A Inútil Capacidade de Ser Receoso escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 19
Dezoito




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Termino de tomar banho e visto uma roupa rapidamente, quando estou pronto saio do quarto e desço a escada devagar e paro quando meu telefone começa a tocar, olho a tela e vejo o número de Aline.

—Thomás onde você está? – Marcos diz assim que atendo.

—Estou em casa, obviamente. – Respondo rindo.

—Nós já estamos aqui na praça, Aline já começou a fingir que é fã de algumas bandas que já fizeram a inscrição.

—Vou tomar um pouco de chá e já vou correndo com João para aí. – Ando em direção da cozinha. – Por que não ligou do seu telefone?

—Eu o deixei cair ontem quando estávamos entrando em casa e ele ficou despedaçado. E como Aline sempre usa meus bolsos como se fossem uma bolsa dela eu estou usando o telefone dela.

—Tudo bem, depois a gente arruma um telefone novo para você – digo rindo. – E uma bolsa para ela, ou uma calça que tenha bolsos. – Desligo o telefone quando entro na cozinha.

João está sentado junto ao balcão no mesmo lugar que meu pai estava quando chegamos de madrugada, ele está tomando café e comendo um pedaço do bolo que eu fiz ontem.

—Termine logo o seu café, nós já vamos sair. – Digo.

Pego o bule sobre o fogão e coloco um pouco de chá em uma xicara, enquanto bebo o chá como um pequeno pedaço de pão.

Cinco minutos depois saímos de casa e vamos andando depressa para a praça do comércio, quando chegamos lá o local está completamente lotado. Pego o telefone e ligo para o telefone de Aline:

—Onde vocês estão? – Grito por causa do barulho que sai das caixas de som no palco.

—Espera a gente perto do Cafés Lavorini – Marcos grita de volta e então desliga.

—Vamos! – Digo para João e saio andando na frente abrindo caminho entre as pessoas.

Quando paro em frente a cafeteria vejo Marcos e Aline lá dentro comprando alguns bolinhos.

—Vou querer um com recheio de pasta de avelã – digo ao entrar e parar do lado deles. – E você João?

—O tradicional recheio de chocolate, por favor. – Ele diz.

Pegamos nossos bolinhos e saímos comendo.

—De onde nós vamos acompanhar os shows? – Aline diz assim que termina seu bolinho de geleia de morango.

—Que tal de cima do palco?! – Digo quando tenho uma ideia muito louca.

—Ainda dá tempo de fazer a inscrição – Marcos diz sorrindo ao perceber qual foi a minha ideia.

Corremos até a mesa onde está sendo feita as inscrições e depois de pagar a taxa começo a escrever os nossos nomes na ficha de dados da batalha das bandas.

—Qual vai ser o nome da nossa banda? – Aline pergunta depois que preenchemos todos os outros espaços da ficha.

—Só uma perguntinha – João fala. – Algum de vocês sabe tocar algum instrumento, porque sinceramente eu não sei nada!

—Na verdade não, mas essa é a graça. – Digo rindo.

—Uma banda em que os integrantes não sabem tocar nenhum instrumento é com toda certeza a banda mais inútil de todas.

—Gostei desse nome – Marcos diz sorrindo. – Coloca “A Banda Mais Inútil de Todas”.  

Entregamos a ficha de inscrição e saímos andando pela praça enquanto a batalha não começa. Um locutor avisa de cima do palco que as inscrições das bandas para a batalha foram encerradas e apresenta uma banda que irá tocar antes dos concorrentes começarem.

—Vamos lá para a frente – Aline diz saindo na frente e nos guiando em meio à multidão.

Os integrantes da banda – que chama Cantos de Plutão, e sinceramente me conquistou só pelo nome – entram e alguns segundos depois começam a cantar uma música do Legião Urbana e nós quatro cantamos, dançamos e pulamos junto com o resto das pessoas que estão assistindo ao show. Na segunda música – que é uma autoria deles – nós ficamos calados enquanto ouvimos e como gostamos muito do som deles Aline decide que depois a gente vai pesquisar tudo possível sobre a Cantos de Plutão.

—Thomás, olha aquilo – Marcos diz em meu ouvido apontando para o outro lado do palco.

Viro a cabeça enquanto olho para a direção que ele me mostrou desviando das pessoas que estão na frente e então avisto Frederico Batista e Beto-heteronormativo assistindo ao show juntos.

—Será que eu fiz errado em juntar esses dois? – Digo rindo.

—Bem, cada um tem sua metade da laranja, quem somos nós para julgar o tipo certo de casal – ele diz sorrindo. – Afinal nós três somos: uma garota bi-curiosa, um assexual e um pansexual. Qualquer casal que formamos não será do tipo convencional.  

—Sim, e pelo menos agora o Frederico vai sair do meu pé, eu espero – digo e ele concorda com a cabeça.

Continuamos a aproveitar o show até que, aparentemente cedo demais, a banda toca a última música e então se despede.

—Essa foi a Cantos de Plutão pessoal! – Diz o homem encima do palco. – Em alguns minutos a batalha se iniciará e as bandas serão chamadas em ordem alfabética, se preparem todos.

