Minefield escrita por undersevenkeys, Jubs L


Capítulo 15
Capítulo 15. Anna Lee


Notas iniciais do capítulo

Oizinho! Vou começar pedindo aquela famosa desculpa pelo atraso, mas agora os capítulos estão ficando mais longos então requerem um tempo um pouco maior para escrevê-los! Esse capítulo é narrado pela Anna Lee, isso mesmo a Anna quem vai narrar este aqui. Espero que gostem!



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Acordar cedo em pleno sábado nunca foi fácil e parece que nunca seria, era complicado, levantar cedo em um dos dias de descanso. Sábado.

Era só o despertador tocar que eu o desligava e me arrastava para fora da cama, praticamente cega pelo sono. Me arrastei até o armário e o abri a primeira coisa que vi foi uma foto estávamos Suzie, Aaron e eu ente os dois, era incrível ver aquela foto.

Todos dias eu a olhava e não cansava, porque nunca mais fomos os mesmos, Suzie não estava mais comigo, o sorriso de Aaron na fotografia, esse eu não via a muito tempo, se quer me lembro quando a última vez, era um sorriso sincero, aquele que sorrimos até com os olhos. O sorriso de Suzie não estava diferente, os dois irradiavam alegria, era contagiante.

Mas acabou.

Suspirei pesado, peguei a roupa que usaria para ir a empresa, como todo sábado, a coloquei sobre a cama e peguei minha toalha, fui direto para o banheiro que ficava no meu quarto, tirei o pijama e me olhei espelho enquanto pegava a escova e a pasta de dentes, reparei que minhas olheiras estavam de parabéns, haja maquiagem pra esconder tudo isso.

Tomei banho, escovei os dentes e depois soltei o cabelo, não seria nem louca de lavar ele agora, preferia manter a ordem na juba. No armário do banheiro encontrei tudo que era necessário para fazer uma bela maquiagem e ficar com cara de princesa da Disney, que não importa o que acontecesse estava sempre bonita e arrumada. Eu tentaria permanecer daquela forma até o final do dia.

Fui para o quarto e me vesti, uma calça jeans escura, uma regata branca e por cima uma blusa meio larga de tricô azul claro, eu era quase que obrigada a por saltos, scarpin preto. Eu detestava isso. Fiz uma trança e a deixei cair para o lado direito. Assim que peguei minha bolsa e a pasta, estava pronta para sair do quarto, quando bateram a porta.

“Estou aqui, não estou atrasada” falei sorrindo para meu pai.

“Bom dia, querida!” Ele me devolveu o sorriso e me beijou na testa.

“Bom dia! Vamos descer?”

Nos dois nos juntamos a minha mãe na cozinha ela ainda estava de camisola, provavelmente voltaria a dormir. Meu pai estava todo elegante e pomposo em seu terno, os cabelos negros estavam bem penteados, um exemplo a ser seguido.

“Está sabendo que o filho do Richard começará a trabalhar na empresa, assim como você?” começou a falar enquanto lia o jornal.

“O Aaron? Sério?” Aquilo realmente me pegou de surpresa, me fez lembrar que não o via desde quarta feira, Victória realmente havia comentado que ele não saia do quarto, mas será que era porque começaria a ir para empresa? Se bem me lembro, Aaron era bem frescurento, ainda mais pela manhã.

“Sim, ele mesmo. Richard comentou que ele estava passando dos limites.”

“Entendo.”

A verdade é que meu pai e Richard, pai do Aaron, eram sócios, ambos tinham a maior parte das ações, eu sempre desejei seguir o caminho do meu pai, e continuar com a empresa. Aaron nunca gostou muito de lá, seu pai não sabia como dividir a atenção do trabalho com a casa, e como sua mãe ficava ocupada na parte do tempo, acabava ficando sozinho, sem a atenção deles, isso trouxe muita revolta para Aaron.

Parece que infelizmente as coisas não mudaram muito.

Depois de terminar o café da manhã, nos despedimos de minha mãe fomos direto para empresa.

