A demência pelo mundo escrita por Vênus


Capítulo 7
Boiar ou não boiar? Eis a questão


Notas iniciais do capítulo

[Capítulo revisado e corrigido]



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Após um tempo, Larissa começou a andar de um lado para o outro com um olhar pensativo, de cabeça baixa. Só então o grupo teve tempo de analisá-la com mais calma, suas vestes pareciam ter saído da escola japonesa de algum anime, uma blusa branca com detalhes vermelhos que combinavam com o tom da saia, meias brancas longas e uma sapatilha preta, daquelas que passa uma tira por cima do pé.


A sala, que já era enorme, parecia ainda maior e vazia considerando o silêncio que ali se empregava, interrompido uma vez ou outra por um murmúrio da garota loira que se encontrava na frente deles.


— Escute, – Luciano tomou a frente. – não importa o que você vai decidir, realmente não me interessa! Apenas faça alguma coisa!


Ela parou sua mini jornada de caminhada e mirou o menor integrante do grupo.


— Iremos começar com algo bem simples, aprender a respirar.


— Você está de brincadeira com a minha cara, né? Vamos salvar o mundo como? Respirando na frente dos inimigos até eles se renderem?


— Vocês utilizam o pulmão para respirar? – perguntou ceticamente.


— Não! Nós usamos pra comer, ontem mesmo eu estava comendo macarrão com ele!


Ela apenas o ignorou.


— O modo correto de respirar não é com o pulmão, e sim pelo diafragma. Quando bebês, fazemos isso automaticamente, mas, conforme crescemos, respiramos usando os músculos do peito, ombro, e pescoço.


— Isso é a prova de que quanto mais crescemos mais acontece a decadência humana. – Carla sussurrou para Ingrid.


— Silêncio! – disse Eric. – Isso pode ser útil na natação!


Ela mostrou a língua pra ele.


— Uau! Grande descoberta, e como isso vai virar um treinamento? – Luciano cruzou os braços.


— Quando utilizamos todos esses músculos pra respirar, estamos gastando uma energia desnecessária que poderia ser usada para outros fins naquele momento. No caso de vocês: executar as missões.


— E nadar! – Eric levantou os braços.


— E nadar. – ela sorriu.


Carla cruzou os braços emburrada pelo flerte dos dois.


— Em um campo de batalha, a respiração é importante, aprender a controlar ela lhes dará vantagens, você pode poupar energia e evitar ficar ofegante, sem contar que se um inimigo tiver veneno em inalantes vocês poderão ficar sem respirar por um tempo que pode ser crucial à sobrevivência de vocês.


O vermelho na íris de Luciano se acentuou enquanto ele sorria e posicionava as mãos de maneira manipuladora.


— Hum, isso está ficando interessante...


— Luciano! – Carla deu um cutucão nele.


— Com treino, quanto tempo nós podemos ficar no máximo sem respirar? – perguntou Eric.


— Uma média de três à quatro minutos, mas tem uma pessoa que consegue fic...


A porta se abriu estrondosamente, um garoto entrou correndo e gritando com um olhar muito assustado.


— Tem mais um integrante na equipe?


Parou perto do grupo, ainda ofegante, a confusão nítida na sua expressão.


— O-o que... Vocês?! – ainda arfava. – O que vocês estão fazendo aqui?! Espera... Também foram sequestrados?!


Se antes a equipe não havia o reconhecido, agora com certeza o reconhecia. O topete no cabelo, as bochechas rechonchudas, só podia ser o...


— Jeferson?! – exclamou Carla.


— O Jeferson também é um alien? – murmurou Ingrid.


— Apenas um pode ter topete aqui! – bufou Luciano.


Larissa se aproximou do garoto, que parecia mais calmo, embora ainda estivesse com dificuldades na respiração.


— Se Pedro o trouxe, é por uma boa causa, – estendeu a mão. – bem vindo, Jeferson.
Ele também apertou a mão dela, com certa relutância.


— Olha, eu não sei o que estou fazendo aqui, só me lembro de estar em casa comendo e do nada eu vim parar nesse lugar... Tinha um carinha doido com alfaces!


— É uma looonga história... – Ingrid falou com as mãos nos bolsos.


— Jeferson! – Eric se aproximou com um high five. – Que bom que vamos ficar juntos!


— Espera, espera, espera aí! Ninguém me falou o que está acontecendo!


Eric pegou a mão de Jeferson para completar o high five e não ficar no vácuo.


— Droga, vamos voltar pro treinamento logo? – Luciano esfregava a mão no rosto. – Se é que pode chamar isso de um treinamento.


Larissa pegou sua mochila da árvore e tirou um livro aparentando ter cem páginas, em seguida o entregou para Jeferson.


