Fim do Mundo – Interativa escrita por Sohma


Capítulo 24
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Um pouquinho de filler pra vocês :D



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Bellatrix – POV

Já fazia alguns minutos que estávamos caminhando pelas ruas da Bela Cintra, o silêncio entre nós era perturbador, mas o pior era que, sem nenhum aparelho eletrônico, a cidade parecia mais quieta. Sem barulho de carros, as músicas que sempre tocam nas lojas, nada. Nem o barulho de pessoas era ouvido. Olhei discretamente para o céu, já estava começando a ficar laranja. Em alguns minutos escureceria completamente. E não seria bom andarmos por essas ruas.

Abaixei meu olhar e fiquei pensando em Noah. Ele cumpriu seu dever como soldado, protegendo os civis, mas ele teria sobrevivido? Eram muitos zumbis. Mesmo que eles estivessem (muito bem) armados, eles conseguiriam sobreviver?

— Não fica com essa cara. – virei meu rosto e encarei Alan, que me sorria. – Seu irmão com certeza está bem. Ele foi muito bem treinado, não é mesmo? – eu arregalei os olhos de surpresa. Como Alan sabia o que eu estava pensando? Bom, talvez não fosse tão difícil deduzir. Eu apenas sorri amarelo e voltei minha atenção para o caminho. Afinal, eu que estava guiando todos eles.

— É bem ali! – apontei para a loja de bicicletas. A faixada ainda estava intacta. Quando nos aproximamos vimos manchas de sangue nas vitrines. Tentei observar o interior, mas estava muito escuro. Fui até a entrada e empurrei a pequena porta de madeira. O espaço era bem pequeno e haviam diversas bicicletas penduradas nas paredes e peças avulsas sobre o grande balcão.

— Parece que não tem ninguém. – Ana comentou entrando depois de mim.

— Mas fiquem atentos nunca se sabe se tem algum "deles" aqui dentro. – Nick falou empunhando o grande fuzil. Também levantei minhas duas pistolas e observei o local. Não parecia ter nada. Virei meu rosto e observei todos. Mas meu olhar acabou se perdendo em Melody. Ela tinha uma expressão de cansaço, sua boca estava levemente aberta, e sua respiração estava descompassada.

— Melody, você está bem? – meu comentário fez com que todos focassem nela. Melody nos observou constrangida.

— E-Estou... Por quê a pergunta? – sua voz saiu fraca. Ela não estava bem.

Miller se aproximou de Melody e colocou a mão na testa dela, logo depois em suas bochechas. Percebi que o rosto dela ficou corado. Eu já havia notado, desde que estávamos na faculdade, que esses dois estavam tendo alguma coisa. Mas não posso confirmar sem nenhuma certeza.

— Ela não está com febre. – ele afastou sua mão dela. – Hey, Tomboy...

— Eu me chamo Melissa! – Melissa repreendeu Miller, que apenas deu de ombros.

— Você pode ver se ela está com alguma coisa? Ela não está com uma boa aparência. – eu me surpreendi. Miller jamais fora cuidadoso assim. Será que ele sentia algo por Melody?

Melissa se aproximou de Melody e fez o mesmo gesto de Miller, para conferir se ela não tinha febre. Melissa abriu a boca de Melody e examinou sua garganta. Pegou a mão dela e examinou o pulso. Seus olhos se arregalaram.

— Sua pulsação está muito baixa. Você poderia desmaiar a qualquer momento. – Melissa retirou a mochila de suas costas, remexeu no interior dela e retirou um saleiro. Estendeu a mão de Melody, colocando um pouco de sal na palma e a fez engolir. – Isso vai aumentar sua pressão, logo você se sentirá melhor. Mas recomendo você descansar.

— Não tem como descansar aqui! – Melody tentou erguer a voz, mas por se sentir fraca, ela saiu num pequeno fio.

— Aqui tem algum estoque ou coisa do gênero? – Nick perguntou fazendo com que todos olhássemos para ela. Puxei de memória, lembro que o dono dessa loja sempre ia para algum lugar pegar algumas peças. Virei meu olhar para o balcão e vi que tinha um pequeno lance de escadas, que iam para o porão.

