Acordei em um estranho palácio, com um chão polido e um céu brilhante que me cegaram. Ouvi uma estrondosa voz ecoando pelos corredores arrojados.

—Avisem os guardas! Nós temos uma mortal aqui! Rápido! -Ela dizia, quando avistei uma capa avermelhada arrastando pelo chão. 

— Quem é você, garota? Responda rápido, não hesite. -Um homem de longos cabelos dourados fitava-me. Fiquei um pouco ansiosa pela imensidão azul dos olhos dele. 

—Mary. -Tentei não parecer muito atordoada, principalmente por reconhecer aquele homem. Ele empunhou seu martelo em direção a mim e disse: 

—Ficarás sobre minha custódia, garota. 

—Você vai brincar de babá agora? -Murmurei, encostada na parede. Logo me arrependi.

—Te achas tão boa, então pode te virar sozinha. Vá encontrar o Pai de Todos por tua própria conta. -o homem virou as costas e saiu furioso, antes que eu pudesse me desculpar.

Não me preocupei muito com isso, o que me assustou um pouco.

— Até aqui as pessoas me decepcionam, impressionante. -Bufei, tentando coletar o máximo de informação de tudo aquilo que estava presenciando. 

Uma mulher se aproximou. 

—Mortal...? 

Frigga, a mãe de Thor. Seus olhos pareciam curiosos, mas ao mesmo tempo amedrontados. 

—Seria um pouco mais cordial chamar-me de Mary. -Disse, com um ar desconfortável. 

—Erhm. Claro... Mary. Gostaria de pedir que viesse ao encontro do pai de todos, por favor, acompanhe-me. -Aquilo não era um pedido.

 -Desde que não me ponham em uma jaula... -suspirei. 

—Não que ele tenha me dito, minha cara. -Ela esboçou um sorriso e começou a andar comigo ao seu encalço.

Odin repousava em um trono dourado e olhava-me com olhos cansados. Ou o que restou deles. Se levantou repentinamente e olhou para Frigga. 

—Acho que consigo cuidar disso sozinho, Frigga, pode ir. -Ele apontou para a saída e olhou para mim. -

—Claramente, não representa nenhuma ameaça. Mas como você chegou aqui? 

Coloquei minhas mãos nos bolsos de meu casaco e evitei olhá-lo. 

—Se eu disser que não sei, poderia aliviar a parte da jaula? -Disse, um pouco nervosa.

 Odin não conseguiu conter uma risada, o que chamou minha atenção.  Não era do feitio dele começar a rir tão facilmente. A risada era quase um sopro, não tão estrondosa quanto a de Thor e tinha um tom... diabólico. Olhei diretamente para o velho, empunhando um sorriso triunfante no rosto:

—Revele-se.

Ele revidou minha súbita confiança com um olhar sarcástico, como se eu estivesse dizendo alguma atrocidade ou algo do tipo. Fechei os olhos, tentando ver algo que não estava materializado, como uma presença implícita na atmosfera.

—Posso ser uma humana, mas não sou burra. Você não é Odin. 

Comecei a ficar irritada. Nunca gostei de ser subestimada por outros, já que esse papel cabia apenas a mim.

Algumas chamas verdes surgiram do corpo de Odin e aquele único olho azul dissipou-se em dois olhos verdes. Eles tentavam perfurar os meus, friamente castanhos. Era um homem com cabelos negros lisos e no ombro. Sua pele era pálida e ele era magrelo, com suas mãos ossudas cerradas.

—Você continua sendo inútil, mortal. -Disse, áspero.

—Talvez eu não seja como você pensa...frost giant. 

—Mas deve ser tão irritante quanto parece. -Ele disse, com um certo tom de espanto. 

Meu sorriso entortou, assemelhando-se ao que o "recém-chegado" usava há alguns instantes. Não gostava de Loki, eu sabia o que ele havia feito com Thor. Além de minha decepção, ainda conseguia persistir com minha devoção ao deus. 

—Não quero mais perder meu tempo com uma mera... 

As portas da sala foram abertas, interrompendo a fala do homem. 

—Está tudo bem, pai e....-Thor atravessou a porta com alguns guardas e olhou diretamente para o irmão. Engoli em seco, pensando em algo para nos tirar dali. Digo, ME tirar dali.

—Loki...? O que fazes aqui? Não deixarei você arruinar Asgard novamente. -Ele empunhou Mjolnir e eu apenas vi um clarão.

Tudo foi apagado em minha mente, minha razão foi vencida pelo meu instinto. Atirei-me em frente de Loki, sem pensar em mais nada.