A Colheita é um evento anual culpada por vinte e quatro destinos traçados. Os Jogos Vorazes é responsável por vinte e três pontos em um gráfico de baixas.
Em um destino de impossibilidades, Klaus foi escolhido para se ver inserido nessa realidade e num universo maior de improbabilidades, o tributo se viu como vitorioso. A coroa dourada descansa sobre seus fios loiros simbolizando sua sobrevivência numa competição que lhe tirou resquícios de uma vida descomplicada.
Sangue, ordens e decepções são sua realidade única.
Não importa seus esforços dedicados a sair da arena, a arena nunca sairá de si. Os Jogos o marcaram. O ex-tributo percebe que não há lugar em Panem que o poderia acolher melhor que a arena, esse é o lugar destinado aos assassinos. E a morte impregna sua alma de uma maneira que jamais poderá ser revertida.




" — Qual a sensação de saber que agora será o mentor das próximas edições? — o prefeito me resgata do meu transe.

Engulo em seco quando me obrigo a seguir o roteiro proposto, disfarço o desgosto que a realidade me traz em um tom tão vivaz que eu poderia arriscar dizer que o antigo Klaus ainda vive em mim:

— Com certeza será uma grande honra."

Abro os olhos e mesmo com a semiluz preciso forçá-los a se acostumar com o ambiente. A sala é branca e aparentemente não possui portas ou janelas.
Demoro alguns segundos para perceber as algemas em meus pés e punhos. Quando faço menção de me mexer sinto uma faixa de couro pressionar meu peito contra a cadeira. Debato-me até a entrada de um homem que poderia facilmente se passar por morador de algum dos distritos.
Ele nada diz mas caminha até uma das paredes. Somente agora noto um identificador de retinas e digitais. Assim que essas são coletadas a parede se abre revelando materiais de tortura.
— Acho que me sinto mais tradicional — e ele faz questão de ostentar o alicate escolhido. Amarrado não consigo impedir que ele o posicione em meus dedos. — Cinna, não farei jogos com você: preciso que me diga exatamente o que pretendia com aquele vestido.









"— Cinna — sussurro.
— Exato. Ele me fez prometer que não lhe mostraria esse livro até que você decidisse por conta própria ser o Tordo. [...] — Vamos lá, folheie o caderno.
[...] Na última página, embaixo de um esboço de meu broche de tordo, Cinna escreveu: Ainda estou apostando em você"

A Esperança, pág 53

O medo do que está por vir me corrói mas, graças as aulas de oratória, não permito que o sentimento se imprima em meu rosto. Como um presidente, morrerei diplomaticamente. Orgulhoso. Com o olhar firme. Ciente de que entrarei na história.
Panem logo reconhecerá seu erro. Rebelar-se contra o sistema não foi a salvação que eles pensam. Quando a base da pirâmide caí, a tendência é que o núcleo o siga. A população logo aprenderá a lição.
Enquanto isso não ocorre encaro os olhos cinzentos de Katniss e aspiro o frescor da rosa branca em meu peito. O alvo da Tordo.
Então eu sorrio e abraço meu destino.



“Examino seus olhos em busca do menor sinal do que quer que seja: medo, remorso, raiva. Mas encontro apenas a mesma expressão divertida que encerrou nossa última conversa. É como se ele estivesse falando as palavras novamente: 'Ah, minha querida Srta. Everdeen. Pensei que havíamos concordado não mentir mais um para o outro.’
Ele está certo. Nós fizemos esse acordo.
A ponta da minha flecha move-se para cima. Solto a corda. E a presidente Coin desaba na lateral da varanda, mergulhando no chão. Morta.”

A Esperança, página 398 e 399

Soterrado. Procuro em vão uma saída e os dutos me respondem com mais lufadas de poeira. Corro entre os setores mas algo me diz que é em vão. As bombas que explodem sobre a Noz me confirmam o fato. O meu único consolo é que Ares se livrou desse inferno a qual estou submetido.
Isso e o fato de que sei que, agora, o Distrito 2 será incapaz de unir-se na marcha com a Tordo contra a Capital.




— Pense na coisa como se fosse um covil de cães selvagens — continua Gale. — Você não vai entrar lá lutando contra eles. Então você tem duas chances. Prender os cães no local ou obrigá-los a sair de lá.
[...]
— Trilhas de avalanche — diz Beetee entre os dentes. — Pode ser complicado. Teríamos de desenhar a sequência da detonação com muito cuidado e, uma vez começada, não teríamos esperança de controlá-la.
— Não vamos precisar controlar nada se abandonarmos a ideia de tomar posse da Noz — diz Gale. — Só vamos precisar fechar o local.
— Você está sugerindo que a gente desencadeie avalanches e bloqueie as entradas? — pergunta Lyme.
— É isso aí.


A Esperança, página 219 e 220

Na segunda arena, Katniss — aconselhada pelas palavras do mentor — lembra-se de quem é o verdadeiro inimigo. A flecha se desbrava do arco e alcança a fagulha da esperança em uma batalha não declarada. Porém, toda ação vem seguida de uma reação e as consequência são espelhadas em inúmeros campos.
Acompanhe Gale na dizimação do Distrito 12.


"Novamente me torturo com a visão da população do 12 sendo consumidas pelas explosões. Uma parte de mim me manda ignorar e cuidar da minha família — até mesmo vejo minha proteção à família de Katniss como algo insignificante. Embalado num conflito interno ouço gemidos femininos e vejo uma mulher pouco mais velha que eu suspirar seus últimos minutos nos braços de Hank, um velho do meu setor nas minas. Quando ela fecha os olhos percebo o ferimento causado em seu ombro. Sinto a bile se formar mas impeço que ela se expila. Me obrigo a observar o sangue escapar do seu corpo enquanto a carne se mostra enegrecida. Hank espera sua filha morrer em seu colo e então irrompe em lágrimas."