Como Treinar o seu Dragão Interior 1,5 escrita por Kethy


Capítulo 2
Como tudo começou


Notas iniciais do capítulo

PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O motivo de eu postar esse capítulo justo nesse dia é que hoje faz exatamente 2 anos que publiquei essa fanfiction!

Dois anos de puro orgulho...
Esse foi o meu primeiro sucesso... E minha segunda recomendação...
Estou me controlando para não chorar agora, eu mesma amo escrever essa fanfic. Amo os personagens. Amos as histórias de cada um. Amo que vocês a amem.

Antes que alguém pergunte: não, eu não tive uma história parecida com essa. Apenas fiquei chocada quando descobri que o Soluço e o Melequento eram primos.

Eu sou muito amiga dos meus primos, e sempre que vejo uma situação em que primos são inimigos ou rivais eu fico impressionada. (No mau sentido.) Por isso eu criei essa estória de amizade entre eles. Uma amizade linda que, talvez, possa ser explorada em outros especiais, juntamente com o Olavo, se vocês pedirem...

Obrigada por esses dois anos cheios de magia!

Boa leitura!!!!!!



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Aquele dia começou como o resto; acordei meio tarde, desci as escadas pra tomar café quando meu pai, Dazbogu: o Invejoso, me chamou para fazer mais um de seus “Pequenos” serviços.

— Melequento, venha cá. – Meu pai chamou como se eu fosse um escravo. Obedeci e parei de frente para ele.

— Sim, pai? – Deixei escapar um pouco de medo.

— Eu tenho uma missão para você.

— Qual, senhor? – Eu sei que é estranho me ver falando assim, acontece que meu pai sempre me fazia ter medo dele, me obrigava a ser respeitoso ou eu era castigado; ele só mostrava ter amor pro mim se eu me comportasse, ficasse quieto e fizesse tudo o que ele mandasse. Manipulava-me.

— Preciso que roube o colar de ouro de Hagnar: o Feroz!

— Q-quê?! Como assim?! Ele vai me matar! Não tem nada mais fácil?

Ele não disse nada! Só ficou me olhando com cara de bravo, achei que fosse me bater. Abaixei a cabeça e juntei minhas mãos em posição de respeito.

— Sinto muito, senhor. Farei como disse. – Falei me rendendo.

Dazbogu nem me deixou tomar café, praticamente me expulsou de casa, me obrigando a ir para a casa do tal Hagnar. Chegando lá eu fiquei parado de frente para uma janela durante um tempo, tentado ter coragem – Ou idiotice! – para fazer o que meu pai mandou.

— Por que você está ai parado? – Ouvi uma voz anasalada, a voz do meu primo, o Soluço. Eu estava tão apavorado que me assustei com ele, dei um pulo e um grito, acabei ficando com cara de idiota.

— Soluço? O que você quer, seu inútil?! Não se meta! – Essa não foi a primeira vez que tratei o Soluço desse jeito, como falei para a Astrid, eu já não era o melhor primo do mundo.

— Escuta aqui, garoto, fiquei preocupado com você, eu só queria saber se está tudo bem. Desculpe me importar. – Soluço ativou o seu “mecanismo de defesa”. Às vezes quando uma pessoa é abusada pelos outros ela cria barreiras, fica grossa, mal-humorada e reservada, mas não se engane, por dentro ela só quer com quem conversar.

— Para a sua informação, estou aqui como um exercício de coragem para me tornar um homem de verdade! Eu estava indo agora mesmo pegar o colar de ouro do Hagnar e...

— O quê?! Ficou maluco?! Roubar desse bruto é sentença de morte! Quem te desafiou quer testar a sua burrice!

— Olha, foi o meu... – Eu ia dizer senhor. – pai que mandou. Ele deve ter um motivo, então eu vou fazer.

— Melequento, é sério, não faça isso! Você vai se machucar e eu vou ter que tomar uma atitude.

— Você?! – Forcei uma risada. – Que engraçado! Você nem sabe se defender sozinho, como vai...

— Ah, chega! Não sei por que ainda tento. Faça o que quiser, não ligo! – Soluço me interrompeu e foi embora chorando.

Senti-me culpado, mas ignorei, eu não estava com cabeça. Voltei a ficar de tocaia e vi que o quarto daquela janela estava vazio e o colar estava bem perto. Estiquei a minha mão com cuidado, peguei o que tinha ido buscar e sai correndo que nem um maluco. Parei ofegante nos fundos do Grande Salão para me recompor, quando consegui respirar normalmente comecei a rir. Tinha sido fácil.

