O conselheiro amoroso. escrita por Mical


Capítulo 4
3° dia - Reservada.




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— Nem pensar! — exclamei diante da proposta totalmente absurda de minha mãe.

Eram três da manhã. Sim, três da manhã. O universo resolveu conspirar contra mim no quesito acordar cedo. Só no esforço que eu fiz para sair da cama naquele dia, eu já tinha pagado metade dos meus pecados (ou não). Parecia que o universo conseguiu se superar e arranjar um jeito muito pior de me castigar.

— É só até o final da tarde, Felicity. — minha mãe argumentou.

Pelo seu tom se voz era possível ver que ela não estava pedindo permissão. A decisão já estava tomada.

Meu padrasto sofreu um pequeno acidente de carro em Coasty City, nada grave, mas ele acabou quebrando um braço e exigiu a presença de minha mãe para cuidar dele, então ela pegaria um vôo de última hora para a cidade. Como ela não poderia levar a monstrinho junto, ela insistia que eu cuidasse dela até que Roy viesse buscá-la. Mas nem pensar que eu ficaria de babá da aprendiz de Satanás!

— Eu tenho que trabalhar, mãe. Não posso ficar reparando crianças. Ainda mais crianças endemoniadas. — rebati.

Minha mãe fingiu que não me ouviu, só pode, porque ela continuou arrumando as coisas dentro da mala normalmente.

— Eu sei que o Ray permite crianças na Palmer Tech. — falou sem olhar para mim. — Quando ele te contratou e achava que você tinha filhos, ele disse que você poderia levá-los ao trabalho se não tivesse opção, você me disse isso.

Fiz uma careta ao lembrar do dia em que fui contratada, foi a única vez que eu fiquei realmente chateada com o Ray. Tudo aconteceu de errado naquele dia: meu salto quebrou no meio do caminho e eu fui obrigada a comprar uma sapatilha em uma loja qualquer; deixei minha roupa muito tempo de molho e ela encolheu, me obrigando a ir com um look de avó e quando eu estava sentada na recepção esperando pela entrevista, um bebê que estava no colo da mulher ao meu lado vomitou em mim. Foi um completo desastre. Eu ainda acho que Ray só me contratou naquele dia porque sentiu pena de mim.

— Mas a senhora se esqueceu que eu vou estar tentando conquistar o Ray? Eu não posso ficar reparando ela. — apontei para a capeta parada na porta do quarto.

— Ela vai se comportar. — minha mãe garantiu ao fechar a mala. — Tenho que ir, meu taxi já chegou.

Ah, claro que ela vai ficar comportadinha, não sei como pude pensar o contrário... O desespero bateu quando minha mãe começou a carregar a mala em direção a porta, ela ia mesmo me deixar sozinha com a Satanás durante um dia inteiro? Eu estaria morta e esquartejada antes que o dia chegasse ao fim, disso eu tinha certeza!

— Mãe, a senhora não pode me deixar aqui sozinha com ela. — implorei seguindo a minha mãe enquanto ela caminhava para sair do meu apartamento. — Eu sou de Deus. E existe uma regra que as pessoas de Deus não podem se associar com as do Diabo. Eu não sei onde isso está escrito, mas eu sei que está!

— Roy vai buscar ela na Palmer Tech um pouco antes do seu expediente acabar. — abriu a porta. — Eu deixei o lanchinho dela pronto em cima da dispensa.

— Mãe!

— Tchau Felicity. — se despediu e depois olhou para a capetinha. — Tchau, meu amor, a vovó vai te ver em breve.

Carolina acenou com a mão, fazendo uma carinha triste.

— Mãe... — gemi em tom de súplica, mas ela simplesmente deu as costas e foi embora.

Ela foi embora. Minha mãe foi embora. E me deixou sozinha com o diabo. Virei-me lentamente para encarar minha sobrinha; a feição triste já havia sumido de seu rosto como um flash, no lugar estava um sorriso diabólico.

— Credeuspai. — coloquei as mão no peito. De jeito nenhum que eu ficaria sozinha com essa pestinha, nem durante as duas horas que faltavam para Oliver chegar.

Passei por ela sem deixar de encará-la, e ela virava a cabeça para onde quer que eu fosse, mas sem mover o corpo. A essa altura eu já estava apavorada com a encenação de exorcista dela. Espera, ela era mais assustadora que isso. Peguei meu celular de cima da mesinha de centro e disquei o número da única pessoa que poderia me salvar naquele momento.

— Felicity? — a voz de Oliver soou assustada no telefone, mas não sonolenta. Ele já estava acordado? — Está tudo bem?

— Você não dorme? — não resisti em perguntar.

Ouvi ele soltar a respiração de modo pesado.

— O que aconteceu, Felicity?

— Preciso da sua ajuda. — supliquei.

[...]

DLIM DOM.

Assim que ouvi a campainha tocar eu corri para abrir a porta. Carolina ficou me encarando na mesma posição por longos quinze minutos sem mal piscar. Eu já tinha me conformado que ela não iria me matar, eu iria morrer do coração de tanto pavor que eu tinha daquela garota.

Abri a porta e encontrei um Oliver impecavelmente arrumado com seu terno e gravata. Pulei nos braços dele.

