A Inútil Capacidade de Ser Receoso escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 8
Sete




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Quando vamos embora já está de noite, e estamos tão cheios que só queremos ficar parados.

—O que vocês acham de darmos uma volta na praça e depois acamparmos lá em casa? – Digo enquanto andamos devagar pela calçada.

—Por mim tudo bem – Marcos diz, e Aline concorda.

—Eu não tenho escolho, vou aonde vocês me levarem. – João fala e nós rimos da expressão que ele faz.

Pegamos um ônibus e vamos para a praça, como toda a noite está cheia de gente andando de skate ou patins, namorando ou só dando uma volta mesmo, como nós quatro. Paramos em um banquinho e ficamos conversando bobagens até que eu vejo uma van branca com um adesivo na lateral escrito "As Irmãs Fabulous" dentro de um circulo com as cores do arco-íris.

—Vou ali – digo me levantando. – Volto agora.

—Você está indo encontrar quem, exatamente? – Aline diz se levantando e parando em minha frente. Ela sabe que quando eu digo "volto agora" eu tendo á não voltar "agora".

—Ester está aqui na cidade – digo apontando para a van estacionada em frente ao hotel na outra rua. – Eu juro que não vou demorar.

—Tudo bem, vai lá – ela diz sorrindo.

—Diz pra Ester que mandei um abraço para ela. – Marcos fala e então eu saio correndo.

Eu conheci Ester no ano passado quando ela veio á cidade fazer um show com dois amigos, elas três são Drag Queens e os shows delas são verdadeiramente fabulosos o que só justifica o nome que adotaram.

Assim que chego á van vejo Ester e seus amigos saindo do hotel. Ester é uma garota trans, quando á conheci, ela estava começando a transição, mas como já tem quase quatro meses que não a vejo é difícil não notar o quanto ela está diferente, mais linda do que nunca – e mais feliz, posso dizer por seu olhar.

—Thomás! – Ela diz assim que me vê e corre em minha direção me abraçando assim que chega até mim.

—Oi, Ester! Senti sua falta!

—Eu também, me perdoe se eu não tenho respondido suas mensagens é que nós temos andado tão ocupadas e...

—Não tem problema – digo olhando sorrindo para ela. – Você está cada vez mais linda.

Ela sorri meio tímida e então me dá um beijinho na boca.

—Então o que vocês fazem aqui? – Pergunto assim que ela me solta.

—Viemos programar um show fabuloso, claro! – Vitor fala virando a cabeça como se estivesse usando a sua peruca, ele vem até mim e me dá um braço.

—Daqui duas semanas estaremos aqui para estremecer essa cidade novamente. – Miguel diz ao me dar um beijo de cada lado do rosto, ele raspou o cabelo desde a ultima vez que nos vimos.

—Então quer dizer que posso esperar um show maravilhoso de Natasha, Marcela e Estefany daqui duas semanas?

—Não pode, deve! – Ester falando me abraçando. – Pena que não podemos ficar mais, queria conversar um pouco com você!

—Vamos fazer assim, da próxima vez que você vier eu ficarei um dia inteiro com você. – Ela concorda e me dá outro beijinho. – Ah, Marcos e Aline mandaram um abraço.

—Diz pra eles que mandei outro. – Então os três entram na van e vão embora tocando a buzina que é o toque de Born This Way da Lady GaGa.

Volto andando para a praça e encontro Aline, Marcos e João no mesmo lugar tomando Milk Shakes.

—Compramos um pra você – Marcos diz me entregando o copo grande com canudo, o Milk Shake é de chocomenta, meu favorito.

—Vejam só quem está aqui – alguém diz atrás de mim e logo sei que é Frederico Batista, uma das poucas pessoas da cidade em que eu não me incomodaria se sumisse de repente em um dia sem deixar nenhuma noticia. – Parece que a rainha dos viados está de volta á cidade.

—Pois é, mas parece que o maior bocó de todos nunca sai de Rosa Maria – digo tão alto que outras pessoas na praça acabam rindo.

—Pelo menos eu não preciso de cura pra ser normal – ele diz e posso ver que está com raiva.

—Vê se cala a boca seu hipócrita maldito – Aline diz ficando ao meu lado.

—Olha só a vadiazinha veio defender a gazela – ele diz e simplesmente não consigo me segurar.

Ando rapidamente na direção de Frederico e lhe dou um soco no lado esquerdo do rosto e consequentemente espremo meu Milk Shake em sua cara, ele cambaleia e cai para trás.

—Ninguém chama minha melhor amiga de vadia á não ser eu – digo olhando para ele e ofegando de raiva. – E não se esqueça Frederico que eu sei coisas que você pagaria tudo para que eu não contasse á ninguém.

—Vamos embora Thomás – Marcos diz segurando meu braço e me puxando, eu vou andando ao seu lado.

—Que cara idiota – João diz vindo andando atrás de nós, Aline está ao seu lado. – Não querendo ser curioso, mas o que exatamente você sabe sobre ele?

Sorrio com a pergunta dele, o que me acalma um pouco.

—Ele passou o ano passado inteiro atrás de mim dizendo que queria ficar com Aline e me pedindo ajuda com ela (e eu negava claro porque ele é um verdadeiro idiota) - começo á contar. – Até que na festa de fim de ano da escola ele bebeu demais...

—Só para fins explicativos devo dizer que nós que levamos vodka para a escola e distribuímos entre nossos colegas – Marcos diz me interrompendo e eu solto um riso.

—Isso; então o Frederico ficou muito bêbado e me puxou para um canto escondido e disse que na verdade queria ficar comigo, mas não tinha coragem para falar e por isso vivia atrás de mim falando que queria a Aline. E então me beijou, e eu dei um passa fora nele, claro! – Paro por um momento. – No dia seguinte ele me procurou na minha casa e disse para eu guardar segredo sobre o que ele tinha dito e feito, caso contrário ele me encheria de porrada. Eu não tenho medo dele, obviamente, mas prefiro não contar, não quero que ninguém saiba que aquela boca homofóbica já me beijou.

—Eca, que nojento. – João fala. Aline, Marcos e eu paramos e olhamos para ele.

—Espero que você não tenha sentido nojo pelo fato de serem dois garotos se beijando – digo.

—Não é isso, eu até já beijei um garoto é só beijo não tem pelo quê sentir nojo – ele fala calmamente. – Eu tenho nojo é da hipocrisia dele.

—Então você já teve a deliciosa experiência de um beijo gay – Marcos diz sorrindo.

—Sim, meio que aconteceu. Talvez eu conte á vocês um dia – ele diz se fingindo de misterioso.

—Tudo bem, vamos para casa acampar – digo rindo.  


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