POV CLARKE

Depois de todo o tempo contra os terra-firmes e contra Mount Weather não conseguia imaginar que poderia ficar tão dolorida como naquele momento. Talvez estivesse enferrujada antes de começar um treinamento para terra-firmes. Evolie, a comandante do clã da terra, vinha me treinando, embora cada vez mais ela parecesse duvidar de como a ajudarei. Eu não fui criada para lutar e sobreviver como eles foram. Eu cresci em uma nave, onde tudo parecia seguro. 
Mesmo ainda tendo palavra, minha principal preocupação era conseguir chegar próxima de Lexa, sem ser identificada. Ela me reconheceria facilmente e isso estragaria tudo. 
Depois que uma faca atravessasse a garganta dela, talvez eu conseguisse dormir novamente. 
Ela se juntaria a multidão de pessoas que assombravam meus sonhos todas as noites. Mas ver o rosto dela em meio a todos aqueles, seria uma parte feliz, ou no mínimo satisfatória. Ela abandonou meu povo, a mim e ao único plano de nos tirar de lá vivos, para que pudesse voltar tranquilamente. Depois de tudo o que ouvi sobre os clãs, terem honra, justiça, era uma grande mentira. Em meio a tudo aquilo, Bellamy acertou quando disse que não poderíamos confiar em ninguém.

                           ***

Estava finalmente sozinha. Encolhida em uma árvore, na parte norte da floresta que cercava o 12¤ clã. Olhava para o céu, tão imenso e sem preocupações, aquele que uma vez nos trouxe segurança e felicidade. Com suas estrelas brilhando e nos fazendo sorrir. Ouvindo o silêncio, para me certificar de que não havia ninguém por perto, eu enfim me permitia chorar. Sentia saudades de todos. Sentia ódio de mim mesma por todas as vidas que tirei. Poderia ser a escolha certa ou errada e essa incerteza era perturbadora. Sentia mágoa por saber que eu realmente era uma assassina e por me importar com Lexa em minha vida mesmo depois de ter me traído e abandonado em Mout Weather. Sentia culpa pelo mesmo. Por isso teria que provar a mim mesma ue aprendi a lição, Lexa sairia de minhas preocupações. Mas um rosto que voltava a minha mente, causando confusão, nos meus momentos curtos de lamento, era o de Bellamy. Ficando para trás, quando não entrei no acampamento. Queria ele ali, para ser um idiota e me fazer rir, contra minha vontade. Ou apenas pra soltar um dos discursos encorajadores que ele mesmo não segue. Se no dia em que descemos a Terra alguém me dissesse que aquele garoto idiota e babaca se tornaria a pessoa que mais me aliviava ao ver, ou que me causa esperança com o olhar, eu acertaria a pessoa no rosto, por ser tão imaginativa. Mas muita coisa mudou. Passamos por tudo juntos, mesmo não estando de acordo no início com absolutamente nada. Fizemos nosso povo sobreviver. Ganhamos dos terra-firmes. Saímos daquela montanha.  *Será que esses pensamentos também rondam a cabeça dele?* *Não me parece errado, depois de tudo pelo o que passamos.* 
Ouvi passos se aproximando. Logo me coloquei de pé, secando as poucas lágrimas que ainda pairavam sobre as minhas bochechas. Recompondo minha postura, pouco antes de Zash aparecer. Mantive meu rosto imparcial e longe de qualquer emoção. O toque de recolher havia começado. 
De acordo com as regras basicas do torneio, os agressores de todos os clãs poderiam se confrontar, de qualquer forma, em qualquer momento e em qualquer lugar , com esseção dos próprios acampamentos. Era como uma área proibida. Ou sagrada, dependendo do ponto de vista.
Mesmo estando sendo treinada para combater terra-firmes horríveis, não seria tola de adiantar esse fato. Minha morta não parecia longe e eu evitava pensar em como seria, pelo mãos dos terra-firmes, mas via um lado bom naquilo, pelo menos levaria menos complicações para meu povo, e com a morte de uma das "representantes", eles talvez poderão usar como vantagem de dialogar. Ou algo do tipo. 
Muitas situações vinham a minha cabeça. E por pior que parecesse, tentava pensar, em quem talvez lamentasse minha morte sem motivo ou explicação.

Voltei a minha tenda, deitando no chão, no saco de dormir frio designado a mim. Era da mesma forma que dormia desde que voltei a Terra, mas estava diferente, porque as pessoas a minha volta eram diferentes. Sabia que todos ali cortariam minha garganta pela mais simples das ofertas de Lexa ou qualquer outro.

Meus olhos logo se fecharam, devido ao cansaço excessivo, e o sono que tive, vindo com um sonho, era na verdade uma memória. "O momento em que Bellamy voltou ao acampamento, quando o vi, e meu coração falhou, deixando-me aliviada dos pés à cabeça, correndo em sua direção, logo me atirando no pescoço dele. Ele pareceu relutante, mas retribuiu o abraço, fazendo com que eu sorrisse, sentindo sua respiração no meu pescoço. Naquele momento a vontade de não solta-lo aumentava, mas não poderia me dar ao luxo."

***

Acordei com Nira me sacudindo. Alertando sobre o treinamento surpresa para uma prova que ocorreu no ano passado. O dia já começava totalmente estimulante. 
Do lado de fora, tudo já estava agitado. Pessoas corriam de um lado para o outro, com armas e outros utensílios em mãos.
Minha barriga roncou involuntariamente, a mais uma sem café da manhã ou se quer um copo d'agua.
Talvez se eu rezasse, a prova do último torneio, fosse uma tática, sem ter que utilizar força física. 

Evolie não parecia preocupada quanto a minha condição para o torneio, mas ela não tinha nada a perder. Ela já não era a principal comandante, não tem o melhor exército, então perder a garota do povo que veio do céu, não vai mudar sua condição, apenas a minha. Mesmo que eu lutasse e treinasse, eu tinha apenas uma semana até lá, e eu não tinha as habilidades de um terra-firme.

Forcei minha cabeça a focar apenas em chegar até Lexa viva, depois disso eu planejaria mais. Meu sangue fervia ao pensar nela, saindo com todo o seu povo, nos abandonando, deixando todos do meu lá para morrer no lugar dela, do lado de dentro e do lado de fora. Ela era uma covarde e egoísta. 
Mas por pouco tempo.