O corpo de Peeta doía. Sua cabeça parecia a ponto de explodir e o quarto inteiro girava. Seus olhos estavam fixos na tela do computador, à procura de qualquer coisa que trouxesse suas memórias de volta. Havia algumas notícias sobre seu acidente, mas nada fez com que o garoto se lembrasse do ocorrido.

Aquela noite tinha sido a pior noite do garoto. Era o que Finnick tinha dito. Pelo que parece, ele tinha bebido e gritado muito. No fim, ele chorou, recebeu uma mensagem e foi embora. Ninguém sabia qual tinha sido a mensagem. A única coisa que ele se lembrava era de um par de olhos castanhos. Eles estavam acompanhados de uma doce risada.

Ninguém respondera a pergunta de Peeta. Quem tinha causado o acidente? O garoto ou o homem que dirigia o outro carro? Ninguém realmente sabia. Frustrado, fechou o notebook quando a enfermeira anunciou uma visita. Uma mulher loira e pálida entrou no quarto, com um álbum de fotos. Assim que viu que Peeta estava acordado, esboçou um sorriso.

— Filho! Achei que não acordaria mais. Sei que a noite do acidente foi difícil, mas o médico disse que reviver algumas coisas pode te ajudar a recuperar a memória. Por isso trouxe esse álbum de quando você tinha dezessete. 

A mãe sentou na ponta da cama. Ela abriu o álbum e começou a tagarelar.

— Essa foto foi no seu aniversário de dezessete. Fizemos uma festa para você, mas você não quis ficar na festa. Pediu para que eu deixasse você no shopping. Disse que iria se encontrar com alguém. Essa foto foi quando você estava saindo de casa com... - a mãe do garoto se calou.

Ela fechou o álbum o mais rápido possível. Ainda assim, Peeta conseguiu ver um par de olhos castanhos. Mas não era esse par pelo qual procurava.

— Sair de casa com...? - perguntou o garoto.

A mãe apenas encarou Peeta. Seus olhos estavam marejados e ela parecia distante.

— Clove. - sussurrou.

Peeta tentou se lembrar desse nome, mas não conseguiu.Estava totalmente perdido.

— Quem é Clove? - ele perguntou, curioso.

— Clove é... Era— Sua mãe se corrigiu. - sua noiva. Não se lembra dela?

A mãe de Peeta parecia abalada. O garoto apenas negou. 

— O que aconteceu com ela?

— Clove morreu na mesma noite que você sofreu o acidente. Sinto muito querido. - ela falou, esperando qualquer reação do garoto.

Ele assentiu, tentando assimilar a notícia. Ele estava noivo. Sua noiva morreu na mesma noite em que ele sofreu o acidente. Como? Olhou para sua mãe, que agora chorava sem parar, e guardou a pergunta para si. Sabia que aquilo iria deixar sua mãe mais abalada.

— Eu sinto muito, mãe. - sussurrou. - Por ter esquecido de tudo.

Sua mãe levantou a cabeça e limpou o rosto. Ela esboçou um sorriso sincero ao ouvir as desculpas do filho.

— Não se preocupe, filho. Não é sua culpa. Você me chamou de... Mãe? - perguntou, em um sussurro.

Peeta assentiu, confuso pela surpresa da mãe. Ele não era seu filho? Era isso que os filhos faziam. Eles consolavam as mães quando elas choravam.

— Eu gostaria de me lembrar de Clove. Pelo que me disse, ela parecia simpática. Não merecia a morte. - disse com sinceridade.

A mãe assentiu, ainda sorrindo.

—Ninguém merece. Acho que vou gostar desse seu novo "você". Boa noite. - disse.

A mulher saiu do quarto, deixando um Peeta confuso e solitário no hospital