— O que é isso?!


— Um livro explicando a história e os poderes de cada um de seus companheiros de equipe.


A garota de óculos arregalou os olhos.


— Existe um livro sobre isso?!


—Sim, existe. Jeferson, você ficará no terceiro lugar das fila de missões.


— Terceiro Lugar? Missões? Poderes?!


— Ei! Você tinha explicado nossos lugares na fila antes... – Eric colocou a mão no queixo. – Mas você pulou o terceiro lugar! Você já sabia que o Jeferson ia vir?


— Digamos que Pedro tenha me avisado para reservar esse lugar...


— Alô? Estou esperando uma explicação!


— Não temos tempo pra isso... Ele está chegando...


— Ele?! Ele quem? Alguém pode me dizer o que raios está acontecendo aqui?!


Sem dizer mais nada, Larissa andou até a árvore central, subiu o máximo possível e se escorou em um dos largos galhos que havia ali.


Ao mesmo tempo, a atmosfera parecia ter ficado mais fria, ou podia ser também o arrepio na espinha que todos haviam sentido ao ficarem sozinhos de novo.


Carla se aproximou mais de seus amigos, ficando no meio deles.


— Estou com um mal pressentimento , Eric...


Uma parte da parede, que parecia bem sólida e homogênea com as demais, começou a abrir na vertical, e o barulho de um animal feroz ecoou por aquela grande sala.


— Nós vamos morrer! – gritou Jeferson correndo para o mais longe possível daquela parede. – Meu Deus, nós vamos morrer!


— Fica quieto ou o bicho vai ouvir a gente!


Um bule gigante com braços e pernas saiu da enorme porta parecendo estar faminto.


— O-o quê?! – Jeferson colocou as mãos já cabeça.


— Um bule gigante! – Luciano riu. – Eu sempre quis ter um!


— Desde quando existem bules gigantes?! – Carla deu passos pra trás.


— Desde quando bules têm braços e pernas?! – Ingrid se afastava junto.


— Não acham que não é momento de pensar nisso agora? – a voz de Eric estava trêmula. – Corram! – e saiu em disparada.


Cada um correu para uma direção diferente, e, o bule, vendo toda essa agitação, começou a correr atrás deles, com vapor saindo de seu bico e parecendo um apito de trem.


— Nós precisamos de uma estratégia! – Eric corria.


— Não me diga! – Luciano ficou de costas pra parede, observando a melhor direção para fugir.


Mexendo nos botões de seus óculos, Ingrid conseguiu ativar a detecção de metais e mirar no bule. Alumínio. Era o que dizia, e do lado algumas propriedades desse metal.


— Precisamos de defesa! A estratégia vai demorar muito, se perdermos tempo com isso nós iremos ficar feridos! – olhou preocupada para a possível temperatura do bule.


— De que adianta a defesa se não temos a estratégia para comandá-la?


— Do que vocês estão falando?! Eu estou boiando aqui! – Jeferson falou ofegante.


O tempo passava, o bule ia ficando cada vez mais rápido, e os integrantes estavam começando a ficar cansados de correr.


Luciano parou encostado novamente na parede. Pensando bem, se ele era duro como uma pedra, talvez ele aguentaria o ataque do bule e conseguiria derrotá-lo. Além do mais, ouvir uma estratégia demorada era o que ele menos queria naquele momento.


— Estratégia? Só serve na teoria. Defesa? Você me acha com cara de quem fica na defensiva? O jeito é atacar o bule de uma vez! – ele correu em direção do bule.


— Pela primeira vez, eu concordo com o Luciano! – Carla também imaginava que poderia quebrar o bule assim como fez com a mesa.


— Eu continuo boiando! Só pra avisar!


A disposição das pessoas estava se esgotando, e a equipe não chegava em um acordo.


— Façam o que vocês quiserem! Eu sou a estratégia! Eu vou seguir a razão!


Eric se abaixou em um ângulo que o bule não poderia ver por causa da árvore, e começou a pensar o que poderia derrotar aquele ser bizarro. Talvez a fonte do vapor?


— Quem se importa? Eu sou ataque! Vou seguir a força! Carla você vem comigo!


— Mas eu...


— Vem! – ele puxou o braço dela.


— Podem seguir o que vocês quiserem, mas eu vou me defender e não vou me ferir! – fechou seu casaco para proteger seu corpo de queimaduras.


A equipe começou a se separar.


— Pessoal...?! – Jeferson olhava de um lado para o outro. – Eu não acho uma boa ideia nós nos separarmos assim...


O bule continuava com a mesma fúria, correndo e tentando engolir os integrantes da equipe.


