Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 46
Capítulo Quarenta e Seis - Espada Mais Mortal


Notas iniciais do capítulo

O aniversário foi meu (26-09), mas eu dou o presente pra vocês.

Eu gostei particularmente desse capítulo porque ele apresenta mais sobre o mundo da Charlotte (O qual ainda veremos melhor, prometo) e o quão poderosa ela é, embora não tenha o controle disso tudo ainda. Então espero que vocês gostem tanto desse capítulo quanto eu.

Divirtam-se!



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                Harry ergueu os olhos para focar melhor a copa das árvores, a neve ainda caia em pequenos flocos prateados, mas o que o estava deixando verdadeiramente incomodado era a presença de uma pequena Esquadra do Exército Central e suas maquinarias barulhentas.

                Harry gostava de algumas tecnologias do Império Central, essencialmente as que traziam as Águias duplas de Windstorm, todos conheciam bem aquele símbolo, era o Exército Alado, mas era raro os Grifos, como conhecidos, voarem por Ventanis, a não ser que houvesse uma guerra que exigisse sua presença pelas redondezas, o que não era o caso naquele momento.

                Harry se sentia curioso pela presença da Esquadra do Exército Central ali em Ventanis, pois ninguém sabia o que eles faziam ali, porém estavam todos contentes por não serem os Monges atrás de mais livros raros ou acusando pessoas por feitiçaria, o que renderia grandes piras na praça da Vila.

                 Por muito tempo Harry se imaginou como um dos Grifos de Windstorm, voando em uma das Águias de Ferro, mas ele nunca fez nada para concretizar seu plano, não sabia dizer o porque, contudo o sonho ainda permanecia em algum lugar de sua mente.

—Harry. –Fernanda o chamou, os olhos fundos de quem não dormia direito a várias noites.

—Sim? –Ele encarou a irmã.

—Senhora Ornet está a sua procura.

                Harry suspirou e assentiu.

—Já estou indo. –Mas o rapaz não fez nem menção de se erguer.

—Char está viva. –Fernanda falou. –Acredito nisso.

                Fernanda notou que finalmente ganhara a atenção do irmão.

—Por quê?

—Porque eu a conheço, Char é inteligente e não se deixaria pegar por qualquer um e nem por Lobos. Não ela. –Nanda deu de ombros. –E a senhora Ornet acredita que ela esteja viva, não sei o que é, mas ela não costuma errar.

                Harry sorriu de canto.

—Acho que você tá certa.

—Você devia ter mais confiança na sua melhor amiga. –Cutucou.

—Não é que eu não tenha confiança na Char, só que eu estou preocupado, não temos noticias há meses. –Suspirou.

—Vamos ter. –Ela sorriu. –Sinto isso.

—Não vou nem perguntar.

—Ótimo.

                Nanda sabia que Harry e Charlotte dependiam muito um do outro, sempre fora assim. Fernanda, quando mais nova, sentia ciúmes da parceria que os dois mais jovens tinham, era algo insuperável e incomparável.

—Vamos?

                Harry se ergueu e Fernanda notou o quanto o irmão havia crescido, parecia que era a primeira vez que ela notava que ele não era mais aquele pirralho magricela e sujo que ficava correndo por Ventanis. O pensamento de Harry e Char correndo pela Vila fez o coração de Fernanda apertar um pouco, mas ela realmente confiava que a garota estava viva, sua única preocupação era em que estado físico ela estava.

                Harry caminhou silenciosamente até a casa de Senhora Ornet, os olhos vigilantes e postura relaxada, com as mãos nos bolsos da jaqueta.

                Harry olhou para a pequena Esquadra do Exército Central enquanto passava pela taverna, recém aberta, de Vicente. Os soldados exibiam os uniformes azul-marinho orgulhosamente por baixo de seus pesados casacos de pele, correndo para dentro do recinto, tentando se proteger do frio e conseguir bebidas e comidas quentes.

