Welcome to badlands escrita por patty


Capítulo 19
Capítulo Dezoito: feliz aniversário, Aiden.




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Na manhã seguinte Sawyer estava acordado, olhando para o teto do seu quarto. Sozinho, pensando no seu irmão. Sawyer sabia que a vida de Seth estava cada vez pior. Às vezes Sawyer se perguntava como ele conseguia manter a casa deles, mas ele sabia que não gostaria da resposta. Sawyer tentou ser igual o Seth. Até o ajudou diversas vezes com mercadorias e ligações. Mas Seth o tirou do caminho no seu primeiro erro.

— Onde já se viu errar de endereço? Você sabe a merda que seria pra mim caso a pessoa errada recebesse esse pacote? — ele disse naquela tarde de verão. Os amigos de Sawyer foram até a sorveteria enquanto ele tinha outro compromisso naquele dia.

— Mas eu consegui recuperar a tempo! — ele berrou, tentando fazer com que Seth percebesse seu esforço, ou ao menos desse algum crédito para ele. Mas Seth não admitia erro algum.

Sawyer deveria era agradecer Seth por tê-lo tirado daquela vida.

Mas Sawyer sentia certa saudade daquele tipo de trabalho. Ele conseguia dinheiro fácil, mesmo Seth pegando 90% para ele. Mesmo sabendo que nenhum dos dois deveria fazer aquilo, Sawyer temia que aquela fosse a única realidade para eles.

Sawyer estava refletindo sobre seu futuro quando escutou alguém batendo na porta. Desceu as escadas correndo achando que era algum de seus amigos, mas quando a abriu, era um homem um pouco mais velho que seu irmão. Alto, cabelos bagunçados e uma falha enorme no dente da frente, Sawyer se concentrou naquela falha enquanto escutava o homem perguntar onde estava seu irmão.

— Só um instante. — Sawyer subiu as escadas em direção ao quarto de Seth. Ele estava deitado na cama, dormindo. Usava apenas uma cueca, as cobertas jogadas no chão. Seth roncava alto, mas sua respiração era tranquila. Sawyer notou como seu irmão estava magro. Todos os dias ele se surpreendia com isso. As costelas de Seth estavam salientes, Sawyer quase podia senti-las sem nem mesmo tocá-las.

— Ei — Sawyer o cutucou no ombro. Seth murmurou alguma coisa e virou de lado. – Tem um cara lá na porta.

Seth abriu os olhos vagarosamente. Colocou uma das mãos na frente do rosto para proteger os olhos do sol que entrava pela sua janela naquela manhã. Olhou para Sawyer, um pouco confuso, e bufou.

— Que?

— Um homem. Está te esperando lá na porta. – Sawyer disse e saiu do quarto.

Sawyer voltou para o seu quarto e podia escutar seu irmão descendo as escadas, seus passos cada vez mais pesados na escada velha de madeira.

— O que você está fazendo aqui? Sabe que não pode vir. — foi a única coisa que Sawyer conseguiu escutar Seth dizer.

A conversa dos dois eram apenas murmúrios, Sawyer considerou descer para tentar escutar a conversa, mas sabia que seu irmão não gostaria dessa atitude.

Antes de Seth fechar a porta, Sawyer escutou seu irmão dizer "só quero uma de cano curto mesmo".

 

 

 

Keith estava preocupado naquela manhã. Ingrid, a mãe da criança que Keith seria pai, iria pela primeira vez até o hospital para saber como estava a gravidez, mas Keith não poderia ir por causa do seu novo trabalho.

— É estranho estar aqui sabendo que ela provavelmente está descobrindo o sexo do bebê.

— Acho que ainda é cedo pra isso — Marion disse. Ela e Keith trabalhavam no turno da tarde na lanchonete do bairro, sempre reclamavam do lugar, mas era o único estabelecimento que ele poderia trabalhar enquanto ainda era menor de idade.

— Só espero que seja bonito igual eu.

— Você é muito convencido — Marion disse, mas ela também o achava bonito.

As aulas de Keith já haviam terminado e ele planejava morar em outro lugar longe do seu pai. Aquele emprego, apesar de fedorento e anti-higiênico, o ajudaria. Marion já estava na faculdade e não tinha planos de ir embora, Keith não sabia se sentia inveja ou pena.

