Pov's Manuela

Ainda está cedo. E chovendo. Aquele tipo de chuva chata que promete ficar o dia inteiro.

— Olhar pela janela não vai fazer com que pare de chover. _ disse meu parceiro assim que percebeu que eu abria um pouco da cortina a cada cinco minutos apenas para ver a chuva.

— Eu sei _ bufei me rendendo e me aproximando dele. _ Bom, se molhar não faz mal à ninguém. _ dou de ombros e ele assente.

Nós pegamos um enlatado qualquer para comer. Estávamos morrendo de fome e se não comêssemos alguma coisa, deveríamos passar a ter medo um do outro, e não dos zumbis.

No silêncio, comecei a lembrar da pequena mania que eu tinha no início, quando tudo era mais tranquilo _ e quando eu não confiava muito no Tomás. Eu sempre olhava as placas para saber se estávamos indo para o Rio de Janeiro mesmo, sem errar caminho. Mas eu acho que esqueci um pouco das placas desde quando conhecemos Melissa. De lá pra cá, para mim pelo menos, o caminho está sendo um pouco zoneado, e eu estou perdida.

— Tomás. _ o chamo, escutando seu "Hum?'. _  A gente já tá andando há tanto tempo. Será que ainda estamos longe.

Ele parou e pensou.

— Provavelmente estamos perto. Andamos bastante, tanto de carro quanto à pé. E bom, agora não temos mais trânsito, e sim zumbis no lugar. Acho que se mantermos o foco, chegaremos lá em poucos dias.

Assenti. Foi bem difícil manter o foco com isso tudo que aconteceu, mas agora é esquecer e tentar salvar essas pessoas.

Sinceramente, confesso que às vezes me dá raiva desses zumbis, e uma vontade enorme de tirar a arma da barra da calça e atirar. Mas eu tenho que me lembrar que eles são pessoas. Pessoas que contraíram um vírus, e por mais ódio que me dê _ principalmente por eles devorarem um parceiro _ , sou obrigada a me lembrar que eles não têm consciência do que fazem. Eu saí do laboratório com um objetivo: Ajudar a salvar essas pessoas.

— Linda? _ me despertou e o olhei.

— Oi?

— Vamos?

Fiz que sim com a cabeça enquanto me levantava. Olhamos em volta. Tem apenas dois zumbis na rua e eles estão mais preocupados com um pombo. Começamos a andar.

— Temos que arrumar um carro fixo. _ disse meu parceiro. _ Perdemos todos que conseguimos.

Dei uma risadinha. O primeiro um idiota roubou; o segundo, o mesmo idiota estragou. Fica difícil manter um carro assim.

                                             * 

Pov's Tomás

Algumas horas se passaram; deve ser fim de tarde. Agora está ventando muito e ameaça cair um temporal. Devido ao tempo, passei a ficar ais desesperado à procura de um carro. Sei que é bem fácil encontrar um carro, mas fica um pouco mais difícil quando tem um zumbi dentro de casa ou quando se está em uma área de prédios.

— Espera só um minuto. _ ouço a voz de Manu. _ Deixa eu sentar um pouco.

Olho para a frente e me deparo com um banco em frente à uma estátua qualquer. À princípio, não tem nenhum zumbi à vista, então também me rendo ao cansaço e me sento ao eu lado.

Vejo pelo canto os olhos Manu se mexer e pegar alguma coisa. A olho.

— Não é igual àquelas cartas que recebemos? _ disse com um envelope branco em sua mão. Ele estava fechado por um adesivo pequeno, redondo e preto, assim como os outros. Não vou mentir, isso me deixa curioso. Como alguém arruma adesivo _ ou tem tempo para arrumar um _ em meio à um apocalipse zumbi? Isso não faz sentido.

— Sim. _ murmurei enquanto ela abria.

Manuela começou a ler:

"O fim da jornada de vocês está quase chegando ao fim. Estou esperando você no laboratório. Lembrem-se que o melhor sempre vence. Boa sorte e até."

— Então ele tá esperando a gente... _ falei enquanto passava a mão pela barba.