— Meu salvador! — exclamei quando o abracei, enterrando o meu rosto no seu ombro.

Oliver não retribuiu o meu abraço, apenas ficou com os braços afastados do corpo com a sua postura de Qual é o problema mental que a Felicity tem? Mas eu não importei, eu estava feliz demais por ele ter atendido ao meu pedido e vindo me fazer companhia às três da manhã. Ele não queria me ensaiar mais cedo? Pronto, agora ele tinha todo o tempo do mundo, por que eu não fecharia os olhos com a Carolina por perto nem se eu estivesse morta.

— Felicity. — Oliver chamou colocando as duas mãos em meu ombro para me afastar.

Apertei ainda mais o abraço.

— Muito. Muito. Muito. Obrigada. — falei no ouvido dele. — Você salvou a minha vida

— Falamos sobre você ser tão exagerada depois. Agora será que dá pra me soltar?

Que cara mau humorado. O dia nem amanheceu e ele já está todo aborrecido. Obedeci o que ele falou, mas ainda mantinha um sorriso no rosto.

— Fico tão feliz que você tenha chegado tão rápido.

— Não tinha trânsito. — explicou. — São três da manhã, nenhuma alma infeliz fica vagando por aí nesse horário. Posso entrar?

Apontou para a sala, lugar onde a minha sobrinha ainda continuava parada no mesmo lugar, com o seu sorrisinho dos infernos. Dei passagem para ele entrasse no pequeno cômodo, torcendo para que o que quer que Carolina estivesse aprontando, que não fosse nada grave e não incluísse o Oliver. Não, espera, seria até bom ter alguém para compartilhar dos meus sofrimentos causados pela diaba.

— Oi Carol. — Oliver cumprimentou, mas ela nem se quer piscou. — Que garotinha assustadora.

— Eu te avisei. — sussurrei alto.

Carolina finalmente teve alguma reação. Ela andou lentamente até o sofá e se sentou, mas sem deixar de encarar a mim e a Oliver nem por um segundo. Vi pelo canto do olho Oliver me fitar.

— O que vamos fazer? — ele também sussurrou alto.

— Eu não sei. — olhei para ele. — Vamos agir normalmente e fingir que nada está acontecendo. Qualquer coisa chamamos a polícia. — voltei a encarar Carolina. — Carol, você não que ir para a cama?

Ela não teve reação nenhuma. Jesus!

— Que tal ensaiarmos? — Oliver sugeriu.

— Acho uma boa ideia.

Eu sabia o que a minha sobrinha estava fazendo, toda aquela encenação só tinha um objetivo: me apavorar. Eu tinha que admitir: ela estava conseguindo. Meu irmão já havia cansado de me dizer que o melhor jeito de eu fazer a Carolina parar de me aterrorizar era ignorando ela. Mas como você ignora uma criança que fica olhando para você e sorrindo como se quisesse a sua pele para pendurar na parede?

Resolvi que ela não me faria nada de mal com Oliver por perto e fui pegar a tal cadeira para colocar no meio da sala. Só então percebi que Oliver apareceu diferente essa manhã.

— Nada de café e bolinhos hoje? — comentei me referindo a sua inseparável garrafa térmica e sacola de compras.

— Você disse para vir o mais rápido possível. Não deu tempo de passar na minha cafeteria 24 horas.

Concordei com a cabeça. Realmente.

Não demorou muito pra que eu estivesse no meio da sala sentada na minha gloriosa cadeira. Eu não iria fazer o café, de jeito nenhum, vai que a Carolina tenha envenenado o pó. Tudo bem, eu posso estar exagerando um pouco, mas é melhor prevenir do que remediar. Além disso, com a diaba me encarando daquele jeito toda ideia de comer sumia da minha mente, meu estômago simplesmente revirava de medo, não de fome. E pela expressão de Oliver, ele sentia o mesmo.

Seguindo a tradição de dois dias, ele começou a dar voltinhas ao meu redor.

— Lição número três: homens gostam de mulheres reservadas. E antes que você pergunte "como assim reservadas?" — ele apontou um dedo em minha direção. — Quero dizer que eles gostam de mulheres discretas e que deixam o homem ter seu próprio espaço. Assim como ele a deixa ter o dela.

— Você está insinuando que eu sufoco o Ray de alguma forma? — questionei ofendida.

— É exatamente isso o que eu acho, como foi que você adivinhou? — ironizou. — Mas, felizmente, existe uma maneira muito fácil de mostrar ao Ray que você é uma mulher reservada.

— Como?

— Simples: você terá de para com os seus porquês.

Estreitei os olhos.

— Acho que não entendi...

— Você sempre quer saber o porquê de tudo. — explicou parando na minha frente. — Parece até aquelas criancinhas de cinco anos, acho que até a Carolina não faz tanta pergunta quanto você. — apontou para a capetinha sentada no sofá. — Um homem tem que saber que ele terá o seu espaço mesmo estando num relacionamento. Uma mulher reservada não precisa saber de cada passo que o parceiro dá. E, é claro, ser reservada incluí não ser ciumenta.

— Eu não sou ciumenta!

— Vai me dizer isso depois do showzinho de ontem quando o Palmer estava na sala de reuniões com uma mulher?