Assim que chegamos no estacionamento, Aaron também chegou, descemos praticamente juntos do carro, mas Aaron dirigia. Ele também estava de terno, cinza escuro, gravata preta, mas os cabelos estavam meio rebeldes parecia que ele apenas havia passado a mão e estava ótimo daquele jeito.

Foda-se essa merda, vai assim mesmo, não vou ficar alisando cabelo.

Eu podia escutá-lo reclamando enquanto se olhava no espelho, parecia que o novo Aaron tinha ainda resquícios do velho Aaron, isso era bom, porque ele era menos pior antes. Sem perceber acabei rindo dos meus pensamentos.

Aaron estava parado esperando o elevador, quando nos aproximamos.

“Bom dia, Aaron.”

“Bom dia, Senhor Junya” cumprimentou ainda olhando para o elevador, sua voz estava um tanto irritadiça. “Anna”

“Aaron” cumprimentei ele da mesma forma.

Meu pai e Aaron até olharam para mim, mas apenas Aaron entendeu, tanto que bufou e voltou a encarar a porta. O caso era que sempre que Aaron estava irritado eu ou Suzie começávamos a falar como ele para respondê-lo, só então ele reparava em como estava tratando as pessoas. Era quase automático.

A porta do elevador foi aberta e nós entramos, meu pai apertou o 13° andar e o 15° esse no caso era seu andar. Minha sala seria dividida com Aaron, sempre teve duas mesas, mas uma ficava vazia. Pelo menos agora eu teria companhia, mesmo que fosse de um garoto calado e meio rabugento.

Paramos mais três vezes com pessoas entrando e saindo o tempo todo, eu já estava acostumada, meu pai não parava de mexer no celular, Aaron encostado na parede do elevador, com as mãos no bolso não parecia fazer parte daquela realidade, seu olhar estava perdido em algum lugar, não estava confiante como dias antes.

Algo estava errado. Bem errado.

“Bom dia, Srta. Lee, Sr. Aaron” Nádia a secretária do andar nos cumprimentou assim que saímos do elevador.

“Só, Aaron, Nádia, não precisa de toda formalidade” Aaron falou se encostando na mesa dela.

“Bom dia, tô lá na sala” falo e sigo pelo corredor indo até a sala que agora dividiria com Aaron.

Não demorou dez minutos e Aaron entrou na sala com uns papéis e uma cara nada boa, foi até a mesa e se sentou, por incrível que pareça ele não perdeu tempo e começou logo a separar as coisas, isso era o de sempre, coisa que eu também fazia, separar os papéis, ler e fazer uma espécie de relatório, isso deveria ser feito por nossos pais. Mas somos obrigados, quer dizer, o Aaron é.

“O que foi Aaron?” perguntei assim que percebi seu olhar em mim.

“Você fica bonita de azul” ele diz de imediato, mas sem expressão alguma, olhando a minha roupa.

“Fico bonita de azul ou com essa blusa em especial?”

“A pessoa que escolheu tinha bom gosto”

“Suzie realmente tinha bom gosto” concordei com ele sorrindo.

Aaron pareceu sair de um transe quando terminei de falar, ele olhou para mim e voltou a atenção para para os papéis a sua frente, só que dessa vez parecia bem perdido no que fazer, ele coçava a cabeça, batia o lápis na mesa, até fazer bico ele fazia. Eu fiquei observando ele por uns vinte minutos.

“Quer ajuda?”

“O que?” ele pareceu despertar com a minha pergunta.

“Você quer que eu te ajude?” perguntei de novo sorrindo.

“Mas e suas coisas?”

Me levantei e arrastado a cadeira até ele expliquei:

“Levo as coisas para casa, durante a semana eu adianto, quando chego aqui só confiro tudo.”

“Não deveria levar trabalho para casa” Aaron me olhou sério, como se eu estivesse fazendo a coisa mais errada do mundo.

“Está me exprobando?”

