Uma bela coincidência escrita por irritabiliz0u


Capítulo 30
30 - Ela


Notas iniciais do capítulo

ÚLTIMO CAPÍTULO, CHOREMOS.
ME DIGAM SE QUEREM QUE EJ FAÇA UMA PLAYLIST DE MÚSICA DELES E LIBERE COMO EU IMAGINO OS PERSONAGENS.



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Elizabeth começa a desfilar pelo tapete vermelho afim de chegar ao lado de Samuel, que sorri falsamente. Se eu fosse um desconhecida acharia essa cena uma das mais lindas já vistas, mas quando Samuel sorri parece que escorre veneno por suas presas, opa, dentes. Elizabeth começa com seus votos, sorridente e ás lagrimas, segurando a mão do marido.

–Hoje é mais um dia especial em meio a tantos que passei ao lado desse homem. Estou junta a Samuel desde quando eu não tinha nem 5 reais no bolso e morava em um barraco, foram poucas e boas mas hoje venho dizer o quanto aceitaria milhares de vezes passar o resto da vida ao seu lado e que o amo mais que eu mesma. – Todos batem parabéns e ele se posiciona para dar o seu voto. Estou felicíssima por Elizabeth mas Samuel me dá nojo. Eles se "casam" novamente e começa uma das seções do casamento, as danças.

–Vamos? – Pergunto para Rafael que fica sem graça e sem saber o que fazer. Seu maxilar fica tenso e ele pálido.

–Mas eu não sei dançar.

–Não tem problema, eu te ensino.

Puxo-o pelos dedos até o centro do salão de dança que começa com a dança do casal principal mas logo todos se dispersam. A música começada a tocar é Poison & Wine da banda The Civil Wars, uma das minhas favoritas pela letra ser linda e o significado também.

–Só relaxa Rafa. – Fico de frente do seu corpo, pego seus braços posicionando na minha cintura e eu coloco os braços sobre seus ombros, começando a balançar de um lado para o outro de leve.

–Viu é fácil.

–Me perdoa se eu pisar no seu pé.

–Depois você faz massagem – Rio dele. Rafael não bebe mais, não desde que saiu da reabilitação. Ainda é difícil para ele ter que agir normalmente em meio a todos mas eu consigo ajuda-lo a passar por tudo da melhor maneira. Ficamos assim por alguns versos e eu encosto minha cabeça em seu peito, parecendo assim que o mesmo relaxa.

–Me perdoa?

–Como? – Me afasto ficando na posição original.

–Por você não ter conseguido ser normal. Voltou pra o Brasil querendo retomar sua vida e ser mais normal que a dor podia lhe fornecer mas eu só consegui trazer ainda mais angustia. – Ele não me olha nos olhos e isso só faz com que meu coração se derreta, as vezes tenho medo de estar sendo enfeitiçada por ele e não conseguir depois sair disso. "O amor é cego" como diz algumas pessoas.

–Ei moleque, deixa disso. Por mais que eu nunca tenha sido convidada para jantar de forma digna com você, ou nunca tenhamos ido ao cinema, você me trouxe uma das melhores experiências que eu nunca vou esquecer, espero que traga ainda mais. Pode tirar essa coisa de perdoar e de não ter conseguido ser normal, pois nessas alturas eu não gostaria de me tornar "comum", como os outros, eu amo você.

Ele assente com a cabeça e ficamos lá em silêncio, aproveitando o momento. Confesso que uma pequena lagrimazinha desce, de receio por ele não ter falando "eu também te amo", mas logo esqueço e me distraio conversando com umas pessoas.

***

–Hora do buquê garotas, vamos ver quem vai ser a sortuda!

As mulheres começam a se amontar em um bolo e dou um beijo no Rafa antes de me juntar as outras. Ele sorri mexendo a cabeça em negativo mostrando o quão tolice é acreditar nessas coisas, saio rebolando pra mostrar o quanto ele não tem poder total sobre mim.

–UM! – Elizabeth se vira ficando de costas, finge que vai jogar o buquê e sinto que algo de ruim vai acontecer.

–DOIS! – Mulheres de todas as idades, etnias, tamanhos se juntam, e confesso, brigam por espaço e eu olho ao redor para ver se tem alguém me olhando, tive essa sensação o dia inteiro. Que estranho.

–TRÊS! – Elizabeth por fim joga o buquê de rosas e após isso parece que tudo acontece em câmera lenta. As flores se explodem caindo deploravelmente no ar e ao mesmo tempo som de tiro que faz as pessoas se abaixarem.

Faço o mesmo que elas procurando Rafael com os olhos, mas nenhum dos caras que aparecem invadindo os arredores do jardim nos permite se mexer.

–ISSO É UM SEQUESTRO! FIQUEM TODOS QUIETOS E COLOQUEM AS MÃOS AONDE PODEMOS VER. – Dou uma olhada para trás e vejo que um deles está segurando uma arma enorme automática e sobre a cabeça tem uma fantasia de porco. Em contraste com o sol parece ser de borracha e obviamente é para esconder a identidade. Os outros têm outros animais sobre a cabeça.

–AONDE ESTÁ CATHERINE EARNSHAW? – puta que pariu, o que eu fiz?