Fechei a cara. Droga! Ele tinha bons argumentos.

— Se você agiu daquele jeito mesmo não sendo namorada do Palmer, imagina se fosse! — continuou. — Não estou dizendo que uma mulher não precisa mostrar interesse na vida pessoal do parceiro. O ponto é que ela deve saber que existem coisas que precisam ser compartilhadas, e coisas que não precisam.

Mordi a língua para não perguntar o porquê. Não precisava dar mais um motivo para ele falar contra mim.

— Tudo bem. Nada de porquê. — me rendi. Afinal, ele que era o conselheiro amoroso. — Mais alguma coisa?

— Na verdade, sim.

Lá vem...

— Você é muito extrovertida. — observou. — Ser reservada inclui não ser tão... você.

— Está dizendo que não posso ser extrovertida?

— De forma alguma, não estou dizendo isso. — se prontificou em explicar. — Estou dizendo que não é pra você ser tão extrovertida. Seja um pouco mais séria... Mulheres muito extrovertidas assustam os homens.

Soltei um suspiro pesado. Aquela brincadeira já estava ficando cansativa. Eu tinha que ficar me policiando durante todo o meu trabalho. No momento, eu tinha que me mostrar decidida e falar a minha opinião ao Ray sempre que surgisse uma oportunidade; pra todos os efeitos: Eu amava quadrinhos do homem de ferro e era absolutamente fã da série Sherlock Holmes, até assisti um episódio na noite anterior. E agora eu iria morrer de curiosidade, Oliver tinha acabado de cortar os porquês do meu vocabulário. Eu nem poderia ser extrovertida. Onde a Felicity estava? Eu não estava encontrando ela. Porque essa pessoa que eu estava me tornando sem dúvida não era Felicity Smoak.

'Mas todo esse sacrifício tem uma recompensa no final', pensei comigo mesma, 'Voce vai ganhar o Ray, aquele super gato gentil que você chama de chefe. É um esforço que vale a pena'. Respirei fundo novamente, eu iria até o final com aqueles conselhos amorosos por Ray, mas não tinha mais tanta certeza se valeria a pena.

Levantei meus olhos para os de Oliver. Ele me analisava cuidadosamente.

— Vamos ensaiar ou não? — perguntei.

Ele saiu de seu pequeno transe, piscando algumas vezes.

— Claro. — pegou uma cadeira e colocou na minha frente, sentando logo em seguida. — Eu vou fazer um pequeno discurso, e você vai querer saber o porquê de muita coisa, mas não deve falar em hipótese alguma. Não faça nenhum pergunta, apenas deve manter um sorriso calmo dos lábios.

Concordei com a cabeça. Não parecia tão difícil, afinal.

— Vou te contar a história de Ray Palmer. — começou.

Espera aí, como é que ele sabia a história do Ray? Abri a boca para fazer a pergunta, mas aí eu lembrei: eu não posso fazer perguntas. Merda!

— Quando ele era criança, ele tinha o sonho de ser escritor... — continuou.

Espera, o quê? Como assim escritor? Nada. De. Fazer. Perguntas.

— ...Quando ele tinha sete anos, escreveu um livro infantil que vendeu milhares de exemplares...

Espera, que livro é esse? Não abra a boca para fazer perguntas, Felicity!

— ...Então, com o dinheiro da venda dos livros, os pais dele o matricularam numa boa instituição de tecnologia...

Espera, então ele não herdou os bilhões que tinha dos pais? Argh, sem perguntas!

— ...Logo depois os pais dele morreram...

Espera, tão de repente? Ele morreram de quê? Mordi a língua. Não se atreva a fazer perguntas, Felicity!

— Então o Ray precisou cuidar da irmã menor...

— Espera um pouquinho aí. — apontei para ele. Não consegui manter a pergunta pra mim, a curiosidade era mais forte do que eu. — Ele não era mais criança quando os pais morreram?

Oliver me lançou seu olhar aborrecido.

— Você não aguentou escutar nem por um minuto inteiro sem fazer perguntas? — questionou. — Acho que me enganei. A primeira qualidade não foi a mais difícil. Essa com certeza será a que mais teremos trabalho para fazer você aprender.

Começamos do começo.

Oliver sempre me falava coisas relacionadas ao Ray que eu queria muito — tipo muito meeesmo — saber. Mas eu não poderia fazer perguntas ou qualquer outra coisa para extrair mais informação do que ele estava me dando. Oliver falou que perguntas é até saudável num relacionamento, mas muitas perguntas sufocam o parceiro. Por isso, eu só poderia perguntar ao Ray coisas que eu precisava saber. E aí estava o problema, na minha cabeça eu precisava saber de tudo.

Depois de contar as suas histórias sobre o Ray (que mais tarde ele falou que foram inventadas), Oliver e eu ensaiamos outras maneiras de mostrar que eu era uma mulher reservada, como não mostrar ciúmes, por exemplo. Nós tentamos, em vão, ignorar a presença da diabinha na sala, que seguiu com os olhos cada passo que nós damos. Apesar de em alguns momentos termos ficado parados completamente assustados por causa da cara de serial killer da Carolina, conseguimos concluir o ensaio por volta das 6 da manhã. Logo depois, fui tomar um banho quente e deixei o Oliver sozinho com a monstrinho, eu quase me senti mal por isso, mas então eu me lembrei de todas as vezes que ele debochou da minha cara e o sentimento negativo passou.

