O Andarilho escrita por netobtu


Capítulo 13
Capítulo 13




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            O Homem estava ajoelhado em um pátio, com as mãos ensangüentadas. Sua roupa, manchada de sangue. Segurava, na mão direita, já que era destro, uma das facas do malabarista, que agora jazia deitado ao seu lado, mais imóvel do que nunca, seus olhos inexistentes contemplando o vazio acima de seu ser, esbugalhados.

            Vou contar agora, leitor, como o Homem veio parar nesta situação, neste capítulo de sua vida manchado de vermelho. Esta é, leitor, a parte da existência do Homem onde ele comete seu primeiro assassinato.

            O nosso trio havia andado um bom tanto depois da cabana e acabaram adentrando uma floresta que havia após o deserto, como um oásis, porém de proporções enormes. Aproveitou ali o Homem para tomar um pouco da água fresca de um rio que começava em lugar nenhum e ia desaguar em qualquer mar. O cão também aproveitou para aliviar-se da sede, enquanto o malabarista encostou em uma árvore e ficou ali, fitando a dupla, sentindo um pouco do que chamamos de ciúmes. Foi quando ouviram um barulho vindo do coração da floresta (afinal, floresta é um grande formado por muitos vegetais, portanto, sendo vivo, deve haver uma espécie de coração).

            - O que foi isto? - perguntou o Homem ao malabarista, assustado.

            - Não sei, veio dali. - e apontou para uma direção que não nos é importante.

            O barulho havia sido como um grito, mas não se assemelhava muito a um grito. Faça uma experiência, leitor, pegue uma chave de fenda e raspe em um vidro, talvez produzirá um barulho semelhante.

            - Não gostei deste barulho, vamos sair daqui. - pediu o Homem.

            - Seu desejo é uma ordem. - retrucou o malabarista, fazendo menção de segui-lo.

            Viraram-se para seguir ao sentido oposto do indicado pelo malabarista como sendo a origem do barulho. Andaram fazendo ziguezague pelas árvores, quando ouviram novamente o mesmo som, desta vez o Homem percebeu que vinha da frente.

            - Mas você não disse que vinha do outro lado? - perguntou o Homem, ficando nervoso com o malabarista.

            - Acho que me enganei. Sinto muito. - desculpou-se o malabarista.

            O cão, como não tinha como falar, rosnou, latiu e saiu correndo em direção ao barulho, nem dando chance para o Homem exclamar um "Não, cachorro burro, volte aqui!", que ficou engasgado em sua garganta.

            - Rápido, vamos atrás dele! Me dá uma das suas facas, vai saber o que tem ali na frente! - pediu o Homem, arfando de nervosismo e medo.

            - Vamos sim, vá guiando. - disse o malabarista, entregando uma das facas para o Homem.

            E o Homem saiu em disparada, a faca na mão direita bem segura, com o malabarista às suas costas. Eles conseguiam ouvir as patas do cão remexendo as folhas secas caídas no solo da floresta e o Homem tentou se guiar nisto. Ele virou a cabeça para trás tentando encontrar seu companheiro (agora companheiro de caça a um ser que produz um barulho medonho e de salvamento de um cão), porém o malabarista havia sumido e, quando o Homem percebeu isto, ele tropeçou em uma raiz de uma grande árvore e caiu.

            - Merda! Mas que droga, onde está aquele palhaço? Me deixou sozinho aqui, agora eu não sei mais de onde vem o barulho, não ouço mais o cão! - exclamou ali, sentado depois da queda, para si mesmo (e para algumas árvores que provavelmente, se falassem, diriam para ele gritar um pouco mais baixo, pois estava causando constrangimento entre elas).

            Levantou-se e ouviu o barulho, desta vez mais perto, alguns passos à frente. O Homem correu, mesmo com um dos pés torcidos devido ao tropeção de antes e adentrou uma ruína. "Só pode ser deste lugar pavoroso que veio este barulho, deve ser um antigo lugar de tortura, só pode.", pensou o Homem, tendo visões horríveis do que estaria acontecendo com seu cão.

            A ruína era cercada de pilares e não havia teto e a mata já começava a tomar posse dela. Talvez fosse algum templo antes do seu abandono, tinha cara disto. Mais à frente, havia uma figura alta e magricela, vestida com um sobretudo preto e encapuzada. Tinha o malabarista preso pelo pescoço em uma das mãos (percebe-se aqui, leitor, que todos gostavam de pegar o malabarista por esta parte do seu corpo). Em seu outro braço havia uma grossa peça de metal pontiagudo acoplada, como uma espada, porém se assemelhava mais a uma agulha, que agora estava perfurando o corpo de sua vítima.

            - Não! - gritou o Homem.

            E correu com a faca erguida, até alcançar a figura e apunhalá-la por cerca de dezoito vezes nas costas, o sangue jorrando para todo o lado, sujando sua mão e sua roupa de sangue, bem como seu rosto. O ser agora jazia no chão, a roupa negra toda manchada de sangue.

            O Homem, então, correu até o malabarista e se ajoelhou ao seu lado e foi neste ponto que começou a narração desta parte da nossa história, leitor.

            - Não é possível que você morreu! - as lágrimas começavam a escorrer dos olhos do Homem, sem que ele percebesse.

            - Não, eu não morri. - disse o malabarista, agora olhando para ele - Mas que eu lhe preguei um belo susto, eu preguei não?

            - Seu imbecil! Como faz isto comigo? - disse o Homem, num misto de raiva e felicidade - Quem era aquela coisa que eu matei? Meu Deus, eu matei...

            - Era um tipo que enlouqueceu e vivia por aqui, pelo jeito.

            - O cão, cadê o cão? - e assoviou, ao passo que veio correndo seu companheiro canino, lambendo-lhe o sangue das mãos. - Como você não morreu? - perguntou ao malabarista.

            - Eu... não posso morrer assim. Não tenho alma, eu acho. Veja. - e cortou os pulsos com a faca usada pelo Homem, ao passo que não saiu sangue e ele não teve reação alguma.

            - Que esquisito. Então você é imortal?

            - Na verdade, sou e não sou. Você é o único que pode me matar. - finalizou o malabarista, continuando deitado, apreciando o luar.


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