Os Segredos da Rua Baker escrita por Lany Rose


Capítulo 23
A Cúpula dos Nobres




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John havia terminado mais um dia de trabalho após prender um sequestrador, decidiu passar em um pub para tomar uma cerveja com os amigos, no entanto acabou notando não estar no clima certo para esses momentos. Desde o beijo e a rejeição de Irene, John andava triste, pois nada podia fazer a respeito. De certa forma, Irene tinha razão. Se tivessem algo, ele só seria mais um para ser usado contra ela.

Ele vai em direção a sua casa que não fica muito longe dali, quando coloca a chave na porta do prédio sente uma pancada na cabeça. Acorda horas depois em um lugar escuro e úmido. Um homem entra e o carrega para outra sala, Morse estava lá, todo risonho.

—Inspetor John Smith. Eu conheci o seu irmão, entendo a inveja que tinha dele.

—Quem diabos é você?

Com seu jeito sempre teatral, Morse chegou bem perto.

—Eu sou James Morse. – Falou olhando bem nos olhos do John e se deleitando com sua reação.

—Você matou o meu irmão!

—Sim, matei.

—O que quer de mim?

—De você?! O que eu poderia querer de um simples inspetor? –Ele se inclina para falar no ouvido do John. –Você é o dedo na ferida.

—O que?

—Irene já irá me procurar por ter a irmã dela, mas se manterá no personagem. Fingirá não se importar, porém quando você aparecer todo machucado. A nossa consultora investigativa favorita não conseguirá continuar.

—Oh você pensa mesmo que a conhece tão bem assim?

—Eu a observei a vida toda. Sei todos os seus truques; sei o que mais lhe machuca.

—Sério? E o que seria?

—Não é o fim da carreira, pode ter certeza. O maior medo de Irene Holmes é perder a família... E você.

—Eu? Não, você está enganado.

—Não, querido inspetor, eu me enganei quando pensei ser o Bernard. Agora chega de papo, nos vemos mais tarde inspetor.

Saindo da sala ele estalou os dedos, os homens que ali ficaram iniciaram uma longa tarde de tortura.

Irene estava sentada na sua poltrona favorita bebendo, aparentemente dispersa em pensamentos. O celular toca com a chegada de uma mensagem:

“O encontro final está marcado, local e horário mais abaixo. Já é tempo de colocarmos as cartas na mesa, tirarmos a mascara e mostrarmos quem realmente somos. J. M..”

Ela juntou as mãos, pensou um pouco e em seguida levantou. Irene pegou sua jaqueta e cachecol; foi ao encontro do seu maior inimigo... Até o momento.

No velho mosteiro, sede da Cúpula dos Nobres, ela entrou devagar. Observou cada canto, como se nunca tivesse entrado ali antes. Com o Morse tinha de ser assim, cada passo, cada fala, cada atitude deveria ser minimamente calculada.

No enorme salão principal, onde tem as mais importantes reuniões, estava Morse. Parado bem no meio, usando um belo terno. Ele sorri ao vê-la.

—Você me surpreendeu Irene.

—Mesmo?

—Sim. Achei que ao saber do sumiço da sua irmãzinha, viria correndo até mim. Com ameaças, promessas, a ponto de fazer qualquer coisa para tê-la de volta.

—Eu não me importo com o que acontece com Diana.

—Oh! Vai continuar mentindo. Não deveria.

—E por que não?

—Porque, querida Irene, eu sei toda a verdade.

—Do que você está falando? – A voz de Irene saiu trêmula.

—Eu sei do seu pai. Sei que ele está vivo. – Morse se deliciou com a reação de Irene. –Ele está com sua mãe e seu tio Watson na Itália.

—C-como...?

—Como eu descobri? Foi moleza. Coloquei câmeras na sua casa. Eu sei da sua discussão com sua irmã, vi o acidente pelas câmeras da rua e troquei os paramédicos contratados pelo Mycroft, coloquei os meus no lugar.

—Eu não me importo!

—Não? E com ele?

Morse fez um sinal e entraram com o inspetor Smith. Vinham arrastando o inspetor que estava muito machucado. Vários cortes, queimaduras e muito sangue por todo lugar. Irene parecia horrorizada.

—John! – Uma lágrima desceu. – O que você fez com ele?

—Nada que não merecesse. Querida Irene, eu vi e ouvi tudo que aconteceu naquela casa. Sei do romance de vocês. O amor do adorável inspetor pela arrogante consultora investigativa.

—O que você quer Morse?

