Sweet Home escrita por FD Oliveira, Ciara


Capítulo 3
Perdas




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            Chris passou a noite toda sob interrogatório. Tentava não se desestabilizar emocionalmente, embora já estivesse mais calmo naquele momento, mais calmo quando dera de cara com a tragédia que o levara ali. O chefe de polícia não se encontrava naquele momento. Conseguira responder calmamente todas as perguntas, embora com o seco na garganta.

            “Eu sei que é um momento difícil. Você conhecia a vítima, e não esperava que isso acontecesse. Mas a gente precisa que você colabore para prosseguir com a investigação.”

            Ele apenas acenara com a cabeça, e em seguida respondera todas as perguntas com a maior calma que conseguia acumular. Depois de alguns questionários, ele fora finalmente liberado, mas sendo considerado como suspeito, não poderia sair da cidade até o fim das investigações.

            Voltou para casa. Estava vazia. Provavelmente sua irmã estava com alguma colega, então não deve saber de nada. Dirigiu-se ao telefone, que apitava, indicando alguma chamada recebida. Apertou o botão da mensagem de voz e recebeu uma voz masculina:

            “Hei, Chris... Algo ruim aconteceu!” – Era a voz do chefe Gordo. A ansiedade na voz era perceptível. “Re-Retorne quando você receber essa mensagem, eu..”

            E assim acaba a mensagem. Gordon provavelmente não sabia que ele estava lá na hora do incidente.

Sentou-se no sofá, como de costume, e ligou a TV: Felizmente não era um programa local, e transmitia uma matéria sobre um grupo de street fighters que havia se juntado em Nova Iorque. Mudou para outro canal e estava passando algo sobre experiências sobrenaturais. Seus olhos estavam vermelhos e irritados, seu corpo dormente, sua vontade de se levantar no dia seguinte era mínima. Era essa a sensação de dor?

Foi adormecendo aos poucos, até cair em sono profundo. De repente fora acordado com uma mão tateando seu rosto. De instante pensou que sua irmã havia acabado de chegar, mas ao abrir os olhos percebeu que não era ela. Ali estava, Laura, na frente dos seus olhos.

— L-Lau...

— Tá tudo bem, Chris... – ela alcança seus lábios e permanece por alguns segundos, e logo em seguida se deita junto a ela, apoiando a cabeça em seu peito. Ele podia ouvir sua respiração, suas artérias batendo... Imóvel, começou a questionar-se: O que está acontecendo? Por que ela está aqui? Será que isso é real?

De repente seu peito se tornou úmido e gelado.

Ela estava imóvel, o rosto sem vida, jorrando sangue pelo corpo.  Ao reagir a cena e se afastar do corpo, o mesmo cai no chão, com o rosto virado para ele. E de repente tudo aquilo some, então ele se dá conta de que aquilo não passara de um pesadelo, que ela não estava ali, que tudo passava de uma ilusão. Sentiu-se aliviado, porém agoniado com a situação. Não conseguiu se segurar e liberou toda a sua tensão no tapete da sala, depois se sentou no chão, apoiado no sofá. Depois de alguns segundos percebeu que teria que trocar o tapete... E consultar um terapeuta.

***

O J’s Bar não abriu no dia seguinte, devido à série de investigações que iam desde a família da garota até os grupos que ela frequentava. Jill, após ser interrogada pôde finalmente ir embora, junto a uma advertência para não sair da cidade até o final das investigações, junta com mais de 100 pessoas que estavam ali presentes, com diferença de ser tratada diferente.

Por ser de fora e ter um pai com um histórico criminal vasto, fora considerada como suspeita de assassinato várias vezes naquela noite, como se ver uma pessoa morta já não fosse o bastante. Só pudera sair horas depois, depois de ter que aguentar os olhares do Delegado Irons e mesmo assim ainda sob suspeitas.

Acordou mais tarde que o normal, em algum apartamento, pelo fato da casa estar interditada. Cindy alugara um quarto ao lado, mas não parara para dormir, então não valia a pena bater a porta. Ela apenas se apressou e correu para o supermercado.

