A demência pelo mundo escrita por Vênus


Capítulo 8
Que bilhete é esse?


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo revisado e corrigido]



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— Eu ainda quero ir no banheiro... – Jeferson choramingou.


Eric apontou para a árvore.


— Só ir aí...


— Tem pessoas amarradas naquela árvore, Eric!


Luciano se chacoalhou na tentativa de sair.


— Por falar em pessoas amarradas, quando a Larissa vai voltar pra soltar a gente, hein?! – levantou a voz. – Vai me dizer que temos que controlar a respiração para sair daqui também!


— Então, agora que temos tempo... Vocês podem me explicar o que está acontecendo...


— Deixa de ser preguiçoso e vai ler o livro que a Larissa te deu! – Carla falou.


— Preguiçoso? Eu?! Claro que não! Apenas um não apreciador de se esforçar...


Ela revirou os olhos.


— Luciano, – Ingrid chamou. – você não é super resistente? Deveria conseguir quebrar as correntes.


— Ah, agora vai jogar na cara que eu não consegui?


— Não, só estou dizendo que você não tentou quebrar elas...


— Não tentei?! – se chacoalhou ainda mais forte. – Eu sou o que mais está tentando sair daqui!


Eric chegou mais perto da árvore.


— Eric, eu falei que tem pessoas amarradas nesse árvore, não é uma boa ideia se aliviar ali...


— Credo, Jeferson! Só estou tentando analisar a melhor estratégia pra tirar eles dali!


— A melhor estratégia é usar toda a nossa força juntos!


Ingrid e Luciano começaram a se debater o mais rápido e forte que conseguiam, o garoto dos olhos castanho-avermelhados até tentava dar mordidas nas correntes uma vez ou outra. Mas pararam ao olhar para Carla e ver que a mesma não estava mexendo um músculo.


— Ô, Cleópatra, por que não está ajudando?


— Quem é a preguiçosa agora, hein? – Jeferson sorriu.


— Eu desisti.


— Como assim desistiu?! – Luciano olhou pra ela. – Tão rápido?!


— Pois é, estamos condenados a ficar aqui pra sempre.


— Só não te bato porque a Ingrid está no meio de nós dois!


— E porque você tá amarrado...


— Não use argumentos lógicos contra mim, Ingrid!


A menina de cabelos compridos riu.


— O que eu deveria fazer? Mexer as mãos assim? – moveu os braços.


A corrente de Carla se arrebentou no exato momento, fazendo-a ficar de olhos arregalados, enquanto todos a encaravam em silêncio.


— É, Carla, – Eric se afastou um pouco. – exatamente assim.


— Ok, vocês estão começando a me assustar, e boiar está ficando perigoso, acho que devo ler esse livro de uma vez. – riu de nervoso.


Jeferson se afastou lentamente e abriu o livro de capa preta.


— Pensando logicamente... – Eric começou.


— Lá vem o senhor das estratégias incríveis falar mais um plano...


— Como eu ia dizendo... – fuzilou Luciano com os olhos. – Pensando logicamente, a Carla é a mais forte aqui, ela poderia arrebentar as correntes de todo mundo, mas, por outro lado, não tem sentido o Luciano ser extremamente resistente e não conseguir ter força para as correntes...


— Ou seja, você acabou de concluir que não sabe de nada.


— Luciano, estou tentando me concentrar! – suspirou. – Enfim, resumindo, Luciano permanece um mistério, e a Carla tem que soltar os outros.


— Ok! – fez uma pose heroica. – Eu vou libertá-los!


— Essa é a Carla animada que eu conheço! Agora me tire daqui antes que meu topete fique amassado, o meu tem que ficar melhor que o do Jeferson.


Ela andou até ele e fez um pouco de força com as mãos para arrebentar as correntes, Luciano saiu correndo e rodeando a árvore enquanto gritava que estava livre.


— Depois eu que sou a animada do grupo...


— Estou gritando para que a Larissa ou o Pedro, que devem estar nos observando escondidos, vejam que eu saí primeiro e me deem o prêmio!


— Ei! Eu que te libertei!


— Mas eles não precisam saber disso... – esfregou as mãos maleficamente.


Aproveitando a deixa, Eric foi até a garota de óculos, que ainda estava amarrada, e sentou-se do lado dela.


— Você consegue ver o material das correntes?


