8 de junho de 1963/ Dia frio pela tristeza

A última coisa que me lembro nesse mesmo dia era eu enforcando e afogado duas crianças, e matando uma mulher com um revólver... Eu não devia ter feito isso, mas eu precisava. Minha sede por sangue era imensa. Eu estava fora de mim. Olhei a minha volta. Sofia, Leonardo e Sarah. Mortos por mim. Como pude matar o amor de minha vida e os frutos de meu sangue?

Corri para longe dali. Por muitos dias seguidos, corri, ate chegar naquele celeiro. Por muito tempo, me escondi lá. Com medo do mundo afora, ate eu virar um psicopata, me fazendo querer mais e mais sangue. Eu tinha uma obsessão de ver aquela coisa vermelha viva jorrando...

18 de junho de 1963/ Manhã de outono

Depois de muita relutância, decidi sair por ai. Acabei descobrindo que estava em um hotel fazenda, de uma velha senhora. Escondi-me entre o canavial ao avistar um carro vindo em direção ao local. Seriam essas minhas primeiras vitimas? Ou as ultimas? Decidi me esconder por mais um tempo, para ver se saiam daquele lugar. Decidi esperar o dia seguinte para agir.

19 de junho de 1963/ Tempo de mortes, inclusive minha própria

Eu observava meticulosamente cada passo do casal. Quando vi aquele rapaz, saindo sozinho e caminhando entre o canavial, percebi que seria minha chance. Esperei ele caminhar mais adentro para saltar pra cima dele e amordaçá-lo. Amarrei suas mãos para trás com certa dificuldade, junto com suas pernas. Tirei uma faca de meu bolso que eu havia pego, e comecei a cortá-lo. Seus gritos foram abafados graças a minha mão.

Arrastei-o ate a beira de um rio próximo ali. Cortei-o ainda mais, vendo sangue jorrar rio abaixo, e joguei-o no mesmo quando percebi que vinha vindo alguém, sem antes quebrar seu pescoço com minhas mãos. Ouvi um grito de pavor, vindo de uma moça. Corri para fora daquele lugar e fui ate o pequeno hotel próximo da plantação de cana. Cheguei e aquela mulher de idade que havia visto tentou me deter, mas tirei uma corrente do casaco e envolvi seu pescoço rapidamente, subindo na mesa enquanto carregava-a. Prendi a outra extremidade no teto e a empurrei. Um barulho estrondoso ecoou pelo lugar. Um pescoço quebrado. Sangue escorrendo. Havia cumprido minha meta. Ensangüentei-me, escrevendo na parede. Só faltava aquela moça. Escondi-me em um canto qualquer, ocultando-me nas sombras.

Mais um grito. Observei a moça gritar e cair. Havia desmaiado. Não estava nos meus planos. Eu iria esperar até ela tentar corre para o carro e incendiar, assim que entrasse. Aproveitei a chance para levá-la até o antigo celeiro. Amarrei-a e joguei em um antigo barril cheio d’água. Comecei a concertar uma antiga torradeira. Havia algumas fatias de pão e o tempo começava a esfriar. Ouvi um grito pouco abafado. Me virei encarando a pobre jovem e por um movimento súbito, joguei a torradeira, agora concertada, na água.  Faíscas voaram pela água. Ela começou a debater-se. Ela estava morrendo de dentro para fora. Mas virou o barril, caindo no chão. Tirei a torradeira de lá com um pedaço de madeira e peguei meu revólver e carreguei-o. Ela começou a chorar. Tentava escapar, mas ambos sabíamos que ela iria morrer. Apontei a arma para sua cabeça e atirei.

Sangue correu pelo chão, sujando seus cabelos, e sujando meus sapatos. Aquilo...  Aquela cena... Aquela mulher... Sofia... Eram extremamente parecidas. Toda minha memória voltou a tona. Enlouqueci. Sai correndo daquele lugar, abandonando o corpo. Cheguei ao mesmo rio no qual jogara aquele homem... A culpa me tomava sem piedade. Andei em direção a correnteza e deparei-me com uma grande queda d’água. Uma cachoeira. Talvez esse seja meu ultimo relato. Não que alguém se importe com um psicopata. Simplesmente vou pular rio abaixo. A morte não é o fim, é apenas o princípio