O mesmo estava vazio, o que a fez concluir que a maioria das pessoas da região estava em casa ou no trabalho. Apesar de toda a situação, pôde escolher tranquilamente sua refeição: Um instantâneo, barras de cereal e uma lata de leite.

De repente aparece um jovem ao lado dela, o mesmo de boné e praticamente encapuzado. Decidiu manter distância, até ele se dirigir a ela:

— Com licença, moça! É que eu não trouxe meus óculos! Consegue ver o preço pra mim? – segurando, pacificamente, uma barra de chocolate.

— São 3 dólares!

— Ah, obrigado! Desculpa o incômodo.

Ela respondeu com um breve sorriso, e logo voltou à sua compra matinal.

Ao sair do supermercado guardando as sacolas da bolsa, quando acaba sendo abordada por um meliante encapuzado. Ele possuía uma faca, e ela paralizou em pânico.

O meliante de repente caiu no chão, dropando a faca no chão, e permaneceu ali, inconsciente. Logo então percebeu que uma pedra fora arremessada nele. Ao procurar a origem do arremesso, encontrou um jovem, o mesmo de minutos atrás, se aproximando.

— Acho que ele não morreu! – e olha para ela, que carregava um semblante de pânico, e logo em seguida se aproxima para murmurar: – Você está bem?

— Por que você fez isso?

— Foi o reflexo! – ele olha para ela, que estava boquiaberta. - Escuta! Eu preciso falar com você! – e ele olha para o corpo inconsciente, que estava atraindo as pessoas ao redor. – Mas aqui não é o melhor lugar para isso. Qual é, eu salvei seu dia, não foi?

Ela o fitou com olhar de desdém, mas logo assentiu e o seguiu até seu jipe antes que as pessoas ao redor os alcançassem.

            ***

            - Hei... Obrigada, por... O que quer que tenha acontecido ali. Ainda estou tentando processar. Por que você fez aquilo?

            - Esquece isso. Além do mais, você pode passar por isso de vez em quando por aqui. Raccoon City não é a maravilha que mostram la fora.

            - Pois é... Pude perceber! Mas o que você quer conversar? Quem é você?

            Ele não respondeu, o que a abalou de certa forma. O rádio tocava uma música do Pink Floyd. O rapaz parou em frente a um clube de boliche no outro lado da cidade.

            - Vejo que você não consegue confiar em mim! Eu entendo, afinal você nem sabe meu nome. – e estendeu a mão. – Leon!

            - Jill! – e o deixa no vácuo. – Desculpa Leon, mas meu pai me ensinou a não confiar em estranhos.

            - Então porque tá de carona? – ele a hora com um olhar sarcástico, e ela responde com mais um olhar de desdém. – Desculpa! Não pude resistir! É sobre seu pai que eu quero conversar! – ela sentiu frio na espinha ao ouvir as palavras. – Venha! Quero falar num ambiente mais cheio.

            Sem dizer mais uma palavra, ela desceu do carro e seguiu à porta do estabelecimento. Pegou seu celular quase assaltado da bolsa: 2 chamadas perdidas de Cindy. Se perguntava o que ela queria, mas decidiu deixar para falar com ela ao voltar para casa.

            O lugar era amplo, umas três vezes maior que o J’s Bar. Havia muitas pessoas, em suas atividades matinais e jogando, e uma lanchonete para os viajantes. Ela se sentou onde estava o Leon, na última fileira, agora sem o boné, com um cheeseburger e uma soda sobre a mesa.

            - Você quer?

            - Eu ainda to tentando entender: Por que eu peguei carona com você? E que lugar é esse?

            - Eu não sei! Ninguém consegue entender a mente humana. As vezes o cérebro nos faz fazer certas coisas que fazer a gente se pergunta: “Por que eu fiz isso?” – dizia, manuseando uma colher. - Ah, esse lugar? – ele mostra o redor. - Eu paro aqui de vez em quando pra ver o povo jogar, desde que eu cheguei.

            - Então você não mora aqui? Quem exatamente é você?

            - Ok... Meu nome é Leon, caucasiano, estou aqui há algumas semanas para falar com uma antiga amiga de infância. Fui numa festa com ela e resolvi sair mais cedo... Resultado: Está nos jornais!