— Tem um estoque ali embaixo. – apontei para o lance de escadas. Nick pulou o alto balcão e desceu as mesmas, ainda empunhando o fuzil. Ficamos alguns minutos na parte de cima, aguardando alguma resposta. Ouvimos o barulho de coisas se mexendo.

— Galera, seria melhor vocês verem isso aqui! – Nick gritou, Alan, Ana e Melissa pularam o balcão e desceram as escadas. Eu fiquei encarando o casal que estava ao meu lado. Miller tinha um rosto completamente frio, sem expressão, eu tinha calafrios quando o encarava. Já Melody estava com seu rosto vermelho, pelo jeito a pressão dela ainda não normalizou.

— Não seria melhor você ir com eles? – Miller me lançou um sorriso indecifrável. Eu me assustei com a voz dele, não esperava nenhum comentário. Assenti com a cabeça, pulei o balcão e segui todos os outros.

Miller – POV

Bellatrix finalmente saiu do cômodo. Virei meu olhar para Melody e sua expressão não era uma das melhores. Mesmo com a cara de doente, ela me lançava um olhar esnobe. Desde a manhã deste dia, nós não trocamos nenhuma palavra sobre o assunto do quarto.

— O que foi? – ela me falou arrogante.

— Nada. É só que você está com uma cara horrível. – copiei seu tom de voz.

— Não é um bom comentário para fazer à uma garota. – Melody virou o rosto e foi até o canto da loja, sentando numa cadeira de plástico que estava ali. Ela me lançou um olhar lânguido, e cruzou as pernas. Num gesto claramente sensual. Ela estava com uma saia de colegial, o que deixava a (minha) situação muito mais agradável. Me aproximei dela, e retirei a preciosa de meus ombros. Senti um leve conforto, a arma era um pouco pesada e as vezes era desconfortável empunhá-la sempre. – Não me esqueci do que eu te disse na universidade.

— Era pra você esquecer? – falei sarcástico. Eu não iria fingir que não sabia do interesse de Melody em mim, afinal, nesse inferno, mulher se tornou uma coisa rara, não é mesmo? Não perderia a minha chance.

Então senti a mão de Melody puxar minha jaqueta, fazendo meu rosto ficar bem próximo do seu. Eu podia sentir a respiração dela em meu rosto. Eu quebrei a distância, colocando minha mão na sua nuca e puxando sua boca para encontrar a minha. Nossos lábios se colaram, e Melody abriu a boca, eu repeti o ato, fazendo com que minha língua encontrasse a sua. Trocamos um beijo de desejo. Eu não me lembro quando foi a última vez que beijei alguém dessa maneira. A mão de Melody foi até meu cabelo e começou a acariciá-lo. Já minha mão foi até suas pernas. Eu senti a meia fina que cobria suas coxas. Quando me aproximei da barra da saia senti algo prendendo meu pulso.

— Calma. – Melody sussurrou, afastando nossos lábios. – Não aqui, não agora. – soltei um sorriso falso de tristeza.