—Eu já te disse Irene. Eu vou fazer você sofrer, verá todos que ama morrer e depois, bem depois, eu a matarei pessoalmente.

—Você não pode tocar em mim. Faço parte do conselho da Cúpula.

Morse soltou uma gargalhada.

—Matei muitos para chegar até aqui. Membros do conselho... O antigo Mestre. Tudo para concluir minha vingança contra sua família.

—Vingança que mudou de alvo, não foi? Primeiro meu pai, depois veio pra mim.

—Sim. – Ele se aproximou dela. – Seu pai matou o meu, consegui poder para acabar com a vida dele e depois da família, mas qual a graça de matar duas garotinhas indefesas. Esperei vocês crescerem e quando dei por mim, você era uma pedra no meu sapato.

Ela o olhou direto nos olhos, estavam bem próximos.

—Oh! Eu sou muito mais que isso, Morse. Você sabe sobre meu pai, minha mãe e meu tio Watson, mas realmente sabe onde eles estão? Você disse Itália, não foi? Não poderia estar mais errado.

Irene passa a andar pela sala.

—Como assim? Onde eles estão?

—Nesse exato momento. – Ela dá uma olhada no relógio. – Eles estão na minha casa preparando um chá. Sherlock, com certeza, está sentado na minha poltrona. E sobre minha irmã. – Ela para perto do John. – Diana queria, pode vir aqui?

Ela entra sem um arranhão.

—Você não deveria estar aqui!

—É um prazer finalmente conhece-lo, Morse. – Diz Diana.

John apenas observa tudo sem entender boa parte do que estava acontecendo.

—Você acha mesmo que eu te deixaria tocar em um fio do cabelo da minha irmã?! Ou que eu seria estúpida a ponto de manda-la em uma viagem pela Europa com o namorado, sabendo de todo os seus recursos? – Irene dava um passo em direção ao Morse após cada frase. 

—Você não pode fazer nada comigo. – Ele parecia amedrontado. – Eu sou o seu mestre.

—Não, mas quando elegerem um novo Mestre, ele irá ditar sua sentença. Até lá...

—Até lá nada! Em quem você acha que irão acreditar? No Mestre ou em uma garota recém-colocada no conselho? E não me diga que eles serão suas testemunhas. Afinal ela é sua irmã e ele o seu amante.

—Ele é o que? – Diana perguntou.

Irene apenas a olhou.

—Não. – Ela chegou bem perto do Morse e falou em seu ouvido. -Eles irão acreditar nas palavras do Mestre.

Irene estalou os dedos ao estilo Morse, então todos da Cúpula dos Nobres entraram.

—Você ficará retido na prisão da Cúpula até a votação do novo Mestre. Ele irá decidir o seu destino. – Falou Mycroft.

Irene foi até o inspetor.

—Desculpe John, foi necessário. Muitos não acreditavam no real caráter do Mestre. -Ela levantou e ordenou que cuidassem dele. – Vamos irmã.

—No final não a conhece tão bem assim, não é Morse? – John falou com dificuldade um pouco antes de ser levado para um hospital.

No carro indo até a 221B, Diana perguntou sobre o Sean. Irene falou para o motorista ir até o campus da universidade, lá ela levou Diana até um gramado e em um banco embaixo de uma árvore estava Sean.

—Ele sempre vem aqui nesse horário. Não sei o motivo. – Disse Irene.

—Quando estávamos muito ocupados com o trabalho mal nos víamos. Costumávamos vir nos encontrar aqui para almoçar.

—Hm. Bem, aí está sua chance de falar com o soldado. Estarei no carro.

Diana vai até ele que fica pasmo ao vê-la ali. Sean levanta rápido deixando o sanduíche cair.

—Diana! – Ele a abraça, mas logo a solta. -Você... Como?

—Eu vou te explicar tudo. Sente, por favor. – Os dois sentados lado a lado no banco como tantas outras vezes. – No dia que a Irene conversou com você na nossa antiga casa, também foi o dia em que ela me contou tudo.

—Você estava lá?

—Eu estava no carro.

—Você mentiu pra mim!

—Sean...

—O acidente também foi uma mentira?

—O Morse precisava ter certeza que estava com a Irene na palma da mão.

—E quanto a mim, Diana? Eu vi você toda machucada; vi a levarem para algum lugar em que eu não sabia onde era. A sua irmã... – Ele respirou fundo para não chorar. – A Irene...

—Eu sei que ela foi cruel, mas foi tudo encenação. O Morse estava com câmeras pela casa, com escutas, ele sabia de cada movimento dela. Ela tinha de fingir o tempo todo.

