Flor da meia-noite escrita por Tha


Capítulo 35
O Pandemônio


Notas iniciais do capítulo

Hello Pretty little lindos, tudo bom com vocês?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/689331/chapter/35

As doenças mais perigosas são aquelas que nos
fazem pensar que estamos bem.
— Verso 42, "Shhh".

P.O.V. Hazel

Estávamos todos prontos pro que ia rolar essa noite, assim que o sol se pôr. Tínhamos bolado um plano que não teria furos dessa vez, bom, da última vez que tentamos salvar a Allyson ela não queria ser salva, então temos algo a nosso favor, porque ela precisa ser salva.

Jake veio pra Ellicot junto com sua nova alcateia, o que era bom, significava mais gente pro que realmente importava, mas já tive minha cota com lobos por uma vida inteira, então quanto maior a distância, melhor, lobisomens tendem a ser... agressivos quando algo foge do controle, eu sabia muito bem disso, tinha uma marca no pescoço pra me lembrar constantemente.

Clove vai dirigir o carro da fuga junto com a Kaleesa. A bruxa (no bom sentindo) vai entrar no sonhos da Ally e tirar o foco dela de qualquer coisa que não seja seu sono, não podemos arriscar que ela sinta minha presença e bote tudo a perder, principalmente porque ela não entende nada de esconder expressões.

Miriel vai ficar de tocaia no teto e dar o sinal quando tudo estiver favorável. Jason e eu somos o ataque, David é a distração do principal fator. Todas as defesas estarão abaixadas se Adam acreditar que David realmente tem a caixa, o que dará a chance perfeita para Jake entrar e pegar a Allyson.

No papel nada parecia dar errado, mas as suposições eram feitas: e se por um segundo Adam desconfiasse que David não estava com a caixa, e sim com um monte de vento na jaqueta? Tudo iria por água a baixo. Tudo bem que tínhamos condições de lutar, mas é mais sensato adiar o derramamento de sangue pelo maior período de tempo possível.

Se tudo fosse por água a baixo, teríamos que ir pro plano B, e não tínhamos um plano B, nem mesmo tempo pra montar um. Era agora ou nunca.

Estava saindo de casa pra encontrar o Jason quando Zack bateu na minha porta, eu sabia que não deveria abrir, mas o fiz mesmo assim, e me arrependi na hora. Encarar seus olhos quase me fez desistir de todas as decisões que tinha tomado em relação a ele. Só que eu tinha que seguir em frente, não tinha?

—Ei, você não ligou, fiquei preocupado.

—Eu já tô de saída – Tento sorrir, mas ele me conhece melhor que ninguém, entra na casa só pra me atrasar – Ouça, Zack...

—Você vai atrás da Allyson, não é? – Ele espalma as mãos na mesa e vou pro outro lado pra não fazer besteira.

—Sim, e não tente me impedir.

—Não vou – Suspirei aliviada e me apoiei na mesa também – Eu vou com vocês.

—Meu Deus – Bufo jogando a cabeça pra trás.

—Olha, há uns onze meses eu jurei pra você que ia pra onde você fosse, mesmo você me chamando de humano toda hora, eu não sabia de nada na época, mas agora eu sei, e ainda estou aqui, isso não significa nada?

—Não posso te deixar ir, é muito perigoso.

—Não deixa de ser perigoso pra você também. Eu morreria por você, Hazel. Eu amo você.

—Esse é o problema, isso não está certo! – Frustrada, jogo as mãos pra cima e elas batem na coxa, desisto de entender o que sinto – Isso não pode acontecer, é no mínimo estranho, pra não dizer pior. Não podemos ter um futuro juntos, eu não vou envelhecer, nunca, isso não é a vida que sempre imaginei pra você, não com todas essa confusões que sempre acontecem aqui, simplesmente não posso pedir que enfrente isso por mim, Zack.

—Eu me importo, não entende que eu não me importo nem um pouco, não tô pedindo sua permissão. Meu melhor amigo vira um lobo na lua cheia, isso é estranho, não a gente – Ele se aproxima de mim e coloca as mãos no meu rosto – O que a gente tem é especial, é lindo.

—Não posso – Sinto as lágrimas chegando e saio de perto dele, antes que eu entorpeça e o leve pra cama.

Não posso.

Foi exatamente isso que aconteceu com o Jason, ele se apaixonou pela Adina e olha no que deu. Eu não quero cair, não quero fazer com que Zack saia prejudicado dessa história assim como Adina saiu.

Abro as asas quando já estou fora de casa. Vou pra longe sem dar tempo de o amor da minha vida processar tudo. Viro a cabeça e me arrependo na hora quando vejo o olhar de incredulidade no seu rosto. Não olho mais pra trás. Nunca mais.