— Consegui! Não acredito! Deu certo! – Eu estava muito contente, comecei a brincar com o colar e fazer imitações com o que meu pai diria e o que Hagnar estaria pensando. Pensei que isso faria meu pai gostar mais de mim.

De repente, senti uma coisa fria e afiada nas minhas costas.

— Não falei que tinha alguém nos espiando? – Era a voz de um adolescente. Acontece que Hagnar tinha três filhos, todos brutamontes, mas sabiam ser inteligentes quando queriam.

Quando ele falou aquela frase, lembrei-me do quanto fui escandaloso na conversa com o Soluço. Nós dois fomos.

— Pois é, te devo um barriu de cerveja. – Outro dos três apareceu com uma espada no meu pescoço.

— Olha, rapazinho, – O terceiro pôs uma espada no meu peito. – o papai tá ocupado e disse que podíamos fazer o que quiséssemos com você. Não se preocupe, vamos fingir ser civilizados. Façam fila, rapazes.

Às vezes você está tão apavorado que nem consegue gritar. Eu estava cercado e não sabia o que fazer, eu já até estava rogando a todos os deuses que me viam a memória quando apareceram mais duas espadas. Elas desarmaram os brutos e uma veio direto para a minha mão. Era o Soluço! Ele foi mais desajeitado que isso na hora, mas é assim que eu me lembro.

Lutamos como uma verdadeira dupla, como se tivesse sido tudo ensaiado. Com direito a acrobacias, manobras evasivas, saltos e até um estouro de galinhas, eu até esqueci que estava com medo e me deixei divertir. Os filhos de Hagnar fugiram com medo e eu e Soluço nos escondemos para caso eles voltassem.

Naquele esconderijo, depois de um tempo de silêncio, começamos a rir.

— Já sei: você se lembrou do meu aniversário e planejou tudo isso.

— Eu ia dizer a mesma coisa.

Rimos mais um pouco.

— Formamos uma bela dupla. – Soluço disse todo alegre.

— Parece que sim. – Parei pra pensar.

De repente, Soluço pareceu se entristecer.

— Bom... Acho que vou indo. – Ele começou a ir embora.

— Espera ai! Hã... Obrigado... – Falei cheio de vergonha.

— De nada, família é família. – Ele sorriu de novo.

— Legal. – É... Eu fiquei meio sem graça, mas foi porque essa era a nossa primeira conversa. Meu pai sempre me dizia para ficar longe dele. Quando eu já estava indo embora, Soluço perguntou:

— Quer se encontrar aqui pra brincar amanhã?

Dai aconteceu, do nada começamos a nos falar muito, ficamos amigos e descobrimos que nossos gostos era muito parecidos; nós dois queríamos que nossos pais sentissem orgulho de nós, queríamos conhecer o mundo, sentíamos um pouco de receio em relação a caçar dragões e outras coisas.

Falamos sobre a luta durante dias, durante esse período passamos a andar juntos fazendo de tudo. Quando me dei conta, já tínhamos nosso esconderijo, aperto de mão secreto, códigos... Era muito bom! Nós tínhamos entre sete ou oito anos na época e amizade de infância é sempre boa.

Eu também passei a defender o Soluço; eu batia em todo mundo que o incomodasse, trocava socos com valentões, etc. Soluço retribuía como podia, fazendo pequenas vinganças – Planos bobos de criança, mas que sempre davam certo. – e dando foras quando havia ofensas verbais.

Acho que dá pra se ter uma ideia de quantos “amigos” eu perdi desde que comecei a andar com ele. Às vezes parecias que éramos eu e Soluço contra o mundo. Ele a inteligência e eu a força. Até meu pai passou a me negligenciar, e Soluço me dava apoio. Mas isso não importava, nossa amizade estava ótima, parecia coisa de historinha infantil, não tinha como melhorar.

Ai, conhecemos a garota.

Foi um dia normal, já estávamos com quase onze anos, brincávamos como em todos os dias, fingindo que estávamos em uma guerra.

— Renda-se, você não tem escapatória! – Falei fazendo o maior teatro.

— Eu prefiro morrer que ser um covarde! – Soluço retribuiu do mesmo jeito.

Ficamos trocando golpes com espadas de madeira que Stóico tinha feito para nós, xingando um ao outro de brincadeira, quando a Astrid passou; com aquela marra que tinha desde criancinha, cabelo preso em duas tranças bem duras e aquele capacete com chifres que ela não usa mais. Distrai-me e levei uma espadada na cabeça.

— Ai!

— Desculpa, primo, me distrai.

— Com o que?

— Hã... Bom... – Soluço ficou cor de rosa.

— Ah, entendi... Tem uma garota! – Ri e baguncei o cabelo dele.