—Você podia ter me contado.

—Não, Sean, não podia. Qualquer detalhe mal colocado estragaria tudo e você...

—Eu o que? – Ele levantou.

—Você não esconde bem os seus sentimentos. Você é muito verdadeiro, nunca enganaria o Morse.

—Prefere me fazer pensar que foi atropelada, sequestrada, levada sei lá pra onde... Eu pensei que tivessem te matado.

Diana também se põe de pé.

—Você tem de entender, Sean. Era a segurança da minha família que estava em jogo.

—Eu nunca vou entender a forma como mentiu pra mim.

—Eles são minha família!

—E eu não sou?

—Não é isso! Você sabe que não é isso. Mas, saiba que não me arrependo e faria tudo de novo se fosse preciso. Você sabe quem é o Morse; sabe tudo o que ele fez; tudo que a Irene passou sozinha pra nos proteger. Isso era o mínimo que eu poderia fazer pra ajudar.

Diana deixou o seu amado ali, pois se ficasse poderia falar coisas nas quais se arrependeria. Voltou para o carro e foi para casa com a irmã.

Dias se passaram até Irene receber o convite para a escolha do novo Mestre. Veio em boa hora, pois ela andava sem ter muitos casos para resolver. Ela nessa situação e o Sherlock na mesma casa não é algo divertido de se vê.  

Lilian passou a se esconder no laboratório para não ter de lidar com as constantes discussões deles, Diana trabalhava cada vez mais para esquecer Sean e apenas John Watson conseguia lidar bem com pai e filha. Isso era devido a transformação que Irene sofria quando o tio do coração estava por perto. Ela ficava doce e sorridente, mas apenas com Watson. Se Sherlock se metia, ela ficava irritada. Nessas horas eles pareciam duas crianças disputando um brinquedo.

Ao saber da reunião da Cúpula já ter sido marcada, Lilian teve a ideia de fazer um jantar em comemoração a uma nova vida. Diana pareceu animada, mas Irene via a tristeza em seus olhos. Apesar de detestar o soldado, ela sentiu que precisava fazer algo a respeito.

Antes de ir para a sede da Cúpula dos Nobres, ela deu uma passada na casa do cunhado. Ele abriu a porta não muito feliz em vê-la ali.

—O que faz aqui?

—Eu vim para dizer que é estúpido.

—Acredito já ter dito isso o suficiente.

Ele ia fechar a porta, mas ela o impediu.

—Preciso contar o motivo de eu ter feito tudo isso. – Falou já entrando.

Sean fecha a porta e vai até a sala onde Irene está em pé o esperando.

—Pela sua família.

—Não exatamente.

—Como assim?

—Sean, eu vou te contar algo que nunca contei para ninguém na vida. Nem mesmo para Diana. – Ela respira fundo. –Quando eu era uma criança, bem jovem, Sherlock começou a agir estranho. Ninguém notava; apenas eu. Ele observava ainda mais as pessoas que apareciam em nossa casa, foi quando decidiu nos ensinar a atirar.

—O Morse já rondava?

—Acredito que sim. Pouco depois decidi aprender a tocar violino, Sherlock queria me ensinar, mas Lilian disse que eu precisava fazer amigos. Ela me matriculou em uma escola, no entanto no primeiro dia já fiz as crianças chorarem.

—Começou cedo a irritar as pessoas.

Ela deu um sorriso triste.

—Alguém ligou para Lilian ir me buscar, mas ela estava com Diana no hospital. Minha vó estava doente, eu acho, não me lembro e nem me importo. Acabou que o Sherlock teve de ir me pegar, ele prometeu que iria me ensinar violino; eu nunca mais voltaria ali. Ele sempre me entendeu tão bem. Andando na rua procurando um táxi um carro preto para ao lado, pensei no Mycroft, porém uns homens saíram com armas. Sherlock falou para eu correr e foi o que fiz. Não fui muito longe, logo um deles me alcançou. Enfim, quando dei por mim estava em uma solitária escura, imunda e úmida. Não faço ideia quanto tempo fiquei ali gritando pela minha mãe e meu pai. Até decidir ser lógica e parar com tudo isso. Eles deixavam a janelinha de colocar a comida aberta enquanto torturavam o Sherlock. Eu dormia e acordava com os gritos dele.

—Eu sinto muito.