Todos estão em seus postos como combinamos. David tinha acabado de entrar e estávamos certos, os guardas da frente entraram com ele. Kaleesa estava no carro com a Clove não muito longe dali, fazendo o seu melhor, eu espero.

Jason e eu estávamos agachados em uma árvore caída e mantínhamos o foco em Miriel. Jason estava quieto, mal falava comigo, se concentrava em tirar a amada dali custe o que custar.

Agucei minha visão e vi Jake apagando dois dos nephilins de uma entrada lateral com as garras embebidas de veratrum, então entra com facilidade. Sabe bem onde fica sua cela, confio que ele encontre Ally e a traga viva e bem pra nós de novo.

Miriel assovia e é o nosso sinal. Jason se agarra em mim quando começamos a voar por cima do teto. Jogamos as bombas nos tubos de ventilação enquanto Miriel ia correndo pra longe de veneno que aquilo é pra sua espécie. Então ouvimos as explosões, o que significava que Jake tinha que agir rápido e David tinha que sair dali.

P.O.V. David

—Eu sabia! – Adam gritou como uma criança quando seus guardas me conduziram até sua sala. Não importa o quanto eu tenha vindo aqui no passado, sempre vou achar que esse lugar é assombrado por espíritos fugitivos. O covil perfeito para uma cobra – Sabia que seria você, é claro que nunca ouviria a Ally, não quando o assunto é salvar a vida dela. Onde estão seus amigos?

—Na casa do Jason bolando algum plano ridículo – Olho pra trás e quase me assusto quando o mais alto deles me manda sentar.

—Esse é o meu garoto. Trouxe o que eu pedi?

—Trouxe – Olho pros dois lados, sei que não tem ninguém aqui, mas mesmo assim se os outros descobrirem que realmente estou com a caixa não me perdoariam nunca – Quero ver a Allyson primeiro.

—Ah David, você seria um cara espetacular se seu coração não te traísse, ele é o seu ponto fraco.

—O coração é o ponto fraco de todo mundo – Franzo as sobrancelhas – Até o seu se você tivesse um.

—Em cheio – Adam sorri de novo e parecia tanto um psicopata que resolvi deixar a caixa na mesa – Muito obrigada.

—O que tem de tão importante aí?

—A questão é o que tão de importante eu vou colocar aqui.

—Já te deu o que pedi, agora eu quero ver a Allyson.

—Mas David, eu preciso dela pra abrir a caixa pra mim.

—Nós tínhamos um acordo.

—Não, não apertamos as mãos, logo, não é um acordo justo – Ele se levanta da cadeira depois de trancar a caixa em uma gaveta – Levem ele daqui, e se certifiquem que a Ally está disposta a nos ajudar.

—Eu não vou embora – Me solto do cara menor e me viro pra ele – Eu quero ela!

—Eu também quero muitas coisas, não significa que eu possa ter. Não, espera, eu posso sim. Eu tenho. Sabe David, eu gosto de você – Adam faz um gesto com as mãos e sou forçado a me sentar de novo. Ele me quer fora ou não? – Mas fico me perguntando, anjos, bruxas, nephilins, lobisomens e tudo mais. É como um Halloween vitalício, cada um com seu pequeno poder, mas ainda assim, é um poder. Exceto por você, me diz, o que você é?

—Abominável homem das neves, mas só me transformo quando preciso salvar o Alasca – Lhe jogo um sorriso cínico e ele ri de novo. Tenho que mantê-lo falando, distraído.

—Não perde a piada nem quando percebe que é inútil, não é? É uma característica admirável – Apenas palavras me atingem mais do que eu esperava.

—Me deixe com ela então, eu aceito.

—Essas não são as regras do jogo, tudo bem? Temos que obedecer as regras.

Não aguento mais tanto sarcasmo e parto pra cima dele, com as mãos na direção exata da sua garganta. Os dois nephilins vem até mim, mas no exato momento uma nuvem espessa e verde surge depois da explosão e eles caem inertes.

Espero ver Adam no chão também, assim posso pegar a chave do seu bolso e recuperar a caixa, mas consigo enxergar seus olhos furiosos através da névoa. Então corro, do mais inútil que sei que sou.

P.O.V. Allyson

Jake me dá uma máscara de gás que cobre só a boca e a prendo na minha cabeça, pegando alguns fios de cabelo, mas não ligo pra essa dor. Logo percebo o porquê da máscara, há uma névoa verde pairando pelo corredor, deve ser veratrum, já que há corpos no chão. Será que estão mortos? Não. Quase sorrio quando vejo Jeff junto com os outros.

—Mais rápido.

