A palha escrita por slytherina


Capítulo 1
O julgamento


Notas iniciais do capítulo

Li uma variação dessa mesma estória há muito tempo, mas não lembro o título do livro ou o autor, lembro apenas que era um livro religioso e o julgamento se passava após sua morte.



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Era uma vez um soberano de um reino distante, que julgava os crimes de seu reino de uma forma peculiar. Ele pesava os crimes dos acusados em uma balança. Em uma das bandejas, ele punha os atos de maldade, na outra, os atos de bondade. Por mais esdrúxulo que possa parecer isso dava certo. Conforme se avolumavam os objetos simbolizando maldade em uma das bandejas, esta ia pesando e desequilibrando a balança. O prisioneiro era então considerado culpado e jogado nas masmorras pelo resto da vida.  O contrário era mais difícil de ocorrer, pois os criminosos nunca apresentavam testemunhas de atos de bondade, para declarar em sua defesa.


Naquela tarde lhe trouxeram novo prisioneiro. Um sujeito chamado João Mercador. Jovem, autoconfiante e loquaz, com uma beleza de Adonis. O que não impediu que fosse acorrentado e amordaçado, para não iludir o rei, com sua língua dissimulada e fantasiosa, segundo as testemunhas de acusação.


Apresentaram quatro testemunhas, sendo a primeira: Eufrazina, idosa viúva, que gastou seus parcos recursos comprando beberagem sara-tudo, vendida pelo mercador, garantindo cura de suas múltiplas mazelas.


“Grandessíssimo mentiroso!” Ela exclamou.


A segunda testemunha: Gumercindo, popular dono da única estalagem do reino, que serviu seu melhor vinho, assou seu mais tenro leitão, para dar de beber e comer ao mercador. Este, “usurário, larápio e mentiroso”, segundo palavras do estalajadeiro, fugiu na calada da noite, sem pagar pelo banquete servido.


A terceira testemunha era Margarida, jovem camponesa, no frescor de sua juventude, enamorada do filho do vizinho, que comprou uma poção do amor do mercador. Ao dar a beberagem ao objeto de sua afeição, o mesmo foi acometido de poderosa diarreia e indigestão, e hoje não quer vê-la nem pintada.


“Cafajeste! Enganador! Falso!” Gritou a jovem enamorada ao mercador.


A quarta testemunha era de um ato de bondade. Seu nome era Sebastião, também conhecido como “Bastinho, o rato”. Jovem órfão, morador das ruas, que bebia da fonte pública, e se banhava no rio durante o verão.


Ele contou que durante uma noite particularmente fria, pediu ao mercador por acolhida e emprego, pois não tinha onde cair vivo, já que morto cai em todo lugar.


O mercador lhe disse que não poderia emprega-lo, pois não tinha moedas suficientes para isso, mas que compartilharia de bom grado, de sua palha de dormida. O que ele fez atirando palha de sua cama ao jovem, para que se aquecesse durante a noite. E pela manhã garantiu ao jovem que aquela palha era mágica, e se transformaria em ouro, que poderia vender por um bom preço.


Ao ouvir esse relato, a corte real explodiu em risos, ante a ingenuidade do rapaz.


O monarca então procedeu o julgamento. Em uma bandeja colocou a beberagem sara-tudo, o prato e caneca da estalagem, e a poção do amor maldito.


Na outra bandeja colocou um pouco da palha da cama do mercador, que estava com a testemunha da bondade. Para surpresa geral, a balança pouco a pouco se equiparou, até que a bandeja com a palha começou a baixar. O rei foi observar a palha amarela e tomou um susto.


“Ela é feita de ouro!” O rei exclamou.


Foi um alvoroço na corte real, com todos os presentes excitados, falando ao mesmo tempo. O mercador foi então libertado.


E todos viveram ...suas vidinhas normais de todos os dias, exceto Bastinho, o rato, que conseguiu um emprego em um estábulo e dormia na palha do local. Pela manhã, seu patrão sempre pesava a palha, pra ver se ocorrera um milagre.

FIM

Moral da estória: Nenhuma na verdade ...Oh, está bem. Faça o bem sempre que tiver oportunidade. Nunca se sabe quando seus atos serão julgados, e uma palhinha pode fazer a diferença a seu favor.


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