— Eu não acredito que deixaram você ser pai — Marion disse, balançando a cabeça enquanto servia um homem solitário no balcão.

— Acho que a pessoa que estava responsável por mim naquela hora acabou dormindo no ponto – Keith deu de ombros — talvez essa criança melhore minha vida.

— Ta aí uma coisa que eu nunca vi acontecer: uma criança melhorar a vida de alguém.

Keith tentou ignorar toda negatividade emanando de sua colega de trabalho. Era isso que ele havia resolvido para a sua vida: eliminar as coisas ruins.

 

 

 

Tristan estava de mãos dadas com sua mãe em frente à casa da sua tia. Seus ombros estavam tensos e seus olhos estavam inchados de tanto chorar.

— Eu prometo que volto para te buscar — enquanto sua mãe falava, Tristan sentia-se como uma criança de treze anos novamente, indefesa e ingênua. Ele respirou fundo, já era grande o suficiente para entender tudo que havia acontecido. Eles passaram um tempo bom juntos, revivendo histórias e se conhecendo, mas ela estava indo embora novamente.

Tristan olhou para o lado, era quase do mesmo tamanho da sua mãe. Ele sabia que já era quase um homem. Sabia que tinha de tomar decisões a partir daquele momento. Ele ficaria sentado esperando a mãe voltar? Ele entraria naquela casa e agiria como se nada tivesse acontecido?

— Você está bem? — sua mãe perguntou, cutucando seu ombro. Tristan a encarou, seus olhos também estavam marejados – eu vou voltar – ela disse, apertando sua mão. A forma como ela disse tranquilizou Tristan. Ela voltaria, ele podia sentir.

 

 

 

Enquanto Sawyer investigava a vida do seu irmão; Keith trabalhava e Tristan voltava pra casa, Aiden estava em seu quarto, submerso em memórias e arrependimentos. Seu tio estava do outro lado da casa, sentado no sofá da sala assistindo futebol. Sua garrafa de cerveja em uma mão e um cigarro barato na outra. As faíscas caíam no sofá e abriam pequenos buracos, mas ele estava muito ocupado prestando atenção no jogo.

O calendário pendurado na parede da sala era do posto da rua de trás e haviam circulado a data daquele dia com caneta vermelha. Claro que seu tio não fazia ideia do porquê, mas Aiden sim.

Dezoito anos. Ele finalmente ficaria livre.

— Tio — ele chamou enquanto descia as escadas. Seu tio olhou para trás e fez uma careta. – eu vou embora.

— É o que? — o homem olhou para trás bruscamente, encarou Aiden e riu. Sua risada ecoou pela casa e parecia invadir Aiden.

— Hoje eu faço dezoito anos.

— Parabéns — o tio disse, com desprezo — mas se você não tem dinheiro ou lugar para ir, está preso aqui.

— É o que veremos — foi a única coisa que Aiden disse antes de tentar sair de casa naquela tarde.

 

 

 

Sawyer foi até a casa de Aiden ao entardecer. A cidade estava fria enquanto a noite se aproximava. Sawyer bateu na porta da casa do amigo, mas quem atendeu foi seu tio. Seus olhos pareciam pequenos demais, Sawyer não saberia dizer se o tio do Aiden conseguia enxergá-lo, mas estreitou os olhos na sua direção e murmurou: Aiden foi até a lanchonete.

O homem à sua frente estava acabado. Seu semblante estava cansado, Sawyer não conseguiu enxergar todo o sangue por causa da escuridão da rua e da casa deles, mas quando olhou para o chão conseguiu notar marcas de sangue. Seu coração se apertou dentro do peito e ele correu para a lanchonete.

 

 

 

Keith e Aiden estavam conversando, mas Sawyer demorou um tempo para perceber que Keith estava do lado de dentro do balcão de atendimento, e usando um uniforme amarelo ridículo.

— O que você tá fazendo aí dentro? — foi a primeira coisa que Sawyer conseguiu perguntar, mas quando olhou para Aiden e notou seu rosto inteiro machucado, ele já nem se importava com Keith.

— Eu trabalho aqui agora — Keith murmurou e deu de ombros quando notou que Sawyer estava encarando Aiden, preocupado – ele caiu no pau com o tio...

— Shhii — Aiden murmurou, mas parecia que até mesmo sua respiração machucava seu corpo. Ele estava com os dois olhos inchados, mas um deles, o olho esquerdo, estava entreaberto e só conseguia enxergar Sawyer na sua frente (ESCUTE CLEMENTINE BY HALSEY).