            Jill sabia de quem ele falava.

            - Você...

            Ele falava de Laura. Ele estava lá. Jill engoliu o seco, enquanto ele não esboçava nenhuma reação.

            - Então você acha que...

            - Eu admito: No começo eu achei que era você. O seu histórico, parentescos... Eu peguei tudo sobre você. – Jill se perguntava como ele fez isso em tão pouco tempo, e o pior: “Quem é esse cara afinal?”. - Apesar de sua ficha estar limpa, já que seu pai levou a culpa. Enfim...

            - Eu não fiz nada! – interrompeu, com um olhar de ansiedade. – E não fale do meu pai...

            - Olha, eu não queria te deixar nervosa...

            - Como foi que você conseguiu...

            - Tem alguém atrás de você!

            Ela paralisou, sentiu um frio n a barriga ao ouvi-lo.

            - Como?

            - Olha... Não é de hoje que eu te conheço. Eu conheci seu pai. Os meus tinham contratos com ele. Tanto que na noite que ele foi preso, os meus pais, eles... – ele começou a suar e dilatar os olhos. – Infelizmente eles não tiveram a mesma sorte.

            Ela gelou, e não pôde conter as lágrimas. Já não bastava os crimes cometidos, agora carregava o peso de duas vidas.

            - Eu, eu sinto mui...

            - A punição chegou cedo demais para eles. Eu só não imaginava que fosse desse jeito. Eu não esperava. Eu era pequeno e...

            Ela não respondeu, ainda admirando suas frias palavras. Ainda estava tentando se estabilizar emocionalmente. Só o que podia ouvir ao redor era o som das bolas de boliche batendo nos pinos.

            ***

            Chris acordara ao meio dia, com o odor desagradável do seu próprio vômito. Levantou-se com dificuldade, e se viu obrigado a ter que tirar o tapete. A TV ainda estava ligada, noticiando o Raccoon News. Ele desligou a TV, e em seguida jogou o tapete enrolado na lavanderia. Claire ainda não deu sinal de vista. Resolveu ligar para ela.

            Dirigiu-se ao telefone para ver alguém o telefonara. Havia 12 chamadas perdidas, e 3 mensagens de voz. Resolveu então ouvir às mensagens:

            “Chris, eu soube do que aconteceu. Eu...” – era a voz de Claire. “Eu não vou poder ir pra casa hoje. Estou em um trabalho em grupo para amanhã. Desculpa!”

            Ele iniciou a outra mensagem.

            “Vo... Você sabia... Você estava lá...” – era o Sr. Gordon novamente, agora com um tom mais grave. – “Você sabia que ela estava lá, Chris... VOCÊ MATOU ELA, SEU FILHO DA-”

            A mensagem parava ali. Ele então decidiu ouvir a última.

            “Chris...” era um dos filhos dele, David. “Desculpa pelo chefe. É uma situação delicada. Laura era querida por todos nós. E-Ele não te culpa de verdade. Ele só...

Ele teve uma recaída. Ele está no Hospital Central. Não precisa se preocupar, ele está bem. Mas eu acho melhor você ficar fora por um tempo. Tire a semana de folga.

Até mais, Chris!”

Chris arrastou até o chão ao ouvir as mensagens. Correu até o banheiro e lavou o rosto, em seguida olhou para o espelho: Estava com uma aparência degradável, mas não ligou para isso. Depois de passar um antisséptico bucal, trocou de roupa e pegou se casaco. Dirigiu-se até sua recém-consertada moto e partiu até o Hospital Central.

As ruas estavam mais vazias, o céu ameaçava chover... Parecia que a cidade havia parado, um verdadeiro cenário de terror. Passou por um clube de boliche e percebeu que ali havia lanchonete, lembrou-se que não havia comido muito noite passada. Resolveu parar para comprar alguma coisa.

Ao entrar, o lugar estava cheio de pessoas, que conversavam alegremente. Com receio de emanar energia negativa, decidiu abrir um pequeno sorriso.