—Por algumas vezes apenas torcia para não terem pegado minha mãe e irmã também. Achava que ia morrer ali, sem ver mais ninguém da minha família. Um dia, me levaram até o Sherlock. Ele estava com uma corrente em cada braço, muito ensanguentado. Um homem atrás dele disse que eu poderia correr e abraça-lo, mas não fiz isso. Apenas cheguei perto e perguntei se ele ainda aguentava. O homem ficou irritado por eu estar estragando a cena dos sonhos dele. Alguém me bateu e caí. Fiquei tonta, lembro-me de ter visto o Sherlock caído morto; lembro-me da voz desse homem e depois alguém me carregando pra longe dali. Outro carregando o Sherlock, até que ele para por causa do alto-falante. Tio Watson estava ali e ninguém sabia. Sean, pela primeira e última vez na minha vida, eu abracei o Sherlock e supliquei para não me deixar. – Lágrimas escorriam. -Tudo que ele me disse foi para cuidar de Diana, pois dias mais sombrios viriam e ela podia não aguentar.

—Quantos anos você tinha?

—Sete, eu acho.

—Por isso não o chama de pai?

—Eu tenho um tio, isso é suficiente. Sean, eu passei a vida inteira sabendo que o Morse voltaria a nos procurar e passei dois anos para pegá-lo. Diana mentiu pra você, é fato, mas fez por mim. Ela só esteve envolvida em tudo isso por duas semanas, por eu não ter alternativa. Então, se quer ficar com raiva de alguém, que seja de mim.

—Por que decidiu envolve-la no último momento?

—Consegui muitos aliados que antes eram do Morse, eles passaram a trabalhar como agentes duplos. Foi quando descobri que ele iria pegar a Diana e mata-la. Nesse mesmo dia você apareceu na minha casa me xingando. Tinha escutas ali, mas uma coisa é verdade: eu não gosto de você. No entanto, minha irmã gosta. Hoje tem um jantar, você deveria ir. - Ele balança a cabeça em afirmação. -Diana está triste, se continuar a fazendo sofrer minha próxima visita será diferente.

—Assim que será nossa relação pelo resto da vida? Com ameaças?

—Isso só depende de você, soldado. Agora tenho de ir, estou atrasada.

Pouco antes de ela sair, ele precisou perguntar algo.

—Irene como você fez?

—O que?

—Como fez Diana ser atropelada sem sofrer um arranhão?

—É apenas um truque. Apenas um truque de mágica. Diana passou duas semanas treinando com uma dublê.

Irene pisca o olho e vai direto para a se da Cúpula dos Nobres, ela pede desculpas pelo atraso.

A cerimônia de escolha do novo Mestre se inicia, vários nomes são citados, mas nenhum com tanta ênfase como o de Irene. O plano dela é se tornar mestre, mas não por querer todo o poder que um tem. Ela quer ser quem vai ditar o destino final do Morse.

A votação era aberta, Mycroft foi o último. Com isso, mais uma unanimidade fez Irene conseguiu ser Mestre da Cúpula dos Nobres. Ela pulou a cerimônia e mandou que trouxessem logo o prisioneiro. Morse chegou carregado, eles o colocaram de joelhos, ele estava com uma roupa branca, porém bastante suja.

—Conseguiu o que tanto queria.

—Ainda não. – Ela sentou na cadeira de Mestre. –Só falta uma coisa.

—Qual será meu destino?

—Qualquer sentença dada a você seria pouco.

—Você apenas irá me trancafiar. – Ele disse com desdém. – Eu te conheço desde criança. Desde aquela cela escura em que você ficou por dias ouvindo os gritos do Sherlock. Você não é uma psicopata como eu.

Irene levanta, vai perto do Morse, ela estava séria, se esforçava para não demonstrar toda a raiva que estava sentindo. O olhou direto nos olhos.

—Você tem razão. Eu não sou uma psicopata. Eu sou uma sociopata funcional, assim como o meu pai. –Mycroft não conseguiu segurar um risinho nessa hora. Ela voltou para a cadeira de mestre. –Agora, o que fazer com você? O professor James Morse ama alguém? Não? É o que veremos.

Com um estalo de dedos trouxeram uma mulher que se notava claramente haver perdido a sanidade mental há tempos. Morse fez um cara de terror, pois se tratava de sua mãe.

—O que ela está fazendo aqui? O que fez com ela?

—Ela ás vezes fica bem difícil de lidar, acredito que eles não tiveram tanta paciência.

—Irene, ela não tem nada a ver com tudo isso. Deixe minha mãe fora disso.

—Mestre Holmes pra você.

—Mestre... Por favor.

—Oh! Agora estamos no ‘por favor’. Irei deixar sua mãe fora disso assim como deixou a minha.

