A Inútil Capacidade de Ser Receoso escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 1
Prólogo




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Uma das poucas coisas que eu e meu pai temos em comum é a nossa enorme ansiedade.

Mas parece que hoje ele está, tipo, calmo demais para o meu gosto.

De Montana até Rosa Maria é no máximo uma hora e meia de viagem; mas estou com uma leve sensação de que estamos á quase três horas na estrada - tudo bem, não tudo isso, mas á mais tempo que o normal.

—Sabe, eu não reclamaria se você decidisse ir á no mínimo 110 km/h - digo depois de cinco minutos tentando manter a calma contando de 1 á 10 repetidas vezes, mas claramente não funcionou.

Ele não diz nada, apenas acelera com o carro e me sinto levemente aliviado.

A pessoa que eu mais amo no mundo inteiro é a minha mãe e estou com tanta saudade dela que meu nível de ansiedade está o dobro do normal - e acredite isso significa muito, muito mesmo - durante a semana eu liguei para ela, mas o telefone só tocava. Minha mãe tem um certo problema com produtos eletrônicos, então é bastante normal que ela não tenha atendido, e também que eu esteja quase morrendo de tanta saudade.

Assim que vejo o posto de gasolina próximo á placa na entrada da cidade me sinto ainda mais ansioso; é como se quanto mais perto estivesse, mais demorasse pra chegar.

Passamos pelo clube, pelo shopping, o cinema e então finalmente chegamos ao centro da cidade. Em menos de um minuto estaremos em casa.

Meu pai para com o carro em frente ao grande portão branco e usa o controle para abri-lo, ele entra devagar e para com o carro em frente a porta da garagem.

Abro a porta do jeep.

—Thomás, espera. - Ele segura meu braço antes que eu saia do carro. - A gente precisa conversar.

—Nós podemos conversar depois pai, agora eu preciso ver a minha mãe. - puxo meu braço e pulo do carro.

Corro em direção de casa e paro apenas para abrir a porta, passo apressado pelo hall de entrada e subo a escada rapidamente. Vou até o quarto da minha mãe e abro a porta...

Ela não está aqui. A cama está arrumada e o telefone dela está sobre a escrivaninha no canto do quarto. Atravesso o quarto e vou até o banheiro, ela também não está aqui. Volto até o corredor e ando até a biblioteca, ela também não está aqui. Isso é estranho, muito estranho.

Desso devagar pela escada e paro um pouco á frente do meu pai, que está deixando minha bolsa com Alice, nossa governanta.

—Onde minha mãe está? - Pergunto calmamente.

—É sobre isso que eu queria conversar com você...

—Por favor, diga logo onde ela está.

Ele respira fundo e então diz:

—Sua mãe morreu, Thomás. Ela foi enterrada no domingo.

—Eu não gosto desse tipo de brincadeira.

—Não é brincadeira Thomás...

—Ah, claro minha mãe morre e ninguém me conta? - Digo já gritando. - Sem contar com o fato de que na quarta-feira à noite ela estava ótima.

—O câncer atacou de repente, ela morreu dormindo... Ela já havia me pedido antes que não deixasse você participar do velório quando... ocorresse, ela não queria que você a visse no caixão.

Me viro calmamente e ando em direção a escada.

—Você é a pessoa que mais odeio no mundo - digo baixo porque simplesmente não consigo gritar. Mas... Espero que ele tenha escutado.

Meu nome é Thomás Lavorini, tenho 16 anos, estou no segundo ano do ensino médio, sou do signo de Câncer - ironicamente -; e você acaba de conhecer o meu odiado - e total e completamente maluco - pai.


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