—Fernanda. –Um dos soldados cumprimentou.

                Harry encarou o rapaz, os olhos azuis frios para o soldado.

—Soldado Edward. –Fernanda sorriu em resposta.

                Edward demorou os olhos castanhos em Fernanda, o que fez Harry suspirar.

—Harry... –Ele cumprimentou, parecendo perceber o rapaz.

                Harry somente assentiu e encarou a irmã.

—Estou indo, você vem ou não?

                Harry normalmente não se importava com o que Fernanda fazia, mas ele não estava com paciência para ver a irmã ser devorada por um soldado.

—Claro. –Ela sorriu. –Nos vemos outra hora, soldado.

—Será um prazer.

                Harry começou a se afastar, até sentir Fernanda agarrar seu braço e se encolher ao seu lado.

—Que foi aquilo? –Ela questionou.

—Sem paciência pra ver alguém lhe devorando com os olhos, cara irmã. –Fernanda sentiu o sarcasmo e bufou.

—Aurora lhe dispensou? –Ela provocou. –Preferiu um Lobo a você?

                Harry sorriu de canto e encarou a irmã, os olhos azuis do rapaz brilharam com malicia, fazia tempo que Fernanda não via aquela emoção ali, se bem que o rapaz não vinha demostrando quase nenhum sentimento.

—Cara irmã, você realmente acha que eu perderia para um cachorro?

                Harry e Fernanda haviam descoberto, recentemente, que Benício, um rapaz bem apessoado e de posses, era um Lobo e que vivia rondando Aurora.

—Talvez ele seja melhor que você.

                Harry sorriu novamente.

—Não concordo, mas você já pensou na quantia de pulgas e carrapatos que ele pode trazer pra casa? –A malicia se aproximou da diversão. –Duvido que uma mulher em sã consciência vá querer pulgas em sua cama.

—E você acha que Aurora se encaixa na categoria de sanidade?

—Mais que você.

               Fernanda riu.

—Vou fingir que não escutei isso.

                Os dois trocaram mais um sorriso e entraram na casa de Amélia.

—Senhora Ornet? –Harry chamou.

—Fazia tempo que eu não o via assim, meu jovem. –Amélia comentou, aparecendo da cozinha com uma bandeja de chá.

—Deixa eu ajudar. –Fernanda falou, correndo até a senhora e pegando a bandeja.

—Obrigada, minha querida.

—Sempre um prazer. –Ela sorriu.

               Os três se aconchegaram a mesa próxima à lareira.

               Senhora Ornet encarou Harry, que parecia muito concentrado no fogo dentro da lareira. O que a fez recordar de Charlotte e seu fascínio pelas chamas.

—Você se surpreenderá quando as noticias chegarem. –Amélia disse, atraindo o olhar do rapaz.

—Perdão? –Harry parecia confuso.

—Só aguarde mais um pouco, Harry. –Ela alertou. –Sei que sua paciência já se foi a um bom tempo e que sua ansiedade cresce a cada momento, contudo você receberá noticias brevemente.

—Boas? –Ele questionou e a senhora sorriu.

—O que você acha?

               Harry ponderou.

—Honestamente eu não sei o que estou esperando, senhora Ornet.

—Talvez sua irmãzinha.

—Talvez o corpo dela. –A frieza da frase fez Fernanda se encolher levemente.

—Você se surpreenderá. –Ela sorriu. –É a única coisa que eu posso dizer.

                Harry respirou fundo e cruzou os braços diante o peito, voltando os olhos para o fogo mais uma vez.

—As noticias correm com os Lobos, senhora Ornet. –Ele comentou. –Mas minha esperança já se foi há muito tempo, minha paciência não conta tanto.

                Harry não queria ter esperança e se machucar por isso, já perdera muito na vida pra se agarrar a algo assim, não vivendo no mundo em que ele vivia.