—Não! Não ouse tocar em um fio de cabelo dela.

—Ou o que? Você não fará nada. Levem-na para a sala de tortura. – Irene mais uma vez vai perto dele. – A sua sentença é passar pelo mesmo que eu e depois morrer da mesma forma que tentou matar meu pai. Essa é a minha vontade; essas são minhas últimas palavras por hoje. A reunião está encerrada.

Irene sai do salão principal seguida por alguns homens. Morse fica gritando enquanto é levado para uma cela. Na porta do antigo mosteiro o carro de Mycroft para.

—Quer uma carona, sobrinha querida?

—Claro. – Ela entra no carro.

—Realmente mandou torturarem aquela pobre mulher?

—Não, ela não tem culpa de ter um filho maluco. A senhora Morse se tornou uma amiga minha, ela faz tudo que peço. Aquilo não era sangue, era extrato de tomate e a gravamos gritando e pedindo por ajuda. Ela se divertiu muito fazendo isso.

—Esperta. Você conseguiu entrar para a cúpula, se tornar mestre, acabar com o Morse sem ninguém se ferir...

—Quase ninguém.

—O Agente Smith sabia dos riscos quando aceitou entrar nisso. Você venceu querida sobrinha, não diminua os seus feitos com algo tão bobo quanto um sentimento de culpa. Você é verdadeiramente uma Holmes.

—Eu sei. – Ela sorriu. – Obrigada, querido tio.

—Ainda tem pesadelos?

—Toda noite.

—Como são?

—Você nunca me perguntou isso.

—Bem, estou perguntando agora.

—Eu sonho com o escuro, os gritos, a voz do tio Watson no alto-falante e o Sherlock correndo pra longe. - Ela abaixou a cabeça.

—Chegamos na 221B. Tenha um bom jantar.

Ela afirmou com a cabeça, desceu do carro e entrou em casa. Os aperitivos já estavam sendo servidos. Lilian estava radiante, Sherlock tocava violino, Watson e Mary estavam ali conversando, Diana estava igualmente feliz com Sean ao seu lado. Irene prestou bastante atenção naquela cena e a guardou em seu palácio de memórias. Foi pegar algo para comer quando Diana se aproximou.

—Como conseguiu que o Sean aviesse?

—Eu lhe contei uma triste história. O soldado caiu direitinho.

—Irene, você mentiu pra ele!

—Isso é o que faço de melhor, irmã querida.

Ao ir colocar uma bebida para si, ela vê o inspetor Smith entrar.

—O que diabos ele faz aqui? – Ela disse.

—Eu o convidei. – Falou Sherlock.

—O que? Você? Por quê?  

—Mycroft me contou como ele lhe ajudou nesses meses todos.

—É, mas...

—Você deve mantê-lo por perto. Todo consultor investigativo precisa de um John.

Sherlock foi para a poltrona conversar com o seu amigo de anos, enquanto isso o inspetor foi até Irene.

—Você me usou. – Disse ele.

—Você queria ajudar. – Irene falou sem entender seu tom de indignação.

—Vou colocar de uma forma que deve entender. Você me usou sem meu consentimento.

—Já pedi desculpas por isso, mas você não corria risco de vida, eram meus homens ali e não do Morse. Acontece que o Mestre só pode ser banido da Cúpula dos Nobres se todos aceitarem.

—Irene, está tudo bem. Contanto que o Morse pague por tudo.

—Ele irá.

—Ótimo! Você disse que tinha escutas aqui, não é?

—Sim.

—Então, tudo que foi dito era mentira?

—Nem tudo. É verdade que dividi apartamento com seu irmão e realmente tenho conhecimento dos seus sentimentos por mim.

—O que você acha disso?

—Eu acho que o amor é uma perigosa desvantagem. Fiquei feliz por ter vindo, John.

Ela vai com seu uísque até a janela. Lilian se aproxima do inspetor.

—Tenha paciência. Ela já gosta da sua presença, já é muito.

Os dois passam a conversar. Diana levanta e se encaminha para perto da irmã.

—Irá se aposentar?

—O que?

—Você já destruiu o Morse; livrou a família de um monstro. O que fará agora que o jogo acabou?

—Oh irmã querida! O jogo está apenas começando.

Elas ficaram ali juntas, olhando pela janela, vendo as pessoas passando, seguindo suas vidas normalmente sem saber de todos os perigos que rondaram aquela casa, aquela rua, aquela cidade. Sem ter nenhuma noção dos segredos da rua Baker.


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Notas finais do capítulo

Possivelmente terá uma segunda temporada