— Hum... Eu não desativei a opção de detectar metais desde o confronto com o bule, então sim. – ela olhou pras correntes. – Ferro.


— A Carla rompeu correntes de ferro como se fosse papel?!


— Eric, – sussurrou. – acho que os “poderes” dela podem estar descontrolados, primeiro ela quebrou a mesa, agora isso, ela até conseguiu fazer o Luciano desmaiar! E se ela acabar machucando a gente?


— Você acha que é algo a considerar para falar pro Pedro?


— Acho que sim, mas desde que você fale, eu não sei dialogar com as pessoas direito.


— Você quer dizer com as pessoas estranhas, com a gente você dialoga muito bem.


— O Pedro é estranho!


— Ok, ok.


Merceers? Croosers? Jeferson pensava em um canto. O que isso significa?


Ele olhou em sua volta, Carla e Luciano discutiam enquanto Eric e Ingrid conversavam na árvore, aquele livro não parecia responder nenhuma de suas perguntas.


— Já levei bronca hoje! Deixa dessa vez eles me elogiarem!


— Todo mundo levou bronca hoje!


— O Jeferson não levou!


— Porque ele conseguiu derrotar o bule!


— E eu consegui me soltar das correntes!


— Não! Eu que te soltei!


Ingrid assistia os dois brigarem.


— Eric, Carla está ficando alterada, melhor pararmos isso antes que resulte em um desastre.


Luciano gritava.


— Você com certeza vai ser elogiada algum dia, eu já não tenho essa certeza!


— Isso não é desculpa!


— Ei! – Ingrid gritou. – Ainda estou amarrada aqui!


Carla mostrou a língua para Luciano e foi em direção da árvore.


— Desculpe, Ingrid, – quebrou as correntes. – tive alguns contratempos.


Mal havia terminado de soltar sua amiga, quando todos ouvem batidas fortes na porta de entrada.


— Por favor, que não seja outro bule, não aguento mais tomar café, preciso ir no banheiro!


— Aiáááá! – gritou um alface ninja derrubando a porta.


— Sinceramente? Eu desisto, vou boiar pela eternidade.


Pedro chegou logo depois com um olhar preocupado.


—Graças ao Santo Alface! Vocês estão bem!


Jeferson olhou aquele garoto que entrara na sala, o cabelo preto bagunçado, os olhos verdes, o colar com o pingente em forma de losango, ele reconheceu imediatamente, e deu um grito.


— O que é isso, Jeferson? – Eric estava com as mãos nos ouvidos. – Quer nos deixar surdos?


— Foi esse! – ainda gritava. – Esse cara que me raptou!


— Oi! – Pedro sorriu.


— Ah, – tirou a mão dos ouvidos. – esse é o Pedro, nosso... Professor, eu acho.


— Ele me raptou!


No local de entrada, que estava sem porta naquele momento, Larissa apareceu e parou subitamente, tentando entender o que estava vendo.


— O que aconteceu aqui?


Luciano chegou mais perto.


— A gente respirou forte demais e a porta caiu.


Não me admiraria se Carla fizesse isso. Pensou Ingrid.


— Eu saio por alguns minutos e quando volto a porta da sala está arrancada!


— Não se preocupe, eu tenho uma máquina para consertar portas quebradas! – Pedro correu até a entrada.


— Por que a porta está quebrada? – olhou com uma expressão confusa.


— Bem... Ela estava trancada... E eu tinha um alface ninja...


—Trancada? Eu só encostei a porta quando saí.


— Uh... Bem...


— Sabia que ficar boiando por muito tempo pode causar morte? – Jeferson observava de longe.


— Pedro, Larissa! – Luciano tomou a frente. – Quem se libertou primeiro ganha o que como recompensa?


— Nada. – os dois falaram juntos.


Luciano bufou em descontentamento.


— Jeferson, presumo que Larissa e o grupo já devem ter te explicado as coisas.


— Ah, sim, claro, sei exatamente de tudo.


— Ótimo! Pegue esse GPS. – jogou para ele.


— Obrigado! É de comer?


[...]


Já devia ser por volta das nove da noite, embora não desse de ver como estava lá fora, as luzes do prédio estavam mais fracas, como se propositalmente instigassem o sono. O grupo estava na sala de reuniões, os garotos nas cadeiras estofadas, e as garotas em volta da pequena mesa de carvalho que Carla quebrara no dia anterior.


— Você acha que um dia vamos fazer missões de verdade? – Carla estava com os braços segurando seu próprio corpo para se esquentar.