—Você não tem nem noção do quanto sua frase está correta, meu garoto.

               Harry não compreendeu o que foi dito, mas não questionou, continuou a encarar o fogo, como se ele fosse lhe dar as respostas das quais precisava.

 

 

               Charlotte viu Christopher montar em Kyle antes que ele tivesse tempo de se erguer, levando vários socos seguidos, as demais pessoas presentes pareciam chocados demais ou ignoravam que era seu Alpha quem estava apanhando.

—Briga de Lobo grande. –Ela ouviu o sussurro na multidão.

               Char era acostumada com violência, crescera nesse meio, mas havia algo na fúria de Christopher e no sangue de Kyle manchando a neve que a estava causando extremo desconforto.

—Chega! –Ela mandou, sem nem mesmo erguer o tom de voz.

                Christopher parou o punho no ar, os olhos focados no rosto de Kyle, ele atenderia sua filha, não porque era sua filha, mas porque era uma Anciã. Christopher se ergueu e sentiu a rasteira que Kyle lhe passou e o chute na costela.

                Kyle se aproveitou da distração para poder atacar, Christopher não tinha o direito de lhe tocar, muito menos diante a toda a matilha.

—CHEGA! –Char mandou.

                Kyle e Christopher sentiram seus corpos sendo arrastados pela neve, indo em direções opostas, o que lhes fez o ar faltar.

                Mark sorriu e tocou gentilmente o ombro esquerdo da garota. Era por isso que estava ali, não somente para ver um grande idiota como Kyle levar uma surra, mas para dar suporta para uma Anciã a quem ele realmente apreciava a companhia.

                Char sentiu o toque gentil do ruivo e a presença firme e constante de Alfred em seu flanco direito.

—O correto seria que eles lutassem para definir um novo Alpha. –Alguém argumentou e Char ergueu os olhos verdes.

—Eu não estou me importando com o que ditem ser correto nesse momento. –Ela esclareceu, encarando a todos de frente e vendo os dois se erguerem da neve, o rosto de Kyle ensanguentado. –Se formos jugar uma vitória pela liderança, obviamente Christopher é o vencedor, contudo não creio que seja disso que ele estava atrás.

—Então do que você pensa que ele estava atrás, moça?

               Char encarou uma mulher absurdamente alta e imaginou o quão magnifica e grande ela deveria ser em forma de Lobo.

—O que vocês viram não foi uma luta de Alpha e um Lobo tentando ascender. –Ela sorriu.

—Principalmente se considerarmos que todos vocês dão prioridade para Christopher. –Mark disse sorrindo. –Não é nem uma comparação juta.

                A Matilha caiu em um pesado silêncio, o que pareceu enfurecer Kyle.

—Foi pra isso que veio até aqui? –Ele rugiu na direção da menina. –Pra causar discórdia entre a Matilha?

                Char o encarou de sobrancelha arqueada.

—Não, eu vim aqui impedir que Christopher matasse você.

—Agora está preocupada?

—Com ele? –Ela sorriu. –Sim, com ele.

—COMO?

—Não vou deixar meu pai sujar as mãos dele com tão pouco, Kyle. –Ela confrontou.

                Christopher não sabia bem o que pensar, era a primeira vez que ela o nomeava como pai com tanta tranquilidade, como se fosse uma constatação comum. Ele sabia que deveria ser, mas não esperava que Charlotte levasse isso a sério.

—Você não pode falar assim com o Alpha. –A mulher de antes comentou, fazendo Char a encarar e se surpreender novamente com sua altura.

—Ela pode, na verdade. –Alfred argumentou.

—Do que você tá falando, Alfred?

—Ela é uma Anciã. –Mark disse, parecendo muito feliz em revelar aquilo.

                O silêncio se fez presente novamente, quase era possível ouvir a neve caindo no chão. Ninguém esperava uma Anciã tão jovem e autoritária, Mark tinha certeza.

