Welcome to badlands escrita por patty


Capítulo 2
Capítulo Um: os garotos selvagens.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688930/chapter/2

Huntside era uma cidade pequena. Poucos habitantes. Muitas fofocas. Em um desses bairros moravam os quatro melhores amigos. Os garotos selvagens. Ninguém mexia com eles. Fama de malvado, sabe como é.

Não passavam de moleques querendo se divertir com o pouco que tinham.

Tristan era o que tentava ser responsável. Tentava argumentar “não podemos fazer isso”, “não podemos entrar aí”, mas então Sawyer, sempre com sua mania de querer mandar, tentava o tranquilizar. “Estamos todos juntos. Nada vai acontecer.”


Eles se conheceram quando eram muito pequenos. Keith Estava jogando bola na frente da sua casa, sozinho, enquanto seus pais brigavam dentro de casa. Era a mesma briga de sempre. Seu pai chegou bêbado em casa. Com cheiro de mulher. Sua mãe ameaçava largá-lo e ele retribuía com um tapa no seu rosto. Nada que Keith quisesse ver.

Ele escutou o grito da mãe e chutou a bola com muita força, atingindo o rosto do garoto do outro lado do jardim. Keith não notou, pois seu olhar estava vidrado na sua casa.

— Você não presta atenção, não? — o garoto miúdo gritou com ele. Keith desviou os olhos da casa e encarou aquela criança pequena na sua frente. Seu rosto estava vermelho, quase uma forma perfeita da bola no lado direito da face do garoto.

— Foi mal, pirralho — ele murmurou, pedindo a bola de volta. O garoto menor jogou a bola com toda a sua força. Ou ao menos tentou.

A bola caiu nos pés de Keith.

— Quer jogar? — Keith perguntou ao estranho. Seu rosto estava muito vermelho e aquilo fazia com que Keith se sentisse culpado. “Será que posso virar meu pai?”, ele se perguntava todos os dias.

— Não posso — o garoto disse, se aproximando dele — Meu nome é Tristan. Eu sou novo aqui — ele apontou a casa atrás dele. não estava em melhores condições que a de Keith. as casas naquele lado eram muito parecidas. As pessoas, no entanto, só pioravam.

Sawyer estava na janela assistindo seu amigo Keith interagindo com um completo estranho. O que se tem a saber sobre Sawyer é que ele é um garoto muito ciumento com seus amigos.

— O que tá rolando aqui? — ele perguntou, encarando Keith e o garoto pequeno com a cara marcada ao lado do amigo. Sawyer era um pouco maior que Keith, embora ambos tivessem dez anos. Sawyer aprimorava seu palavreado com seu irmão mais velho, sempre levando gírias novas ou palavrões para seus amigos. — Quem é esse mariquinha? — o garoto rosnou para o menor, encarando Keith, esperando que ele o defendesse enquanto Sawyer se aproximava dele.

— Deixa de ser assim, Saw. — Keith revirou os olhos e riu. Ele sabia que toda aquela pose de malvado era mentira. Ele morria de medo quando sabia que ia apanhar do seu irmão mais velho. — Esse é Tristan. Ele e novo aqui.

— Grande merda — Sawyer murmurou e arrancou a bola das mãos do seu amigo. — Estava jogando sozinho, problemas com eles? — ele perguntou baixinho para o tal Tristan não escutar. Keith apenas assentiu e os dois começaram um jogo silencioso.

Tristan quis jogar, mas sabia que não podia.

— Onde está Aiden? — Keith perguntou, encarando Sawyer. Os dois eram inseparáveis. Se mudaram para aquele bairro no mesmo ano e desde então não se desgrudavam. Keith se aproximou de Aiden primeiro, Sawyer era um garoto problemático desde muito cedo. Não deixava muita gente se aproximar.

— Dentista — Sawyer murmurou, cerrando o maxilar. Tristan continuou parado no meio do jardim que dividia a casa dele e de Keith. Sem coragem para se aproximar. Aquele garoto poderia socá-lo.

— “Caiu” de novo? — Keith perguntou, engolindo em seco. Sawyer não respondeu. Não era necessário.

Nenhum deles tinha uma relação boa com a família. Talvez isso os chamou um para perto do outro, como imãs. Aiden tinha marcas de tudo aquilo. Vivia com hematomas nos joelhos ou, quando era pior, aparecia com os dentes quebrados. Pontas pequenas faltando, mas Sawyer e Keith sabiam. Notavam. Aiden nunca contava a ninguém, mas era impossível não escutar os berros do garoto pequeno pela vizinhança.

Tristan ficou olhando os dois chutando a bola um para o outro. Sawyer o encarou, o cenho franzido.

— Se quer jogar, vem — ele rosnou. Tristan estava pronto para se aproximar e jogar quando escutou a voz da sua tia na casa ao lado.

— Tristan? — ela estava chamando. O garoto se encolheu, preso ao chão. Sawyer e Keith o encararam, confusos. Tristan não conseguia se mover.

Sua tia estava atrás dele em questão de minutos. Sua mão leve e pequena encontrou o ombro do garoto.