— Se não sabemos nem respirar direito, não acho que vão colocar a gente em coisas mais avançadas.


— Hum...


Ingrid estava desenhando algumas bases de anime enquanto conversava, usando um pijama vermelho com estrelinhas. Ela e Eric já tinham falado com Pedro sobre Carla, que respondeu com um “Vou dar uma olhada!”.


— Eu acho que você seria a mais útil!


— Quê? – parou de desenhar.


— Você tem esses óculos com várias funções, com certeza vai ser a que mais vai ajudar!


— Ah, talvez, mas eu não tenho uma super resistência, inteligência ou... – parou.


— ...Ou?


— Ou uma animação tão grande quanto a sua! Até quando estou animada pareço séria! Sinto que minha alma ri, mas meu corpo esquece de fazer isso.


— Isso foi bem... Profundo?


— Cala a boca.


As duas riram


Os garotos, quase do outro lado da sala, conversavam sobre aquele prédio misterioso.


— Alguém viu a Larissa? – Eric perguntou.


— Eric, Eric... Mal viu a garota e já se apaixonou.


— Eu não me apaixonei por ela! – corou. – Só estou preocupado, não vemos ela desde o almoço.


— E ela nem comeu nada! – Jeferson estava com uma maçã. – Isso foi quase um insulto para aquela mesa repleta de comidas gostosas!


— Talvez ela estava triste... Percebeu como a voz dela era monótona durante toda a explicação?


— Deve ser só mais um problema de garotas! – Luciano se ergueu. – E eu não me preocupo com pessoas que não me dão prêmios pelos meus feitos!


— Se você tá falando das correntes, o “prêmio” seria da Carla.


— Agora vai defender ela? Não estava gostando da Larissa? Decida-se, Eric!


— Eu não estou gostando de ninguém! – cruzou os braços emburrado.


Pedro surge na sala segurando a xícara por uma coleira.


— Uma xícara de estimação?! – se engasgou com a maçã.


—É uma longa história... – todos disseram.


Pedro foi até os garotos.


— Eric e Luciano, apresentem o quarto de vocês para Jeferson, ele dormirá com vocês também.


— Oi? Dormir? Eu não vou voltar pra casa?


— Vejo vocês amanhã, – sorriu. – tenho assuntos para resolver, não se esqueçam de apresentar os lugares para o Jeferson, garotos!


—Tudo bem!


Os meninos saíram da sala, e um robô pequeno entrou começando a limpar os móveis.


— Eu vou subir pro nosso quarto, você vem, Ingrid?


— Pode ir na frente.


— Tudo bem, não demore! Precisamos acordar cedo... E eu sou péssima nisso...


Carla pegou o elevador, e a garota de óculos terminou de desenhar, suspirando.

 

Nunca pensei que Pedro fosse tão inteligente, olha só pra isso! Um robô que limpa os móveis!

 

Ela ouve passos pelos corredores, confusa, fecha seu bloco de desenhos e levanta para ver quem ainda está acordado.


A porta abre assim que ela chega perto, com uma tecnologia de sensor de proximidade, Ingrid então deixa a sala de reuniões e começa a vasculhar os corredores.


Não tinha ninguém ali, e as luzes estavam curiosamente mais fracas que antes.

 

Espero que isso não vire uma história de terror...


De um ângulo específico, algo brilhava contra a luz, ela se aproximou até conseguir ver o que era.


Um fio de cabelo? O pegou. É loiro e comprido, só pode ser da Larissa!


Um mini ataque cardíaco aconteceu quando ela vê em sua visão periférica um vulto, mas logo se acalma ao ver que era apenas Larissa entrando em outro corredor.


Onde será que ela está indo?


Seguiu devagar, cuidando para não ser percebida, mas, ao entrar naquele corredor, apenas viu que não levava a lugar algum.


Como que ela passou por aqui? Tentou analisar as paredes com seus óculos sem sucesso, até perceber que havia um papel no chão. O que é isso?


“1° regra: Não se apegue.
2° regra: Não crie expectativas.
3° regra: Não se importe.
4° regra: Sem decepções”.


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Notas finais do capítulo

Momento de curiosidades

— A voz de Larissa é sempre fria e monótona, o olhar é distante

— Todas as portas abrem quando alguém chega perto, exceto a da sala de treinamentos, que era uma porta "normal"



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