— O que ele fez? — Sawyer sentiu sua voz esganiçada, mas nem se importava.

— Hoje era meu aniversário — Aiden disse, com certa dificuldade. Sua boca estava inchada e Sawyer poderia jurar que lhe faltava um dente, mas só conseguia ver sangue. Keith estremeceu com o comentário do amigo. Doía notar que ele havia usado o verbo no passado, como se o que o seu tio fez havia acabado com qualquer ideia de festividade naquele dia.

Mas é claro que não ficaria daquele jeito.

— Eu já volto — Keith disse — Marion, dá uma olhada aqui — ele disse para a garota encostada na porta da cozinha, mexendo no celular. A lanchonete estava vazia, como na maioria dos outros dias, mas ela apenas revirou os olhos e disse "ok".

 

 

 

— Alô? — Tristan atendeu ao telefone da sua casa e Keith murmurou alguma coisa — Não consegui entender.

— Ah, foi mal — Keith disse, do outro lado da linha — hoje é aniversário do Aiden — sua voz parecia abafada, mas Tristan conseguiu entender e se sentiu mal de repente.

Aiden sempre havia sido um dos mais gentis com ele e Tristan sentia-se culpado por ter esquecido aquele dia, mas tudo que ele conseguia pensar era na sua mãe naquele momento. Ela estava conversando com sua tia, ainda não havia ido embora.

— Eu queria fazer algo pra ele.

— Ah, claro — Tristan disse, prestando atenção no que Keith estava falando.

— Vem aqui pra lanchonete daqui uma hora e convida o tanto de gente que você conseguir — Keith fez uma pausa e riu — Ah, não vai chamar aquelas garotas que você conversa na escola.

— Elas são legais — Tristan revirou os olhos — você sabe que são minhas únicas amigas, as garotas que você gosta não me dão muita atenção.

— Elas são feias, meu jovem — Keith revirou os olhos — não queremos que Aiden fique olhando baranga na própria festa.

— Como se ele fosse se importar com isso — Tristan murmurou, revirando os olhos.

 

 

 

— Eu disse que estava indo embora, arranjar um lugar pra ficar e ele começou a gritar comigo. Disse que meu pai ficaria muito decepcionado de estar abandonando o irmão dele. — Aiden fungou. Sawyer precisava aproximar seu rosto do de Aiden para escutá-lo melhor, mas aquela aproximação só deixava Sawyer nervoso. — e então eu fiquei muito bravo e soquei seu rosto – Aiden balançou a cabeça — eu não deveria ter feito aquilo.

Sawyer escutou o choro baixo do seu amigo e estremeceu. Olhou para ele e disse:

— Você não tem culpa de nada.

— Tenho — Aiden limpou o rosto, mas choramingou mais um pouco — agora tudo tá doendo.

O choro do Aiden invadiu todo o estabelecimento. Keith saiu da cozinha assustado com o barulho. Marion não sabia o que fazer, Sawyer nem pensou duas vezes e abraçou Aiden, sem força para não machucá-lo mais ainda. Keith se aproximou dos dois e os abraçou.

 

 

 

— Você acha que ele vai querer? — Sawyer perguntou, encarando Keith. Aiden havia ido até o banheiro para lavar o rosto e algumas pessoas começaram a aparecer.

Era sexta-feira, um dos dias que de fato havia clientes na lanchonete. Keith não saberia dizer se estavam ali pela festa, mas Tristan não conhecia tanta gente, ele considerou.

— Ele vai se animar — ele deu de ombros e apontou para uma das garotas se aproximando deles — tá vendo, cheio de gatas.

Sawyer encarou Keith de um jeito perigoso, mas ele não reparou pois estava dando atenção para a garota.

— Eu quero uma porção de batata frita e um suco de laranja, Keith — ela disse, lendo o crachá dele.

— Tudo bem, hoje temos uma promoção que você não paga...

— Hum — Sawyer murmurou, encarando Keith. — acho que a chefe não vai gostar disso. A Ingrid, sabe.

— Verdade — Keith balançou a cabeça e engoliu em seco — a promoção acabou há alguns meses.

— Ok, tanto faz — a garota revirou os olhos e foi até sua mesa para esperar.

