Os Jogos não acabam, Klaus escrita por AQuestionadora


Capítulo 12
Capítulo 11 — Uma missão




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— Consegui as passagens — Mags anuncia retornando até a sala. De fato há um tempo encerrou-se a negociação no escritório via telefônica. — Ser uma espécie de celebridade em Panem tem suas vantagens.

— Já? — não deixo de me animar, ergo-a no ar e beijo sua bochecha. — Mags, você é incrível, sabia? — digo soltando-a. 

— Ah — Skirt zomba fazendo bico —, também queria beijinho.

Respondo sua fala com o som do meu riso discreto. Mags cola seus lábios em sua máscara — no exato ponto onde a bochecha estaria revelada se não fosse pelo ocultamento. 

Os dois refazem as malas e arrumam os quartos que habitaram na curta estadia interrompida. Eu mesmo preparo minha própria bagagem, priorizando itens de higiene e uma quantia razoável de dinheiro, quando sou surpreendido por Taurus:

— Você deveria se desculpar antes de ir, filho.

Assinto com a cabeça com palavras engasgadas. Abraço meu pai como uma despedida e ele deseja-me sorte naquilo que designei como missão. Vejo Eros atrás dele e prometo-o trazer algo da Capital, seja um novo brinquedo ou um doce.

— Se você fundar a tal Academia, posso treinar como Carreirista? — pergunta-me.

Avalio meu irmão. Apesar da idade, aparenta ter mais devido a altura e os ombros largos. Ele se sairia bem treinando embora eu estremeça internamente ao imaginá-lo lutando pela vida na arena. Dizem que dois raios não caem na mesma arvore mas opto por não contestar a teoria e respondo:

— Você já vem treinando comigo nos finais de semana há um ano — pela expressão que seu rosto carrega esta parece não ser a resposta esperada, continuo. — Todos devem ter alguma chance nos Jogos — ele sorri como resposta e se afasta do quarto, também desejando-me boa viagem. 

Seguro em mãos os passaportes que Mags imprimiu do site oficial da estação no escritório ao lado. Vejo o horário impresso e no que o relógio da parede indica. Há tempo para uma última despedida.

Guio-me até o quarto dos meus pais e vejo June deitada na cama com fotografias em mãos. As lágrimas estão presentes em seu rosto fresco desfocados pelo sorriso sincero que ela carrega da nostalgia. Encosto-me na batente da porta e delicio-me com a visão.

— Pode entrar — ela me surpreende com seus ouvidos bem apurados. — Eu te ouvi chegar.

Adentro a sala e sento-me na ponta da cama. Minha mãe ri e levanta o tronco para alcançar mais a lateral da cama, oferecendo-me um espaço livre ao seu lado. Aceito e pego uma das fotografias do monte. Logo na primeira página encontro-me aos dez anos segurando um recém-nascido Eros no colo de um modo desajeitado. A fotografia não conta com uma boa iluminação e o dedo que atrapalhou a lente da câmera na ocasião se mostra na lateral da imagem. Meu irmão é um pacote enrolado numa coberta marrom, sem cabelo e os olhos claros fechados no sono. Eu me vejo com os cabelos raspados, os fios loiros espetando o alto sutilmente com uma roupa suja de tinta. Minha mãe apoia o queixo em meu ombro para possuir ângulo e deslumbrar das mesmas fotos que eu.

— Faz tanto tempo — diz. — Você era um garotinho muito agitado. Não queria posar para a foto e só aceitou quando soube que assim eu não o deixaria brincar de patinete — rio com ela, tendo um borrado vislumbre do passado. — Eu sinto falta desse tempo, você precisava de mim.

Largo o álbum de poucas páginas na colcha na altura de nossas cinturas, seguro suas mãos e declaro sinceramente:

— Eu amo você.

— Não tenho dúvidas, Klaus — ela sorri graciosamente. — Mas não precisa mais de mim, pelo menos não como antigamente. Vi na arena quando se mostrou independente. Tenho que aceitar que você não é mais meu garotinho e que, em breve, Eros também deixará de ser. Eu só queria poder cuidar de vocês.

Abraço-a e ela desmancha-se nos meus braços. Quando separamo-nos, Mirian arruma meu cabelo e beija minha bochecha.

— Faça com que estas crianças tenham alguma chance.

— Farei — prometo.

Passo na casa de Bash e apanho-o para a viagem. Seu pai, num roteiro não declarado e padrão, também nos deseja sorte ao convencer o presidente Molina a cerca de nossas intenções para com os Jogos. 

Estamos prestes a sair quando senhor Masonry adverte:

— Devolve a faca, Bash.

— Por quê? Eles não me detectariam como ameaça — rebate. — Você acha que eles pensariam que tenho em mente matar o presidente com uma única faca?

— Não é o desejo de qualquer habitante dos distritos? — seu pai dispara irônico e estende a mão para o filho, aguardando o objeto em questão.

Relutante ele entrega ao seu pai a arma escondida num suporte pequeno na canela. Esse é um dos hábitos que ele adquiriu após vencer os Jogos: andar sempre armado. Por sorte somente meu humor fora afetado e o treino excessivo que me castiga após sentimentos negativos me embalarem. Vejo seu rosto tenso observando cada milímetro quadrado da Aldeia e procuro tranquilizá-lo: 

— Eu tenho um estojo cheio delas em casa.

Percebo os músculos de sua face relaxarem e ele soltar um suspiro. Até mesmo seu punhos são abertos e seus ombros deixam a tensão anterior.

— Obrigado, Klaus — assinto e encaminhamo-nos de volta para minha casa. Taurus o recebe e os dois passam a falar do programa que eles assistem em comum.

Vou até meu quarto de treino e dirijo-me até onde as facas estão acomodadas. Abro a tampa do vasto estojo que ocupa grande espaço da parede. Vejo minha coleção de cem facas reluzir contra a luz que emana do teto. Escolho uma que possui aparência semelhante a que Bash porta normalmente e entrego-o. Novamente ele me agradece e seguimos até a estação acompanhado por Eros.

— Já sabe, né, baixinho? Depois que subirmos no trem, direto para casa, ouviu? — advirto e ele rola os olhos para o apelido que há muito deixara de fazer sentido combinado a repreensão. 

Mags ri com sua expressão e bagunça levemente seus fios loiros. Eros parece relaxar ao seu toque. Sei que meu irmão nutre uma paixão platônica pela garota do distrito praiano. Skirt também nota a mudança de seu comportamento, pois se intromete:

— Melhor esperar uns dez ou quinze anos para investir, Eros — zomba.

Vejo seu olhar constrangido e não deixo de rir enquanto estamos em um banco aguardando a chamada do trem. Finalmente um surge pelos trilhos do local e pelo letreiro identifico seu rumo tendo o Círculo da Cidade da Capital como parada final. Subimos nesse e nos despedimos de Eros.

O abraço e então brinco:

— Quando eu voltar, pode passar a me chamar de Pai dos Carreiristas.


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