A Inútil Capacidade de Ser Receoso escrita por Fabrício Fonseca
Olá, mãe
Desculpa te incomodar aí no céu – e apesar de não acreditar em céu ou inferno digo com certeza que é esse o lugar onde você está pois se há um lugar para as pessoas boas irem depois da morte esse é o lugar que a senhora pertence –, mas queria lhe contar sobre como andam as coisas.
Hoje faz cinco meses desde que você se foi e eu posso confirmar que a dor de perder alguém que se ama nunca passa, a gente apenas aprende a conviver com ela.
Bem, para começar devo te falar que eu e o pai estamos mais unidos do que nunca, somos ótimo amigos e eu gostaria muito que a gente tivesse se acertado quando você estava viva, eu sei o quanto isso lhe faria feliz; mas infelizmente o fator que nos uniu foi exatamente te perder. Pensar nisso faz o meu peito doer ainda mais.
E ele está ótimo, apesar da saudade que sente de você; ele anda trabalhando menos e só se sente estressado quando recebe algum aviso da escola que alguma criança fez alguma coisa com a Larissa.
Larissa é com toda certeza a melhor das crianças, você amaria tê-la tido como filha, e sei que ela amaria ter você como mãe. Eu e o papai adoramos passar todos os nossos momentos livres com ela – até a vovó vai visitar a gente com mais frequência por causa dela. Toda noite nós ajudamos ela a fazer seus trabalhos de escola e houve muitas vezes em que nós três adormecemos no chão do quarto dela depois de passar quase a noite toda lendo alguns livros.
Ela dá vida a nossa casa, assim como a senhora fazia.
Enquanto a mim? Bem, eu continuo sendo eu mesmo; eu meio que saí de um relacionamento agora – eu estava namorando dois irmãos gêmeos, sim é loucura – e na semana que vem Marcos vai para a Itália passar as férias com seus pais e Aline vai depois do ano novo. Eles me chamaram para ir com eles, mas eu não consigo deixar o papai e a Larissa; decidi passar as férias com a nossa família!
Bem, acho que por enquanto é só isso mãe, sei que escrevi muito pouco, mas é que eu estou sentado no terceiro banco da igreja – a senhora sabe que eu não acredito em Deus ou diabo, mas como você acreditava pensei que talvez esse fosse o melhor lugar para escrever isso para você – e comecei a chorar no momento que escrevi a segunda e mais forte palavra dessa carta, e as pessoas que estão aqui já começaram a me olhar com a cara estranha.
Por fim devo dizer que o maior presente que a senhora deixou foi o amor, porque mesmo depois de todo esse tempo que você se foi eu ainda consigo sentir seu amor em mim, e sei que o pai também sente, e nós o transmitimos para a Larissa. É esse amor que molda quem eu sou, que faz eu não temer acordar todos os dias e ser assim, porque é o amor que guia todos os caminhos.
Bem, até qualquer dia mãe; prometo que vou tentar voltar com mais notícias.
Com todo o amor, carinho e completa saudade,
Seu filho, Thomás.
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Espero que tenha gostado! Beijos!