Estamos Bem Sem Você escrita por Eponine


Capítulo 2
Capítulo 02




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Ron olhou para George mais uma vez, definitivamente irritado.

Seu irmão gargalhou, cutucando Mort com o ombro, que também ria da cara de Ronald. O homem continuou organizando os papéis de pedidos para a loja enquanto eles faziam uma homenagem a Beavis e Butthead.

— Será que dá pra vocês pararem? – questionou Ron, irritado.

— Só estamos rindo, credo. – disse George, mordendo um alcaçuz. – Queremos saber se... Você sabe.

— Eu sei o que?

— Ah... Cê sabe. – sorriu Mort com seus dentes quebrados.

Ron encarou os dois, sério, muito irritado.

— A Mione tirou seu segundo cabaço ontem? – gargalhou George com Mort, fazendo Ronald ameaçar ir embora, levantando-se. – Calma, Ron, para de ser infantil!

Eu sou infantil? – questionou, agressivo.

— Só queremos saber se você transou, o que tem de errado nisso? – explicou Mort, ofendida.

— Tem tudo de errado! Vocês são tão... Argh! – Ron convivia com George há quarenta e cinco anos e ainda conseguia ficar extremamente irritado com o irmão mais velho. Mort só chegou há dez anos e também conseguia fazer o trabalho. Fez questão de ignorar os dois enquanto organizava as cartas, tentando pensar no que Hermione estaria fazendo na casa vazia naquele exato momento.

Rose estava tão furiosa com a presença da mãe que praticamente não parava em casa, Ron mandou Hugo para a casa de Ginny assim que pode já que o garoto não deixava Hermione em paz. Agora ela estava lá sozinha, fazendo sei lá o que.

— Não é estranho vocês ficarem na mesma casa? – questionou Mort. – Eu não iria querer ficar com meu ex marido.

— Você nunca foi casada. – cortou Ronald.

— Bem, quem está em vantagem, nunca ter casado ou ter um casamento fracassado? – sorriu ela, fazendo George gargalhar após bater no balcão. Ron sentia-se uma criancinha do primeiro ano, que não sabe lidar com os veteranos malvados, encarou Mort com raiva, voltando para a papelada. – Viu? Desde que essa mulher voltou, você está irritado!

Você me deixa irritado!

— Sim, mas um nível moderado de irritado, não super irritado como você está agora... – Mort pegou um alcaçuz de George. – Sabe o nome disso?

Ron continuou em silêncio.

— Frustração sexual. – sussurrou ela, fazendo George chorar de rir. Ronald levantou-se e pegou os papeis violentamente, pronto para ir para o segundo andar da loja, enquanto Mort e George tentavam se desculpar, argumentando para que ele ficasse. Trancou-se no escritório e largou os papéis na mesa, encostando a testa na janela, irritado com eles e consigo mesmo. Ele estava uma pilha de nervos, era verdade, Hermione estar ali trazia tudo à tona, coisas das quais ele precisou de muitas reuniões para conseguir aceitar e esquecer.

Seus olhos bateram no uísque de George guardado na prateleira e suas mãos suaram.

Contou até dez.

 “Ronald pediu para que montassem o pula-pula próximo a uma árvore do grande jardim. O tema era verde, a cor preferida de Rose. Ele escolheu a dedo praticamente tudo, com a ajuda de Heera, que ainda estava conversando com os doceiros que chegaram para entregar os aperitivos.

Não era todos os dias que sua filha fazia onze anos.

Entrou na casa lotada de ajudantes novamente, subindo as escadas. Abriu a porta de seu quarto, passando por uma Hermione de roupão, gargalhando no telefone enquanto mordiscava algum aperitivo roubado do jardim. Ele pegou a bolsinha de galões na cabeceira, ignorando o vestido luxuoso jogado na cama.

— Não, não, Draco! – riu ela. – Se você não levar aquele seu vinho, eu vou na sua casa buscar! Não... Ok, combinado. Nos vemos mais tarde.

Ron fechou a gaveta com brutalidade.

— Isso é muito bom, qual o nome? – ela enfiou o bolinho na boca. Ron virou-se para a ex esposa, sentindo seu coração bater loucamente.

