Dipper voltou para o quarto depois do jantar, encontrando o loiro ainda dormindo. Começou a colocar seu pijama e até pensou em acordar o outro, mas ele estava tão quietinho e até parecia outra pessoa. Melhor não acordar ele, pensou, são raras as ocasiões que Bill fica quieto e tenho que aproveitar.
Empurrou-o para o lado cautelosamente e se deitou na cama, puxando o cobertor para ambos. Conseguia ouvir a respiração do loiro ao seu lado, que estava virado para a parede, e isso só fazia da situação mais estranha ainda. Compartilhar a cama com um demônio não parecia uma boa ideia, mesmo que tecnicamente ele seja um humano agora.
Ignorou os pensamentos e se concentrou em dormir, virando para o lado oposto de Bill e fechando os olhos.
[...]
Acordou e estava em meio a uma densa floresta. Uma dor de cabeça latejante o impedia de pensar direito, e seu corpo inteiro parecia não colaborar. Olhou para cima, parecia noite, mas não tinha como ter certeza já que os altos pinheiros bloqueavam qualquer raio de luz solar e tudo que podia sentir era um frio intenso. O lugar parecia familiar...
Se levantou apoiando-se em uma das árvores e sentiu uma dor intensa e o cansaço percorrendo pelo corpo inteiro. Queria desistir, mas suas ações era involuntárias; seu corpo parecia se mexer por si mesmo. Começou a entrar em desespero quando percebeu que não conseguia decidir seus movimentos, como se alguém estivesse o possuindo, e o pânico ocupou sua mente quando tudo voltou a ser escuro.
...
— Pinheirinho..? — perguntou uma voz quase preocupada, e Dipper abriu os olhos rapidamente, se sentando na cama e olhando para as próprias mãos, ficando aliviado ao perceber que aquilo não passava de um pesadelo — O que aconteceu?
— Só um pesadelo.. — murmurou, só agora percebendo que Bill estava praticamente em cima dele, sentado em suas pernas — Cipher, o que você tá fazendo?
— Tava te acordando, mas tudo bem, da próxima vez te deixo preso no seu pesadelo.
O loiro o olhou ofendido, e Dipper suspirou.
— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. Eu ficaria muito feliz se você pudesse tipo, sair de cima de mim?
— Não.
— Não?
— Eu fiquei extremamente ofendido com a forma que você me tratou, ingrato, depois de eu ter te salvado de seja-lá-o-que-estava-acontecendo-no-seu-sonho!
— Por favor, Bill, Billzinho? — Pediu, colocando ênfase no apelido.
— Nope! Billzinho? Eu sou mais alto que você, Pinheirinho, mas é muito fofo ver você me chamando assim.
— Espera, o quê? Óbvio que não, eu sou claramente mais alto que você. A gente podia ver isso se você saísse de cima de mim.
Bill bufou e se levantou, puxando Dipper junto e se colocando do lado dele.
— Viu, eu sou muuuito mais alto que você! — comentou Bill com um sorriso largo.
— Nós temos praticamente a mesma altura. Mas eu sou mais alto, claro. — disse o moreno, os medindo com a mão, quando Mabel abriu a porta do quarto.
— Estrela Cadente, bem na hora! Só diz, quem é mais alto?
— Ummm... — A jovem se aproximou dos dois, os observando — Depende. Se você contar o cabelo bagunçado do Dipper, então ele é mais alto. Se não o mais alto é o Bi-
— Te falei! — Bill disse com aquele sorriso novamente.
— Mabel! Meu cabelo sempre foi assim!
Mabel riu e bagunçou mais ainda o cabelo de Dipper.
— Aliás, vocês perderam o café da manhã, são onze horas. Eu ia acordar vocês, mas estavam tão bonitinhos dormindo juntos.
— N...Não é o que parece! Ele que me pediu! — disse o moreno, com o rosto vermelho.
— "Não é o que parece"? É a segunda vez que você me diz isso e... Pera, sério? Vocês realmente dormiram juntos? Eu tava brincando...