— Para! – Soluço riu de volta. – E... Bem, eu não sei se realmente tem uma garota...

— Não entendi. – Falei confuso.

— É que eu não sei se ela gosta de mim, mas eu gosto muito dela.

— Gosta quanto? – Provoquei.

— Você vai rir!

— Não vou não, palavra. – Cruzei os dedos atrás das costas. Soluço puxou a minha mão mostrando que eu menti. – Tá bom! Tá bom! Mas sério, pode contar.

— Ok... – Ele coçou a cabeça. – Sei lá, eu já me vi casando com ela.

Segurei a risada.

— Soluço, calma, tá? Tem muita garota por ai. Papai disse que temos que nos divertir o máximo que pudermos antes de...

Ela não é um divertimento! — Soluço gritou.

— Uou! – Me espantei. – Pelo jeito é sério. Relaxe, eu não concordo muito com o meu pai, só estou dizendo que ainda é cedo pra pensar em casar. Só pra você ficar mais calmo, vou dizer o nome de uma garota que eu também gosto.

— Quê?! Melequento Jorgenson apaixonado? – Soluço provocou.

— Eu não diria apaixonado. – Me fiz de desentendido.

— Hã-ram... – Ele riu. Deu um soco leve no ombro dele.

— Tá ok, vamos falar os nomes delas no três: um, dois, três...

Astrid! — Gritamos ao mesmo tempo. Ficamos em choque ao ver que era o mesmo nome. — Astrid Hofferson! — Gritamos o nome completo na esperança de que fosse coincidência. Quando vimos que ainda era o mesmo nome, ficamos mais uma vez em silêncio.

Caímos sentados na grama, ninguém falou nada durante horas. Horas mesmo, pois o sol já estava se pondo.

— Há, não vamos atrapalhar a nossa amizade por causa de uma garota! – Tentei amenizar a situação.

— Não mesmo... – Soluço respondeu nervoso. – Isso seria infantil... Garotas podem ir e vir, mas amizade e família são pra sempre...!

— É. Eu nunca diria nada contra você pra ela só pra gente se aproximar.

— É... E eu nunca faria nada contra você...

— Não é uma competição! Ela não é um troféu! Tudo tranquilo. – Falei disfarçando.

— Isso ai... – Soluço também disfarçou.

— Mesmo que fosse, eu ganharia. – Fui burro e deixei escapar.

Soluço me olhou quieto, depois me mandou um olhar de raiva e ódio que eu nunca vi nele.

— Calma, eu só estava brincando!

— Tudo é brincadeira pra você, não é?

— Solu... – Fui interrompido.

Você já tem tudo! — Soluço levantou furioso. – É mais forte do que eu... É mais querido do que eu... Você nasceu assim, perfeito! Eu é que nasci quebrado!

— “Você já tem tudo”?  - Me enfureci também. – Tudo menos um pai que me ama, uma inteligência como a sua... Se liga, Soluço! Você que sempre tem tudo!

Não sei como. Não sei por quê. Mas a nossa briga foi ficando cada vez mais séria; ficamos falando coisas que nunca tínhamos parado para pensar, coisas que nunca queríamos ter dito, tocando em assuntos pessoais: diferenças na família e na criação, motivos de inveja e um monte de coisas nada haver.

Estávamos chamando atenção, todos os que estavam em suas casas abriram as janelas ou foram para o lado de fora para saber o que era aquele estardalhaço. Montinhos de gente iam se acumulando enquanto nosso tom de voz aumentava.

Em um dado momento, a briga se tornou física: dei um empurrão forte no Soluço que o fez cair de costas numa carroça cheia de feno. Soluço se levantou com dificuldade e me olhou com tanto ódio... Eu já estava pensando em pedir desculpas quando ele veio pra cima de mim e me vez cair. Soluço começou a me dar socos e eu tive que me defender. Eram chutes e arranhões pra todo lado. Essa deve ter sido a primeira vez que tivemos contato com a Metade-Dragão porque eu juro que vi e senti nossos dentes ficando mais afiados, nossa força aumentando e as escamas aparecerem.

Parecia uma briga de animais, estávamos arrancando sangue e pedaços de pele um do outro.

Pelos deuses, eles vão se matar!— Gritou uma anônima qualquer.

E era verdade, do jeito que iam as coisas parecia mesmo que um de nós ia morrer, porém, ninguém se dava ao trabalho de separar a briga. Por incrível que pareça, quanto mais pessoas tem no meio de uma situação perigosa, menos chances tem de alguém ajudar. Por muita sorte, Stóico e Bocão apareceram; cada um pegou um, e precisaram nos segurar firme porque queríamos brigar mais.

