O conselheiro amoroso. escrita por Mical


Capítulo 1
Prólogo.




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Era manhã de domingo. Que espécie de conselheiro marca uma consulta para a manhã de domingo? Um conselheiro amoroso. Que espécie de recepção tem um quadro +18 pendurado na parede principal? A recepção de um conselheiro amoroso. Mas o que era mais estranho nisso tudo, era que só eu estava ali, apenas com a exceção da recepcionista que parecia uma senhora de uns 80 anos, me olhando através de seus óculos fundo de garrafa. Ela me encarava, me encarava, e me encarava mais um pouco, chegando a me assustar com aqueles olhos grandes e analisadores. 

— Por quê no domingo? — não me contive em perguntar. — Quer dizer, a maioria dos consultores normais... você sabe, atendem ou marcam consultas em um dia de semana: segunda, terça, quarta, quinta, sexta. Hoje é domingo, é final de semana, porquê atender num domingo quando a maioria a maioria das pessoas prefere descansar nesse dia? 

A senhora piscou com uma lentidão exagerada através de seus óculos. 

— Porque sim. — resmungou pela décima vez. 

Revirei os olhos, aquela era a resposta dela para tudo. Porquê havia um quadro pornográfico logo atrás dela? Porque sim. Por que não tinha o nome do conselheiro no cartão? Porque sim. Até quando eu perguntei onde era o banheiro, ela respondeu 'porque sim'. Devia ser a única frase que ela sabia falar. Com aquela idade, ela já devia ter esquecido todas as outras... 

Mas, de todas as perguntas, a que mais me incomodava era o porque de uma recepção tão caprichada se só havia eu ali. E porque o conselheiro estava demorando tanto para me atender se só havia eu ali. Isso devia ser uma indicação de que ele não era um bom profissional, afinal, se ele não tinha muitos clientes, então não devia ser um conselheiro muito bom, não é verdade? Ou talvez a recepção esteja vazia porque é domingo... Ou não haja tantas pessoas precisando de conselhos amorosos assim, é uma possibilidade. E eu, sendo eu, não consegui manter minhas perguntas para mim mesma. 

— Por que só tem eu aqui? — perguntei. — Digo, além da senhora, é claro. O conselheiro não tem outras clientes? 

Depois de piscar lentamente de novo e soltar um suspiro cansado, a velhinha finalmente me respondeu: 

— Ele está atendendo uma cliente nesse momento. 

— Uau, a senhora realmente sabe outras frases além de "porque sim". — pensei em voz alta. 

Merda! Eu sempre fazia isso. 

A única reação dela foi demorar ao piscar de novo. Isso realmente dava medo. 

— Então, ele não vai atender alguém depois de mim? — tentei desconversar. 

— Sim, ele está com a agenda cheia. — respondeu indiferente. — Mas não tenho permissão para deixar a próxima entrar na recepção até que você esteja na sala dele, e a cliente que está lá tenha saído pela porta dos fundos. E antes que você me pergunte o porque, isso se chama discrição. Você não gostaria que o seu homem descobrisse que você procurou a ajuda de um conselheiro amoroso, não é? 

— Bem, ele não é meu homem. — corrigi. — Pelo menos ainda não, eu espero que seja, um dia, talvez. É por isso que estou aqui. Afinal, por que eu precisaria de um conselheiro se o Ray já fosse meu? Seria meio contraditório. — levantei uma mão e bufei. Poxa, isso devia ser óbvio até para uma senhora. 

Recebi como resposta apenas outra piscada demorada. 

— Por que a senhora fica piscando em câmera lenta? — questionei. — Não é mais fácil e menos assustador dar uma piscada normal? 

— Você faz muitas perguntas. — observou. 

— E a senhora me respondeu apenas duas. — levantei dois dedos e apontei para eles com a outra mão. — Duas. — enfatizei. 

— Você é irritante. 

Essa declaração me calou. Geralmente quando as pessoas que eu não conhecia abriam a boca pra dizer que eu era irritante, a situação já estava crítica. Não sei de onde eu tinha toda aquela habilidade de irritar as pessoas, devia ser um dom. 

Encarei o teto branco pra manter meus olhos ocupados. Minha mãe, Donna, que insistiu que eu procurasse um conselheiro para ajudar a resolver minha vida amorosa. Ela pediu que eu procurasse exatamente esse conselheiro, pelo qual já estou esperando a meia hora, porque ele era um dos melhores e nunca falhou, de acordo com ela mesma. Minha própria mãe já tinha recebido conselhos amorosos desse homem, que a ajudou a conquistar seu atual marido. No começo eu recusei, pra tentar manter o pouco de orgulho que ainda me restava, mas eu não consegui enganar nem a mim mesma, quanto mais a minha mãe! Era óbvio que eu estava desesperada para conquistar Ray Palmer. 