Já sei. Eric ainda estava perto do tronco da árvore. Eu poderia atrair o buleenquanto ele vemé atacado e será derrotado!


Mas ele se perdeu demais nos seus pensamentos, pois não percebeu que o bule trocara de posição e agora estava atrás dele. Quando percebeu, já era tarde, o bule tinha o engolido.


— Eric, não! – Carla gritou em choque.


— Droga, eu sabia que a estratégia não adiantaria, a defesa é o fundamental.


Ingrid se escondeu, mas enquanto estava distraída, o bule a achou, a defesa ajudou um pouco, mas não foi o suficiente. Porém, em vez de ser engolida, o bule a amarrou no tronco da árvore com os braços esticados na horizontal.


— Isso virou Naruto agora?!


— Vamos, Carla, ninguém mandou eles não atacarem! Gerônimooo! – pulou pra cima do bule.


O bule engoliu Luciano, depois o cuspiu e o amarrou no tronco ao lado de Ingrid. Carla estava paralisada com o que acontecera a seus amigos e não conseguiu se mover para fugir. O bule a pegou também e a amarrou junto com os outros.


— Carla! Sua mosca tonta! Por que não fugiu?!


— Eu... Fiquei com medo e não consegui me mexer...


— Calma, Pedro não iria nos matar, não é? Ele vai aparecer depois e nos desamarrar...


— Ah, você sim! Ele gosta de você! E a gente?! E... E o Eric? – perguntou de cabeça baixa.


Saindo das sombras gritando de raiva, Jeferson ataca o bule, pulando em cima dele.


— Devolve... O... Meu... Amigo! – dava socos no bule.


O bule começou a soltar mais vapor, parecia urrar de raiva como um animal selvagem.


— Convivo com bules todo café da tarde, não vai ser agora que um vai me derrotar!


Ele tira a tampa do bule, jogando-se lá dentro.


— Jeferson!


— O que ele está fazendo?! Pode se queimar!


— Missão suicida? Se bem que eu disse que apenas um de nós pode ter topete.


As duas olharam para Luciano, que se encontrava no meio delas.


— Só estou descontraindo o clima!


Jeferson começa a beber todo o café do bule, enquanto ele apitava e soltava mais vapor, até que uma hora, sem forças, cai no chão derrotado. Jeferson sai lá de dentro molhado de café, limpa o canto da boca com a mão e caminha com dificuldade.


— Estava faltando um pouco de açúcar.


Pulando da árvore, Larissa olha para a equipe em desaprovação.


— O que vocês pensam que estão fazendo? Não estão agindo em equipe, menosprezaram as funções dos outros, e não aproveitaram em nada a lição do treinamento!


— Posso saber como um bule gigante com braços e pernas tem a ver com aprender a respirar?! – Luciano a fuzilava com os olhos.


Ela foi em direção do bico do bule, mexendo lá dentro enquanto falava.


— Simples, esse era o treinamento perfeito para vocês treinarem economizar o ar, sabendo aproveitar o oxigênio que vocês inspiraram. Como esse bule não se cansa e vocês sim, seria muito mais fácil vocês aproveitarem o oxigênio, não precisar de tantas respirações e não se cansar tão facilmente. – ela consegue tirar Eric ensopado de lá de dentro. – Era função do integrante com a função estratégia saber disso e avaliar.


— E não tinha um exercício mais simples?! 


— Eric! Você está bem?


— Molhado, mas bem, Carla. – torceu a ponta da camisa.


— Você também, Luciano. Deveria esperar o comando do Eric, ataque não é tudo em uma missão, às vezes nem é necessário.


— Eu ainda estou boiando em tudo o que está acontecendo aqui, mas... Onde é o banheiro? Bebi café demais...


— Carla, você não deve se deixar levar pelo Luciano ou por qualquer outro integrante se você não quiser, é você que toma as suas decisões.


— Vou ganhar um Oscar pela façanha de ser a pessoa que boiou por mais tempo na história.


— Ingrid, estratégia é sim necessária, não tome decisões pela equipe inteira.


— Vocês não irão me explicar né? Sabia.


— Parabéns, Jeferson, você foi o único que não foi pego pelo bule. Bem, o treinamento de vocês acabou, tenham um bom descanso. – ela anda até a saída e fecha a porta.


— Espera, ela não vai nos soltar?


— Claro que vai, Luciano! Ela vai voltar, não é, Ingrid?


— Eu... Não tenho certeza...


Luciano começou se debater nas correntes.


— Ei! – gritou. – Tira a gente daqui!


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Notas finais do capítulo

Momento de curiosidades:

— Jeferson tem 14 anos;
— Jeferson estudou desde o primário com Carla e Luciano, conhecendo a Ingrid no 6° ano e o Eric no 8°;



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