— Tia — ele murmurou. Morava com a tia desde que nasceu, nem conhecia seus pais.

— Eu estou te chamando há horas, querido — ela dizia de um jeito amigável, mas Tristan conseguia sentir a irritação em sua voz. “Isso não é bom”, Tristan pensou.

— Ele estava jogando com a gente — Keith se aproximou, erguendo a mão para a mulher. A tia de Tristan encarou Keith por alguns segundos e sorriu.

— Já fez amigos? — ela se agachou para ficar do tamanho dos meninos. Sua saia era pequena e Keith olhou para baixo, logo se repreendendo. “Não posso virar meu pai”, ele pensou. — Eu sou Eleanor. Tia de Tristan. — ela cumprimentou Keith e Sawyer.
Sawyer não a cumprimentou e ficou chutando a bola sozinho.

— Sejam bem-vindos! — Keith disse, sorrindo. — A vizinhança é ótima — ele mentiu. Em breve notariam que era uma merda.

— Ah, que querido — Eleanor ficou encantada com Keith. Seus olhos brilhavam na direção do garoto. Tristan ficou ainda mais nervoso. Ele não deixaria isso acontecer.

— Vamos, tia — ele pediu, segurando sua mão. A tia o encarou, brava, mas logo seu semblante suavizou.

— Vamos, então — ela sorriu e se despediu dos garotos. Keith abanou para Tristan e sua tia. Sawyer continuou jogando a bola sozinho.



Sawyer não conseguia dormir naquela noite. Seu corpo estava doendo. Ele sempre pensava que as surras alguma hora parariam. Ou ao menos em algum momento não doeria mais. Ele sempre se enganava. Seus cotovelos estavam sangrando, manchando toda a cama, mas ele não se importava.

O barulho na porta da frente o despertou. Ele desceu vagarosamente as escadas, não queria acordar seu irmão ou sua mãe. Aiden o encarou por alguns segundos do outro lado da porta. O garoto estava igual Sawyer. Nenhum dos dois parecia bem. Sawyer ativou seu modo protetor e puxou Aiden para dentro da casa, fechando a porta tentando não fazer barulho. Aquilo não acontecia sempre, mas quando acontecia, Sawyer fazia questão que Aiden dormisse ali. Às vezes Sawyer dormia no chão, cedendo a cama para Aiden. Outras vezes os dois dormiam juntos na cama. Isso acontecia quando os dois não estavam em condições para dormir no chão de madeira podre.

Aiden deitou no lado direito da cama em silêncio. Sawyer se jogou no lado esquerdo, soltando um gemido baixo quando o colchão duro encontrou suas costas machucadas.

Sawyer fechou os olhos e tentou dormir, mas conseguia escutar o choro baixo de Aiden.

Eles estavam de costas um para o outro, tentando não se encostar. A cama era muito pequena e os dois estavam com os joelhos para fora. Joelhos magros e machucados. Sawyer virou, fazendo a cama inteira ranger. Aiden tentou parar de chorar. Fungou uma. Duas. Três vezes. E voltou a chorar. Sawyer tocou no ombro do amigo, que relaxou por alguns instantes, parando de ficar tão tenso. “Tá tudo bem”, Sawyer murmurava, embora ele soubesse que não estava bem. Quando tudo ficaria bem?

Aiden virou para o amigo, os olhos fechados e o rosto todo molhado das lágrimas. Seu olho esquerdo estava roxo, ele não conseguia nem abrir de tão inchado que estava, mas conseguia enxergar Sawyer pelo olho direito. O garoto estava com o lábio cortado e estava murmurando alguma coisa, mas Aiden não conseguia ouvir nada.

— Nós vamos sair dessa — Sawyer estava dizendo, se aproximando mais de Aiden e abraçando o garoto. — Fica tranquilo — ele tentava acalmá-lo. E acalmar a si mesmo.

Sawyer tinha cinco anos quando se mudou para aquele bairro. Eles tinham acabado de sair do enterro do pai quando se mudaram. Sawyer estava bravo. Como eles podiam esquecer tão rápido o seu pai e seguir a vida como se nada tivesse acontecido? Ele odiou aquele lado da cidade. A casa de antes não era boa, mas ao menos tinha seu pai perto.

Os olhos da sua mãe estavam vermelhos, mas não por chorar. Seu irmão, Seth, com nove anos na época, já era perdido na vida. Gostava de andar com os garotos mais velhos e roubava os cigarros do pai quando ele não estava por perto. Sawyer era o único sentindo falta do pai, embora ele nunca tenha dado atenção especial ao garoto. Sempre foi muito fechado. Não falava muito.

Ele estava abrindo umas caixas no quarto novo quando escutou uma criança gritando. Ele ficou assutado. Não era tão diferente de onde moravam antes, afinal de contas.

Sawyer desceu correndo as escadas, só conseguia ouvir o barulho da madeira estalando sob seus pés. Abriu a porta com força, arrancando a maçaneta podre. A encarou por uns segundos em sua mão e a jogou no chão, indo para a rua.