—Ainda estou com o veneno no sangue – Tento me justificar, mas ele não me escuta e continua me puxando pela mão. Quase choro quando lembro que nenhum poder está saindo de mim, rezo para que não seja permanente.

Tropeço de novo, mas dessa vez não é em alguém, é em uma barra de ferro no chão, meu pé prende nos espaços e eu caio pra frente. Volto pra olhar o que era e desejo nunca ter feito isso.

Me arrasto pra trás soltando um grito apavorado e rouco, encosto em outro homem e me assusto de novo. Pareço uma criancinha, a cena deve parecer patética. É o gatilho para as visões horríveis, o medo, o sangue. Eu tinha medo de sangue. Parece estar voltando aos poucos.

—Allyson! – Jake tenta me levantar, mas eu me recuso a sair daquela posição, me recuso a esquecer o que vi. Aponto com o dedo e ele olha pra lá. Arfa também – São nephilins? Mortos?

Apenas balanço a cabeça, incapaz de fazer com que qualquer palavra plausível saia de minha boca. Corpos. Milhares de corpos empilhados como se fossem apenas montes de carne em um açougue. Drenados até a última gota de sangue. Até ficarem pálidos e vazios. Alguns morreram de olhos abertos, é como um pesadelo.

O que Adam está fazendo? Esse seria o meu destino se Jake não estivesse aqui?

Consigo identificar um garoto no canto escuro, é Todd, seus olhos me encaram, me acusam, como se esperasse pra se levantar e vir até mim, com o dedo apontado no meu rosto. É tudo culpa sua, Filha da Profecia.

É tudo culpa minha. Tudo. Tudo culpa minha. Eu sei, Todd. Eu sei!

Jake me puxa de novo enquanto choro descontroladamente por aqueles que não consegui salvar. Os nephilins desaparecidos das festas, os nephilins do Peter. Jogados em um porão sujo e esquecido.

A hidroelétrica parece maior do que eu me lembrava. Jake me conduz por uma série de corredores sinuosos em um passo que custo acompanhar. A sensação de quietude e de paz que tive quando o vi é substituída quase imediatamente por um medo tão cortante quanto uma lâmina cravando-se em meu âmago, penetrando profundamente até que eu mal consiga respirar ou continuar correndo. Em alguns momentos os lamentos se tornam mais altos, quase febris, e preciso cobrir os ouvidos; então, voltam a ficar mais fracos.

Paro de repente quando vejo uma porta que reconheço bem. Entro rapidamente e pego três dos fracos com o líquido verde postos alinhadamente em uma prateleira impecável. Me parecia impossível que um lugar tão sujo tenha uma sala tão... profissional e branca.

—Ally!

—Estou indo! – Grito, embora minha voz saia abafada por conta da máscara. Começo a correr de novo. Até esbarrar em alguém e cair pra trás. Quando percebo que é David eu corro até ele e o abraço forte – Pensei que tinha perdido você.

—Nunca.

—Quem mais está aqui?

—Todo mundo.

—Gente, me desculpa – Jake coça a cabeça – Mas precisamos ir, é sério.

—Só tem um problema – David franze as sobrancelhas.

—Allyson!

—Explico depois – David me pega pelo braço quando o grito insano de Adam me faz voltar pra realidade.

Corro até a luz de uma porta que espero ser a saída. Já consigo ver o brilho de lua que acaba de aparecer no céu. Me jogo na grama molhada e não me importo com a sujeira, apenas sinto algo real na minha pele. Algo que não seja veratrum. Algo que não seja o intensificador. Tiro a máscara e respiro aliviada quando Miriel sela a porta com suas labaredas mortais e o metal derrete na fechadura.

David chega até mim, me abraça e se aproxima. Está muito perto, tão perto que posso sentir seu perfume, tão perto que poderia beijá-lo ali, agora mesmo.

—Flor! – Aquela palavra e aquela voz me fazem recobrar os sentidos e sorrio quando vejo Jason e Hazel correrem ao meu encontro. Nunca fiquei tão feliz por ver aquele dois – Você está bem? Ele te machucou? Da próxima vez eu deixo você mata-lo, juro que deixo.

—Eu tô bem – Minto e me levanto, abraço Hazel mais uma vez e sorrio quando o carro da Clove se aproxima.

P.O.V. Hazel

Ela tá viva, bem ali na minha frente, viva e bem, e de repente nada mais importou, não pensei no amor que sentia pelo Zack, somente no amor que sentia por ela, percebi naquele momento que era impossível pensar em uma vida sem Allyson Hale.

—Nunca mais faça isso, entendeu? – Lhe dou um soco de leve no braço e Miriel aparece.

