A vida seguia em Saiunkoku. Shuurei não se cansava ou entediava de seu trabalho, Ryuuki atendia a corte imperial sem falta, Kouyuu trabalhava incansável na Casa Civil, Shuuei cuidava da guarda imperial e outros amigos e conhecidos se esforçavam em seus trabalhos também.

Muitas coisas haviam mudado com os anos. Kouyuu havia arranjado uma namorada; ela era uma linda mulher de cabelos chocolates, lisos e com as pontas enroladas com um lindo par de ambares, vibrantes e luminosos olhos. Shuuei mal pode acreditar quando descobriu! Kouyuu a conheceu enquanto caminhava; ele viu uma mulher se esforçando demais para carregar suas compras e decidiu dar uma ajuda quando uma das sacolas rasgou. A moça ficou relutante mais aceitou a ajuda e daquele momento em diante uma amizade nasceu entre os dois.

O nome da moça era Yume Lihara e trabalhava com uma loja de temperos dos mais variados que ficava em uma rua da capital. Os dois passaram a se encontrar com muita frequência e sempre que podiam; Kouyuu até a apresentou para Reishi e Yuri, a família e Shuurei quando os dois decidiram começar a namorar – ela adorou conhecer todos de quem ele tanto falava.

Outra mudança foi que Shuuei conseguiu reencontrar Shusui e, aos poucos, conquistar seu coração. Os dois não se desgrudavam mais e Shuuei teve que controlar mais seus ‘passeios’. Eigetsu e Kourin também estavam muito próximos assim como Shunki e Kokujun – esses dois haviam se casado e Eiki já sonhava com o dia que seria tia avó.

A única coisa que permanecia a mesma e incomodava a muitos era que Ryuuki ainda não havia se casado e já tinha dispensado uma boa quantidade de propostas de casamento. Nenhuma mulher o fazia se sentir tão indescritivelmente bem quanto Shuurei.

Em um dia de folga, Shuurei foi chamada ao palácio para ajudar em uma emergência por Hakumei. A emergência era que oficiais de três ministérios haviam ‘sumido’ e deixado seus documentos para trás juntos, desarrumados e misturados e ele e Kouyuu teriam que arrumar aquilo. Eles queriam sua ajuda e ela concordou.

Na sala da corte imperial estava uma bagunça! Os documentos estavam atrasados, haviam sido entregues fora de ordem e alguns nem estavam assinados ou eram para aquele dia. Ryuuki destacou Shuuei para achar os oficiais e traze-los de volta a força se preciso – pois aquela situação era um absurdo.

Quando a discussão foi interrompida por batidas na porta ninguém podia prever o que viria e tomaram um grande susto. Shuurei, Hakumei e Kouyuu entraram na sala carregando imensas pilhas de documentos e começaram a distribui-los pessoa por pessoa na sala. Quando terminarão a distribuição, começaram a discutir para onde cada documento seria enviado, a organização dos mesmos e como fariam para pôr tudo aquilo em ordem a tempo. Eles nem ligaram para os olhares paralisados e perdidos daqueles que estavam na sala, pegaram os documentos errados e saíram disparados pela porta.

                No decorrer do dia Kouyuu e Hakumei foram chamados de volta ao ministério da casa civil para ajudar Reishi que tinha alguns documentos acumulados; mesmo a contra gosto eles deixaram Shuurei sozinha com os documentos dos outros três ministérios. Ela foi inabalável! Arrumou todas as documentações, as entregou com agilidade, organizou tudo que era necessário em papel por papel e terminou a tempo de todos os assuntos serem resolvidos naquele dia mesmo. Tudo que faltava era achar os oficiais e Shuuei conseguiu.

— Ufa! Terminei! – disse Shuurei após deixar o ultimo documento na mesa de Ryuuki.

Antes que ela ou mais alguém ali fizesse ou dissesse algo Shuuei entrou com alguns guardas e os oficiais desaparecidos na sala.

— Nós os encontramos majestade. – disse ele fazendo um gesto para que seus guardas trouxessem os oficiais para dentro da sala.

                Junto dos oficiais entrou um forte cheiro de bebida e alguma outra coisa que eles talvez tivessem bebido, comido ou feito. O cheiro era muito azedo e enjoativo.

— Acho que já sabemos o que eles estavam fazendo. – Sho foi direto e objetivo.

                Os oficiais estavam tão fora da realidade que não conseguiam sequer responder as perguntas ou se justificarem. Um deles viu Shuurei um pouco mais a frente e andou até ela até estar bem perto com a mão estendida e se mexendo pelo corpo de Shuurei. Ele se arrependeu. Shuurei lhe deu uma cotovelada no estômago, um tapa na cara e um chute entre as pernas com toda força que tinha. O oficial caiu no chão com muita dor e desorientado.

— Eles são todos seus! – ela arrastou o oficial que estava no chão pelo colarinho do kimono e o jogou até Shuuei – Não deixei meus alunos sem aula hoje, faltei a um encontro com a Kouchou-nesan e negligenciei meus outros afazeres para isto! Com licença! – ela saiu irritada e ofendida.

                No dia seguinte ela teria que trabalhar novamente (estava esgotada, mas não tinha como evitar). No ministério de investigações civil ela era a pessoa que organizava os documentos de Kouki e os entregava aonde precisava. Quando entrou os olhares e comentários eram sobre ela e o que fizera no dia anterior. Kouki exigiu satisfações e conseguiu!

— Eu fui e ainda sou professora da escola do templo aqui na capital, tenho outras obrigações que não irei listar, uma vida social que não incumbe a mais ninguém além de mim e trabalho em outros locais as vezes. Ontem foi um absurdo e me recuso a comentar o ocorrido após eu ainda ter sacrificado minha folga! – ela foi direta (não se deixava abater pela frieza e nervoso do superior) – Agora com licença! Eu tenho um trabalho a fazer. – ela se curvou, virou as costas, organizou os papeis que eram do dia anterior e que eram para aquela data e os levou para serem entregues; deixando seu superior sozinho.

Ao final do dia ela foi chamada ao palácio para que um pedido formal de desculpas fosse feito e uma nova folga fosse marcada para ela. Com o pedido de desculpas e uma nova folga ela considerou como resolvida a situação e se retirou para descansar. A competência, organização e versatilidade de Shuurei eram inquestionáveis e ela possuía várias aptidões. Vendo isso e que havia uma função vaga que se encaixaria perfeitamente na capacidade dela foi decidido move-la de emprego novamente. Ela passaria a organizar os documentos diários do palácio que seriam arquivados ou deveriam ser retirados do depósito para serem reavaliados ou consultados.

Ela se adaptou muito bem ao novo emprego e a vida continuava sem intervalos ou conflitos no Império de Saiunkoku.