Los Guaimarán escrita por Araimi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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— Cherie! Cherie!

           

Era a voz alegre de Maurice ribombando pela casa.

           

— Estou aqui! – Marisela respondeu, guiando-o com sua voz até o seu quarto.

           

Ele apareceu no batente da porta com um sorriso nos lábios, ergueu um envelope amarelo em suas mãos e caminhou em direção à ela na cama.

           

— É do Santos. – Ele declarou.

           

As feições de Marisela murcharam no mesmo instante. Ela tentava não pensar nele, na vida que poderiam ter tido. No amor que sentia por ele. A ferida ainda estava aberta e doía mais do que gostaria. Mas ela estava sarando. A cada dia conseguia pensar menos nele e na vida que levara em Progresso e no futuro que poderia ter tido em Altamira.

           

Santos também havia colaborado. Não a buscava tanto quanto um dia havia feito. Parecia que finalmente havia entendido que ela jamais poderia estar com ele agora que Santos era o pai de seu irmão mais novo. Mas, periodicamente, uma carta chegava, lhe dizendo coisas bonitas, fazendo promessas de um futuro que já não poderia existir e fazendo com que as feridas voltassem a sangrar.

           

Ela pegou o envelope das mãos de Maurice, agradecendo baixinho.

           

— Eu volto mais tarde. – Ele disse, dando uma piscadela e saindo logo em seguida.

           

Esses meses que Marisela esteve morando com Maurice só fez com que ela gostasse ainda mais do homem. Jamais teria como lhe agradecer o suficiente por tudo o que fez por ela.

           

Marisela abriu o envelope com cuidado e leu atentamente cada palavra. Palavras eram tudo o que ela poderia ter de Santos. Lá estavam mais coisas bonitas, mais promessas, mas, diferente das outras vezes, não havia um pedido para que regressasse. E, no último parágrafo da carta, Santos anunciava o nascimento de seu primeiro filho.

           

Um menino.

           

Saudável, bonito e robusto. O sonho de qualquer pai.

           

Havia nascido há dez dias atrás e chamava-se Pedro Luzardo Guaimaran.

           

Após a carta havia uma foto. Marisela aproximou-a de seu rosto e estudou o bebê nela. Estava dormindo, uma mão fechada próxima ao rosto. Ele era robusto e tinha as bochechas vermelhas. Tinha uma densa massa de cabelos castanhos lisos sobre a cabeça; um nariz pequeno e lábios bem desenhados. Era bonito como um bebê recém nascido podia ser.

           

Ela vira o bebê de Luisana e, apesar de não ter comentado, não o havia achado muito bonito. Em comparação a esse da foto, era um magricela careca.

           

Leu o último parágrafo da carta novamente e voltou a olhar o menino. Pedro Luzardo Guaimaran. O filho de Santos. O filho dela. Seu irmão.

           

Gostaria de sentir alguma coisa por ele. Um carinho fraterno ou qualquer sentimento que se tem quando vê um bebê, mas não sentia nada. Não o odiava. Tão pouco o amava. Olhava para o menino na foto e buscava traços de Santos. Tentava não pensar na mulher e talvez por isso o tenha achado mais parecido com o pai.

           

— Pedro Luzardo Guaimaran. – Ela disse seu nome baixinho, deixando cada sílaba rolar de sua língua.

           

Marisela sempre pensara que Bárbara ia tirar ela de Santos. Durante um tempo, pensou que Santos seria o motivo de perder Bárbara novamente. E no fim, o que a afastou de ambos foi um menininho que tinha os dois nomes que Marisela Barquero, em algum ponto de sua vida, desejou ter.

           

Talvez sempre tenha sido o plano do destino que aquele menino tivesse tudo o que ela um dia quis. Os sobrenomes, as fazendas. A mãe.

           

Marisela embolou a carta e o envelope, jogando-os na lixeira. Pegou a foto e estava pronta para dar o mesmo destino à ela. Hesitou. Olhou o menininho novamente. Olhou ao redor com a foto em mãos e caminhou em direção à estante que guardava sua pequena, mas crescente, coleção de livros. Pegou um livro qualquer, abriu-o e colocou a foto dentro dele. Colocou o livro no lugar e jurou a si mesma que não pensaria muito sobre aquilo.

           

Aquela vida já não pertencia a ela.


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