Após meia hora de molho na banheira quente relaxando a minha mente e preparando o meu psicológico para cuidar de uma criança encapetada durante todo o dia e outra meia hora me arrumando, nós três saímos. Oliver deu a ideia de que nós deveríamos tomar café em sua cafeteria preferida. Foi um pesadelo. Logo que a garçonete chegou para anotar o nosso pedido, ela nos elogiou por sermos uma família muito bonita.

— Nós não somos um casal. — Oliver se prontificou em falar, apontando um dedo para nós dois.

— Essa pequena não é minha filha. — falei apontando para a Carol. Deus me livre ser mãe da filha do diabo!

— Ele é o conselheiro amoroso dela. — minha sobrinha apontou para Oliver.

Desgraçada...

A garçonete piscou surpresa.

— Conselheiro amoroso? — questionou ligeiramente confusa.

— É. O cara que ela contratou porque não consegue um namorado. — Carolina respondeu indiferente.

Eu juro que se não fosse a mão de Oliver segurando forte o meu braço por baixo da mesa, eu teria pulado no pescoço dela.

Depois do café com muitos olhares fuziladores da minha parte para a diabinha, fomos para a Palmer Tech. Mesmo depois de jogar conversa fora e enrolar durante boa parte da manhã, ainda cheguei incrivelmente cedo ao trabalho. Dessa vez sem truques para parecer mais atraente; de acordo com Oliver, o truque "mover o quadril enquanto anda" eu já dominava, diga-se de passagem: eu dominava muito bem. Fiquei mofando olhando para o teto enquanto esperava o Ray chegar, é isso o que dá aparecer no trabalho quase uma hora antes do seu expediente. Minha mente vagava enquanto isso, pairando no breve momento em que eu tive mais razão que o Oliver. Sorri ao me lembrar da pequena discussão que tive com ele antes de entrar no elevador.

" — Nem pensar! — ele exclamou revoltado pela minha proposta.

— É só até o final da tarde, Oliver. — argumentei cruzando os braços. Ele tinha que ver o meu ponto de vista.

— Não é só você que vai trabalhar. Eu vou estar muito ocupado criando oportunidades para você conquistar o Palmer! Eu não tenho tempo para cuidar de crianças, ainda mais crianças endemoniadas.

— Essa conversa parece a que eu tive com a minha mãe hoje cedo. — observei.

— Não vou reparar a Carolina durante o dia. — afirmou ao me ignorar.

— Então me diga como eu vou trabalhar e por em prática os seus conselhos ao mesmo tempo que estou reparando uma criança?

— Joga ela pro Palmer cuidar, ele gosta de crianças mesmo.

Fiz uma careta.

— Ela falou até para a garçonete que você é meu conselheiro amoroso, você acha mesmo que ela não vai fazer questão de falar isso para o Ray? — argumentei.

Oliver me analisou por alguns segundos, até deixar os ombros cair. Bingo! Eu o havia derrotado."

— Felicity?

— Hum..? — murmurei no mundo da lua.

— Felicity?

Tomei um susto ao constatar que a voz que me chamava era a de Ray. Olhei para cima apenas para encontrar o meu chefe com o seu habitual sorriso de canto que era de tirar o fôlego.

— Eu disse que precisava acertar com você algumas coisas para o leilão de caridade amanhã. — falou. Merda! Quanto tempo ele estava tentando chamar minha atenção? — Pode me acompanhar até a sala de reuniões?

— Claro.

Se era na sala de reuniões, então era importante.

Uma pilha de papéis estavam colocados em cima da mesa, separados de acordo com sua relevância. Eu sabia disso por eu havia separado eles alguns dias antes. Tudo estava ocorrendo muito bem para o leilão e Ray precisava da minha ajuda apenas para acertar os detalhes (ele não conseguiria assinar um contrato sem mim, mas ninguém precisa saber disso), a decoração já estava praticamente concluída e todos os bilionários da cidade estavam devidamente convidados.

Eu senti várias vezes o olhar de Ray em mim e me perguntei o porquê disso tudo. Até que ele limpou a garganta para chamar minha atenção.

— Felicity... — começou visivelmente nervoso. — Eu não quero dar a entender algo errado...

Ai Deus.

— ... Mas é que haverá muitas figurões da sociedade nesse leilão e... — engoliou em seco. — Sejamos francos, a maioria deles é tão chato que se eu for obrigado a ficar muito tempo perto deles acho que corro o risco de cortar os meus pulsos com uma faca de manteiga.

Não consegui segurar o sorriso.

— Não acho que isso seja possível. — observei.

— Haverá facas de serra, muito perigoso. — arregalou os olhos, fingindo estar assustado. — Então eu pensei em levar uma acompanhante, e pensei que essa acompanhante poderia ser você.