—Vem Ally, vamos te levar pra casa, sua mãe é tão intimidadora quanto você, ela sabe ameaçar alguém.

—Sabe sim – Allyson sorri e começamos a andar, mas precisa se apoiar em mim pra isso.

Todos nos assustamos quando uma flecha passa zumbindo na nossa frente e finca na grama até a metade. Olho pra cima e lá está aquele idiota com um arco na mão, preparando uma nova flecha pra mirar na Allyson.

—Você não vai se livrar de mim tão fácil, Ally! Você é minha!

Minha amiga abre as mãos, mas elas tremem e nada sai, ela fica desesperada e tenho que puxá-la pra mim porque não vê outra ponta afiada passando perto demais da gente.

Miriel solta faíscas e logo depois longas labaredas de fogo, mas erra. Jake expões as garras e as presas e pula até o teto, corre pra alcançar Adam, mas ele o derruba com um só golpe.

—Jake! – Allyson tenta correr, mas aperto meu braço ao redor da sua cintura – Me deixa ir até ele!

—Você quer morrer, garota? Jason já está indo, só entra no carro – Insisto a empurrando, mas ela continua com os chutes e arranhões – Ally, pare!

—Hazel – Aquela voz faz meu coração palpitar de medo. Zack está saindo do carro.

Estou tão atônita e sem saber o que pensar que sou completamente incapaz de ver o que está prestes a acontecer.

Zack aparece na minha frente quando Ally consegue se soltar, querendo me tirar da confusão. Mas recebe uma flecha cruel e reluzente no coração. Ele nem se dá conta do que aconteceu. Não sente dor nenhuma. Morre antes de seus joelhos tocarem o chão.

Não lembro muito mais detalhes até estar no ar. Lágrimas escorrem do meu rosto, mas não consigo secá-las. Apenas encaro as mãos, manchadas de vermelho.

P.O.V. Allyson.

Aconteceu tudo tão rápido, e mesmo assim parecia estar em câmera lenta.

David estava estático, me olhando como se eu fosse sua salvação e sua ruína, não sabia o que fazer, não podia fazer nada. Jason demorou um pouco, mas já estava indo em direção ao Jake. Kaleesa murmurava coisas sem sentido, um feitiço talvez.

Zack saiu do carro e correu até a Hazel, o que fez Hazel afrouxar os braços ao meu redor por causa do susto, me dando uma chance de me soltar e ir até o corpo inconsciente de Jake no chão.

Foi exatamente nesse segundo que Zack assumiu meu lugar e foi atingido, foi exatamente nesse segundo que a flecha cortou o ar, exatamente nesse segundo que um humano entrou na frente de um anjo por puro... amor. Tudo parou nesse segundo.

Os pássaros já não estavam mais cantando, não havia vento, ninguém respirava. Adam arregalou os olhos e depois sorriu, sabia que aquilo tinha saído melhor que a encomenda, ele precisava de mim viva.

—sso não acabou – Largou o arco no chão e correu como um raio, como podia correr tão rápido assim?

Era pra eu estar morta.

Não consigo dar um passo, mover um músculo, o choro agonizante de Hazel é como uma espada rachando meu crânio ao meio, e fez eu me sentir ainda mais culpada do que já era.

Ela olhou pra mim, abriu as asas e voou. Simplesmente, deixando Zack no chão.

—Vem, é melhor não estarmos aqui quando a polícia chegar – Jason passou o braço ao redor dos meus ombros e começou a me levar dali, mas eu ainda estava em estado de choque, sem saber ao certo o que realmente tinha acontecido pra tudo dar tão errado. Tudo dava sempre tão errado.

David vinha logo atrás com Jake apoiado nele e entramos todos no carro. Clove saiu devagar pra não deixar rastros.

Ninguém ousou dizer uma palavra sequer, e não acho que alguém realmente conseguiria. Havia um corpo e o assassino tinha conseguindo fugir mais uma vez. Era isso.

A lua estava cheia no céu. Olhei pra trás e notei seus olhos dourados, ele não percebia que ficava assim, e mesmo com tudo que aconteceu, achei lindo e aterrorizante. Logo atrás dele o prédio todo se consumia em chamas, isso significava mais corpos, além daqueles que já estavam fadados a ficarem lá para sempre.

Milhares de perguntas encheram minha mente. No que a minha vida havia se transformado de um segundo pro outro? Porque Adam não era mais o doce Adam que conheci quando criança? Porque havia matado tantos inocentes? Porque estava tão mais forte? Porque ele não estava nem um pouco afetado pelo veratrum enquanto eu mal conseguia andar? Porque?

Uma coisa era certa, não voltaria para aquele monstro por ninguém.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi gente!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Flor da meia-noite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.