Welcome to badlands escrita por patty


Capítulo 18
Capítulo Dezessete: a polícia.




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Era madrugada quando Sawyer escutou as sirenes da polícia. Não era incomum, todos sabiam que ali tinha um fluxo de tráfico muito grande para um bairro daqueles. Mas não foi o barulho que o acordou, foi o medo de Seth ser pego. O medo de perder outra pessoa na sua família. Como seria se Seth fosse preso? Quem cuidaria do Sawyer? Quem cuidaria da sua mãe?

Sawyer levantou da cama, pronto para seguir aquele som que não parava. Que o assustava tanto. Mas antes de sair de casa, foi até o quarto do Seth, na esperança de vê-lo ali na sua cama, dormindo.

Mas o quarto do Seth estava vazio. Sua cama estava desarrumada. Seu chão estava repleto de sujeira. Enquanto passava pelo corredor, viu sua mãe saindo do banheiro do andar de cima. Ele a encarou por um tempo. Ela estava tão fraca, pálida. Como isso foi acontecer com ela? Com todos eles?

— Mãe – Sawyer chamou. A mulher, irreconhecível aos olhos do filho, o encarou, franziu o cenho e disse:

— Seth – ela sorriu com pesar. Sawyer a encarou, esperando que ela se corrigisse. Mas ela apenas ficou ali, segurando uma caixinha laranja de remédios e encarando o filho que ela não reconhecia.

— É o Sawyer – ele disse, baixinho. Nunca pensou que aquilo fosse necessário, lembrar a sua mãe que não tinha só um filho.

A sua mãe não disse nada, apenas sorriu para ele. Um sorriso tão triste que fez Sawyer descer correndo as escadas e para fora daquela casa.

Aiden escutou a sirene, mas não fez nada de imediato. Ficou encarando na janela do seu quarto, tentando enxergar onde estava o carro.

Foi quando viu Sawyer correr pela rua. Ele parecia tão apavorado que não escutou Aiden gritando seu nome.

— Sawyer – dessa vez Aiden já estava atrás dele, correndo também. Sawyer olhou para trás, confuso.

— Meu Deus, Aiden. Você quase me matou do coração – Sawyer disse, parando um segundo para deixar que Aiden o alcançasse.

— O que está acontecendo? Alguém morreu? – Aiden perguntou, enquanto caminhavam juntos até a sirene. Que aos poucos foi parando.

Até que não se ouvia mais nada.

Mas ainda conseguiam ver as pessoas, curiosas, nas janelas.

— Puta merda – Sawyer disse, e saiu correndo. Ele sabia, no segundo que as sirenes paravam, a polícia havia conseguido o que queria.

O seu irmão.

Sawyer correu. Correu tanto, que Aiden acabou ficando para trás.

Ele pensou. Pensou tanto que já não dava tempo de ir atrás.








Keith não conseguia dormir naquela noite. Não por causa da sirene, ele sempre as ignorava quando escutava. Ou por causa do seu pai, que estava escutando alguma música de jazz no quarto ao lado. Mas ficou pensando naquela menina. A menina que provavelmente seria a mãe do seu filho.

Ele não poderia ser um bosta de pai, igual o seu. Ele não poderia deixar faltar nada para aquela criança.

Ele nem sequer sabia o número do telefone da garota, apenas sabia que seria pai. E sabia por que ele tinha uma péssima sorte.

Pensou em ligar para Vanny e lhe contar da novidade.

Mas de que serviria? Só tornaria a coisa mais real.

E então algo acendeu dentro dele. Ele sabia exatamente para quem ligar.

— Oi, mãe – ele disse, assim que a mulher do outro lado da linha atendeu o telefone.











Tristan não estava na sua casa naquela noite. Ele nem sequer sabia onde estava. Tinha certeza que não era a casa da sua mãe, embora ela o tivesse levado até lá na tarde daquele dia.

Ele não conseguia dormir. Ficava pensando no que diria para seus amigos caso perguntassem onde o garoto passou a noite. Mentiria que foi na casa de alguma garota? Mas aí o questionamento seria ainda maior. Ou diria a verdade e se preparava para escutar algumas verdades da parte dos seus amigos?

