Welcome to badlands escrita por patty


Capítulo 21
Capítulo Vinte: dores de grávida.




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Keith encarou seu cofre de porquinho e foi agarrado por uma saudade que ele nem sabia sentir. Ele havia ganhado aquele cofre quando completou dez anos. Sua mãe o entregou e disse: pra você guardar dinheiro de um jeito responsável.

Ele segurou o porco de cerâmica na mão, o analisando. Encarou seus olhos negros e sorriso despreocupado e abriu o compartimento em sua barriga onde ele guardava drogas.

Estava vazio, como havia suspeitado, mas quando enfiou o dedo indicador lá dentro, sentiu alguma coisa.

Keith retirou de dentro do cofre um pacote pequeno e transparente com cocaína dentro.

— E pensar que quase me prostitui pra conseguir... estava aqui o tempo todo – Keith disse, embora estivesse sozinho em seu quarto. Ele ficou encarando o saquinho em sua mão, considerando que poderia vender. Mas também considerou que poderia usar.

O seu celular começou a tocar em cima da cama. Keith largou o pequeno pacote na sua cabeceira e atendeu ao telefone.

— Eu preciso ir até o hospital – Ingrid estava desesperada do outro lado da linha. Keith arregalou os olhos, preocupado – estou sentindo uma pontada muito forte na barriga.

Keith escutou enquanto ela dizia tudo que estava sentindo. Embora ele estivesse apavorado, ele percebeu que seu maior medo era eles perderem o bebê. Foi naquele momento que Keith teve um insight.

Ele não usaria aquilo nunca mais. Ele encarou o pequeno saco com a cocaína, o julgando, enquanto Ingrid o implorava ajuda.

— Você sabe que não dirijo.

— Peça ao seu pai, por favor – ela implorava, chorando. Keith quis perguntar sobre a sua família, porque eles não a levavam? Mas desligou o telefone e foi atrás de seu pai na cozinha.

Mas antes colocou o pacote com a cocaína no bolso da calça jeans.

 

 

Mary estava preparando o almoço quando Sawyer desceu as escadas correndo.

— Você viu o Aiden? – ele perguntou antes de sair de casa.

— Ele disse que iria a uma entrevista, eu acho – ela disse, colocando água no arroz.

Sawyer se escorou na porta da cozinha e encarou aquela estranha cena, lembrando-se de uma época onde seu pai estava vivo e ela fazia o almoço para eles. Parecia uma mulher completamente diferente daquela que estava inclinada no fogão, abrindo uma das panelas e olhando o conteúdo de dentro.

Já fazia mais de três dias que aquela cena acontecia naquela casa caída aos pedaços e Sawyer sempre se surpreendia.

— Você está bem? – ela perguntou, encarando o garoto.

— Claro – ele deu de ombros – e você? – ele perguntou, casualmente, tentando não aparentar sua preocupação.

— Acho que nunca estive melhor – ela disse sorridente para ele.

Mary estava cada dia melhor, embora ainda sofresse dos tremores nas mãos e de insônia. Ela tentou procurar seus remédios na cômoda, mas não havia nada.

 

 

— Porque deveríamos te contratar? – era a última pergunta daquela entrevista e Aiden estava preparado para ir embora, mas engoliu em seco e suspirou.

— Porque sou responsável, aprendo rápido e sou comprometido com o trabalho – Aiden respondeu de forma automática, não tendo certeza de nada daquilo já que ele nunca havia trabalhado em toda a sua vida. Apenas falou o que o cara poderia gostar de ouvir.

O homem o encarou demoradamente. Aiden estava usando roupa do Seth, grande demais para ele, que Mary havia separado para ele quando lhe contou da entrevista. A camiseta social branca teve de ser dobrada nas mangas longas e a calça social ficava caindo quando ele andava.

Aiden sentiu seu rosto corar, sentindo-se avaliado por aquele homem, mas então ele sorriu. E Aiden sorriu de volta.

— Quando pode começar?

— Hoje mesmo – Aiden respondeu rapidamente e o homem ergueu uma das sobrancelhas, surpreso.