— Olá! Eu gostaria de um sanduíche de queijo, por favor. E uma garrafa d’água. – o atendente logo atende o pedido. – Obrigado.

Ele se senta para comer rapidamente o seu lanche, olhando toda a volta: Pessoas jogando e conversando, tomando seu café matinal. Abriu a garrafa d’água e em um momento inusitado jogou na própria cabeça, se sentindo mais aliviado. Se lembrou então que deveria ter parado para tomar um banho.

Ele volta a olhar ao redor, e encontra Jill, a moça que encontrara anteriormente, conversando com outro cara. Ela não parecia carregar um semblante muito bonito. Ele apenas observou, até ela se despedir do rapaz encapuzado e sair pela porta da frente. O rapaz saiu logo em seguida, por outro caminho.

Em poucos minutos ele saboreara seu sanduíche, da forma menos amarga que pôde, então resolveu voltar ao seu trajeto anterior. Ao sair encontrou Jill, na chuva, sentada em um banco.

— Ei. – ele a chamou atenção, seus olhos estavam avermelhados. –Você está bem?

— Eu... Ah... Você é o Chris, não é?

— Anram. – ele se senta ao lado dela. – Você não parece muito bem.

— Parece que é você quem precisa de ajuda. – ela o fita com os olhos vermelhos. – Sinto muito por ela. Sei que era próximo a ela.

— Olha, eu não quero falar sobre isso, ok? Aquilo... – ele tenta não tocar no assunto. – Olha, tá chovendo, e você não deveria estar sozinha por aí. – ela soltou um leve tom de deboche. – Acho que você vai precisar de uma carona.

Ela o fita novamente, desta vez impressionada.

— Você gosta de ajudar as pessoas assim, mesmo quando está... Desse jeito?

— Eu falei que não quero falar sobre isso! Desculpa! Você vem ou não?

— Eu não sei... Eu não tô em posição de exigir nada de você, ainda mais.

Ele lhe estende a mão, o que ela entendeu como um sinal de que ele ainda insistia. Ela ainda continuava sem entender, o que a impediu de conter as lágrimas. Além de Cindy, ninguém havia feito tal gesto por ela, ainda mais alguém como ele.

Percebeu que já estava ficando tarde, então resolve se juntar a ele. Sua moto, encharcada, lembrava muito uma que vira jogada no porão de seu pai quando pequena.

***

Depois de alguns quilômetros, Jill finalmente chegou ao apartamento. A chuva era passageira, e agora ela podia sentir o calor do que restava do Sol.

— Obrigada! Você não precisava fazer isso por mim.

— Mas eu fiz, e você está segura agora! Bom, eu tenho que ir. Tenha cuidado!

— Valeu!

Ela para na frente da casa, e pega da bolsa um CD que Leon lhe entregara, dizendo que ela acharia a resposta ali. Ele disse que continha alguns arquivos de vídeo que encontrou depois que os pais deles morreram. Guardou de volta na bolsa e entrou.

Havia vazamento nos corredores, que estava vazio. Aliviada ao menos pela ausência de barulhos da “querida vizinhança”, dirigiu-se ao quarto de Cindy e bateu a porta: Ninguém atendeu. Depois de bater novamente, e perceber que ninguém atenderia, resolveu dirigir-se ao seu.

            Ao entrar, resolveu ligar para o número de Cindy. Estava ocupado. “Onde será que ela está?”, pensou, e sentou-se à poltrona em frente à TV. Após descansar alguns minutos e perceber que ali havia um leitor de disco, resolveu vasculhar sua bolsa atrás do CD, até ouvir um barulho atrás dela. Deixou a bolsa cuidadosamente no chão, e virou-se cautelosamente, para ver se se trata de algum intruso.

Estava muito escuro para notar. Sem sinal de alguém na sala, ligou a luz. Seu olhos arderam com a luminosidade espontânea. Dirigiu ao quarto, onde guardara a maioria do que pôde pegar.

Ao chegar ao quarto, sua primeira ação foi acender as luzes, para ser recebida por alguém que procurava algo, armado, de repente virando uma arma para ela, e logo em seguida a abaixa ao reconhecê-la. Jill também o reconhece.

— Matt?


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