—Vamos ser francos... –Ela começou.

—Charlotte, só vai embora. –Kyle mandou e ela riu.

—Perdão?

                O deboche estava estampado na expressão da menina, enquanto Kyle limpava a boca quebrada.

                Kyle notou o sarcasmo dela e cuspiu no chão, tornando a neve vermelha.

—Desde que você chegou a minha vida desmoronou! –Ele acusou.

—Se você é idiota, não a culpe. –Mark alertou.

—Você me usou!  –Acusou, como se não tivesse escutado Mark. –Você fez com que eu...

—Eu o usei. –Ela cortou, sendo clara e objetiva. –Mas não vamos esquecer que você me fez de prisioneira, ou que você corrompeu todos meus bons sonhos, simplesmente porque é fraco demais para encarar o que deseja. –Charlotte falou, andando até o rapaz, sem deixar de encarar seus olhos prateados e furiosos.

—EU DEIXEI VOCÊ FAZER O QUE BEM QUERIA!

—Depois que eu transei com você. –Ela riu, o encarando firmemente. –Kyle, você não passa de uma criança que conquistou um alto nível na hierarquia da Matilha, somente isso.

—Não me provoca. –Ele disse entredentes.

—Se não fará o que? –Ela provocou e depois riu. –Já vimos que você não pode me tocar, se você tentar, morre.

                O aviso o chocou, foi como se ela tivesse arrancado um curativo de uma ferida em carne viva, com o gaze grudado no machucado, foi um único puxão que pareceu arrancar seu ar dos pulmões também.

                O vento parecia centralizado onde Charlotte e Kyle estavam, a neve rodava em espiral a sua volta, furiosa e ameaçadora, assim como a presença de Charlotte. Alfred notou que os olhos estavam quase brancos. A fogueira precária, e que a neve já quase extinguira, que a Matilha acendera para poder se manter aquecida enquanto trabalhava, simplesmente amplificou, o fogo fez muitos saltarem para trás, tentando se proteger das labaredas altas e dançantes e de seu calor. Alfred viu também o fogo chegar perto de Charlotte ao ponto de queimar somente pelo vapor, mas ela nem parecia perceber, mesmo que a neve tivesse derretido aos seus pés.

                 Alfred encarou Mark, que sorria abertamente, parecendo orgulhoso da garota e de seu controle, principalmente quando os olhos dela brilharam esbranquiçados e o fogo lambeu sua mão.

                 Char sentiu o fogo tocar sua pele e o vento dançar conforme sua vontade, ela sorriu para Kyle.

—Espero que você tenha compreendido o recado, Kyle. –A voz fria e sedutora o fez sentir um arrepio pela coluna. –Nunca mais toque nos meus e muito menos em mim, caso contrário você saberá do que eu sou capaz.

                Kyle recuou diante a ameaça e o brilho assustador em seus olhos. Aquela não era a Charlotte por quem ele se apaixonara, essa era uma mulher que, apesar do desejo arrebatador, o irritava e assustava profundamente. Charlotte era a espada mais mortal que alguém poderia encontrar em seu caminho, mas não era uma espada comum, só que ele não sabia o que o assustava mais, se era o controle que ela exibia do vento ou do fogo, independente de qual elemento Char decidisse usar para parar alguém, ele se recusava a ser seu alvo.

—Como desejar. –Ele falou calmamente, com medo do fogo que lambia a mão de Char o atacar.

                Char sorriu.

—Que bom que conversamos, Kyle. –Os olhos ainda estavam esbranquiçados. –Espero que isso nunca seja esquecido.

                Alfred viu o quão o comentário fora ameaçador e o quanto as demais pessoas pareceram temer a nova Anciã.


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Notas finais do capítulo

Pela Deusa do Vento!

Charlotte, o que foi isso?

E ai? Curtiram?

Esperando ansiosamente pelos comentários.

Beijos e até o próximo capitulo.



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