não, eu posso dizer que você é mais persistente do que ela, afinal você tem a mistura dos nossos genes. – Lucy riu quase engasgando com a comida. – Cuidado. Vamos lá... naquele dia eu fiz um café latte para ela, seu favorito, passei um tempo observando-a dormir, mas assim que ela acordou não pode nem beber um gole da bebida, precisou ir para a cena do crime.

Lucy observava o pai com uma atenção que Castle jurou nunca ter visto em seu rosto.

— Assim que ela e os policiais terminaram de vasculhar o apartamento, Beckett recebeu uma mensagem pelo rádio, era Javier e Kevin avisando que o suspeito tinha acionado um botão, provavelmente enviando sinal para alguma bomba. Ela mandou todos saírem do local, mas sentiu quando pisou em uma placa. Ela não podia se mover ou tudo iria pelos ares. – Castle observou a filha, ela não parecia entediada, muito menos disposta a dormir. Já passava da hora, mas ele podia terminar aquela história.

— Pare de me olhar e continue pai. – A adolescente estalou os dedos em frente de seu rosto.

— Ok. Então o esquadrão antibombas veio até nós e, eu estava disposto a ficar ali com sua mãe, mesmo ela me mandando embora. Eu queria ser o parceiro dela de bombas. – Lucy soltou uma gargalha igual à da mãe. – Eu fiquei e nós começamos a relembrar das várias enrascadas em que nos metemos. Teve uma com um tigre, mas é história para outra noite. Bem, depois de um tempo descobrimos que a bomba também tinha um timer e, por um segundo, sua mãe conseguiu me tirar daquele lugar, mas não sem antes dizer que me amava. Ela disse aquilo pela primeira vez em cinco anos. Eu não podia deixá-la para trás. Eu a amava na mesma intensidade e por isso voltei para lá disposto a colocar a senha no dispositivo que desarmava a bomba. Pensando juntos, como sempre fizemos, conseguimos desativar e ela correu para os meus braços, eu estava mais feliz do que nunca. Eu a tinha para mim mais uma vez.

Lucy passou a mão no rosto do pai enxugando as lágrimas que caiam sem controle nenhum por sua face.

— Você é o melhor pai do mundo. – Ela beijou a bochecha dele e caminhou até a escada. – Obrigada por compartilhar um pouquinho disso comigo.

Ele sorriu e ela subiu os degraus. Mais tarde ele passaria em seu quarto para cobri-la.

Castle não comeu, colocou as embalagens na geladeira e andou para o quarto. Parou em frente à cômoda onde uma foto dela repousava. Ele a segurou entre os dedos.

— Você gostaria de vê-la agora. Está igualzinha a você, os olhos, o cabelo e até a teimosia.

Rick alisou a foto com os dedos e a pôs de volta no lugar. Um vento frio, porém, reconfortante, passou pela janela do quarto atingindo o rosto do escritor.

— Eu te amo, Kate Beckett. – Ele murmurou.

Sabia que ela sempre estivera por ali.

+++

Richard abriu a porta do quarto tomando o maior cuidado para não acordar sua garotinha. Cobriu-a com a coberta de Nébula 9 – um dos gostos que sua mãe não deveria ter deixado em DVD na estante de casa – e beijou-lhe o rosto.

— Boa noite, filha.

Castle afastou-se e deixou o seu bem mais precioso descansar.