Mas ele estava tão aliviado. Aliviado de não estar na casa da sua tia. Lá ele vivia com medo, mesmo com o fim daquele pesadelo, o medo o perseguia naquela casa. O sentimento de Tristan naquela madrugada era a incerteza. A confusão. E um pouco de esperança. Talvez sua mãe realmente quisesse uma relação com ele.











Sawyer encarou de longe a polícia em ação. Ele tinha tanto medo por seu irmão. Tentou enxergar de longe com quem os policiais estavam, mas Sawyer não reconhecia nenhum. E mais importante, não via seu irmão. Ele suspirou de alívio, mas aquilo só durou alguns segundos.

Enxergou os amigos de Seth. Os caras que estavam sempre com ele, seja para conseguir droga ou arma, ou apenas sair pela cidade como se fosse um bando de criminosos.

Sawyer voltou correndo para a casa e encontrou Aiden sentado na soleira da sua porta.

— E ai?

— Não sei – Sawyer disse, frustrado.

— Seu irmão disse que alguém matou o...

— Meu irmão? – Sawyer interrompeu Aiden – onde ele está?

— Acabou de entrar aqui – Aiden disse, apontando para a porta atrás dele – o que aconteceu? Por que você tá assim? – ele perguntou, mas Sawyer ignorou e passou por ele, entrando em casa.

— Seth! – Sawyer entrou em casa gritando. Seu irmão apareceu no topo da escada no andar de cima, encarando o irmão como se fosse louco.

— O que aconteceu?

— Seus amigos...

— Eles não são meus amigos – Seth deu de ombros – bando de perdedores – Seth riu e encarou os dois amigos no andar de baixo. Sawyer e Aiden estavam confusos. Aiden por não saber o que acontecia exatamente entre os irmãos, e Sawyer estava bravo. Furioso com seu irmão. Mas ao mesmo tempo estava aliviado que ele estava ali, a salvo. Mas confuso demais. Por que o Seth não estava lá?

— O que aconteceu, pelo amor de Deus – Aiden gritou. Os irmãos o encararam e riram por alguns segundos. Sawyer tinha medo. Medo de Aiden descobrir que os dois estavam metidos com tudo.

— Eu vou te contar – Seth disse, calmamente, enquanto descia as escadas.

Os três sentaram no sofá da sala. Sawyer de repente sentiu cheiro de água sanitária e torceu para que Aiden não sentisse. Fora o cheiro de mofo que invadia a casa inteira.

— Meus amigos – Seth disse, e encarou Sawyer por uns segundos – são traficantes. A polícia ficou sabendo que eles estavam por aqui e resolveram agir – ele deu de ombros, como se fosse simples assim – pegaram eles com três kg de cocaína, alguns baseados, e duas pistolas. Eles não estavam fazendo nada – Seth disse – mas isso bastou para a polícia aparecer.

Sawyer encarou o irmão. Seth sabia quando sair de cena quando envolvia essas paradas. Mas Sawyer também sabia que Seth tinha muito mais droga no seu quarto.

Aiden estava um pouco apavorado. Mas ele sabia que Seth fazia parte daquilo, porém resolveu não dizer nada.

— E como você conseguiu se livrar? – Sawyer perguntou, já nem se importando com o que Aiden pensaria.

— Eu saí dessa – Seth disse, mas Sawyer sabia que ele estava mentindo.  Seth levantou do sofá, encerrando ali aquela conversa, e subiu para o seu quarto.

Aiden olhou para Sawyer, que encarava Seth com o cenho franzido.

— Ele está mentindo, certo? – Aiden perguntou, preocupado. – por favor, Sawyer, fique longe do seu irmão – ele disse, antes de sair da casa dele. Fechou a porta e Sawyer ficou ali naquela sala escura, sozinho.

Sawyer subiu depois de uns minutos. Bateu duas vezes na porta de Seth e esperou o irmão abrir.

— Foi você, não foi? Que ligou para a polícia – foi a primeira e única coisa que Sawyer disse quando Seth abriu a porta. Sawyer não esperou alguma resposta, pois ele sabia que estava certo. Seth não foi capaz de esboçar nenhuma expressão. Nenhum sentimento.