— Marion ainda está trabalhando ali hoje – ele deu uma risada e balançou a cabeça – acredito que as aulas dela voltam na sexta – ele encarou o calendário – você pode começar no sábado?

 

 

Tristan encarou seu guarda-roupa cheio de peças novas e sorriu. Finalmente usaria roupas que lhe serviam de verdade.

— O que você falou para a sua mãe? – Eleanor perguntou, parada na porta do quarto de Tristan.

— Em relação a que? – Tristan perguntou, tentando soar indiferente e pegou uma camiseta preta com estampa na frente. Colocou em frente ao seu corpo e sorriu.

Jogou a camiseta em cima da cama recém-arrumada e começou a procurar por uma calça.

— Sobre você viver aqui.

— Como assim? – ele finalmente encarou a tia. Eleanor estava com o rosto inchado e o semblante preocupado.

— Ela disse que aqui você não se alimenta, que parece sujo! Você disse que eu te trato mal por acaso? Falou alguma coisa a ela? – Eleanor andou em direção a Tristan, diminuindo a distancia entre eles.

O semblante da sua tia não demonstrava preocupação, mas medo.

— Não disse nada – ele revirou os olhos e começou a se afastar da tia, que parou no meio do quarto, encarando as roupas novas – não precisa dizer nada, é só olhar para mim! – Tristan abriu os braços, dando ênfase ao que estava dizendo.

A sua tia encarou seu corpo seminu e magricela. Ela balançou a cabeça e saiu do quarto.

Tristan fechou a porta do quarto e voltou a procurar o restante da roupa para usar naquela tarde.

 

 

O pai de Keith estava almoçando sozinho na cozinha quando ele o encontrou.

— Quer almoço? – ele perguntou, lendo o jornal.

— Preciso que você leve Ingrid ao hospital.

Seu pai largou o jornal na mesa e o garfo em cima do prato.

— O que aconteceu? – seu pai começou a procurar a chave do carro, seu rosto vermelho se contorcia em preocupação.

— Ela disse que está com dor.

— Contração? – ele perguntou enquanto abria a porta para saírem de casa.

— Sei lá – Keith deu de ombros quando percebeu Sawyer sair de casa.

— Espera, pai – ele disse e foi correndo até o amigo.

Keith colocou a mão no bolso para confirmar se o pacote permanecia ali e correu até Sawyer, que o encarou confuso.

— Você não deveria estar trabalhando? – ele perguntou, mas Keith balançou a cabeça e retirou o saquinho de dentro do bolso, de costas para o seu pai, que estava tirando o carro da frente de casa.

— Pode vender isso pra mim? – Sawyer o encarou, perplexo e colocou a mão por cima da sua, escondendo de quem pudesse ver.

— Da onde você tirou isso?

— Achei – Keith revirou os olhos – por favor, Sawyer. Vende pra mim – ele pediu enquanto corria em direção ao carro do seu pai.

Sawyer ficou parado na entrada da sua casa segurando a cocaína, encarando o carro se afastar.

 

 

A decisão de Sawyer ao sair de casa era ir até a lanchonete encontrar Aiden, mas Keith acabou com seus planos. Ele sabia que não seria tão difícil vender aquilo para o Keith, mas tinha medo do seu irmão pensar que ele estava agindo pelas suas costas.

Ele apareceu no beco e os garotos o encararam.

— Seth pediu que eu ficasse por aqui, pra aprender – Sawyer sempre foi um bom mentiroso.

— Certo – um dos garotos disse, Sawyer não se incomodava em saber ou sequer lembrar o nome dos garotos, sempre os chamava de capacho do Seth, não diretamente, claro.

A ideia de Sawyer era ficar ali até conseguir vender a cocaína de Keith, mas não era tão fácil quanto ele pensou que seria. Todo o dinheiro que conseguiam com as drogas era entregue para Bóris, um dos garotos que Seth mais confiava.

Não havia como Sawyer vender e guardar o dinheiro no bolso.

— Deu minha hora – Sawyer disse, depois de alguns minutos.

Ele não tinha privilégios por ser irmão de Seth, mas usufruía do medo que eles tinham de Seth. Todos sabiam que só quem podia mexer com Sawyer era Seth.