Já tinha tentado de tudo: uma vez fiz um padrão de cores das gravatas que ele mais usava e comprei uma com todas a cores, para dar de presente para ele no dia do casamento do seu irmão, ele sorriu e agradeceu o presente, mas nunca usou. Teve aquela vez que derramaram café na ponta do sapato dele, sapato que valia mais que o meu carro, e dessa vez ele nem me agradeceu quando me abaixei para limpar a sujeira com a barra da minha blusa branca. Desesperada pela atenção dele, uma vez eu até tentei parecer sexy, usei até uma saia super desconfortável de um palmo de comprimento, mas nem isso deu certo! Diante de todas as minhas tentativas fracassadas, o jeito era procurar ajuda profissional. 

— Srta. Smoak. — a velinha chamou. — O conselheiro irá atendê-la. 

Levantei da cadeira num salto, mal podia esperar para realizar todos os meu sonhos. 

— Não vai me acompanhar até a sala dele? — perguntei ao parar na frente dela, esperando que ela se levantasse. 

Ela se quer levantou a cabeça. 

— É a única porta no corredor. — resmungou. — Só porque não consegue encontrar um homem não quer dizer que não possa encontrar uma porta. 

— Quanta falta de educação. — reclamei ao me dirigir em direção ao corredor. — E eu já encontrei um homem, só falta eu conquistar ele! — gritei baixo. 

Ela não respondeu, mas eu quase podia ver ela dando aquela piscada aterrorizante. 

— Velinha sinistra. — murmurei ao passar por uma porta branca que já estava aberta, mas eu fechei ao entrar, não queria que a mulher escutasse meu desespero pra conquistar o homem que eu amo. 

— Quem é sinistra? — uma voz masculina perguntou. 

Olhei na direção do som, apenas para levar um pequeno susto e esfregar os olhos para verificar se eu estava vendo direito. O conselheiro era bonito. Muito bonito. Eu nem sabia direito como descrevê-lo, ele era loiro, alto, ombros largos e fortes. Usava terno e gravata e estava encostado de modo sensual em uma mesa. O sorriso que ele tinha no rosto... bem, era o suficiente para fazer uma garota se apaixonar por ele. Eu mesma me apaixonaria se meu coração já não tivesse dono. 

— A velinha. — apontei pra porta, voltando a realidade. — Sua recepcionista, ela é sinistra. Tem um modo de piscar assustador. Já não era pra ela estar aposentada não? — olhei na direção em que eu apontava. — Ela deve ter uns duzentos anos. Já devia estar é morta. — voltei a olhar pra ele. 

— Que engraçado. — seu sorriso se abriu ainda mais, soltando uma breve risada. — Você chega aqui, não sabe nem o meu nome, e já vem me falando que quer que a minha avó esteja morta. — seu sorriso sumiu junto com sua última frase. 

Eu e meu incrível dom de sempre falar a coisa errada... 

Lancei um olhar de culpa para bonitão, que agora me encarava com um rosto sério, sua mandíbula firmemente contraída. 

— Eu... é... eu... hã.... — eu tentava formular uma frase, mas a minha mente cagada se recusava a pensar em algo que fizesse sentido. 

O bonitão começou a rir da minha cara. Estreitei meus olhos para ele, será que ele sofria de algum problema bipolar? Do nada o cara começou a rir com aquela voz incrivelmente musical que eu estranhamente estava me deliciando em ouvir. 

— Relaxe, Felicity. — pediu com um sorriso terno. — Eu estava apenas te testando. Ela não é minha avó de verdade, é a avó da minha secretária e está aqui como substituta de um dia. 

— Ah! — foi a única coisa que consegui formular. 

— Por favor, sente-se. — ele apontou para uma poltrona e sentou na que ficava a frente. 

— Como sabe o meu nome? — questionei, não deixando passar o fato de ele ter me chamado pelo primeiro nome. 

— Está na sua ficha. — explicou. — Além disso, meu nome é Oliver Queen, mas pode me chamar apenas de Oliver. 

— Então, apenas Oliver, que tipo de teste estava fazendo comigo? 

— A maioria de vocês tendem a dizer as coisas erradas, por isso não conseguem conquistar seus homens. Queria apenas ver como você se saía em uma situação embaraçosa. 