— Poxa, Pinheirinho, não era pra nos entregar!
— Bill, cala a boca. — Dipper murmurou, escondendo o rosto. Não sabia que conviver com Bill Cipher era sinônimo de passar por situações extremamente constrangedoras.
— Bem, acho melhor deixar vocês dois sozinhos, não vou ficar aqui segurando vela! — a garota saiu e fechou a porta com uma risadinha, e o moreno revirou os olhos por um momento.
E aí se iniciou um longo silêncio, até um dos dois resolver falar algo.
— Acho que vou me trocar, não quero ficar de pijama o dia todo. Você devia se trocar também, usar uma das suas roupas novas ao invés das minhas. — Bill concordou com a cabeça e já começou a tirar o suéter, enquanto Dipper pegava suas roupas e se dirigia ao banheiro.
— Você não pode se trocar aqui? Quer dizer, eu não me importo com a sua anatomia humana ou algo assim.
— É... — Não sabia o que dizer, realmente não queria se trocar na frente de Bill pelo simples motivo de que ele era um demônio cujo Dipper não tinha afinidade nenhuma.
— Pinheirinho. — o loiro se aproximou dele, até demais — Não precisa ter vergonha de mim, você sabe. É a única pessoa que já viu esse corpo tão de perto e, também, é o único que sabe dos meus segredos.
O adolescente finalmente notou que tudo aquilo era verdade, e, acima de tudo, notou que provavelmente era o único "amigo" de Bill. Suspirou e tirou a camisa, murmurando um "Feliz?" para o outro, e todos seus pensamentos pararam quando sentiu um par de mãos na sua cintura.
— Mhm. — o loiro escondeu seu rosto no pescoço de Dipper e moveu as mãos para as costas dele, em um tipo de abraço.
No começo ficou um pouco constrangido, mas o abraço estava durando tanto tempo que o moreno começou a se perguntar se o garoto estava acordado, já que tudo que escutava era sua respiração. Sem perceber, estava o abraçando de volta, uma de suas mãos nos cabelos loiros e macios e a outra ao redor de sua cintura.
— Bill? — perguntou, baixo o suficiente para não acordar o outro caso ele estivesse dormindo.
— O quê? — respondeu em forma de murmúrio, sem tirar o rosto dali.
— Você, uh, não vai me soltar?
— E se eu não quiser? Você é quentinho... — murmurou novamente.
Por curiosidade, Dipper levantou o rosto do outro, apenas para ver sua expressão, e dessa vez não se arrependeu. Os cabelos loiros bagunçados e o rosto avermelhado dele só o deixavam mais bonito ainda, tanto que o moreno podia o beijar a qualquer momento, por mais estranho que isso fosse.
E foi isso que ele fez.
Não sabia o que era mais estranho: estar beijando Bill Cipher ou ele estar beijando de volta.
Aquele beijo durou um bom tempo, e nenhum dos dois ousou interromper o momento. Ao se separarem, o moreno percebeu que Bill olhava diretamente para seus olhos, como se estivesse se perguntando porque ele fez aquilo.
— Por que você fez isso? — perguntou, interrompendo seus pensamentos.
— Eu... Olha, desculpa, eu não queria... — Dipper não conseguia formar as palavras direito, então só olhou para baixo e ficou em silêncio.
— Não precisa ficar assim, não é como se eu não tivesse gostado! É só que... eu achei que você me odiasse. — disse o loiro, murmurando a última parte.
— Eu...Eu não te odeio, Bill.
— Mas você sente aquilo por mim..?
— N-Não sei. Isso foi um acidente, foi por impulso, eu não queria ter feito isso e-
— Oh. — Bill se soltou dele e se afastou na hora, fazendo com que Dipper sentisse um pouco de falta do calor do loiro. Colocou o suéter de volta e saiu do quarto, sem dizer mais nada, deixando Dipper confuso ali, sem saber como reagir.