O mundo simplesmente parou. Olhei para Ray em busca de algum indício de que o que ele tinha acabado de falar fosse brincadeira ou coisa parecida. Mas seus olhos era sinceros e sua feição parecia ansiosa por minha resposta. Eu sem dúvida daria um beijo em Oliver — platonicamente falando — por ele ter tanta razão em seus conselhos aamoroso! Eu nunca pensei que um dia a minha relação com Ray fosse passar do "Bom dia, Srta. Smoak", e se eu tinha que agradecer a alguém por Ray estar me pedindo para ser sua acompanhante, essa alguém era Oliver.

Eu sei que ainda era um pequeno passo, mas aquele pedido significava muito para mim.

— Então... O que me diz? — Ray perguntou passando as mãos nas coxas, num claro sinal de nervosismo. Ray Palmer, nervoso? — Eu não quero que se sinta pressionada de alguma forma. Se você achar que meus motivos são insuficientes pode se sentir a vontade para recusar. Ou se você já tiver um acompanhante...

— Ray... — coloquei uma mão em cima da sua, para obrigá-lo a se calar. Eu já tinha visto ele tagarelar antes, mas nunca tendo eu como motivo. — Será um prazer te acompanhar.

Fiquei até surpresa de como a minha voz saiu calma e segura, a minha própria postura inspirava segurança. O treinamento desde as três da manhã para qualquer situação que envolvesse Ray Palmer estava dando resultado, afinal.

— Então, eu te pego às...

A voz de Ray sumiu a medida que ele ele virava o rosto, tentando visualizar algo atrás de mim.

— Aquilo é uma criança?

Parei de respirar. Oh Deus, tenha misericórdia da minha pessoa. Segui o olhar de Ray até a figura saltitante da filha do demônio que vinha em nossa direção.

— Tia Felicity! — ela exclamou alegre.

Ai Deus. O que ela está aprontado pra mim? Já está na hora de eu pagar por todos os meus pecados?

— Tia...? — Ray perguntou confuso. Mas logo una expressão alegre assumiu seu rosto. — Ela é sua sobrinha?

— Anrã. — confirmei balançando a cabeça, não confiando em mim para falar mais nada. Só a imagem de Carolina sumia com toda a minha segurança. No final das contas, onde diabos estava Oliver?

— Olá, princesa. — Ray cumprimentou ao se abaixar para ficar da altura da pequena quando ela chegou perto.

— Oi... — ela murmurou numa encenação que parecia timidez.

— Meu nome é Ray, sou amigo da sua tia. E qual é o seu nome? — ele perguntou interessado. Se alguém tinha dúvidas de que se ele gostava de crianças, essa dúvida foi dizimada.

— Carolina. — a monstrinho respondeu com um pulinho meigo. — Você é mais bonito do que na foto

Estava demorando... Arregalei os olhos para ela com a minha melhor cara de 'fique quieta caso não queria virar picadinho'.

— Na foto? — Ray perguntou confuso.

— Sim, a foto que a tia Felicity fica olhando por meia hora antes de dormir.

Desgraçada!

— É de Jesus! — praticamente berrei, fazendo Ray me encarar assustado. — A foto. A foto que eu olho toda noite antes de dormir é de Jesus. — expliquei rapidamente. — É uma imagem um pouco parecida com o senhor, Sr. Pamer. Ela deve ter se confundido.

Soltei uma risadinha nervosa.

— Não me confundi, a foto é dele mesmo. Olha. — Carolina a afirmou. Ela segurava na mão a pequena foto 3x4 que eu guardava no travesseiro para poder olhar toda a noite. Diaba cretina!

Ray encarou a foto dele na mão da pequena, mas antes que ele pudesse voltar a me encarar, ouvimos os passos pesados de alguém correndo na nossa direção.

— Aí está você! — Oliver exclamou irritado para a Carolina.

Meu salvador! Lancei para ele meu olhar S.O.S estou em apuros!

— Sr. Queen? — Ray chamou.

— Olá, Sr. Palmer. — Oliver cumprimentou de volta.

Espera aí, eles se conheciam?

— Essa garotinha. — Oliver apontou para a monstrinho, cojitando o que dizer. — Essa garotinha roubou essa foto de mim e saiu correndo.

Ray ficou de pé.

— Essa foto que está com ela é sua?

— Sim. — Oliver voltou a afirmar. — Um amigo me deu para que eu pudesse reconhecer o senhor. Temos uma reunião marcada.

Um misto de emoções passou pelo rosto de Ray.

— Mas nós já fomos apresentados na festa de inauguração da nova sede da Global Merlyn. — contestou.

— Então nós dois sabemos em que estado em estava naquela ocasião. Tudo não passa de borrão para mim. — Oliver brincou com uma piscadela nada discreta em minha direção.

Ray fez que sim com a cabeça. Eu estava por dentro alguma piada interna? Por que eu me sentia mais perdia do que cego em tiroteio.

— Então foi com você que eu falei no telefone, querida? Posso dizer que você é tão bonita quanto a sua voz. — Oliver elogiou me analisando de cima a baixo.

Quê?

— A Srta. Smoak não me informou sobre uma reunião hoje. — Ray observou me fitando confuso.

Eu encarei Oliver pedindo socorro com os olhos. Os dele eram suplicantes para que eu desse continuidade sua mentira, mas os meus neurônios simplesmente se recusaram a funcionar.

