The Inevitable - Interativa escrita por Alyss Meryan


Capítulo 5
Chapter IV – Taking Risks




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Chapter IV
taking risks

"this isn't the kind of sacrifice I'm willing to take"

 

— Eu gostaria da atenção de todos — o rei subiu no palco onde pessoas cantavam e tocavam, interrompendo a música imediatamente. Ele bateu na taça de cristal algumas vezes com uma colher de sobremesa antes de entregá-la à esposa, que por sua vez fulminou-o com o olhar; eu não sou sua empregada, ela parecia querer dizer, mas sorriu.

— Após muita deliberação do Conselho juntamente aos membros da Família Real, ficou decidido que, em quatro semanas, ressuscitaremos uma antiga tradição; a Seleção. Esta com o objetivo de trazer o povo de Illéa e a realeza juntos, como acontece há séculos vem acontecendo. E esta festa acontece com um único objetivo; não apenas celebrar a Seleção como um método de aproximação, mas reunir fundos num evento beneficente para ressarcir as famílias destroçadas de Liao Hills. É também importante ressaltar que todos os patrocínios usados durante a Seleção serão convertidos para o fundo de Vítimas da tragédia — ele finalizou com aquele sorrisinho encantador que todo mundo amava — Isto sendo dito, vamos retornar às festividades.

Alexander aplaudiu educadamente como todos ao seu redor antes de se voltar para os ministros e conselheiros da rodinha que participava. Conforme discutia a crise econômica na Rússia, imaginou como seus irmãos estariam se divertindo, Max podendo usar aqueles quartinhos que ele tanto adorava e Alex atormentando a vida de alguém, enquanto Victor simplesmente se trancafiava dentro da biblioteca com as coisas que ele mais amava no mundo. Era impressionante como todos pareciam ter algo a dizer, um conselho a dar, um assunto para puxar com o herdeiro do trono de Illéa.

Ele estava acostumado, é claro, com toda aquela atenção —ele sabia se comportar perfeitamente ao redor daquelas pessoas e nem tinha certeza se ainda conseguiria se relacionar com jovens de sua idade, jogando conversa fora com assuntos sem um propósito real. Trocou o peso de uma perna para a outra, tirando a mão de um dos bolsos do terno para passá-la pelo cabelo, naquela estranha mania nervosa.

Alexander conseguia ver claramente os olhos dos Conselheiros e Ministros se arregalando todas as vezes em que entrava no salão, ávidos por uma presa,marionete, a quem pudessem controlar uma vez que subisse ao trono. Mal sabiam eles que aqueles esforços eram inúteis; sua primeira ação como rei, ele estava decidido, seria desmanchar os poderes, reestruturar com novas propostas e novos rostos, não deixando espaço para ervas daninhas que cresciam nas entranhas de Illéa desde Gregory, e seu reinado seria puro e refrescante, algo que o povo não via há décadas. Ele tinha grandes, grandes planos para o futuro.

— Conseguiu se desfazer daquelas aves de rapina, eu vejo — uma voz disse atrás de si. Ele nem precisou se virar para saber de quem se tratava. Calmamente, a figura esbelta da mulher caminhou para o lado dele, ombro com ombro.

— O que está fazendo aqui, Kahlan? — ele bebericou o suco de maçã.

Ele viu o sorriso cínico se formar nos canto dos lábios dela.

— Não se faça de mocinho, Ander — ela faltou, a voz debochada e surpreendentemente sexy. Kahlan aproximou os lábios da orelha dele, seu hálito refrescante fazendo cócegas e enviando uma corrente de arrepios por sua espinha — Eu sei que é um recatado príncipe illeano, mas, amor, eu te faço gritar por algum tempo já.

— Sejamos diretos então, querida.

Ela acenou impassivamente, tomando a taça de suco de maçã das mãos dele. Kahlan também não bebia.

— Só porque nossas famílias são inimigas agora não significa que nós tenhamos de ser também — ela correu os dedos pelo braço dele, discretamente.

— A implicação é silenciosa, não percebe? — ele perguntou — Se eles nos virem juntos, tudo se torna um risco.

Ela suspirou pesadamente, finalmente virando-se para encará-lo cara a cara. Ela era tão linda, ele pensou, com seus vibrantes olhos âmbar contornados por um forte delineador e camadas e camadas de sombra negra, tornando aquele todo o centro de seu rosto, em contraste divino com os lábios claros e maçãs do rosto elegantes. Ele sabia que olhar naqueles olhos seriam, para sempre, sua maior perdição.

— A vida é um risco, Ander, queira você ou não. Você não vira rei sem riscos, nem atravessa a rua sem eles.