— Melody! Miller! – ouvi a voz de Ana gritando nossos nomes. – Venham aqui! Vocês precisam ver isso. – Muito a contra gosto me afastei de Melody e a levantei da cadeira. Pulei o balcão e vi que Melody foi até uma portinha, que estava no meio dele, e passou. Nenhum de nós havia reparado naquilo antes.

~~~

Sarah – POV

Eu estava cansada. Meus pés doíam, já faziam horas que estávamos andando sem destino. O céu já estava completamente laranja. Logo ficaria escuro.

— Não seria melhor acharmos um lugar pra ficar? Já vai escurecer, e é perigoso andarmos por aí no escuro. – falei alto, fazendo com que todos virassem os olhos para mim. August que estava na dianteira, observou ao redor, como se procurasse alguma coisa.

— Lauren, você sabe se tem algum mercado ou loja de conveniências por aqui? – August se dirigiu até ela. Lauren pareceu pensar por alguns segundos, como se estivesse tentando se lembrar.

— Deve ter uma loja naquela direção. É uma daquelas de acessórios made in china. – ela apontou para uma rua distante.

Todos andamos até lá e nos deparamos com alguns zumbis no meio do caminho. A loja estava aberta, e era uma boa distância de onde estávamos, até ela.

— Não atirem! – meu marido falou próximo a nós. – São muitos, se atirarmos seríamos pegos pelos demais.

— Precisamos achar alguma maneira de distraí-los para chegarmos até a loja. – Gael também comentou. Todos nos entreolhamos, como se pensássemos num plano. – Já sei! – Gael falou baixo, chamando com a mão para que nos aproximássemos dele. – Estão vendo aquela casa? – Ele apontou para uma grande casa que estava com o portão aberto. Todos assentimos. – Eu vou até ela e atirar contra o teto da garagem. Chamando a atenção de todos. Quando o caminho estiver livre vocês vão até a loja e a fechem.

— Mas e você? – me indignei. – Você ficará preso entre eles, como fará para sair?

— Eu também já pensei nisso. Fique calma. – Gael me piscou um olho. De relance vi que August presenciou esse ato. Sua cara se fechou.

Gael começou a correr pela rua e afastava alguns zumbis próximos com sua arma, apenas os empurrando. Vimos quando ele entrou pelo grande portão, e ele sumiu de nossas vistas. Um grande disparo foi ouvido. Os zumbis começaram a se aproximar da casa e entraram pelo portão. Começando à deixar o caminho livre para irmos até a loja.

— Ele está bem? Como ele vai fugir daquela horda? – Lauren perguntou assim que chegamos na frente da loja.

— Não sei, mas eu preciso fechar, antes que eles venham para cá! – August falou, pulando para conseguir alcançar o xxxxxx.

Gael – POV

Eu estava já dentro da grande garagem. Aparentemente aqui dentro não tinha nenhum deles. Peguei a escopeta e atirei para o céu. O tiro ecoou alto. Corri para o quintal, na parte de trás desta casa. Pulei o muro e saí na rua onde havíamos acabado de passar. Eu já sabia que ela estava vazia, e corri em disparada para a loja. Meu plano deu certo, todos os zumbis estavam dentro da garagem e entravam naquela casa. Vi que August tentava fechar a loja. Apareci bem em sua frente, percebi que pela surpresa ele deu um leve salto para trás. Eu o ajudei a puxar o xxx. Com mais força conseguimos fechar.

Senti a adrenalina sair de meu corpo e caí de joelhos sobre o chão liso. Respirei fundo, tentando me controlar. Ví logo uma garrafa de água sobre meus olhos. Segui o braço que me estendia. Era Lauren. Seu rosto fechado carregava um leve sorriso. Aceitei a garrafa, lhe devolvendo o sorriso, bebi toda a água num único gole. Eu estava desidratado. A corrida me esgotou.

— Eu já dei uma olhada pela loja, nos fundos tem um frigobar com algumas maçãs e tem um filtro de 5l cheio. – Lauren falou, olhando para mim e para August.

— Tem velas? Não podemos ficar no escuro, é perigoso demais. – August falou também se recompondo. Ele retirou o colete a prova de balas e começou a massagear o próprio ombro.

— Tem algo muito melhor. – Lauren estendeu a mão esquerda, mostrando uma lanterna acesa. Acho que eu fiz uma cara de surpresa tão grande, que Lauren sorriu novamente. – Aqui tem alguns produtos de pilha, e todo equipamento sem rede ou fio elétrico conseguiu se salvar do P.E.M.

— Lauren... – August chamou nossa atenção. – Eu não entendo muito de pulsos eletromagnéticos. Mas equipamentos que estão em locais protegidos por para-raios ou isolamento não escaparam?

— Nesse caso, para-raios não servem de nada! – Lauren começou a explicar. – O pico elétrico é alto demais! Eles devem ter queimados antes mesmo de funcionar. Isolamento, idem... Qualquer fio elétrico conduziria o pulso eletromagnético pra dentro do recinto. – Eu fiz uma cara perdida, não entendia bem do assunto e estava confuso quanto à isso. August estava pensativo e vi Sarah se aproximando de nós com uma garrafa de água em sua mão. Ela entregou prontamente para August que lhe deu um beijo em seus lábios, aceitando. – Bom, mas isso depende também da distância que o míssil explodiu. Só que não tem como a gente saber disso.

— Mas e os carros? – Sarah perguntou amarrando os cabelos num rabo-de-cavalo alto.

— Esqueça os de injeção eletrônica. Esses já eram. Sem contar as velas de ignição, que devem ter ido pro saco! – eu estava cada vez mais desanimado com a história, mas eu pensei numa coisa.

— Mas se for um carro antigo e a gente arranjar uma vela de ignição intacta?

— E onde você vai achar essa vela intacta? – É. Eu não tinha pensado nessa parte.

— E carros a diesel? – August perguntou. – Eles não usam velas de ignição. Como são de combustão interna, podemos bombear o combustível manualmente e mover os pistões por manivela.

— Isso é possível. – Lauren começou a pensar, mas sua expressão mudou, isso significava que ela ia estragar essa ideia também. – Mas cadê esse carro a diesel? Sair se aventurando por aí, no meio desses monstros, só pra encontrar um carro que ande é o cúmulo do ridículo.

Todos nós fechamos o rosto. Não tínhamos mais nenhuma ideia ou teoria para que pudéssemos ir até o centro. A pé demoraria demais, e não aguentaríamos tanto tempo sem comida e água.

— Pelo jeito vamos ficar aqui está noite, mas e amanhã? Como vamos seguir? – Sarah perguntou cruzando os braços.

— Vamos comer alguma coisa, depois pensamos nisso. Estamos andando a horas e é perigoso fazer tanto esforço sem carboidratos no corpo. – Lauren se pronunciou, tirando a mochila de suas costas e entregando alguns sanduíches que ela e Sarah fizeram nesta manhã.

Eu aceitei de bom grado e me dispus a comer. Eu precisava chegar até minha empresa o mais rápido possível. Precisava saber se ela está bem.