— Foi marcada de última hora. — Oliver falou. — Talvez não tenha dado tempo de ela lhe avisar.

— É. — confirmei, encontrando a minha voz. — Eu marquei a reunião com o Sr. Queen para depois da reunião com o conselho esta manhã.

— Mas a reunião com o conselho acaba meio dia. Ainda são 8:30 da manhã. — Ray contestou mais uma vez.

Droga, eu não dava uma dentro!

— Você disse 12:30 no telefone, Srta. Smoak? — Oliver perguntou. Pronto, agora que eu não entendia mais nada! — Eu pensei ter ouvido que a Srta. marcou a reunião para 8:30. Desculpe, Sr. Palmer, acho que foi eu que confundi o horário.

— Eles estão brincando. Ele é o cons... — coloquei a mão na boca da Carolina antes que ela terminasse a frase. A essa altura eu já estava em completo desespero.

— Com licença, Sr. Palmer. — pedi arrastando a Carolina para trás junto comigo. Ray parecia tão perdido na conversa quanto eu. — A minha querida sobrinha sofre de um problema mental e eu acho que eu esqueci de dar o remédio dela. Então ela está falando muita besteira.

— Se ela toma remédios controlados é importante que ela os tome no horário certo, Felicity. — Ray me repreendeu.

— Sim. Eu sei, Sr. Palmer. Por isso vou ter que sair uns minutinhos para cuidar que ela tome o remédio agora.

Ele concordou com a cabeca.

— Vou aproveitar que eu não tenho compromisso nesse horário e andiantar a reunião com o Sr. Queen. — olhou para Oliver. — Tudo bem para você?

— Seria perfeito.

Agradeci com um sorriso, arrastando a Carolina ainda mantendo a minha mão na boca dela até que estivéssemos em uma distância suficiente para que Ray não pudesse escutar nada do que ela falasse — ou gritasse. Mas antes de sair da sala de reuniões pude ouvir Oliver murmurar um "Secretária gostosa, hein." para Ray.

Frazi o cenho. Quantas personalidades Oliver tinha, afinal? Ele assumiu uma postura de um homem totalmente repugnante na frente de Ray. Mas resolvi, por hora, deixar os questionamentos de lado e me concentrar na pequena monstrinho que eu estava com o mais profundo desejo de sufocar.

— Qual é o seu problema? — ralhei quando as portas do elevador fecharam. — Quer me matar de vergonha?

Carolina deu um sorriso diabólico.

— Eu estou apenas começando.

Dei um passo para trás. Ela não me mataria de vergonha, ela me mataria de medo.

Quando chegamos ao térreo, Oliver me mandou uma mensagem dizendo para eu deixar a monstrinho aos cuidados de Jhon Diggle, motorista pessoal de Oliver que mais parecia uma montanha de músculos. Oliver era musculoso, mas aquele homem? Eu sentia que um braço dele pesava mais do que eu. Depois de ordenar estritamente que Diggle não perdesse Carolina de vista, voltei para o andar da presidência, apenas para encontrar um Oliver com uma cara de serial killer na minha direção. Ele mal passou um dia perto da Carolina e já aprendeu a ser como ela?

— Já acabou a reunião com o Ray? — perguntei a medida que me aproximava dele.

— Por sua causa tive que assinar um contrato com a Palmer Tech! — ele sibilou baixo, por causa de Ray que estava na sala ao lado.

— Quem perdeu a diaba de vista foi você!

— Mas quem é a tia dela é você!

Virei as costas para que Oliver me acompanhasse até o elevador. As paredes eram de vidro, e Ray com certeza acharia estranho Oliver e eu discutindo por nada.

— Não adianta jogar o jogo de quem é o culpado. — afirmei. — E eu tenho muitas perguntas a fazer para você.

— Não seria você se não tivesse.

Fechei a cara.

— Tudo bem. — levantou as mãos e rendição. — Vou te responder apenas uma pergunta.

— De onde conhece o Ray? — meu chefe não ficava andando por aí conversando com com conselheiros amorosos. Então de onde diabos Oliver o conhecia, e por que ele não me disse isso?

Ele respirou fundo, aborrecido, ao entrar no elevador.

— Eu esperava uma pergunta melhor. — murmurou. — Gente rica vai sempre em eventos de gente rica, Felicity. Em um desses eventos é óbvio que eu conheci o Palmer.

A porta do elevador fechou, cortando a imagem que eu tinha de Oliver e não me dando outra oportunidade de fazer uma pergunta. Tudo bem, ele me levaria para casa e eu não deixaria ele respirar até que todas as minhas curiosidades estivessem satisfeitas.

O resto do dia se passou normalmente: reunião de Ray com o conselho, Ray foi almoçar, Ray voltou do almoço, Ray sorriu pra mim dez vezes, Ray me chamou de Felicity seis vezes, Ray marcou para me buscar em casa às 19h na sexta, Ray não fez mais questionamentos sobre minha sobrinha encapetada. Falando na diaba... Eu não a vi durante todo o resto do dia e fiquei muito feliz com isso. Se Oliver tivesse mandando ela para o Afeganistão eu não teria me importado, mas infelizmente ele não faria isso.