Estreitei os olhos. Não questionei se eu havia passado no teste, a reposta era óbvia: não. Decidi passar para a próxima pergunta: 

— Por quê não tem o seu nome no cartão? — questionei me inclinando levemente para a frente. — Desculpe a mudança drástica no assunto, mas a dúvida estava me matando. 

— Parte do meu trabalho é ser invisível. Os seus homens não podem saber que vocês procuraram um conselheiro amoroso, desse modo, eles não podem saber que eu sou um conselheiro. — ele passou a mão pelo cabelo. Por que eu ficava prestando atenção nessas coisas? — Muitas mulheres pegam o meu cartão e não tem coragem de entrar na minha sala, por vergonha de pedir ajuda. Mas quando elas entram mostram que realmente querem um conselho, assim eu posso revelar o meu nome. Se meu nome estivesse no cartão, seria muito provável que eu já estivesse marcado como conselheiro amoroso, e perderia muitas clientes. 

Concordei com a cabeça. Fazia sentido. 

— Por que você é um conselheiro? Quer dizer, você tem cara e corpo daqueles modelos de roupa intima. — dei um sorriso de canto, mas o desfiz assim que percebi o que ele poderia entender. — Não estou dando em cima de você. — me prontifiquei em explicar. 

Ele riu. 

A curiosa. — falou lentamente, dando atenção a cada sílaba. 

— Como é que é?  

— Você. — falou como se estivesse explicando tudo. — Existem várias categorias de mulheres que me procuram, cada uma com uma característica dominante: A ciumenta, A extrovertida, A séria, A chata, A mão de vaca, A falsa. Você é A curiosa... — se inclinou para frente. — Aquela que sempre que saber de tudo, que sempre quer saber o porque de tudo. 

Que ignorante! 

— Não é verdade! — exclamei. — Eu nem sempre quero saber o porque de tudo. Vai plantar batata, você mal me conhece e já fica me dando esses apelidinhos sinistros. Você deve ser neto daquela velinha mesmo. 

— Aposto que quer saber o porque acho que estou certo. — levantou uma sobrancelha em desafio. 

Desgraçado... 

— Bom, vamos parar de conversa e ir direto ao ponto. — ele mudou de postura num segundo, cruzando as pernas em uma posição profissional. — Apenas saiba que toda essa curiosidade irrita os homens. Mas me diga, quem é o seu homem, por quê gosta dele, e as tentativas que você fez para conquistá-lo. 

— Como você sabe que eu já tentei conquistar o Ray? — perguntei desconfiada. 

— Não estaria aqui se já não tivesse tentado. 

O encarei pelo canto do olho por mais alguns segundos, até me dar por vencida. 

— Eu sou secretária dele, Ray Palmer... 

— Espera... — me interrompeu. — Está me dizendo que o homem que você quer conquistar é Ray Palmer, o CEO da Palmer Tech? 

Fiz que sim com a cabeça. 

— Você realmente está sonhando alto. 

— Qual é o seu problema? — indaguei. — Não confia nas próprias habilidades para me ajudar a conquistar o Ray? 

— Pelo contrário. — retrucou. — Estou ansioso para ter um dos bilionários de Starling City na lista dos que eu ajudei a conquistar. 

— Essa frase soou gay. 

— Pense o que quiser. Afinal, você vai se tornar a mais nova bilionária da cidade. Bilionários pensam o que querem. — deu um sorriso travesso. 

— Não estou apaixonada pelo Ray pelo dinheiro dele, se é o que está pensando. — apontei um dedo para o rosto de Oliver de modo acusatório. 

— Não foi isso o que eu sugeri. Sei que gosta dele por boas razões e que jamais pensou em conquistar alguém por causa do dinheiro. Você não é esse tipo. 

— E como você sabe disso? — perguntei. A desconfiança voltando a inundar minha voz. 

Ele se limitou a dar um sorriso fraco. 

— Vamos discutir o dia todo ou você vai me contar o que eu preciso saber? — questionou. 

— Okay. 

Comecei a contar minha história com Ray do começo. Tipo, do começo meeesmo. Contei como fui contratada como sua secretária e como o sorriso dele era de tirar o fôlego. Também expliquei que ele nunca prestou atenção em mim, apesar das minhas desastradas tentativas de chamar a atenção dele. Me apaixonei por ele primeiramente por que percebi o seu desejo sincero de ajudar as pessoas, ele simplesmente era cheio de qualidades atraentes. É claro que haviam muitas mulheres se jogando aos seus pés. E também é por isso que ele nunca prestaria atenção numa nerd sem graça como eu... 