Se Sawyer olhasse para dentro daquele quarto, veria o dinheiro. As drogas.

Mas ele não olhou. Ele não quis olhar.



Keith não sabia bem qual reação esperava da sua mãe quando lhe contasse a grande novidade. Mas com certeza aquilo não era o que ele esperava...

— Você é um irresponsável, vai ser igual seu pai – já fazia duas horas que estavam no telefone, e Keith só escutou xingamento. Não ouviu nenhum "eu estou com saudade, filho". Não escutou nada de bom. Se fosse para escutar aquilo, era melhor ter falado com seu pai, que ele já esperava o que ele diria.

Ele queria desligar na cara dela. Queria xingá-la por deixa-lo naquela merda de casa com aquele bosta de pai.

— Não foi minha intenção – ele só conseguia dizer aquilo, mas sua mãe não estava escutando. Ela só falava e falava.

Keith achava que sua mãe tinha ido embora apenas por causa do pai. Mas depois daquilo, de todas as coisas que ela estava dizendo, ele tinha certeza que ela foi embora por causa dele também.

Sabia muito pouco sobre a história dos seus pais, mas sua mãe ficou grávida sem planejamento algum. Ela era nova. E seu pai também.

Keith percebeu muito tarde que aquela história estava se repetindo. Dessa vez com ele mesmo.

Desligou o telefone. Já havia escutado mais do que o necessário.

Levantou da cama e foi até o quarto do seu pai.

A música já estava baixa, indicando que seu pai estava preparado para dormir. Ele sabia que o pai estava sozinho por que quando ele levava alguma mulher, ele escutava outro tipo de música.

— Pai – Keith chamou ao bater na porta. Demorou alguns segundos até seu pai aparecer. Abriu a porta e encarou o filho. Keith estava chorando, mas só havia notado naquele momento.

Ele queria um abraço do pai. Mas nunca faria isso. Nunca tentaria abraçar um velho gordo só de cueca. Ele se afastou um pouco e limpou as lágrimas com a manga do pijama.

— Keith – seu pai disse, num sussurro preocupado. E aquilo desencadeou mais lágrimas para Keith.

— Eu preciso...

— O que aconteceu, moleque? Você tá me assustando.

Keith riu. Primeira vez que via seu pai genuinamente preocupado.

— Eu vou ser pai – foi só o que ele conseguiu dizer até desmoronar por completo e abraçar seu pai.











Tristan pensou em ligar para os seus amigos e contar-lhes o que estava acontecendo, mas quando olhou para o horário, já era madrugada. Em poucas horas ele teria que acordar e voltar para a casa. Mas ele não conseguia dormir de jeito nenhum.

Pensou em levantar dali e ir até sua mãe, mas não sabia exatamente se ela estaria sozinha.

Foi quando ouviu a maçaneta. De repente suas memórias de antigamente o assaltaram e ele ficou com medo. Segurou forte o lençol e o colocou sobre sua cabeça.

— Filho – escutou a voz da sua mãe e tirou o lençol da sua frente, deixando a mostra apenas os olhos de Tristan – esses olhos – ela sorriu, encarando seu filho. – Pelo jeito não foi apenas o nome que você herdou do seu pai.

Era a primeira vez que alguém parecia querer falar sobre o pai de Tristan. Ele queria saber mais. Ele queria perguntar tanta coisa.

— O que aconteceu com meu pai? – ele conseguiu perguntar. Sua voz saiu abafada por causa do lençol.

Sua mãe continuou o encarando, com um sorriso bobo. Ela estava tão feliz em ter seu filho ali. Estava tão aliviada por ele ter aceitado a conhecer.

Queria lhe mostrar que ela era mais do que ele pensava ser.

— A história é longa – ela riu – você está pronto?

Tristan assentiu. E era como se ele fosse criança e sua mãe estivesse lhe contando uma história antes de dormir.