— Você não precisa ficar me lembrando da garota. Nós nem temos nada.

— Mas você disse para mim que não queria mais saber de nenhuma mulher, que seria fiel a Ingrid.

— Quando diabos eu disse isso? — Keith arregalou os olhos para Sawyer e foi até janela da cozinha anunciar o pedido da garota. — eu nunca seria capaz de dizer isso — ele continuou falando quando voltou. Sawyer revirou os olhos.

— Você disse ontem à noite, quando estávamos na praça.

— Evidente que eu não lembro, estava bêbado. Por isso, desconsidere.

— Keith — Sawyer ronronou e Keith apenas ergueu as mãos em defesa.

— Eu não sei por que as mulheres são consideradas fofoqueiras quando existem garotos como vocês.

— Não estamos fofocando — Keith revirou os olhos — estamos conversando.

— Conversam demais — Marion revirou os olhos — vai trabalhar, Keith. E você — ela apontou para Sawyer, ele ergueu os olhos das batatas fritas deixadas em cima de uma das mesas e encarou a garota na sua frente. — para de atrapalhar seu amigo na hora do trabalho dele.

— Esse trabalho é uma piada — Sawyer revirou os olhos e riu. Viu Aiden saindo do banheiro e enquanto ia na sua direção, pegou um punhado de batata frita.

 

 

 

Tristan ligou para a única garota linda que conhecia.

— Ta aí uma voz que eu senti saudades — Katherine disse, do outro lado da linha. Tristan sentiu seu rosto corar e seu estômago roncar.

— Você vai fazer algo hoje?

— Não tenho nada pra fazer, por quê? Quer sair comigo?

— Não — Tristan riu de nervoso e começou a pedir desculpas — quero te convidar para uma festa.

— Bom, eu sempre topo uma festa...

— Só não traz a Vanny, por favor — Tristan disse antes de desligarem o telefone.

 

 

 

— Eu acho que vou embora — Aiden disse, ao notar Sawyer se aproximando. Sawyer sentia-se inútil quando via Aiden daquela maneira e não sabia o que fazer. Se fosse seguir seu instinto, ele iria até a casa de Aiden e acabaria com a vida do seu tio, mas ele não poderia fazer isso, porque apesar daquele homem maltratar Aiden, era a única família que ele ainda tinha.

— Fica — Saywer disse simplesmente, porque ele sabia que qualquer coisa que ele pedisse, Aiden faria.

— Só até eu ter certeza que meu tio foi dormir — Aiden disse, mesmo sabendo que provavelmente seu tio estava apagado no sofá desde a hora que ele havia saído de casa.

A lanchonete começou a se encher de gente em segundos. Sawyer ficou confuso, não conhecia a maioria das pessoas ali, mas Aiden estava sorridente com a festinha organizada de última hora.

Katherine chegou ao lado de Vanny, e Keith não conseguia acreditar no que seus olhos estavam vendo. Vanny ali, entrando pela porta do seu trabalho.

— Preciso me esconder — ele disse, tirando o chapéu que fazia parte do uniforme.

— Keith — Vanny disse, se aproximando do balcão. — Então você finalmente tomou vergonha na cara — ela disse, encarando o garoto atrás do balcão. Keith não soube o que responder, apenas ficou a encarando.

 

 

 

— Sabe, Aiden — Keith disse. Estavam sentados em uma das mesas estofadas. Aiden estava embriagado mexendo no estofado e arrancando alguns pedaços do couro que estavam soltos. — você precisa de um emprego. Assim ninguém mais vai mandar em você. — Keith estava comendo batata frita gelada enquanto falava. Seus olhos estavam fechando aos poucos, mas Aiden sabia que ele não havia bebido naquela noite. Aiden começou a ficar preocupado: Keith estava usando drogas novamente?

— E porque diabos você acha que alguém iria me contratar?

— Ei — Keith riu e balançou a cabeça — me contrataram, eu sou um desastre aqui. Na minha primeira semana errei quase todos os pedidos, deixei cair refrigerante em uma senhora, fritei as batatas fritas demais porque estava conversando com alguma garota no celular...

— Já entendi — Aiden disse, revirando os olhos — pelo jeito contratam qualquer um aqui então.

— Basicamente — Keith deu de ombros — Marion vai voltar para a faculdade e a vaga dela vai estar disponível, se você quiser, podemos falar com o chefe.