 

 

Aiden estava saindo da lanchonete confiante quando Marion o chamou.

— Se você por acaso encontrar o Keith, diga que ele está atrasado – ela olhou para trás, encarando o relógio – tipo, umas duas horas atrasado.

Aiden assentiu e saiu da lanchonete, segurando o cós da sua calça para ela não cair na rua. A entrevista havia saído melhor do que ele esperava e estava pronto para ir à casa de Sawyer e almoçar. Sua barriga roncou com o simples pensamento da palavra "almoço".

Ele estava quase chegando à casa quando viu Sawyer conversando com um homem. O cara colocou a mão no bolso e saiu, olhando para todos os lados.

Sawyer virou as costas e viu Aiden o encarando.

Aiden parou onde estava, em frente à casa de Keith e o encarou. Seu semblante demonstrava o que estava sentindo naquele momento: decepção.

— Eu sabia – ele disse, sentindo as lágrimas nos seus olhos se formarem.

Sawyer se aproximou vagarosamente de Aiden, as mãos erguidas para tocar seus ombros, mas Aiden se afastou.

— Não é o que você tá pensando – Sawyer disse, mas Aiden conseguia ver um pedaço da nota de dinheiro no bolso do garoto.

— Você é mesmo igual seu irmão – ele disse e cuspiu no chão.

A primeira coisa que Aiden queria fazer ao sair da entrevista era almoçar, aproveitar que a mãe de Sawyer estava bem e ter uma presença tranquila ao seu lado, mas Sawyer acabou com qualquer apetite que Aiden tinha.

Óbvio que ele sabia o que Sawyer fazia, mas ainda havia uma esperança de que ele estivesse errado.

E, afinal de contas, ele estava certo.

 

 

Ingrid desceu as escadas calmamente e Keith a encarou, enfurecido.

— Achei que estava com tanta dor que não conseguia caminhar.

— Por isso estou descendo devagar – ela revirou os olhos – bom saber que você escuta o que eu falo, só não responde mesmo.

Keith escolheu não responder aquilo e esperou pacientemente ela descer.

Ingrid se apoiou em seu ombro e foram até o carro.

— O que você tá sentindo? – o pai de Keith perguntou, preocupado. Encarou a garota pelo retrovisor enquanto ela abria a janela e se abanava.

— Dor aqui – ela apontou para o lado direito. Keith encarou a barriga dela.

Era pequena, mas dava para perceber que era diferente. De repente sentiu-se encantado pela situação. Ingrid o encarou, com o cenho franzido.

— Eu ainda estou com dor. Se vocês dois ficarem parados ai só me olhando, não vai ajudar muito – ela revirou os olhos e o pai do garoto engatou a primeira e saiu, seguindo para o hospital.

Não havia muita gente no hospital, mas Ingrid demorou a ser atendida.

— Hospital público é assim – seu pai disse quando levaram a garota para ser examinada.

O médico perguntou se Keith gostaria de entrar.

— Ele vai ficar – Ingrid disse, categórica.

Keith e seu pai acomodaram-se na sala de espera enquanto Ingrid seguia com o médico, com a mão na barriga.

— Você vai ser pai – seu pai disse encarando o chão branco do hospital. Keith o encarou. – espero que você seja um bom pai. – Keith estava pronto para retrucar e dizer que ele não foi um bom pai, mas então ele prosseguiu – Não seja igual a mim.

 

 

Apesar de Eleanor tentar adiar aquele almoço, Daisy e Osmar estavam do outro lado da porta, trinta minutos antes do combinado e segurando uma tigela de torta.

Eleanor continuava com o semblante preocupado, mesmo depois de Daisy a tratar gentilmente como sempre tentava fazer.

Sentaram-se na sala enquanto Eleanor terminava de fazer o almoço. Tristan escutou o barulho da campainha, sabendo que era sua mãe, terminou de se arrumar e foi até a sala.

— Olha só – Daisy o encarou, o elogiando – está lindo.

Tristan corou, mas abraçou a mãe e sorriu para Osmar.

— Esse cabelo está tão lindo – ela tocou nos cachos de Tristan e sorriu, nostálgica.