“Quem fala, exprobando?” Aaron pergunta franzindo o cenho, se segurando pra não rir.

“Não sei” falo rindo da expressão dele, até que ele, sem jeito também ri olhando pra mim.

Foi nostálgico.

Posso dizer com toda certeza que o pai do Aaron pegou pesado com ele, a quantidade de coisas que ele tinha que ler era bem grande, não tinha dado nem chances para o filho se acostumar. Até eu me senti perdida com tudo aquilo.

Estar daquela forma com Aaron, próxima dele me deixava bem, apesar de ter alguns amigos próximos, ele sempre me trouxe bons momentos, me ajudou com coisas especiais, posso até dizer a melhor época da minha vida só aconteceu por causa do dele. Ver o que se tornou era de certa forma triste, mas agora com ele perto eu pude sentir que ele continuava o mesmo.

“Ei, vamos sair para almoçar?” perguntei, não queria deixar de passar o máximo de tempo possível com ele.

“Vamos, onde costuma comer?”

“Aqui na empresa mesmo, mas se quiser podemos sair.”

“Eu tô com o carro, a gente pode ir naquele restaurante japonês que você gosta. Faz tempo que não vou lá.”

Aaron era isso, uma caixinha de surpresas, as vezes boa, as vezes ruim. Peguei minha bolsa e fomos pro carro dele logo depois que avisei meu pai que sairia com Aaron. O restaurante era típico japonês, era bem divertido. Apesar de ser hora do almoço, não estava cheio, sentamos em uma mesa no canto e fizemos nosso pedido.

“Como você tá, Aaron?”

“Não sei, acho que bem.” me respondeu olhando para a mesa enquanto brincava com o hashi.

“Você não foi à aula quinta e sexta, soube que teve treino.”

“Sempre tem treino, eu só não estava afim de sair do quarto, não via, ainda não vejo motivos para isso.”

“A vida continua, você precisa superar” falei segurando sua mão por cima da mesa, só assim ele olhou para mim.

“Como você superou?” me perguntou tirando sua mão da minha. “Eu não consigo.”

“Eu não superei, apenas tento ver de forma diferente.”

“Eu queria conseguir.” terminou suspirando e passando a mão no cabelo.

Existia sinceridade nas palavras dele, eu conseguia ver isso, assim como também conseguia perceber que ele estava afundando e que sabia, mas não conseguia se levantar sozinho.

“E você, como está?”

“Ah, eu estou bem, sei lá, acho que andar com Leo e Jason bem faz bem e agora tem a Vic, ela parece ser uma garota legal.”

Eu posso jurar que ouvi Aaron falar “e frágil” completando minha frase, mas deixei passar.

“Por que você não fala mais com Leo e com o Jason? Desde o que aconteceu vejo que seu comportamento com eles só piora, vocês já foram mais, civilizados.”

“E só vai piorar, acredite.” falou olhando nos meus olhos. “Se você soubesse o que eu sei, tenho quase certeza que não mais falaria com eles.”

Depois do que Aaron disse eu não soube o que falar, mas descobri que tinha algo que eu não sabia, e esse algo Aaron não me contaria, não por enquanto. Agradeci mentalmente quando o garçom chegou com nosso pedido. Passamos todo almoço sem trocar mais palavras, o que foi desconfortável por um lado, mas por outro eu podia ver no silêncio de Aaron, que ele não era mais o garoto de dois anos atrás, mas também não era o cara arrogante do colégio.

Aaron estava... Triste?  

Eu não sabia, há muito tempo não ficava sozinha com ele, mas depois de um tempo enquanto voltávamos para a empresa senti ele relaxando, parecia que Aaron tinha momentos e momentos.

Na empresa, a tarde se passou comigo dividindo a mesa com Aaron ainda ajudando-o. O tempo pareceu passar bem rápido até porque, desfeita aquela tensão do restaurante, eu conseguia trocar algumas palavras com ele normalmente como há um tempo atrás, até mesmo rir nós rimos.