— Pode ser, então.

— Pode ser o que? — Sawyer perguntou, sentando ao lado deles segurando uma lata de cerveja.

— Aiden vai trabalhar aqui.

— Aqui? — Sawyer encarou Aiden, que estava jogado no estofado da cadeira. — vai ficar fedendo à fritura todos os dias.

— Acontece — Keith balançou a cabeça — já tem um monte de gente aqui e onde está Tristan?

A música era alta, as mesas estavam lotadas de adolescentes da escola deles, mas nenhum foi parabenizar Aiden.

 

 

 

Tristan apareceu quando algumas pessoas começaram a ir embora, ele segurava uma sacola com um objeto redondo dentro.

Quando avistou seus amigos, se aproximou deles com um sorriso de orelha a orelha.

— Feliz aniversário, Aiden — ele disse e abraçou o amigo. Resolveu não perguntar sobre os machucados em seu rosto, porque ele não queria magoar o amigo.

Aiden retribuiu o abraço e seus olhos brilharam de felicidade quando Tristan colocou o bolo de aniversário em cima da mesa. O bolo era redondo, de chocolate, escrito "feliz aniversário".

— Obrigado — Aiden sorriu, abraçando Tristan novamente. Keith levantou da cadeira e foi buscar uma vela de aniversário.

— Desculpem a demora — Tristan observou a lanchonete esvaziando-se. O relógio de ponteiro do outro lado do balcão marcava onze horas da noite. — demorei a encontrar um lugar aberto que tinha bolo.

— Não tem problema — Aiden disse enquanto retirava a embalagem plástica de cima do bolo — pelo menos você chegou.

— Não tinha outra vela — Keith disse, fazendo uma careta enquanto entregava a vela para Aiden. Ele encarou a vela em sua mão, o número 5.

— Vai fazer 5 aninhos, é? — Sawyer fez voz de criança e apertou a bochecha de Aiden.

— Me respeita que sou mais velho que você — Aiden deu um soco leve no ombro de Sawyer e colocou a vela no bolo. Sawyer pegou seu isqueiro azul celeste e acendeu a vela.

Desde que Aiden pudesse se lembrar, seu único desejo era poder sair daquele lugar, mas ele olhou ao redor enquanto se inclinava para apagar a vela.

Sawyer estava sorrindo ao seu lado, à espera. Tristan olhava para Aiden com admiração, e Keith estava impaciente, murmurando "anda logo, quero comer".

Ele não queria ir embora sem eles.

"Que a gente se livre de tudo isso aqui" ele pensou enquanto apagava a vela. A chama tremeu com seu sopro, mas não apagou. Aiden encarou aquilo como um sinal e fez outro pedido:

"Quero ir embora desse bairro, junto com meus amigos".

A vela se apagou quando Aiden juntou toda sua força naquele sopro. As pessoas ao redor observavam a cena, à espera de um pedaço de bolo, mas Keith os espantou.

— Se vocês querem comer — ele disse, encarando os adolescentes desconhecidos — vão até aquela feiosa — ele apontou para Marion, que lhe mostrou o dedo do meio — que ela anota o pedido de vocês. Mas vão rápido — ele apontou para o relógio — daqui a pouco vamos fechar.

Depois que Keith disse aquilo, uma fila torta foi se formando no balcão de atendimento.

— Vou precisar da sua ajuda, gênio — Marion berrou para ele.

— Desculpa, pessoal. — ele se desculpou com os amigos e foi até o balcão.

— Ei, Aiden, soube que é seu aniversário— Vanny se aproximou de Aiden e lhe deu um beijo na bochecha — parabéns.

Tristan semicerrou os olhos para Vanny e encarou Katherine ao seu lado.

— Desculpa — ela sussurrou para ele, mas Tristan deu de ombros.

 

 

 

Quando a lanchonete estava prestes a fechar e Keith enfim pendurou seu avental, um carro estacionou em frente ao estabelecimento. Uma mulher saiu do carro e entrou no restaurante.

— Acabamos de fechar — Keith gritou. Estavam apenas os quatro garotos na lanchonete. A mulher encarou Tristan, que finalmente olhou para ela.

— Oi, mãe — Tristan tossiu, tentando tirar o foco do que ele havia dito.

Os três garotos encararam Tristan, que estava sentado terminando de comer seu pedaço de bolo.