Daisy olhou para a porta da cozinha e depois para Tristan.

— Eu preciso viajar com Osmar – ela pegou sua mão e o fez sentar-se ao seu lado – venha conosco!

— Não – Tristan respondeu rapidamente – eu tenho prova do vestibular – ele respondeu, franzindo o cenho para ela. – avisei a você.

Tristan era o único dos garotos que faria a prova. Keith planejava trabalhar até conseguir dinheiro e criar algo. Sawyer não tinha planos para a vida depois dos dezoito anos e Aiden, apesar de ser inteligente e realmente querer fazer faculdade, era uma realidade longe da sua.

— Eu não vou demorar – Daisy prosseguiu, tentando buscar o olhar do seu filho. Ele a encarou, mas sua expressão já não era despreocupada. – ele vai me apresentar para as filhas dele...

— O que? – Tristan franziu o cenho e encarou Osmar. – você tem filhas? E onde elas estão que não moram com você? – ele se exaltou com o homem, mas sua mãe pegou seu braço e o fez sentar.

— Elas são mais velhas já – Daisy revirou os olhos – sabem se cuidar. São até casadas – ela riu.

— Eu já sou velho, Tristan – Osmar riu – elas que querem conhecer sua mãe. Eu não consegui amar nenhuma outra mulher depois da mãe delas.

— Fico feliz – ele disse, embora não soubesse realmente se estava feliz.

Eleanor apareceu na porta da sala e encarou os convidados com um sorriso fraco, imaginando se estariam falando dela.

— Eu te ajudo – Daisy levantou-se do sofá e foi até a cozinha ajudar Eleanor enquanto Osmar e Tristan as seguiam.

 

 

— Você tá louco pra começar a trabalhar, é? – Marion perguntou a Aiden quando o viu entrar na lanchonete – encontrou Keith?

— Está vazio, porque o Keith precisa ficar aqui junto com você?

— Faz uns vinte minutos que tô querendo cagar – ela respondeu entredentes e Aiden arregalou os olhos, surpreso.

— Eu fico aqui pra você – ele disse, entrando na parte de dentro do balcão. Marion o agradeceu e correu para o banheiro.

Aiden sabia que ninguém entraria enquanto Marion estivesse no banheiro, por isso resolveu soltar a mão do cós da calça e sentar-se em uma das cadeiras.

— Tem algo pra comer? – ele gritou para ela, Marion balbuciou algo, mas Aiden não entendeu.

Encarou a parte de dentro do balcão e percebeu que havia uma porção de batata frita ali. Ele estava faminto, então aquilo serviria.

 

 

O médico foi até a sala de espera e encarou os dois conversando.

— Keith? – ele pigarreou. O garoto levantou-se rapidamente e foi até o médico – eu gostaria de falar com você junto.

Keith seguiu o médico sentindo-se impotente e pensando o pior. Sua conversa com o pai foi esclarecedora, embora ele nunca entenda as atitudes do pai.

Ingrid estava deitada, limpando sua barriga com um papel branco.

— Essas dores são comuns porque seu corpo está mudando para dar espaço para o bebê – ele disse, olhando para Ingrid e Keith – recomendo que você tenha um bom descanso e caso a dor volte, massageie com óleos ou use almofada térmica – os dois assentiram. – Se essa dor permanecer e acompanhar outros sintomas como febre, sangramento ou náuseas, me procure – ele entregou um cartão para Ingrid.

— Eu queria saber... – Keith começou enquanto Ingrid saía de cima da maca – podemos saber o sexo do bebê?

— Não. Está com quase dois meses, certo?

— É, acho que é isso – ela assentiu.

— Lá pelo terceiro ou quarto acredito que possa ser possível.

— É impressão minha ou você tá adorando ser pai? – Ingrid perguntou a Keith quando saíram da sala do médico. O pai dele se aproximou, querendo saber o que havia acontecido. Keith encarou o chão para não responder nada a Ingrid, que ainda se apoiava nos ombros dele.

— Dores de gravidez – Keith respondeu antes que ele perguntasse algo – eu preciso trabalhar. Se é que já não me demitiram a essa altura...