Aaron, já quase no final do expediente começou a fazer os relatórios e nisso eu não poderia ajudar, mas ele me mostrou os dois primeiros e estavam certos, ele levava jeito para coisa, talvez até melhor que eu, e só não dava o braço a torcer por causa do pai, parecia que dar orgulho ao pai era fazê-lo feliz, Aaron a muito não queria vê-lo feliz com ele, preferia mil vezes atazanar a vida deste.

Não posso dizer que entendo, Aaron não é flor que se cheire, desde que o conhecia, e não fazia pouco tempo, ele era assim. Mas posso dizer que era como uma daquelas plantas que encontramos no deserto que são espinhosas, mas tem muita beleza, há quem saiba apreciar.

Ou aprenda.

“Aaron.”

“Que foi?” Aaron perguntou tirando seus olhos do papel e olhando para mim.

“Bom, meu pai me largou aqui hoje e foi embora mais cedo. Rola uma carona?” perguntei sorrindo para ele.

“Pode ser, eu tô cansado, acho que vai ser bom ter companhia.” Meu queixo foi ao chão, o Aaron admitindo precisar de companhia.

“Quando quiser sair é só avisar, aliás, por que já não vamos? Falta 5 minutos, ninguém vai chiar.”

Aaron apenas concordou com a cabeça e começou a juntar suas coisas, me surpreendi quando percebi que ele levaria os papéis para casa. Eu também juntei minhas coisas, peguei a pasta, a bolsa e me fui para porta. Logo, Aaron e eu estávamos no elevador descendo para garagem.

Quando já estávamos na avenida principal o trânsito nos pegou ou vice versa, percebi que ele estava inquieto, batucava os dedos no volante enquanto olhava para frente, depois de alguns minutos ele ligou o rádio em uma estação de rock antigo.

Era nossa estação de rádio preferida.

Alguns minutos se passaram até eu perceber que Aaron estava apoiando para direita, saindo completamente do nosso trajeto.

“Tem horas para chegar em casa?”

“Não, mas se a gente for demorar tenho que avisar meus pais.”

“Então faz isso.”

Senti a ordem sendo dada, geralmente era difícil contestar, porque ele costumava ser decidido no que queria. Liguei para minha mãe dizendo estar com Aaron e avisando que chegaria mais tarde, sua surpresa foi grande, afinal não era segredo para ninguém que não nos falávamos mais como antes.

O caminho foi em silêncio, mas o trajeto já era conhecido por mim, estávamos indo para um parque florestal que tinha quase nos limites da cidade, não entraríamos lá, apenas ao redor onde o carro poderia ficar parado. E chegando naquele lugar a sensação era sempre maravilhosa.

Aaron parou o carro onde sempre parava, nunca soube como descobriu esse lugar, mas era lindo, de lá conseguia ver toda Filadélfia, e como a noite já havia chegado, as luzes das casas faziam a paisagem ficar mágica, fora o céu estrelado naquela noite de lua nova. Sempre que era nessa lua que coisas boas chegavam, e aquele momento só me fez acreditar mais nisso.

Aaron abriu a porta e saiu do carro, parando bem na frente dele, acabei fazendo o mesmo, mas ele se sentou no capô do carro e encostou no para-brisa, logo em seguida me estendeu a mão para eu subir também e assim o fiz, mas o surpreendente foi ele ter me abraçado quando fiquei ao seu lado.

“Se eu sair suja daqui vou te bater.” falei me encostando a ele.

“Vai nada, fica quieta.” falou franzindo o cenho.

“Por que estamos aqui?” perguntei olhando para frente.

“Para lembrar os velhos tempos. Sabe, eu acho que fugi por muito tempo disso.”

“Você virou tipo a Rapunzel na torre.”

“Só que não tenho nenhum príncipe.” falou rindo e acabei acompanhando.

“Me poupe, você nunca foi a donzela em perigo.”

“Acho que não, mas de qualquer forma eu tô meio cansado, as vezes não sei como lidar com tudo.”