Minha felicidade por estar longe da diabinha que eu deveria cuidar durante todo o dia logo passou quando eu a vi parada na minha frente no departamento de RH perto do final da tarde, onde eu estava para deixar um documento que Ray precisava para contratar novos estagiários.

— Carol...

Antes que eu pudesse terminar a frase a maldita jogou um copo de água na minha cara e saiu correndo. Ah não, isso não podia estar acontecendo... Pelo canto do olho vi John Diggle correr atrás da diabinha para tentar alcançá-la. Aquela pequena era tão Satanás que despistava até o Hulk negro! Como se não bastasse minha cara e minha blusa estares todas molhadas, uns benditos funcionários metidos a palhaços estavam rindo de mim e da minha cara de sonsa, completamente sem reação. Agora que eu esgasgava aquela pequena mesmo!

— Felicity? — ouvi o chamado de Ray e levantei minha cara molhada para encará-lo. Não tinha momento melhor para ele aparecer?

Ele deu um passo para trás ao me ver.

— Felicity, você está... — ele deu voltinhas com o indicador com no próprio rosto, indicando que havia algo no meu.

— Eu sei que estou toda molhada, Sr. Palmer. — murmurei. As risadas se intensificaram. — Por molhada quero dizer que meu rosto está molhado. — corrigi rapidamente.

Eu e a minha boca de duplo sentido...

— Eu vi quando a sua sobrinha jogou água em você. — falou. — Eu... Eu quero dizer que as suas sobrancelhas estão derretendo.

Sangue de Jesus! O quê? Levei automaticamente a mão para o local onde estariam as minhas sobrancelhas inexistentes. Bastou uma breve olhada para os meus dedos para constatar que a maquiagem que a minha mãe fez às duas da manhã estava toda espalhada pela minha cara. Eu lembrava muito bem dela ter me avisado: "não molhe o rosto, essa maquiagem sai com água", e a monstrinho tinha escutado! Misericórdia, isso não poderia estar acontecendo...

Simplesmente dei as costas para Ray com o objetivo de ir ao banheiro. Oliver iria surtar por saber que eu apareci sem sobrancelha na frente do Ray. Mas a culpa era dele e do seu motorista incompetente que eram menos espertos que o diabo! Peguei o telefone para enviar uma mensagem para ele.

Me encontre no banheiro feminino. Agora!
— F.S.

Não demorou muito para que a resposta chegasse.

O que aconteceu? Não posso entrar no banheiro feminino.
— O.Q.

O que aconteceu foi que a capeta que você disse que iria reparar me jogou um copo de água na cara e agora estou sem sobrancelha! Me encontre no banheiro feminino do 15° andar agora mesmo, Oliver Queen.
— F.S.

Estou a caminho.
— O.Q.

Não precisei esperar muito. Dois minutos depois de eu estar lavando o meu rosto em uma das torneiras do banheiro para tentar me livrar dos restos mortais da minha sobrancelha, Oliver apareceu. Ele estava muito, muito irritado. Mas eu estava mais. Desgraçado que não consegue manter uma criança de cinco anos a vista!

— O Palmer viu você assim? — questionou.

— Foi ele que me falou que eu estava sem sobrancelha. — sibilei entre dentes.

Oliver apertou as têmporas, pensando em algo.

— Sei que quer discutir quem é o culpado tanto quanto eu quero, mas não temos tempo para isso. — ele ficou ao meu lado, me encarando através do imenso espelho que tomava boa parte da parede. — Você tem alguma maquiagem ou coisa parecida que podemos usar concertar isso?

Assenti ao colocar a minha bolsa em cima da pia para pegar o pequeno tubo de rímel. Entreguei a ele.

— Olhe pra mim. — ordenou.

— Não acha melhor eu tentar fazer isso?

Desde quando conselheiros amorosos entendem de maquiagem?

— Ainda estou traumatizado desde aquela vez que te vi maquiada. — arregalou os olhos. — Não confio em você com isso. Deixe que eu tento reconstruir sua sobrancelha.

Oliver passou rímel no local devido devagar, tentando acertar o formato que a sobrancelha teria. Ele até parecia um profissional, com um rímel na mão e uma leve ruga formada entre as sobrancelhas, enquanto estava concentrado. Após julgar que já tinha feito o serviço, Oliver se afastou de mim, analisando o seu trabalho.

— Como estou? — perguntei.

— Acho que é melhor você ligar para o Ray e dizer que não vai poder trabalhar o resto do dia. — apontou para o espelho.

Eu iria matar Carolina. Não, eu iria matar Oliver e depois mataria a Carolina. Fitar a minha imagem no espelho me fazia querer pegar um machado que quebrar aquela coisa. Sinceramente, eu não sei como o espelho tinha a audácia de refletir aquilo. Parecia que eu tinha duas lacraias prontas para me atacar desenhadas na minha cara.

Olhei para Oliver soltando fogo pelo nariz. Ele imediatamente forçou um sorriso amarelo. Antes que eu pudesse falar alguma coisa ouvimos a porta do banheiro abrir.

— ... ele pensa que eu sou o quê para me dar um sabonete de presente? — uma voz feminina estranha soou entrando no banheiro.