— Minha vida nunca foi fácil – sua mãe começou, e se ajeitou para deitar ao lado do filho. Tristan ficou constrangido com a proximidade, mas logo se aninhou no peito da sua mãe. E ali, deitado naquela cama grande, com aquela mulher quase desconhecida, ele parecia tão pequeno. Tão frágil. – e eu conheci seu pai em uma noite. Ele estava tão bravo com alguma coisa que precisava se distrair. Ele me escolheu – ela riu e balançou a cabeça – vivemos dias e noites magníficos. Ele sempre foi bom para mim. E ele era um ótimo pai, Tristan – ele sentiu sua mãe erguer a mão até o rosto – sua família não gostava de mim. Eles sabiam da minha vida, sabiam o que eu fazia para ganhar dinheiro, então nunca aceitaram que ele ficasse com uma mulher como eu. Diziam que ele merecia mais, que eu iria embora. E, de alguma forma, eles estavam certos. Mas eu não fui embora por causa da família dele. Ou porque fiquei grávida. – Tristan sentiu ela balançando a cabeça com força, como se estivesse revivendo toda aquela história novamente, como se quisesse provar algo para alguém que nem estava ali – Quando descobriram que eu estava grávida, duvidaram de mim. Diziam que não era do seu pai, que uma mulher da vida não poderia ter um relacionamento saudável. E foi quando, para calar a boca de todos eles, eu decidi largar essa vida – ela suspirou fundo – fiquei toda minha gestação na casa da família dele até acharmos uma casa para nós três – ela abraçou Tristan bem forte, como se não quisesse que ele a deixasse – e eu permaneci ali até você nascer. Nós encontramos uma casa. A casa que você mora com sua tia agora. E eu permaneci com vocês até você completar três anos.

Tristan não tinha lembranças disso. De ter tido uma família. Pelo menos por três anos de sua vida. Nunca imaginaria que sua mãe e seu pai o tivessem criado.

— E então, uma tarde de abril – ela disse, pensativa – eu estava lavando a louça e você estava assistindo desenho na televisão. E seu pai estava no trabalho. Eu recebi uma ligação. Dizendo que ele havia sofrido um acidente perto de onde morávamos. Foi naquele momento que tudo desmoronou para mim, Tris. – ela disse, usando o apelido que usava com o pai de Tristan – eu saí de casa e voltei para essa vida – Tristan a escutou fungar. Ele também estava chorando. Molhou toda camisola da sua mãe. Mas nenhum dos dois se importou com isso – eu pedi para sua tia cuidar de você. Ela sempre foi muito legal comigo, era a única que apoiava minha relação com seu pai.

Tristan refletiu sobre aquilo. Sua tia sempre lhe tratou bem também, mas todas as vezes que ela tocava nele, todas as coisas boas que ela fazia, desapareciam.

— Ela cuidou tão bem de você! – sua mãe segurou seu rosto. Naquele momento, Tristan quis lhe contar toda a verdade.

Mas era o suficiente de verdades dolorosas naquele momento.

— Por que você demorou tanto para aparecer?

— Eu nem tenho justificativa. Ou desculpa para isso – sua mãe olhou para o teto, ficou encarando fixamente um ponto específico, só para não encarar seu filho e seu rosto marcado pela decepção. – mas eu precisava lidar com a morte do seu pai. Com a morte do que um dia fomos. Eu precisava lidar e organizar minha vida. Eu nunca consegui a organizar – ela riu, mas era uma risada murcha, triste.

— E o que você quer agora? Recuperar sua vida de mãe? – Tristan perguntou, sentindo um gosto amargo na boca.

— Eu quero reconquistar meu lugar de mãe – ela disse, como se fosse algo ensaiado. – eu não quero te tirar da vida que você tem, de jeito nenhum. Eu quero ir aos poucos, sabe? Quero conhecer você. Seus amigos. Sua rotina. – ela sorria esperançosa. E Tristan a encarou, incrédulo.

Mas... ao mesmo tempo, ele estava aliviado.

Aliviado por não ter sido fruto de um desamor. Seus pais se amavam, mas a vida fodeu com eles, do mesmo jeito que fodeu com Tristan.

Todos saíram perdendo. Mas... ainda havia chance de tudo mudar.

 


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