— Eu te levo lá – seu pai disse – mas antes vamos deixar Ingrid em casa.

 

 

Apesar da decepção no rosto de Tristan pensando que sua mãe o abandonaria novamente, o almoço prosseguiu tranquilo. Osmar contou a elas sobre suas filhas, Eleanor contou diversas histórias de Tristan que ele sequer lembrava-se e Daisy escutava tudo em silêncio.

Tristan podia muito bem ficar sentado naquela mesa e mentir a todos que teve uma infância maravilhosa, mas as únicas pessoas que o ajudaram quando ele precisou foram seus amigos. E fazia dias que não falava com eles.

Desde o incidente na lanchonete. O bolo de Aiden que ele estragou.

 

 

Sawyer pensou em ficar a tarde toda em casa esperando Aiden aparecer, mas não conseguiria. A realidade era que ele tinha medo de Aiden nunca mais voltar.

A maior surpresa foi entrar na lanchonete e vê-lo conversando com Marion, do outro lado do balcão, como se já estivesse trabalhado lá, mas suas roupas eram diferentes das dela. A conversa parecia despreocupada e os dois riam de alguma coisa que Sawyer não conseguia ouvir de onde estava.

Aiden virou o rosto para a entrada da lanchonete e não se surpreendeu ao ver Sawyer parado lá. Seu corpo inteiro o avisou que Sawyer estava ali no segundo que colocou os pés dentro do estabelecimento.

— Já começou a trabalhar? – Sawyer perguntou, fingindo que nada havia acontecido. Ele sabia que Aiden não falaria sobre aquilo perto de Marion.

— Ele estava tão ansioso em trabalhar que pegou o lugar de Keith hoje – ela riu – quer comer algo?

— Não, obrigado – Sawyer não havia almoçado, mas não estava com fome.

Marion percebeu que os garotos queriam conversar e avisou que iria ao banheiro.

— De novo? – Aiden riu e aquela intimidade fez Sawyer sentir-se estranho.

— Você pode me ouvir? – Sawyer se inclinou no balcão e encarou o garoto. Sawyer reparou nas roupas grandes demais que Aiden estava usando, mas não disse nada.

— Fala.

— Eu estava vendendo pro Keith – ele sussurrou.

— Claro – Aiden riu e levantou-se da cadeira que estava sentado e segurou a calça – Aproveitando que você está aqui, vou trocar de roupa na sua casa.

Aiden passou por Sawyer sem encará-lo. Sawyer pensou em ir atrás dele, mas sabia que ele precisava de espaço.

 

 

— Você vai trabalhar aqui então? – Keith nem cumprimentou Sawyer quando entrou na lanchonete, apenas passou para dentro do balcão e vestiu seu uniforme.

— Não – Sawyer murmurou, encarando Keith – Aiden vai.

— Já sabia – ele deu de ombros – cadê a baranguion?

— Quem? – Sawyer franziu o cenho, sem entender.

— Ele tá falando de mim esse babaca – Marion saiu do banheiro e encarou Keith – você tá tipo, seis horas atrasado.

— Não exagera – Keith revirou os olhos – tive um incidente.

— É? Dormiu demais? – Marion o encarou, desafiadora.

— Não. Ingrid precisou ir ao hospital.

— Ela está bem? – Sawyer perguntou, genuinamente preocupado.

— Era dor de grávida.

— Isso explica tanto – Marion revirou os olhos e bufou – vou embora. Você abusou da minha paciência. Boa sorte.

Marion não esperou Keith dizer nada, apenas saiu da lanchonete.

— Você conseguiu vender? – Keith inclinou-se para frente de Sawyer, quase chocando as testas um no outro.

— Consegui – Sawyer murmurou enquanto lhe passava o dinheiro. – Porque você tinha isso?

— Eu achei, cara. Não acredita em mim?

— Acredito – Sawyer disse, mas parecia uma pergunta e não uma afirmação.

— O que importa é que agora estou a mais um passo de alugar um apartamento para mim – ele disse, triunfante.