“Talvez você só precisa se permitir viver, porque querendo ou não a vida continua independente do que a gente faz dela, ela não vai parar. Então é melhor você aproveitar.”

Aaron não me respondeu, ficou quieto pensativo, de certa forma relembrar ou falar de coisas passadas não era agradável, eu também não me sentia bem.

“Victória e Derek estão juntos?”

“Como?” me virei para ele.

“Vi eles chegando juntos ontem, já estava tarde.” respondeu olhando para frente.

“E isso quer dizer que eles estão juntos? Talvez, Derek só tá fazendo o que você deveria estar fazendo, afinal ela está longe de casa, da família, dos amigos dela.”

“Pode ser.”

“Mas, por que me pergunta isso?”

“Vi eles se beijando.”

Sabe quando o mundo parece ter se silenciado, então, mas eu não entendi nada, por que ela não contou isso? Poxa, custava? Me senti traída. Outra coisa, por que o Aaron quer saber disso? Por que ele ficou olhando?

O que que tá acontecendo?

“Só não acredita que o Derek é bonzinho como ele aparenta ser, por que ele não é.”

“Do que tá falando?” perguntei franzindo o cenho.

“Não adianta eu falar, porque não vai mudar nada, só não acredita no que ele mostra ser.”

“Sabe o que tá parecendo? Que tem alguém com ciumes por não estar recebendo atenção da brasileira.” falei sorrindo.

“Eu conheço as pessoas que jogam comigo, se fosse qualquer outro garoto eu não estaria falando isso.”

“Tá bom, Senhor Capitão, mas não vou compactuar com isso. A Victória não estava bem, passou por uns problemas namorado dela, e o Derek deve estar animando ela com as coisas.”

“Animando ela.” falou sorrindo.

“Ei, não foi isso que eu quis dizer.” eu acabei rindo também. “Você entendeu.”

“Tá, todos entendemos que o Derek só quer animar a Victória.”

“Aí, para de…” eu teria completado a frase se meu celular não começasse a tocar. “Oi, Vic!”

“Não morre mais.” Aaron falou baixo revirando os olhos. Fiz sinal para ele ficar quieto e coloquei o celular no viva voz.

“Anna, me salva. Eu tô aqui sozinha, não tem nada pra fazer, os pais do Aaron saíram e aquele ser estranho ainda não chegou.”

“Ah, agora você lembrou de mim, né? E o Derek?”

Sim, eu fiz drama e o Aaron só revirou os olhos.

“Nossa, eu sempre lembro de você, só que hoje você trabalhava e eu não queria atrapalhar. A gente pode se encontrar? Eu tenho que te contar o que aconteceu.” enquanto ouvia esfreguei os braços, a noite já havia chegado e o frio pare ter vindo junto, mas acreditava ser pela área que estávamos.

“O que aconteceu?”

Aaron tirou o paletó e colocou nas minhas costas. Eu não sabia ao certo porque queria que o Aaron ouvisse o que a Vic tinha a dizer, mas não tenho que explicar meus atos para ninguém.

Fo.da.se

“Então, eu segui o seu conselho e acabei ficando com Derek.” lá fez uma pausa como se esperasse eu falar algo, mas fiquei em silêncio vendo a reação do Aaron de erguer as sobrancelhas como se perguntasse Sério? Você fez isso? apenas dei os ombros. “Daí quando chegamos ele me beijou.”

“Nossa, ele não fugiu dessa vez?” perguntei fingindo surpresa com a informação e o Aaron franziu o cenho.

“Não, Anna, ele não fugiu.” dava para sentir o riso na voz dela. “Dessa vez ele foi bem decidido.”

“Ah, então você gostou?”

“Vamos para casa, lá vocês fofocam, eu não sou obrigado.” Aaron falou baixo, saindo de cima do capô e me estendendo a mão.

“Quem tá aí com você?”

“O Aaron, já estamos voltando.”

“Você tá com o Aaron?” for notável a surpresa dela, afinal quem nos via hoje em dia não imaginava o quanto já fomos próximos.

