Beyond escrita por LanisDias


Capítulo 4
Adriano


Notas iniciais do capítulo

Have fun!



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Entrei na sala e ela já havia se instalado na última fila de cadeiras. Ela estava me evitando ou era impressão minha? Joguei a mochila na carteira ao lado da sua.

— Você não vai me deixar em paz mesmo, não é? – Ela me lançou um olhar glacial.

— Talvez... Mas o que eu deixo ou não de fazer, não é da sua conta, certo? – Ela engoliu em seco e baixou a cabeça – Mas se você quiser minha companhia, eu posso te dar uma chance...

Sentei-me. Olhei ao redor e a sala estava quase vazia. A gente só deve ter vindo correndo pra ter chegado tão cedo. Ok, a garota estava fugindo de mim. Aproveitei a falta de plateia e puxei assunto.

— E aí, Brisa? Conseguiu se livrar da raiva que estava sentindo de mim ontem?

Ignorado com sucesso. Acho que ainda não.

— Eu só queria te informar que estou fazendo uma promoção no meu serviço de guarda-costas. Vou fazer até uma exceção para garotas antissociais. Gostaria de se candidatar?

Naquele instante escutei um baque surdo na parede e risadas estrondosas ecoaram pelo corredor. Brisa pronunciou algo inaudível. As jogadoras de vôlei entraram na sala.

— Ei! – A mais alta delas gritou – Ela tomou o nosso lugar!

As outras três se voltaram para Brisa, que começou a recolher suas coisas e mudar-se de lugar. Quando ela se alojou na carteira em frente à minha, a professora chegou.

— Bom dia. Sentem-se todos. – A professora Marta era conhecida como “carrancuda”, e fazia jus ao nome. Não foi à toa que eu já perdi três vezes na matéria dela. Não que eu tenha me esforçado pra passar.

As jogadoras sentaram-se no fundo fazendo bagunça. Olhei para trás a tempo de ver uma delas apontar para Brisa e passar o polegar sobre a garganta. Só me intrigava mais não saber o que motivava tanto ódio. A professora pôs-se a copiar no quadro enquanto a gangue jogava bolinhas de papel nos alunos da frente.

Qual era o problema daquela gente que não se indignava com aquelas meninas? Nem a professora fazia parar aquela baderna. Elas riam e faziam chacota com os outros. E ninguém se importava em fazer aquela falta de respeito parar. Eu estava a ponto de tomar uma atitude, mas uma delas elevou a voz, chamando a atenção de toda a sala.

— Professora, é para copiar? – a jogadora de cabelos loiros perguntou.

— Não, pra tirar foto. – a professora respondeu e toda a sala riu.

— Então sai da frente pra foto não ficar feia...

Disfarcei a gargalhada com uma tosse. Praticamente o resto inteiro da sala segurou os risos ou tapou a boca discretamente para esconder os largos sorrisos. Não importa quão boa era a resposta, ninguém gostaria de arriscar com a Carrancuda.

A professora passou de branca para vermelha e logo roxa. E explodiu em uma manifestação de raiva.

— Já pra fora você e suas amiguinhas! Nos vemos na sala do diretor.

As cinco saíram fazendo zoada e confrontando a professora. Olhei Brisa que parecia mais aliviada. Pensei tê-la escutado pronunciar baixinho um “graças a Deus”, mas deixei para lá. Ela puxou a manga do seu capote para cima deixando seu antebraço exposto.

Reparei na pele branca daquela menina. Ela sabia o que era uma praia? Um bronzeado não fazia nenhum mal... Ao invés disso, eu quase podia ver o rio de sangue correndo através de sua pele translúcida. Então virou o braço e começou a puxar os cabelos curtos e claros perto da nuca. Seria aquela alguma mania? Adoraria que ela fizesse o mesmo comigo. Comecei a rir sozinho e percebi algo. Uma marca roxa se estendia pela superfície perfeitamente branca que era seu braço.

— O que foi isso? – não me contive e perguntei, cutucando o hematoma.

— Nada – ela respondeu puxando o casaco até seu pulso novamente. Vi seus ombros se contraindo, como se ela estivesse em estado de alerta. Algo me dizia que aquelas marcas estavam de alguma forma relacionadas às jogadoras que aparentemente adoravam a companhia dela. Mas se aquelas provocações já tinham atingido um nível de ameaça física, por que a garota permanecia em silêncio?

Uma vozinha ecoou no fundo da minha cabeça. Um sussurro insistente. Quase desafiador.

Há algo mais...


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Notas finais do capítulo

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