— Hermione, o que você está fazendo? – ela uniu as sobrancelhas.

— Como assim?

— A sua filha vai chegar daqui a duas horas pra comemorar o aniversário dela.

— Eu sei, Ronald, por isso mesmo eu não me vesti ainda. – Ele desviou o olhar, prestes a explodir.

— Você ainda vai? – indagou ele, apertando a bolsinha. Hermione levantou-se lentamente da poltrona, parecendo cansada.

— Sim, Ronald, eu tenho que ir, você sabe disso.

— Não eu não sei de mais nada da sua vida, Hermione, só o que sai no jornal. Isso aqui não é seu hotel, não é sua família de aluguel pra te esperar sua descida de algum palco de premia...

— Ah, me poupe dos seus chiliques. – ela caminhou em direção do banheiro, fechando a porta.

— Se não vai ficar para o aniversário, acho melhor você ir então. – disse ele para a porta branca do banheiro. Hermione abriu a porta lentamente, maneando a cabeça negativamente.

— Você quer mesmo me pintar de vilã para Rose, não? – riu ela, irônica.

— Eu não estou fazendo nada, você fez tudo isso sozinha, como sempre... Não feche a porta na minha cara, Hermione! – Ron deu um soco na porta e Hermione o ignorou, ligando seu secador. Suas mãos tremiam após bater violentamente a porta do quarto, descendo as escadas. Pagou o iluminador e foi até a cozinha, enchendo seu copo de uísque.

Hermione foi para sua premiação. Hugo tomou o lugar da mãe na mesa de bolo, enquanto todos batiam palmas para que Rose apagasse as velinhas. Naquele exato momento, Hermione ganhava o título de Melhor Livro na premiação Pulitzer.”

...

— Se lembra de Olavo? O velho conspirador? – Hermione gargalhava enquanto Draco tragava seu charuto. A mulher tomou mais um gole de vinho, ainda risonha. – Ele basicamente disse que o Ministro está planejando instaurar uma ditadura, e... Bem, Harry Potter está ajudando.

— Como ele descobriu isso? – ironizou Harry, fingindo-se de assustado.

Hermione chorou de rir, Danny Concannon apagou seu cigarro, servindo-se de mais uísque. Ela estava reunida com seus quatro queridos amigos da época de Ministério da Magia. Harry não era um grande fã de Draco, mas era amigo dos outros e adorava as histórias sobre Olavo, as quais apenas ele podia proporcionar. O som baixo perfumava a sala pouco iluminada, com o cheiro suave de cigarro e charuto, com a mesa dividida entre copos de uísque e vinho.

— E você discordou? Se discordou você é burro. É a única explicação. – ironizou Zack McCracken. – Vocês lembram daquela tese da Hermione, sobre a extinção dos bezerros apaixonados, em que ele basicamente disse pau no cu dos bezerros, eu nunca vou esquecer aquilo.

— EU LEMBRO! – gargalhou Hermione. Todos estavam gargalhando quando Ron abriu a porta da casa bruscamente, assustado com os visitantes na sala. Hermione virou-se, segurando sua taça. – Ah... Olá, Ron.

O silêncio foi desconfortável. Ronald odiava Draco e mais ainda a sua amizade com Hermione. O ruivo forçou um sorriso para os convidados e fechou a porta, indo para a cozinha. O clima ficou tão ruim que todos se despediram, inclusive Harry, por mais que a mulher tenha insistido para que ele ficasse.

Ron levou outro mini susto quando ela apareceu na cozinha, sentando-se no banco da bancada. Lembrou-se do quanto detestava ela andar descalço dentro da casa, sempre o assustando por ser tão silenciosa. Começou a preparar o jantar, incomodado com a mulher mexendo em seu celular e bebericando a taça cheia de vinho.

— Eu acho que vou me mudar. – disse ela. Ron virou-se lentamente. – É bom ter um lugarzinho para quando eu vier para Londres, Draco disse que consegue uma cobertura para mim perto do...

— Se mudar? Por que? Você nem mora mais em Londres...