“É, eu tô.” falei entrando no carro.

“Ah, eu não queria atrapalhar, desculpa.” só conseguir ver o Aaron sorrindo do que Victória tinha dito.

“Não atrapalhou, relaxa.” revirei os olhos.

“Tem alguma coisa para comer aí?” Aaron perguntou alto, só arregalei os olhos para ele.

“Ele tá falando comigo?”

“Tô né, Bum De Fora.” ele falou aqui com a voz irritadiça, mas só conseguir rir do que foi dito, como assim?

“Não acredito que você você tá rindo Anna! Não, não tem comida pronta, quer que eu peço ou você faz?”

“Eu normalmente não faço isso de sábado, mas hoje eu vou ver se eu cozinho." Ele falou segurando a risada.

Não creio que ouvi isso. Pensei rindo

“Você vai ver o que?” Victória perguntou indignada com o que ouviu.

“Ver. Se. Eu. Cozinho.” ele foi falando pausadamente. “Que susto, hem.” falou ainda rindo, eu não estava aguentando.

“Olha, vocês dois, sinceramente, não imaginava isso de vocês dois.”

Dois, dois, dois, tem alguém estressada repetindo palavras.

“Eu não fiz nada.” tentei me defender rindo.

“Tá rindo com esse protótipo de demônio. Até daqui a pouco.” Não tive tempo para contestar, ela simplesmente desligou.

“Olha aí, tá vendo o que você faz?” perguntei empurrando o ombro do Aaron.

“Não sou culpado pelo que as pessoas entendem.”

A estrada estava bem diferente da hora que saímos da empresa, não havia trânsito, no final das contas foi divertido ficar lá com o Aaron, como a muito tempo não acontecia. Na volta para casa não conversamos, mas as vezes tocávamos olhares e sorrisos, não era um  silêncio chato, era reconfortante, não era preciso falar para mostrar que estava tudo bem, nossos sorrisos eram pelo simples fato de que era bom estar na companhia de alguém que já vivenciou coisas boas e ruins lado a lado, na nossa relação no fundo, não existia mal entendido para ser explicado ou desculpas à serem ditas, apenas precisávamos falar um com o outro sem tocar em feridas antigas e aparentemente eternas, pelo menos nossas cicatrizes tem o mesmo nome.

Suzie.

“Deixa suas coisas aí, depois te levo para casa se quiser.” Aaron disse assim que estacionou o carro.

“Que cavalheiro.” falei sorrindo.

Assim que descemos do carro Aaron pegou as chaves de casa e abriu a porta, mas antes que eu pudesse entrar Aaron segurou meu braço.

“Cuida dela como não cuidamos da Suzie.”

Foi um pedido totalmente fora do eixo, foi sincero, eu soube do que ele estava falando, de quem se tratava, Aaron naquele momento falou olhando nos meus olhos, ele implorava. Não era normal alguém se preocupar assim com outra pessoa, essa garota, Victória, estava mudando algumas coisas, eu não sabia o que era, mas iria descobrir. Eu o abracei ali, já tinha abraçado ele antes, mas parece que só ali a saudade foi desfeita Aaron retribuiu o abraço na mesma intensidade.

“Eu só não quero que algo ruim aconteça.” falou sussurrando.

“Nós não podemos impedir certas coisas. Aaron, se você acha que ela precisa de cuidados, acho que você é a pessoa certa dessa vez.” terminei de falar e me obriguei a desfazer o abraço, dei um beijo em sua bochecha e me virei para entrar, só então percebi que Victória estava no sofá assistindo nossa cena. “Fica ouvindo a conversa dos outros.”

Eu entrei falando tentando quebrar o clima que havia ficado, Aaron pareceu despertar quando ouviu minha voz. Ele também entrou fechando a porta atrás de si, quando se virou olhou para Victória sentada no sofá.

“Eu não estava ouvindo nada, vocês param aí e não querem que eu escute?” ela levou as ao peito dramatizando.