— A mulher daquela noite? — Keith sussurrou, perguntando para quem pudesse ouvi-lo.

— É — Tristan respondeu.

Os garotos deram uma olhada demorada naquela mulher desconhecida. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo sem nenhum fio fora do lugar, suas roupas estavam arrumadas e cobriam todo o seu corpo.

— Sua tia disse que você estaria aqui — ela se aproximou da mesa dos garotos. Seu sorriso era resistente, embora suas bochechas doessem.

Tristan estava sem reação, havia se despedido da mãe e ela disse que voltaria em breve, ele não imaginava que seria tão rápido. Aquilo o fazia feliz, mas ele não conseguia demonstrar na frente dos seus amigos.

— Pessoal — Tristan bebeu um gole de refrigerante porque sentia sua voz falhar — essa é minha mãe, Daisy. Mãe, esses são Keith, Sawyer — Tristan ia apontando para cada um dos garotos enquanto eles sorriam para a sua mãe — e Aiden, que está de aniversário hoje — ele disse, explicando-se indiretamente pelo bolo de aniversário pela metade.

— Nossa, feliz aniversário! — ela disse, sorrindo para o garoto. Aiden levantou da cadeira quando ela se aproximou para abraça-lo. Daisy encarou o machucado em seu rosto, mas não disse nada. — Você está fazendo quantos anos?

— Dezoito — Aiden respondeu, sentindo seu rosto corar, não gostava de ser o centro das atenções.

— Agora começa a ficar bom — ela disse, dando um sorriso largo.

— Não sabia que você estava com sua mãe todas aquelas vezes que você desaparecia — Sawyer disse, e sua voz era puro veneno.

— Ele não nos deve satisfação — Keith disse, revirando os olhos.

— Acho que eu devo, de alguma forma — Tristan disse.

Quando Keith foi até a porta para virar a placa para "fechado", ele enxergou um homem escorado no carro que a mãe de Tristan estava.

— Passamos uns dias juntos porque eu queria conhece-la. Ela me contou sobre a minha vida. E sobre meu pai—Tristan estava envergonhado e não conseguia olhar para ninguém ali. Ficou encarando suas mãos em seu colo. Suas unhas roídas e sujas.

— Bom, e você contou a ela sobre... — Keith começou a perguntar quando Tristan derrubou o resto do bolo no chão.

— Meu Deus, sinto muito! — Tristan disse, mas ele sempre foi um péssimo mentiroso.

Mas sua mãe não percebeu, ela não o conhecia o suficiente.

— Eu limpo, pode deixar — Tristan foi procurar produtos de limpeza. Keith revirou os olhos e foi atrás dele.

—Então... — Sawyer encarou Daisy — Você veio pra ficar? Tá aqui no bairro ou na Costa Rica? — eles se referiam assim ao lado mais nobre da cidade, o desejo secreto de cada um deles.

— Ainda estou decidindo — Daisy respondeu, encarando o bolo esmagado no chão. Olhou pela janela da lanchonete e viu Osmar fumando enquanto a esperava. — eu vim para leva-lo para jantar.

— Ele jantou —Sawyer mostrou a mesa atrás deles, cheia de resto de batata frita. Ela ergueu a sobrancelha para o garoto, mas não disse nada e olhou para trás, esperando seu filho.

— Eu vou limpar, pode deixar —Tristan tentou pegar o esfregão da mão de Keith, mas ele o empurrou.

— Vai lá com sua mãe — ele resmungou. Keith estava bravo.

— Eu vim te levar pra jantar — ela disse, tocando o ombro do filho. Ele encarou os amigos. Keith estava tentando limpar o bolo, Aiden estava juntando os lixos em cima da mesa e Sawyer encarava a cena, inexpressivo.

— Tudo bem — Tristan disse, porque sentiu que se ficasse, seria pior.

Tristan saiu com sua mãe sem olhar para trás. Os seus amigos encararam suas costas até entrar no carro com aqueles dois desconhecidos.

— Vocês não precisam ficar — Keith disse, encarando Sawyer e Aiden.

— Se a gente não ficar, vai nos encarar daquele jeito que você encarou o Tristan — Aiden disse, rindo, enquanto levava o lixo para a lixeira. Sawyer pegou o esfregão da mão de Keith e limpou do jeito certo.