— Eu sei, por isso mesmo, quando eu vier não quero causar todo esse incomodo. – Ronald limpou as mãos molhadas, não entendendo Hermione. – Rose me detesta, você está visivelmente desconfortável com a minha presença, odeia meus amigos...

— Eu não falei nada.

— Ronald...

— O quê? Você acha que eu tenho que ver a cara do Malfoy só quando você está aqui? Esqueceu que nossa filha namora aquele traste do filho dele? – Acendeu o fogão bruscamente, irritado só de lembrar-se do rosto de Scorpius. Os dois não combinavam em nada, não entendia como                1aquilo aconteceu. James devia ter terminado de entortar o nariz do garoto naquela briga.

— Bem, eu gosto de Scorpius. – disse ela terminando sua taça. – Você devia dar uma...

Ronald jogou a toalha em cima do balcão, completamente vermelho. Ele queria explodir, uma raiva sem a menor explicação tomou conta dele. Segurou a base da bancada como se aquilo fosse impedi-lo de desfragmentar:

— Você só viu aquele garoto UMA vez, UMA! – Hermione abaixou a cabeça e fez uma expressão arrogante, como todas as vezes em que eles brigavam, o que só o irritava mais. – Ele é idêntico ao pai, um completo abusado, petulante...

— Oh meu Deus, você é tão quadrado, Ronald! – interrompeu Hermione.

— Eu sou quadrado por que? Você sabe por que James foi expulso do time de Quadribol...?

— Porque ele tem problemas com raiva, por isso ele...

— NÃO! Foi porque aquele desaforado do Malfoy o provocou, ele simplesmente arruinou a carreira do...

— Que carreira? Do que você tá falando? James é seu filho por acaso? ELE É DOENTE, ELE TEM UM...

— QUE É TRATADO, QUE É MUITO BEM TRATADO, INCLUSIVE JÁ ESTAVA EM TRATAMENTO QUANDO AQUELE PLAYBOYZ...

— Papai? – os dois já estavam de pé, exaltados, sendo impedidos de uma briga corporal apenas pela longa bancada, viraram-se assustados para a filha mais velha, parada no batente da porta da cozinha, assustada.

Hermione cobriu o rosto, sentindo uma sensação grotesca de dejavú. Ron sentiu-se encharcado de vergonha e apenas abaixou a cabeça, voltando para o fogão.

...

Beach House – Zebra

— Eu não vou mentir. – confessou Ron, não olhando para nenhuma das pessoas naquele círculo. A iluminação da sala o fazia sentir vergonha. – Eu pensei que... Talvez, mesmo que fosse uma possibilidade mínima, nós... Pudéssemos pelo menos resolver nossos problemas. Eu sei que eu mudei, eu... Não quero soar arrogante, ou algo do gênero, mas tenho ciência de que melhorei. Mas ela... Ela continua tão... Arrogante e esnobe... Com aquele amiguinhos intelectuais presunçosos...

— Ronald. – interrompeu o homem grisalho. – Sem discurso de ódio.

— Perdão. – o homem ruivo juntou as mãos, ainda fitando os próprios pés. – Eu me sinto um idiota, é que... Sinto que eu sou apenas um fantasma de mim mesmo. O Ron que todos conheciam morreu e eu não sei quando isso aconteceu. Mas ela... Ela é ainda a mesma pessoa que todos conhecem, que eu conheço. E esse é problema, eu acho... Eu acredito... Eu ignorei que ela era daquela forma e agora pago por isso. Paguei por isso. Sabe... Sermos tão diferentes. Esse boato de que os opostos se atraem... Não faz sentido mais.

O grupo de treze pessoas parecia profundamente triste e tocado pela fala de Ron. Era comum a emoção e identificação nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos.

— Bem, é isso. – ele falhou em seu sorriso. – Meu nome é Ronald... E estou sóbrio há três anos.


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Notas finais do capítulo

Eu queria dar uma ressalva que aquela cerveja que o Harry dá para o Ron no primeiro capítulo é sem álcool. Eu vacilei, não devia ter escrito aquilo porque pessoas na AA não tomam absolutamente nada alcoolico, mesmo que seja 0,1%. Enfim, já foi, mas aqui está minha correção.

Espero que gostem!