Parem de brigar vocês dois, que coisa feia!— Gritou Bocão segurando Soluço pelas axilas bem longe do chão.

Eu queria que você não tivesse estado lá!— Gritei pro Soluço chorando sem perceber.

E eu queria não ter salvado você!— Soluço se desprendeu do Bocão e caiu de pé quase torcendo o tornozelo. Também estava chorando bastante.

— Quer saber?! Você nem é tão legal assim! Sem mim você é só uma Espinha de Peixe Falante!

— E sem mim você é só mais um burro no meio de um monte de tapados!

— Pelo menos eu nunca serei um inútil como você é!

— Prefiro ser um inútil a um capacho do papai! - Nossa briga foi ficando mais e mais assustadora, ninguém sabia o que dizer.

Aprendi muito sobre você hoje!

— E eu também!

— Pelo visto, a nossa amizade acabou!

— E já vai tarde! Eu nunca mais quero falar com você. Nunca!

— Nem eu também! Fica longe de mim!

— É claro, alteza real, com prazer!— Provoquei o Soluço de novo.

— Falou!

— Falou!

— Falou...! — Soluço chorou ainda mais e correu pra casa cobrindo o rosto. Fiz o mesmo.

Todo mundo ficou parado sem palavras.

— Vai até seu filho! Ele precisa de você. – Stóico falou com preocupado para o meu pai.

— Por quê? Já estava na hora do meu filho se livrar daquele peso morto.

— O quê?! – Antes de começarem uma nova briga, Bocão segurou o ombro do líder.

— Você fala com o Melequento e eu falo com o Soluço. Ele vai me ouvir.

— Mas o Soluço é...

— Eu sei, Stóico, mas se não for você, Melequento não vai ter ninguém. Vai!

Stóico respirou fundo e foi na direção da minha casa.

Todos bateram na minha porta várias vezes.

— Vão embora... – Eu dizia sem animo.

Já na casa do Soluço.

— Soluço! Abre a porta, Soluço! – Lá, apenas o Bocão tinha ido ver como ele estava.

— Não quero falar...! – Dava pra saber pelo tom de voz que ele estava chorando muito, mais que eu. Também, eu era o único amigo que ele tinha.

No dia seguinte, eu e Soluço nos encontramos no Grande Salão. Quando ele entrou eu estava bem na frente dele. Olhamo-nos com um olhar vazio, em silêncio, por um bom tempo. Depois, Soluço passou por mim como se eu não estivesse lá e sentou em uma mesa bem escondida no canto.

— Entendi... – Sussurrei com raiva.

Depois daquele maldito dia, nós nunca mais nos falamos. Quando finalmente conseguimos nos falar, eu já era um valentão com uma equipe própria que tinha o objetivo de atormentar o Soluço. Eu me sentia mal às vezes, mas meu pai sempre dizia para eu ignorar e continuar, pois “aquilo me moldava como homem”.

Eu e Soluço nunca mais tivemos uma conversa descente desde então. Eu me tornei um imbecil e ele um depressivo cheio de “mecanismos de defesa”, de novo.

 

 

 

 

 

 

Assim, acabou a nossa amizade durante quatro, tristes, anos.

Toda a turma, e até o nosso professor, estavam em choque. Alguns até estavam chorando, entre eles o Soluço.

A história foi longa, durando até meio-dia, mais ou menos. Todos ficaram tão concentrados que nem viram o tempo passar. Já eu estava cansado de contar e ouvir.

— Caramba... – Stormy disse espantada. – Desculpe, eu não...

— Relaxa! Já passou. – Soluço enxugou as lágrimas.

— Isso ai, já somos amigos de novo. – Abracei o Soluço pelo pescoço e dei um cascudo de brincadeira. Rimos.

— Isso ai! – Olavo nos abraçou do mesmo jeito. – Chega de chorar pelo que passou, vamos sacudir a poeira!

Olavo tinha razão. Não posso ouvir aquela voz. Soluço sempre foi o meu melhor amigo e sempre vai ser! Não vou estragar tudo de novo.

— Aliás... Tem umas garotas aqui que estão afim de você. – Olavo falou com um olhar malicioso.

— Não estou pronto! – Falei com um pouco de raiva.

— É, Olavo, vamos com calma! O clima ainda está um pouco pesado.

— Por isso mesmo, ele precisa cavalgar de novo.

— Olavo!

Dei um sorriso leve. Posso não ter conseguido ficar com quem que queria, mas era bom saber que os dois se importam tanto comigo. E é só disso que eu preciso.


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Notas finais do capítulo

FIM!!!!!!



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