— Ei, talvez você também possa trabalhar aqui — ele disse, encarando Sawyer.

— Você vai ganhar comissão trazendo funcionário? — Sawyer olhou para Keith enquanto limpava.

— Só fica menos trabalho pra mim.

— E menos dinheiro, né espertinho — Aiden deu um soco no seu braço e Keith assentiu, pensativo.

Sawyer terminou de limpar e entregou o esfregão a Keith.

— Fico te devendo essa — Keith sorria para Sawyer do mesmo jeito que sorria para as garotas que ele tentava conquistar. Sawyer revirou os olhos.

— Pode apostar que eu vou cobrar — ele murmurou.

— Vamos embora? — Aiden perguntou após terminar de limpar a sujeira que haviam feito.

— Eu vou. Mas para a casa da Vanny — Keith piscou o olho para os garotos, mas Sawyer o encarou sério. Seu olhar era feroz na direção de Keith, mas isso não intimidou o garoto.

— Então tá, a gente se vê amanhã —Aiden se despediu de Keith enquanto saía da lanchonete com Sawyer.

 

 

 

— Dá pra acreditar? O cara vai ser pai e fica dando em cima da ex — Aiden revirou os olhos e encarou Sawyer, esperando uma reação.

Estavam indo para a casa, a noite estava agradável e Aiden sentia vontade de sorrir o tempo todo.

— Achei que você queria um lugar para ficar, não um emprego — Sawyer disse, depois de muito tempo em silêncio. Sawyer chutou uma pedra que estava em seu caminho e ela bateu na calçada.

— Pra ter um lugar, preciso de dinheiro.

— Pode ficar comigo um tempo — Sawyer estava com as mãos nos bolsos e caminhava com descaso, mas todas as suas atitudes e decisões eram friamente pensadas. Ele olhou Aiden de soslaio e notou o sorriso em seus lábios.

Sawyer sorriu também.

— Você acha que é de boa? — Aiden perguntou, olhando Sawyer. Seu semblante estava fixo à frente.

— Minha mãe nem vai notar e meu irmão já está acostumado com você lá — Sawyer deu de ombros.

Os dois seguiram até a casa de Aiden para pegar roupas e o que mais ele poderia precisar naqueles dias com Sawyer. Não pretendia voltar para aquela casa.

— Você acha que vai durar?

— Você não vai mais voltar pra essa casa, isso te garanto — Sawyer disse entredentes.

Eles entraram juntos na casa. Aiden não acendeu a luz quando notou seu tio deitado no sofá da sala.

 

 

 

Tristan encarou o homem sentado à sua frente no restaurante. Sua mãe gostava dele, porque ela mexia no cabelo e tentava tocar nele todo o momento, exatamente como as garotas faziam com Keith.

Ele estava contando sobre a noite que conheceu sua mãe, que foi na mesma noite que ela foi atrás de Tristan.

— Já fazia três anos que minha esposa havia morrido — ele bebeu um gole da água — e a encontrei na rua. — ele encarou Tristan, preocupado — desculpe, quantos anos você tem?

— Idade o suficiente pra saber que minha mãe era uma mulher...

— Ei, mocinho — ela encarou Tristan — tente não usar os termos que seus amigos estão acostumados.

— Desculpe... eu sei o que ela faz — ele olhou para o homem, tentando buscar aprovação dele, de alguma forma.

Tristan sempre se sentia infantil perto de pessoas mais velhas.

— Então... eu comecei a conversar com ela e simplesmente me encantei — ele olhou para ela, com todo o carinho que ele dizia sentir.

O homem era velho, isso Tristan percebeu pela cor do seu cabelo, quase branco, mas seu semblante era jovial. Seus dentes eram a única coisa falsa nele, Tristan percebeu.

— Contei a ele que tinha um filho e de repente não sabia nada sobre você.

— E a propósito, Tristan — ele encarou o garoto — sua mãe não está mais fazendo isso.

— Isso é conversa pra outra hora e outro lugar — Daisy olhou para os dois e sorriu, pegando as mãos deles em cima da mesa — eu quero uma vida nova. E eu quero do jeito certo.

— E queremos que você faça parte disso, Tristan — o homem olhou para Tristan. Ele tentou lembrar-se do nome dele, sua mãe o apresentou quando ele entrou no carro naquela noite, deixando seus amigos raivosos para trás.

 


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