— Não daqui pra frente. — Oliver interrompeu minha explicação, seus olhos estavam focados no caderninho que ele fazia anotações desde que eu comecei a contar minha vida amorosa. — Já tenho tudo o que preciso Felicity. Vou ver a minha agenda, mas provavelmente só vou ter disponibilidade daqui a quatro meses. 

— Quatro meses?! 

— Estou com a agenda cheia. — explicou. — Ah, e vou precisar de algum evento, uma festa ou algo do tipo em que você e Ray estejam presentes. 

— A Palmer Tech irá promover um leilão de caridade na próxima sexta. Mas você não vai estar disponível... — lamentei enquanto me levantava. 

— Espere. — pediu colocando uma mão sobre a minha, impedindo que eu fosse embora. — Vou lhe dar prioridade, tanto por causa do evento da próxima sexta, quanto pelo fato que estou ansioso para resolver o seu caso. Por favor, sente de novo. 

Obedeci a ordem. 

— Vou precisar de cinco dias. Começando na quarta... — começou. 

— Mas você ajudou a minha mãe em três dias... — o interrompi. 

Oliver me encarou por alguns segundos, como que cogitando algo. Seus olhos eram extremamente azuis, totalmente diferente dos de Ray, que beiravam o negro. Ele também parecia mais baixo que Ray. Mas confesso que aquela barba por fazer de Oliver era muito sexy, fiquei imaginando como Ray ficaria se deixasse a barba crescer por alguns dias. Mas espera, por que eu estava comparando os dois? 

— Existem cinco coisas que qualquer homem ama nas mulheres. — Oliver mostrou os cinco dedos das mãos, me arrancando de meus pensamentos. — Eu preciso de um dia de cada vez para ajudar você a demonstrar as cinco qualidades. Algumas mulheres já demonstram uma ou duas, por isso eu só uso a quantidade de dias equivalente as qualidades que eu preciso ajudá-las a demonstrar. No seu caso... 

— Eu não demonstro nenhuma das qualidades, então você precisa de cinco dias para me ajudar a demonstrar as cinco. — completei a sua frase. Era de se esperar que eu fosse dar trabalho... 

— Exatamente. É por isso que estou empolgado para trabalhar no seu caso, você será a primeira que eu vou ajudar nas cinco qualidades. — ele se virou para apertar um botão no telefone em cima da sua mesa. — Meredith, remarque a minha cliente de quarta-feira e inclua a Srta. Smoak no lugar dela. 

Não sou sua secretária. —  a voz da velinha soou irritada do viva voz. 

— Obrigado Meredith. — ele desligou o telefone como se a mulher tivesse dito que já iria fazer o que ele pediu. — Começamos na quarta, 5 da manhã. 

— 5 da manhã? — perguntei incrédula. 

— Eu preciso de três horas para treinar você antes de ir pro trabalho. E eu vou acompanhar você no trabalho também. 

Essa parte a minha mãe me falou, mas... 5 da manhã? 

— Não sei se vou conseguir acordar tão cedo. — argumentei. 

— É claro que vai. — falou enquanto se levantava. Entendi a deixa e me levantei também. — Mas alguma pergunta? 

— Sim. Alguém já contratou um conselheiro pra conquistar você? — coloquei a mão na boca assim que percebi o que tinha dito. — Desculpe... eu só... 

Oliver soltou aquela deliciosa risada musical. 

— Vamos ter que treinar a sua língua. — falou ainda em meio a risinhos. — E não, ninguém nunca pediu ajuda a um conselheiro para me conquistar. 

Oliver estendeu a mão para mim como cumprimento de despedida, que eu apertei. 

— Você tem que me entender, eu esperava encontrar um careca com bigode e óculos pendurado no nariz como conselheiro. Aí eu entro aqui e encontro a encarnação de Zeus — me defendi. 

— Pode sair pelos fundos, Felicity. — Oliver apontou para saída, ignorando o que eu tinha acabado de falar. Mas ele obviamente estava segurando uma risada. 

Saí tranquilamente pela porta que dava para os fundos do local. Bom, se não desse certo com Ray, talvez eu fosse a primeira a contratar um conselheiro para conquistar o meu conselheiro bonitão.


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Notas finais do capítulo

Oi gente!

Espero que tenham gostado da ideia. Se gostarem, por favor comentem para que eu possa saber e assim continuar a história.

Essa fanfic vai ter no máximo 6 ou 7 capítulos. É curtinha, mas espero agradar.



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