Ele pareceu refletir em silêncio, desviando os olhos daquelas feições hipnotizantes e focando em algum ponto acima de seu ombro. Os cabelos negros de Kahlan estavam presos num penteado bem elaborado no topo da cabeça, de modo que seus ombros eretos e pescoço elegante ficassem à vista. Ela parecia vibrante. Repousando uma das mãos sobre o ombro dele, ela aproximou-se, como se estivessem presos numa bolha, como se ninguém os observasse, como estivessem num momento particular, numa câmara secreta, numa caverna atrás da cachoeira….

— Além do mais, você não esteve preocupado com riscos lá na caverna, esteve?

Ele não esteve. Estúpido, estúpido, estúpido. Ele se desviou de suas responsabilidades, seus deveres, seu nome, e arriscou-se além do limite. Estúpido, estúpido, estúpido! Ele gritava consigo mesmo, internamente. Não percebe que quanto mais se tem, mais se deseja?

E para alguém na posição dele, sucumbir aos prazeres de Kahlan Merchand era fatal, fatal.

Foi nesse momento propício que o telão atrás do palco acendeu. Aturdido, Alexander virou-se para o pai, que franzia o cenho. O que está acontecendo? Seu coração palpitou no peito, a música parava, as danças e conversas cessaram. O telão estava escuro.

Instintivamente, ele deu um passo a frente. Não gostava da expressão no rosto do pai; Alexander aprendera desde cedo a estar em sintonia com o rei, e naquele momento, percebia que algo estava errado, terrivelmente errado.

— …Ander — Kahlan tocou seu braço, a voz um tanto franca, mas ele continuou, como todos os outros no salão, a olhar o telão.

De repente, ele brilhou e apagou, uma série de sussurros coletivos se seguiu. Inesperadamente, uma voz modificada apareceu.

Vocês… Contemplarão… — era quase como se tivessem cortado a voz diversas vezes em cada palavra, cada uma editada de um modo diferente. Dessa vez, não foi o sussurro ou o toque de Kahlan que o deixou arrepiado — …A Queda… 

Então imagens brilharam no telão, passando como um filme antigo, imagens que ele reconheceu imediatamente; fogo alastrando-se pelas casas, pessoas fugindo, sangue em suas mãos, em suas vestes. Mulheres sujas carregando corpos flácidos de crianças contra o peito. Aquilo era Liao Hills na manhã seguinte aos bombardeios. Os pelos na nuca de Ander eriçaram-se em alerta, os músculos tensos, a mão apertando o pulso de Kahlan com tanta urgência que ele temia ter de soltá-la num futuro próximo.

Vocês… Alegam… Se importar — as vozes continuaram, o telão escuro novamente, brilhando em imagens rápidas de caos e miséria. As imagens desta vez, no entanto, não deixaram Alexander arrepiado. Deixaram-no apavorado. Ele, vagando pela floresta. Ele, entrando na cachoeira  — Mas só pensam… Em uma coisa…

Então ele novamente, num momento de extrema intimidade. Na caverna, beijando Kahlan, pressionando o corpo dela contra as paredes rochosas, dentro d`água. Sorrisinhos maliciosos dos dois lados, mãos cobrindo os seios fartos da moça.

Deus, não.

Seu coração estava pulando pela boca. Melhor ainda: ele não estava nem batendo. Assombro tomava conta de suas feições, de todos naquele salão. Ele se sentia tonto.

Contemplem… A queda.

Então, rápida como viera, a imagem desapareceu, o telão foi desligado. Silêncio, tensão. A atmosfera se elevava cada vez mais. Com os olhos furiosos, voltou-se para Kahlan, cuja mão tentava se esquivar do aperto dele.

— Por quê?

— Eu não tenho parte nisso, Alexander — ela falou, olhando diretamente em seus olhos — Me solte.

— Como pôde…?

— Eu jamais me colocaria nesse tipo de situação, você sabe disso. — seus olhos lhe suplicavam, ele percebeu — Me solte, Alexander, você está me machucando.

Atordoado, ele soltou. Desesperado, levou as mãos aos fios louros e deu duas longas inspiradas de olhos fechados, incapaz de completar a terceira. Ele voltou-se para ela, mirando seus olhos destacados.

I should’ve known better.

Ander, eu…

Isso não foi assumir riscos, Kahlan — ele apontou para o telão morto — Isso foi muito, muito mais que eu estava disposto a sacrificar.

No momento em que ele se virou de costas para sua amante, Alexander sentiu um peso terrível em suas costas. O salão encontrava-se repleto de murmúrios, e olhos focados nele, inteiramente nele. Dois passos de distância dela, e a bolha explodiu. Ele estava tão exposto e vulnerável quanto um bebê.

Teria de lidar com isso.