~~~

Nicole – POV

Na área debaixo da loja de bicicletas eu achei diversas velas. E não só isso, tinha uma pequena geladeira, não fazia muito tempo que a energia tinha acabado, por isso dentro da geladeira ainda estava gelado. Tinha algumas garrafas de água, alguns doces e frutas. Vasculhando mais encontrei uma arma. Era uma pistola pequena, e de acordo com Melody, era Sig Sauer, uma arma proibida no Brasil. Também encontramos alguns cobertores e travesseiros. Pelo jeito, alguns funcionários dormiam aqui. Mas seria ótimo para nós.

Já era tarde da noite. Algumas velas estavam acesas sobre uma mesa na área de funcionários, só para iluminar o ambiente. Melody havia sido a primeira a dormir, seguida de Ana e Melissa. Miller também acabou dormindo com aquela arma em seu colo. Bellatrix também dormiu. Dentre nós, ela parecia a mais abalada. Afinal, deixar o irmão para trás foi algo difícil para ela. E estávamos indo encontrar seus outros parentes, torcendo para que eles estejam vivos. Mas eu parei pra pensar. E meu pai? Como estaria? Eu não o via já fazia meses. Com aquele trabalho, ele sempre viajava, raramente ficava em casa. Ainda mais, depois da morte de mamãe, papai ficou mais grudado ao trabalho. Sei que era a maneira dele seguir em frente. Eu era muito jovem, não me lembro dela muito bem, mas graças a Deus, eu tive Alan. Ele desistiu de muita coisa para cuidar de mim.

— Não consegue dormir? – me assustei e virei o rosto, encontrando Alan sobre a pouca claridade do ambiente.

— Estou pensando... – respondi baixo.

— Em papai? Eu te entendo. Eu também estou pensando nele. – Alan se levantou do chão, se aproximando de mim, me abraçando. – Sabe que foi graças a ele que eu resolvi partir para te encontrar?

— Você não me contou isso! – senti minha voz se alterando. Eu abaixei a cabeça, me sentindo constrangida. – Desculpa... Só estou nervosa.

— Não te culpo. Você é tão jovem, e está passando por tanta coisa. Sabe, dentre nós, você é a que está se mostrando a mais forte. Você não fraquejou, em nenhum momento. – Alan me abraçou com mais força. E meus olhos começaram a marejar. Eu senti cada palavra me batendo, por que era verdade. Eu estive esse tempo todo me mantendo concentrada na situação atual, e não pensei em mais nada. Agora... Agora eu estava pensando em tudo o que quis evitar. Senti as lágrimas descendo meu rosto e molhando a blusa de Alan.

— Obrigada... – murmurei. Alan simplesmente beijou minha testa, e eu fechei os olhos. Senti meu corpo cansado e acabei dormindo.


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