Aquele teatro...me lembrava algo...

    Já havia se passado da meia noite, quando a peça começou. Encostada em um canto eu esperava a minha hora de voltar a agir...

      Sim a morte nunca tira folga....

    Olhei ao redor, o ambiente me era familiar, mas não me lembrava de onde...

      Tantos lugares e tantas mortes em diversos ambientes... a cidade inteira me era familiar....

      Algo em minha memória havia ficado presa naquele lugar. Olhei em volta. Algo me chamou a atenção...

      Algo lindo... algo perverso, apenas algo estranhamente confuso...

      Entre os camarotes daquele teatro, um homem alto de pele clara e cabelos castanhos conversava com outros dois homens de idade....

      Olhei seus olhos... sim é o que você pensa os mesmos olhos...

      Tateei meu paletó em busca do meu relógio. Faltava apenas um minuto. Subi enormes escadarias que levavam aos camarotes. Enquanto eu me preparava para fazer meu trabalho a peça continuava, as pessoas riam.

      Ao contrario do que muita gente pensa não gosto de atrapalhar felicidade alheia, mas é o meu trabalho...

     Me localizei  a um dos primeiros camarotes. Uma mulher rica, jovem e emplumada encostava na parede sua cabeça. Um homem a trás dela segurava uma faca.

     Como sempre a prestadora de favores....

      Fiquei atenta, me preparei. Um segundo depois a faca estava já estava fincada na carne juvenil. Delicadamente soltei a alma da pobre moça e depois ocorreu o que sempre se ocorre...

     O homem fugiu, alguém viu... deu alarme... tudo parou... pessoas gritavam ficavam nervosas... e eu ia embora normalmente....

    Atravessei o corredor, pessoas se aglomeravam. Me desviei de cada uma cautelosamente. Desci as escadas, me preparei para sair do teatro...

      Uma cena me chamou a atenção....

      Reconheci as lagrimas, reconheci o jeito, reconheci os olhos, reconheci a beleza depois de 16 anos.

    Eu levará a mãe a menina ficará....

    Encolhida em um canto da platéia, eu pude a ver crescida. Seus lindos olhos se prendiam sobre a cena no andar de cima.

   O homem dos olhos glaucos chegava....

   Ele pegou delicadamente seu braço. Pediu para que ela saísse dali, que fosse para o seu quarto. Ela assentiu.

   Subiu umas escadas que estavam bem no fundo daquele salão...

   Tenho um sério problema de curiosidade....

   Olhei para o relógio eu ainda tinha tempo de sobra. A segui. Atravessamos um lindo corredor e ela parou em frente a uma porta de madeira lavrada. Ela o abriu...

    Um quarto branco, aconchegante, com diversos espelhos...

     Queria ficar mais, mas olhei de volta para o meu relógio, tinha que ir.

Voltei e percorri o mesmo caminho. Pude ver os camarotes dos atores, todos eles conversando. Sai para a rua, pessoas rodeavam  o teatro. 

      Algo me dizia que eu voltaria naquele lugar... que sempre estaria ali

      Segui pela rua sombria, me despedindo do teatro com um beijo e dizendo:

       Até amanhã....

     Quando a morte mora em algum lugar... coisas ruins acontecem