Os aparelhos auditivos de Victor captaram o barulho distante de alguma coisa indiscernível; provavelmente música, já que a festa estava acontecendo não muito longe da biblioteca. Ele, pessoalmente, não gostava daquelas festas, mas ao contrário de seus irmãos, tinha uma desculpa ligeiramente plausível para sua antissociabilidade; as conversas eram difíceis de acompanhar, os únicos que conseguiam conversar com ele eram seus pais ou irmãos e… Bem, ele realmente não gostava. 

Esfregou as mãos umas nas outras conforme cruzava o grande hall com um livro debaixo do braço e colocava-se na ponta dos pés para alcançar a próxima prateleira. Ultimamente, andava relendo Shakespeare numa voracidade que assustava a ele mesmo.

Suas noites eram geralmente passadas assim, absorto em leitura e mais leitura. Ele devorava livros como qualquer outra pessoa devoraria comida, e muitas vezes até se esquecia de comer, como se ler saciasse todas os seus desejos básicos como ser humano. Sentou-se no chão do centro do salão, vários livros espalhados ao seu redor, apenas um pequeno espaço para que pudesse cruzar as pernas e inclinar-se sobre elas para fazer anotações em seu caderno de notas e ler. Ele tinha essa estranha habilidade que permitia que lesse em qualquer posição, contanto que estivesse entretido o suficiente.

Abriu o velho exemplar capa-dura, edição especial de Romeu e Julieta, e contemplou as primeiras famosas sentenças. Havia algo especial naquela história, não apenas o fato de ter sido tão comercializada. Eles foram burros, estúpidos e embriagados de paixão e Victor achava aquilo terrivelmente romântico.

Enquanto pulava para sua página favorita, algo brilhou no canto de sua visão, e sem maiores avisos, sentiu algo puxar seu cabelo para trás. Ele tentou se esquivar, absolutamente confuso com tudo que acontecia ao seu redor. Então dor rompeu de seu pulso conforme um par de mãos puxava seus braços juntos. 

Ele escutava diversos tiques, nada suficiente para determinar uma frase de verdade. Risos. Pareciam risos. Levantaram-no e o empurraram, conforme ele continuava a tentar entender tudo aquilo. Quando aproximou-se da mesa de mogno, onde um globo terrestre repousava tranquilamente, prenderam, brutalmente, sua cabeça contra a superfície. O aparelho auditivo da orelha direita estalou, e as mãos que seguravam-no contra a mesa arrancaram o outro. Ele tentou resistir e teve um vislumbre da face daqueles que o atacavam; três deles, mas pela janela escalavam mais, e usavam bandanas sobre as bocas, cobrindo o rosto do nariz para baixo. Daquela forma, Victor não poderia nem ler seus lábios, mas ele era um rapaz esperto e logo deduziu a cena que se seguia; era um ataque.

Oh, shit.

Então puxaram sua cabeça de volta, os pulsos lancinantes presos com tiras de corda. O homem na frente dele parecia sorrir por trás do tecido vermelho, e levou o dedo indicador para cima do lugar onde seus lábios estavam, executando o sinal universal para “silêncio”.

Como se eu tivesse outra escolha.

Uma faca afiada foi pressionada contra sua garganta. Droga, droga, droga.Seu pomo de Adão subiu e desceu conforme ele engolia em seco. Ele estava sendo feito refém, e aparentemente facas não eram a única coisa no repertório dos invasores; as pessoas que escalavam a janela carregavam rifles, pistolas, armas de fogo, coisas que havia visto apenas em livros e filmes. Aquela cena toda, para ser bem honesto, parecia pertencer a um dos sonhos malucos que Victor parecia sempre ter, às cenas de ação dos seus livros favoritos.

Eles empurraram suas gostas com um chute bem calculado nos tornozelos e o jovem rapaz não precisou de muito mais incentivos para continuar seguindo. Ele tinha certeza que havia algo errado com se pulso, porque enquanto tentava se esquivar das cordas que prendiam-no, ele doía mais e mais. A solução seria sucumbir.

Os corredores estavam silenciosos e anormalmente vazios, nem um guarda sequer. Algo está errado. Ele viu as portas do grande salão se abrirem com um chute de seus captores, e as expressões de total confusão quando adentraram o lugar, e então alerta. 

Então atacaram.


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Notas finais do capítulo

HEYA! Acho que esse capítulo ficou meio pequenininho, mas, well, eu adorei. Tivemos Kahlander, aquele tipo de amor que faz mal pros dois e só agora o Alexander deu um basta. Mas vai durar? heheh
E temos ataque! Próximo capítulo é possivelmente o último a não introduzir selecionadas, e se não tivermos mais fichas, vou começar assim mesmo, colocando as personagens de vocês com personagens minhas, tsc. Eu estou adorando escrever essa história, e mesmo que só tenha duas leitoras maravilhosas, vou continuar.
Até mais! ♥



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