Não havia mais gritaria. Sawyer não conseguia escutar nada. Apenas alguns pássaros. Ele olhou para o fim da rua e viu um garoto jogado no chão.

— Tá tudo bem? — Sawyer perguntou, cutucando o ombro do garoto. Por alguns segundos Sawyer pensou que o garoto estava morto. E ficou estranhamente perturbado com a coincidência. A morte chegando cada vez mais perto dele. A morte o seguiu até sua nova casa. Mas então o garoto abriu os olhos. Sawyer o encarou. Seu corpo era magro e pálido. Seu cabelo estava mal cortado, suas mãos tremiam no chão de areia suja. Seus braços tinham grandes hematomas e sua camiseta estava com muitos buracos pequenos. Traças. Sawyer torceu a boca. As roupas dele também estavam assim.

— Sim — o garoto murmurou enquanto levantava do chão. Pela sua careta, todo seu corpo doía. Sawyer não perguntou mais nada. Seu irmão às vezes batia nele quando o pegava em seu quarto. Às vezes Sawyer nem estava fazendo nada, mas isso não importava para Seth.

— Quem te bateu? — Sawyer perguntou. Embora não importasse a ele. O garoto apenas o encarou, furioso e cerrou o maxilar.

— Quem é você, por acaso, seu feioso? — o garoto rosnou para ele. Que petulante. Sawyer o empurrou, o fazendo cair novamente no chão sujo.

— Eu estava tentando ajudar, nanico — Sawyer respondeu, já se afastando. E então ele sentiu o garoto nas suas costas, apertando seu pescoço com as mãos pequenas. Sawyer teve vontade de rir do esforço do garoto para parecer malvado. Ou forte. Mas aquele momento foi o bastante para o pequeno demonstrar sua força. Enquanto Sawyer segurava o riso, o garoto nas suas costas o fez cair no chão.

Os dois rolaram na areia. Ficaram mais sujos e com areia raspando no joelho. Mas eles não estavam mais tentando se bater. Estavam rindo.

— Eu sou Aiden — o garoto disse, quando conseguiu parar de rir. — Desculpa por antes.

— Não peça desculpas, garotinho — Sawyer disse — isso é pra fracotes.

 

Keith apareceu na vida de Sawyer e Aiden algum tempo depois. Os garotos já estavam com sete anos e estavam com os amigos mais velhos do irmão de Sawyer. Seth não estava lá, caso estivesse, Aiden e Sawyer apanhariam.

Os garotos mais velhos estavam conversando com os mais novos. Conversando, ou apenas tentando colocar conhecimento desnecessário na cabeça deles.

Os amigos de Seth tinham mais de onze anos, todos eles fumavam atrás da casa de um deles. Tentavam ficar escondidos dos seus pais e ficavam com medo que os mais novos falassem alguma coisa, então os deixavam ficar por perto. Aiden não gostava dos meninos, mas Sawyer estava querendo impressionar os amigos do irmão, já que não conseguia impressionar o próprio.

Aiden apenas escutava enquanto eles falavam de tantas garotas que conheciam. Sawyer tentava fumar aquele cigarro nojento e sujo de batom. E então um carro parou perto da garagem da casa desse garoto.

— Mais um pro manicômio — um dos garotos mais velhos disse, ao avisar o vizinho novo. Muito pequeno com cabelo comprido. — Saiam daqui, pestes — ele disse, dirigindo-se para Sawyer e Aiden, que observavam o garoto novo.

— Não quero — Sawyer respondeu, apagando o cigarro.

— Por que você fez isso, seu merdinha? — o garoto mais velho, que morava na casa onde estavam, levantou e empurrou Sawyer, o fazendo cair — não precisava apagar se você não sabe fumar! — ele rosnou, cuspindo no rosto de Sawyer.

Mas se aquele garoto pensava que Sawyer não revidaria, ele estava muito enganado. Embora o garoto fosse quase o dobro do tamanho de Sawyer, ele levantou do chão, as mãos sujas, e soltou um cuspi grosseiro e generoso no rosto do garoto. Aiden estava acostumado com essas loucuras e sabia a hora exata para correr. E foi o que fizeram. Correram.

Aiden estava olhando para trás, tentando ver se o garoto estava atrás dele, quando esbarrou em algo. Alguém.

— Opa, foi mal — Aiden disse, se acalmando quando viu que o garoto mais velho continuava no seu lugar. Sawyer já estava longe. Ele corria muito rápido.

— Não tem problema — o garoto pequeno disse, limpando a manga da camiseta.

— Bem-vindo à vizinhança — Aiden fingiu um sorriso — é uma merda, mas a gente se acostuma.

Onde Aiden arranjou coragem para falar daquele jeito com um estranho? Sawyer não era uma boa influência para ele. Ou talvez fosse a melhor.

— Obrigado. Eu acho — o garoto disse, meio constrangido — eu sou Keith — ele sorriu para Aiden, erguendo a mão.

— Aiden — ele apertou a mão do garoto e sorriu para ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Welcome to badlands" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.