Ele pode pensar que não notei, mas até Victória notou a indiferença dele com a presença dela. Se eu entendia por que ele fazia isso? Não, eu não entendi a nada. Ele simplesmente passou pela sala e foi para cozinha preparar algo, apenas estávamos o barulho de armários sendo fechados e as vezes panelas que batiam.

Victória me contou tudo sobre a festa de aniversário da irmão do Derek, como a mãe dele foi simpática com ela, sobre como a irmã dele era fofa, como o Derek se parecia mais com a mãe do que com  o pai. Até chagar na parte mais empolgante, o beijo, a forma que ela contou foi de quem ficou realmente derretida pelo acontecimento. Mas, sempre tem um mas, quando ela me contou que assim que entrou em casa e encontrou Aaron na cozinha, ela mudou completamente, chegou a ficar vermelha apenas pela lembrança, juntando os fatos de Aaron ter me contado que viu o beijo, o pedido dele antes de entrarmos em casa e a reação dele, que segundo a Vic, foi irônica e sarcástica, mas ao mesmo tempo provocativa, com a reação dele agora que chegamos, posso jurar que ali em todo aquele corpo, palavras de Victória, tem mais do que simples implicância.

Mas quem é que precisa saber disso? E se eu estivesse errada?

Depois de arrumar o jantar, Aaron passou pela sala com o prato na mão avisando que era só nos servirmos e subiu, provavelmente, para o quarto dele. Victória e eu fomos para cozinha, Aaron tinha feito macarrão, então nós servimos também e cada uma pegou um copo de suco de laranja.

“Não, não vamos comer aqui.” eu falei para Vic assim que ela ia se sentar no sofá.

“Onde então?” me olhou franzindo o cenho.

“Lá em cima, vem.” falei já subindo os degraus com calma.

Victória demorou um pouco para me acompanhar, eu conhecia aquela casa como a palma da minha mão, o engraçado é que apesar de à muito tempo não entrar nela, me sentia de casa. Bati duas vezes na porta do quarto do Aaron, só conseguia ver a expressão de assombro na cara de Victória que apenas negava com a cabeça.

“Tá aberta.” Aaron falou meio alto.

“Viemos comer com você.”

Sim, eu sou cara de pau, e se não gosta me processa. Me sentei ao dele na cama, Aaron apenas torceu a boca e negou com a cabeça, Victória permanecia parada sem saber o que fazer.

“Senta, Vic.” falei apoiando o copo na mesa de cabeceira.

“Fecha a porta antes.” Aaron pediu olhando para o prato, no quarto não tinha TV, mas o som deixava o ambiente agradável.

Vic fechou a porta e se sentou no pé da cama de frente pra nós, ela estava muito sem jeito de ficar ali, o que me fez pensar que era a primeira vez que ela entrava lá.

“Se deixar cair molho no meu paletó, eu te jogo dessa janela, Anna.” Aaron falou com a expressão séria me olhando.

“Melhor no seu paletó do que na minha blusa preferida.” respondi enrolando o macarrão no garfo.

“Melhor você jogada no meu gramado, do que sujando minha roupa.”

“Tente querido, você não teria coragem de fazer isso.” falei rindo e empurrei seu ombro.

“Espera só eu terminar aqui.”

“Isso foi uma ameaça?”

Aaron apenas deu de ombros, pelo canto dos olhos ele me olhou colocando uma garfada de macarrão na boca. Victória comia quieta, ela parecia estar vendo a interação de dois seres extraterrestres.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capítulo, estou ansiosa para saber a opinião de vocês com essa narrativa diferente do comum!
Agora tem outra novidade também, vocês podem enviar email para a vic e para o aaron ou fazer perguntas simples para os outros personagens:
ask: http://ask.fm/PergunteAoPersonagem
email: viceaaron.minefield@gmail.com

Não esqueçam de deixar seus reviews, a opinião de vocês é importante demais! Beijos, até o próximo capítulo ♥



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