As duas figuras pararam ao ver Oliver ali dentro com um rímel na mão.

— Esse é o banheiro feminino. — uma delas murmurou cruzando os braços.

Oliver continuou encarando elas sem saber o que dizer.

— Relaxem garotas. — forcei uma risada. — Ele é gay.

Oliver olhou tão rápido em minha direção que eu cheguei a me assustar.

— Como é que é? — ele sussurrou com os dentes cerrados.

— Ele até insistiu em usar banheiro masculino. — continuei olhando para as mulheres. — Mas eu quis que ele viesse para o feminino por que não quero ele espiando o pinto dos outros, não é Olivia? — dei um soquinho no braço dele.

Ele virou a cabeca lentamente para as mulheres perto da porta que esperavam pela resposta dele.

— É... — ele jogou a cabeca pro lado, imitanto uma voz afeminada. — Felicity detesta que eu... espie outros homens.

As mulheres se convenceram com essa explicação, pois entraram no banheiro normalmente, também ficando na frente do espelho para ajeitar a maquiagem.

— Não se preocupe querida. — a morena pegou no braço de Oliver. — Pode usar o banheiro feminino, se quiser. A Palmer Tech tem uma política de respeito a sexualidade das pessoas.

— Obrigada. — Oliver forçou um sorriso.

— Você estava ajeitando a sobrancelha dela? — a outra mulher questionou apontando para mim. — Sinto dizer, Olivia, mas acho que eu consigo fazer um trabalho melhor.

Uma pessoa para salvar a minha dignidade! Graças a Deus.

— Não precisa. — Oliver me encarou com um sorriso cínico. Ai Deus, ele queria se vingar. — Felicity é lésbica. Ela queria que eu fizesse a sobrancelha dela ficar mais grossa do que é. Acho que consegui.

Desgraçado vingativo...

— Oh. Tudo bem — a mulher concordou. — Se precisarem de mim, estou aqui.

— Já está na hora de irmos, não acha, amiga? — murmurei para Oliver enquanto puxava ele pelo braço para fora do banheiro feminino. — Seu cretino filho de uma infeliz! — xinguei.

— Você que começou com essa história de eu ser gay. — se defendeu.

— E você queria que eu falasse o quê? Ela iria concertar a minha sobrancelha e você não deixou.

Oliver parou no lugar.

— Isso me faz lembrar que você tem que mandar uma mensagem para o Palmer avisando que vai deixar o trabalho mais cedo. — murmurou.

— Eu não precisaria mandar nenhuma mesagem para ele se você tivesse deixado ela me maquiar.

— Você quer mesmo correr o risco de a sua sobrinha aprontar outra com você na Palmer Tech?

Fiz uma cara emburrada. Maldito cretino que tinha razão.

Andamos até o elevador chamando atenção de todos. No caso, eu estava chamando a atenção de todos com o desenho de insetos na minha cara, fora que eu estava com a blusa com a parte da frente toda molhada. Essa parecia ser uma ótima hora para eu dar uma de avestruz e enfiar a minha cara no chão.

Diggle veio em nossa direção assim que chegamos ao térreo. Percebi que a minha sobrinha não estava com ele e ele não parecia preocupado com isso. Me diga que mandou ela pro Afeganistão. Me diga que mandou ela pro Afeganistão. Me diga que mandou ela pro Afeganistão. Mas as minhas preces não foram ouvidas e Diggle não mandou ela pro Afeganistão. Roy havia buscado ela quando Oliver e eu estávamos no banheiro. Tudo bem, pelo menos agora eu não tinha nenhum representante do diabo para me atormentar.

— Amanhã não começaremos as cinco da manhã. — Oliver comentou quando entramos no carro. — Como você tem o dia de folga podemos começar às oito para procurar um vestido para você.

Noticia boa!

Eu estava com os olhos muito pesados. Resultado de dois dias acordando às cinco da manhã e um dia acordando às três. Eu precisava mesmo dormir até um pouco mais tarde e eis que Oliver estava me dando a oportunidade. Eu estava ansiosa para chegar em casa e ir para minha tão amada cama. Mas o leve balançar do carro e o silêncio que se instalou no ambiente somados com meu sono me fizeram adormecer ali mesmo.

Mesmo com o sono pesado por causa do cansaço, eu senti levemente quando o perfume de Oliver inundou meu olfato e seus braços fortes me carregaram para meu apartamento.


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Notas finais do capítulo

Criem expectativas para o próximo capítulo.

Perceberam que a fanfic está de capa nova? (Óbvio que perceberam). Essa linda capa foi feita pela leitora maravilhosa Hael, que se dispôs a fazer uma capa para compensar a deficiência dessa autora aqui em fazer capas. Muito obrigada querida!

Acreditam que a fanfic recebeu duas recomendações essa semana? É... Eu também custei a acreditar. Já até entrei no Nyah duas vezes só para me deliciar com as palavras lindas que as leitoras Karly e Queen With WiFi escreveram. Eu quero mandar um beijo para essas duas e dizer muito obrigada!

Eu agradeço o carinho que todos vocês demonstram pela fanfic. Não esqueçam de me dizer o que estão achando e me avisar caso haja algum erro. Até semana que vem!