Keith queria mudar-se, mas não por causa do pai. Ele sempre sonhou em ter um lugar apenas dele, onde pudesse ter privacidade e livre arbítrio. Keith estava começando a se entender com seu pai, mas ele nunca deixaria de ser o homem agressivo que bateu na sua mãe.

Sawyer ficou o restante da tarde conversando com Keith e ocasionalmente sendo interrompido quando algum cliente entrava e Keith precisava trabalhar.

Tristan entrou na lanchonete, mas os garotos demoraram a reconhecê-lo.

Ele sentou ao lado de Sawyer, que o encarou com o cenho franzido, pronto para brigar.

— Tristan? – ele semicerrou os olhos e aproximou o rosto do dele.

— Sou eu – ele bateu na mão de Sawyer.

— Faz tempo que você não aparece, né? – Keith pigarreou – Tá tudo bem?

— Estava com minha mãe...

— Já sabemos – Keith o interrompeu – vai morar com ela?

— Não sei...

— E como fica a questão de... Você sabe, ela ser prostituta – Keith perguntou, embora não quisesse magoar o amigo, sabia que suas palavras haviam sido escolhidas de forma errônea, mas já era tarde demais para se corrigir.

— Ela está com um cara agora. Não precisa fazer aquilo...

— Ele é legal? - Sawyer continuou encarando Tristan, tentando entender o que havia mudado para ele ter ficado tão irreconhecível.

— Ele é legal e rico – Tristan sorriu.

— Então você vai morar na costa rica?

— Duvido, Keith – Tristan suspirou – eu gosto de ficar aqui.

— Você é doido – Keith revirou os olhos

— Aqui eu tenho vocês...

— Você nem se importou com a gente nesses últimos dias. – Keith ficou encarando Tristan, incrédulo.

— Desculpa – ele murmurou, mexendo no cabelo – eu queria aproveitar o tempo com minha mãe.

— Eu sei, desculpa – Keith suspirou – você tá certo. Mas pelo menos agora sabemos que não vai nos trocar por um banco de riquinhos.

Keith olhou par Sawyer, para ganhar apoio, mas o garoto estava encarando Tristan, confuso.

Tristan o encarou de volta e ele sorriu, triunfante:

— Ah, você cortou o cabelo! – Sawyer disse, suspirando aliviado após o mistério ter sido solucionado por ele.

 

 

— Obrigada por me acompanhar – Mary disse, do outro lado da mesa encarando Aiden.

— Seth não quis comer? – ele perguntou, a boca cheia de comida.

— Eu nem o vi hoje – ela deu uma risada, como se aquilo fosse comum.

— E Sawyer?

— Saiu atrás de você e não voltou – ela pegou o suco e bebeu, encarando Aiden de forma questionadora.

— Ah – ele engoliu em seco – deve estar com Keith então.

— Keith é qual dos meninos?

— O que mora aqui na frente.

— Que o pai bateu na esposa? – Aiden franziu o cenho – Seth me contou.

— É, esse mesmo. Mas ela foi embora há muitos anos... – Aiden não queria falar sobre aquilo, então encheu seu garfo de comida para deixar a boca ocupada.

— Fez bem – ela sorriu enquanto cortava um pedaço do seu bife de carne. – E sua mãe, Aiden?

— Morreu quando eu era pequeno – ele deu de ombros após engolir sua comida. Mary o encarou por alguns segundos, mas ele não ergueu os olhos, focou apenas no garfo em sua mão.

— E seu pai?

— Morreu – Aiden de repente sentiu seu apetite esvaindo-se. Ficou mexendo na comida com o garfo enquanto Mary o encarava. Aiden não queria olhar para ela, sabia que sua expressão era de pura pena do garoto. Ele não precisava de pena.

— Você mora com quem?

Aiden engoliu em seco. Até alguns dias estava morando ali, mas a mãe não fazia ideia.

— Com meu tio.

— Pelo menos você tem alguém para cuidar de você.

Ele pensou em contar a verdade. Mas que bem faria? Aiden já tinha dezoito anos, não importava com quem ele estava. A única pessoa que chegou perto de cuidar dele foi Sawyer, mas preferiu não dizer nada à sua mãe, porque era o pequeno segredo deles.

 


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