—Oh não! – João fala e logo entendo o que ele quis dizer.

Já que o nome da nossa “banda” se inicia com a letra A e é seguida por um B e outro A nós só não seremos o primeiro se tiver alguma banda que tenha o A como as três primeiras letras.

—Acho melhor irmos para perto da entrada do palco – digo sorrindo.

Atravessamos a multidão de pessoas – de novo— e ficamos parados perto da escada que leva ao palco junto com outras pessoas que provavelmente também fazem parte de uma banda que se inicie com a letra A.

—Então vamos começar pessoal – o locutor diz alguns segundos depois. – A primeira banda a se apresentar hoje será a ABADON. – E então cinco caras e uma garota sobem apressados no palco.

—Que tipo de nome é ABADON? – Marcos diz em voz alta e, além de nós, as pessoas em volta riem.

Mas então o locutor pede que os integrantes da banda se apresentem e o nome faz certo sentido já que o nome deles são: Amanda, Bruno, Augusto, Daniel, Oscar e Natan.

A ABADON começa a tocar e eu fico assustado e ao mesmo tempo animado com o rock pesado deles, e pela lateral do palco posso ver que muitas pessoas estão pulando e dançando bem perto do palco.

—Temos um problema – Aline diz de repente. – Que música nós vamos cantar?

—Não sei – digo abaixando a cabeça enquanto tento pensar em alguma que eu saiba completa já que eu coloquei meu nome como vocalista.

—Você conhece Anna Júlia do Los Hermanos, não conhece?! – João fala. – Quer dizer você tem que conhecer, todo mundo conhece.

—Eu tenho ela no meu telefone – Aline diz.

—Claro que eu conheço... Então tudo certo vai ser essa! – Falo para ele

Quando a ABADON termina a música o locutor espera os gritos acabarem para falar e nós ficamos perto da escada esperando ser chamados.

—A nossa próxima banda será A Banda Mais Inútil de Todas – ele diz. – E acreditem ou não esse é o nome dela.

—Tem uma mesa de mixagem – Marcos diz quando estamos encima do palco. – Eu posso usá-la, dá para colocar o cartão de memória de Aline, com toda certeza eles devem ter um adaptador, aí vocês fazem o resto.

—Tudo bem! – Digo e enquanto ele vai para trás da mesa João, Aline e eu vamos para a frente do palco.

Arrumo três pedestais com microfones em frente ao palco e depois vou do lado onde estão alguns instrumentos e entrego um chocalho prata para João e um pandeiro azul para Aline. Logo então paramos os três em frente aos microfones – eu no meio, Aline à minha direita e João à esquerda.

—Por favor, se apresentem para nosso público – diz o locutor.

—Eu sou o Thomás, esses ao meu lado são o João e a Aline; e o nosso DJ é o Marcos. – Eu respondo no microfone.

—Boa sorte a vocês d’A Banda Mais Inútil de Todas – ele diz indo para a parte de trás do palco. – Podem começar o show!

Olho para trás e balanço a cabeça para Marcos, e então a música começa. Como um toque para a minha deixa João balança o chocalho e eu começo a cantar:

Quem te vê passar assim por mim/Não sabe o que é sofrer/Ter que ver você, assim, sempre tão linda.

Aline bate ritmicamente no pandeiro assim como João balança o chocalho e as pessoas começam a cantar junto comigo o que faz com que eu fique ainda mais animado do que já estava.

Na parte do refrão todos que estão na praça parecem gritar “Oh, Anna Júlia”, e é ótimo ver todas aquelas pessoas ali embaixo se divertindo com o que estamos fazendo. Então eu tiro o microfone do pedestal e começo a andar para os dois lados do palco e fico me sentindo como um Pop Star e a sensação é muito boa!

Quando a música termina eu estou ofegante e com um sorriso enorme que não consigo tirar do rosto.

—Isso foi muito bom! – Eu digo enquanto nós quatro descemos a escada da saída do palco.

—Eu fiquei me sentindo como se eu fosse o David Guetta – Marcos diz e nós rimos.

—O que vamos fazer agora? – João pergunta.

—Aproveitar os próximos shows – Aline diz, e então nos embrenhamos na multidão e voltamos para o lugar que estávamos antes.

*

Depois que a última banda da batalha (a Zircônios) tocou eles fizeram uma pausa para contar os pontos e ás duas da tarde eles colocam um tipo de biombo com as listas com a classificação das bandas ao lado do palco. Marcos, João, Aline e eu corremos para lá antes que encha de gente tentando ver as listas.

—Aqui. – Digo com o dedo sobre a primeira lista, a nossa banda ficou no trigésimo lugar. – Ficamos entre as trinta primeiras. – Falo sorrindo.

—Que legal! – João fala.

Com o trigésimo lugar nós não ganhamos nada, obviamente, mas ser a número trinta entre cinquenta e oito bandas é muito mais que legal.

—E aí, vamos ficar aqui para ver os shows das campeãs? – Marcos pergunta enquanto saímos de perto do biombo que começa a encher de gente.

—Vamos em casa comer algo e tomar um banho – digo. – Nós voltamos de noite para assistir aos shows das bandas profissionais.

Eles concordam e nós vamos andando para minha casa.


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