A noite chegou.
O frio que se espalhava no lugar conhecido como ´´Terras de sempre inverno´´ Não era recente, a neve sobre o chão da floresta fazia os nativos se afundarem até os joelhos, o céu não estava escuro, estava pálido e entre coberto pelas nuvens cinzentas e densas. Nem mesmo os lobos de caça estavam uivando naquela noite.
As nuvens começaram a se abrir, a luz da lua estava centrada em um único ponto. Um lago, um rio congelado, não se sabia ao certo a quantidade de tempo que ele estava nesse estado, mas ainda permanecia com uma grossa camada de gelo sobre a superfice da água, que ali já não corria mais.
Os sinais eram fortes, primeiro o céu se abriu e a floresta se iluminou com a luz pálida. Depois o gelo do lago começou a ceder, o barulho de estalo foi seguido pelas rachaduras que se espalharam em metros e mais metros, até que em cada parte do lago havia uma fenda. O maior estrago se espalhou no centro do lago, até que duas mãos subiram a superfice, mãos pequenas de uma criança.
A mesma ergueu a cabeça das águas congeladas, era um garotinho de aparência atarracada, que tentava desesperadamente puxar o ar frio e fino até os pulmões. Ele sentia as águas frias, que o deixavam com frio até os ossos. A quanto tempo estava ali? Como havia chegado até lá? Isso ele não soube responder.
Ergueu os braços para fora das águas e agarrou a calota de gelo mais próxima e se jogou sobre ela, por sorte ela não afundou com seu peso. O garoto ficou ali enquanto lutava para respirar, para voltar a se mover ou fazer qualquer outra coisa. Ele não conseguia, se sentia cansado e fraco, quando outro vento forte soprou seu corpo inteiro tremeu.
Seus olhos, que pareciam pontos pretos, se moveram para os lados, percebeu de forma apavorada onde estava, mas apenas um pensamento lhe passava pela cabeça ´´Eu vou morrer´´ Algo em sua mente lhe implantava essa sensação que o fazia querer ter voltado a se afogar, o desespero foi eminente, enquanto procurava auxilio olhou para cima e então, viu a lua.
Tão grande e tão brilhante, parecia que ele espantava a escuridão dos cantos mais escuros da floresta, e quando ele viu a luz, não sentiu mais medo. O lugar inteiro não parecia assustador, parecia apenas coberto de branco como um globo de neve.
Sem que percebesse, suas pernas se ergueram e ele se pós de pé, reunindo toda a coragem que um garotinho de 8 anos deveria ter. Conseguiu andar sobre todas as calotas de gelo, um passo de cada vez, nenhuma delas sequer se moveu ou emitiu qualquer outro barulho de estalo, o garoto se sentia pronto para nadar caso isso acontecesse.
Ao chegar a margem esquerda do rio, assim que seu primeiro pé se afundou sobre a neve o gelo se desfez sobre o lago, a correnteza levou todas as calotas rio abaixo e ele começou a fluir normalmente, o barulho das corredeiras era relaxante de certo modo, até teve certeza de ouvir alguns peixes pulando sobre as águas, felizes, como se esperassem por esse momento anos a fio.
As árvores se moveram com o vento, a fazendo sussurrar como coisas vivas. Uivos distantes e simultâneos ecoaram através delas. O garoto sentia o medo, embora não o compreende-se. Ficou imóvel e estático, esperando pela alcateia ou qualquer outra coisa que viria a seguir.
Das sombras das árvores, cinco enormes lobos saltaram a sua frente. Ele abriu a boca para tentar gritar pelo susto, mas nenhum som saiu. O único som vinha do rosnado raivoso dos lobos. Todos eles cinzentos e com enormes olhos amarelos que brilhavam nos escuro. Não podia se mexer, mais um passo para trás e voltaria para o lago, não queria isso nunca mais. Não sabia se era o medo, mas viu um clarão se movendo dentro da floresta.
O barulho de algo se arrastando sobre a neve fez os lobos pararem de rosnar e olharem para trás. Pensou em fugir, mas seus pés continuaram afundados na neve. Um trenó surgiu, puxado por lobos, havia pessoas nele. No minimo cinco, duas erguiam lanternas a gás para iluminar o caminho, as outras empunhavam lanças, mas não estavam miradas nos lobos, mas nele.
As três pessoas com as lanças pularam do trenó, não conseguia identificar os rostos, todos eles estavam encapuzados e cobertos do que pareciam varias e enormes roupas de pele, deixando apenas os olhos a mostra, para seu terror eram todos amarelos e brilhantes como os dos lobos. Três dos lobos se puseram ao lado de cada um deles, como cães de caça. Os outros dois voltaram para as pessoas no trenó.
Um deles disse algo, mas não conseguiu entender devido ao capuz que lhe cobria a boca. Apesar disso os outros dois assentiram positivamente, seu coração sossegou no momento em que eles largaram as lanças, mas voltou a disparar quando eles o agarram e o amarraram com uma corda, até que ele ficou completamente imobilizado com os braços para baixo e os pés atados.
Eles o jogaram na parte de trás no trenó, que deu meia volta e se aprofundou nos caminhos escuros da floresta. Ele deslisava sobre a neve rapidamente, e os lobos que o encurralaram o seguiam na parte de trás, indo na mesma velocidade. Talvez o estivessem vigiando, de forma que não seria como se mexer até saltar para fora, mas como iria fugir? Tentou não pensar nisso.
Após alguns minutos ele fechou os olhos, tentou fazer sua mente se concentrar em qualquer coisa de antes de se afogar, mas sua mente estava tão em branco quanto a de um recém-nascido, era como se não estivesse vivo até aquele ponto. Sua mente se calou e ele se concentrou no barulho que o trenó fazia correndo sobre a neve. Profundamente, esperava que quando os lobos que o puxavam parassem de correr não significaria sua morte.
Até aquela noite, pelo menos.