–EU PERGUNTEI. ONDE ESTÁ CATHERINE EARNSHAW? – ninguém responde apenas ficam olhando de rosto para rosto, eu só consigo prender a respiração com medo. Catherine, sua família ensinou que você não pode ficar refém do medo. Seja forte.

–VOCÊ AÍ? QUER SE ACHAR O ESPERTALHÃO E LIGAR PRA POLICIA? – O chefão de tudo aponta uma arma normal, digo, pequena, para o cara e depois ouvimos mais disparos e gritos desesperados. Depois o corpo dele cai sem vida.

–MAIS ALGUÉM QUER SE JUNTAR A ELE? SEM MORTES, ENTREGUEM A CATHERINE.

As pessoas começam a se remexer até que uma das mulheres começa a me entregar gritando o meu nome. Apareço no meio da multidão me tremendo de medo mas não deixo transparecer e encontro o olhar com Rafael desesperado mas em silêncio. Ah meu amor, desculpa, nem eu sei o que fiz. Olho para a minha bolsa na mesa indicando que há algo de útil para usar.

–O que você quer de mim?

–Peguem ela. – Vários homens chegam mais próximo de mim e eu aponto para não chegarem mais perto. Um espertinho tenta vir por trás mas eu dou uma rasteira com o pé fazendo-o cair, haja equilíbrio pra fazer isso no salto. Tiro o sapato e começo a observar os outros se aproximando. Dou uma cotovelada no nariz de um e depois bato sua cabeça de encontro ao outro, olho para Rafael já se encontra lutando com um deles, o chefe que se sente o centro das atenções sorri diante a cena mas não se mexe. É questão de milésimos de segundos, só consigo sentir uma pontada no meu pescoço, como se fosse uma agulha. Olho para Rafael de forma suplica, que se encontra preso por um deles, depois minha visão fica turva por fim apagando totalmente.

Ele

–SOLTA ELA CARALHO! – me debato no chão já que tem um cara me bloqueando de ficar em pé.

–Oh não, acho que hoje a noite não vai ter competição de quem é mais safado. Você não vai poder come-la, quem sabe eu né? Vamos homens. – Ele chama o resto da gangue e o cara que está segurando meus braços é o último a sair. Catherine sai desmaiada nos braços de um, sem expressão e com um braço caído ao lado do homem três vezes o seu tamanho.

–Não, não, não, não. – Desabo em prantos e desespero. Não pude fazer nada para salva-la, fui um covarde. Fiquei aqui deitado. Levanto procurando Alyssa, preciso dela agora. Ignoro os olhares, os murmúrios de "ele está bem?", "nem consigo imaginar a dor dele". Realmente, vocês não entendem porra nenhuma da dor que estou sentindo. Sinto a caixinha do anel no meu bolso pesar e ignoro o pensamento de como ia fazer o pedido. Foram horas tentando procurar o ideal e dias para gravar as batidas vocais de quando ela diz "amo você". Não, não. E se eu nunca mais ver Catherine?

–Alyssa? – minha voz sai suplicante para o nada.

–Rafa! – Minha irmã aparece com o rosto mais vermelho que o meu. A maquiagem está toda borrada e Alyssa não consegue pronunciar uma palavra sem soluçar.

–Tenho que te contar uma coisa. – Ela avisa por meio de gemidos e soluços.

–O que mais pode ser ruim? Alyssa, levaram a Catherine. – Minha mágoa começa a se transformar em raiva.

–Eu comecei a brigar com o papai, joguei umas coisas na cara dele, ele na minha, por fim ele me pressionou contra a parede e... – As piores coisas que aquele pervertido pode ter feito com Alyssa vem a mente mas ela logo completa - Somos adotados Rafael. – Alyssa diz fechando os olhos e eu não consigo mais dizer nada. Seus lábios vermelhos (por conta do choro e o batom) se contraem mostrando que vai chorar ainda mais.

Puxo-a abraçando, tentando dividir a minha dor. Mesmo que seja impossível. Pela primeira vez não me importo com que me vê desse modo, Catherine é a segunda coisa pela qual me mataria para salvar, a primeira só vem se tornar Alyssa.

–Desculpa... – Ela funga no meu peito.

–Tudo bem sweet. – Ela começa a chorar ainda mais relembrando do apelido de quando éramos crianças. Sei que por hora eu deveria me preocupar por não ter uma família de verdade, dessas coisas que se chamam de seres humanos civilizados não serem minha família, mas sinto m alivio que nunca senti antes. Mas como se eu não pudesse ficar calmo por um segundo, Catherine inconsciente me torna a mente lembrando que não fui o suficiente para proteger quem eu amo com todas as forças.

E pra completar eu nunca disse isso a ela. Não com todas as letras "eu te amo".

Ela

–Acorda vadia. – Sinto uma forte ardência no meu rosto, como se alguém tivesse me batido, e é aí que eu me dou conta que fui sequestrada. Começo a analisar o que tem fora das janelas, mesmo que bem pequenas. Só prédios distantes, devemos estar em algum tipo de prédio abandonado. Meu vestido está sujo e um pouco rasgado mostrando parte da minha calcinha.

–O que você quer de mim? Por que me sequestrou?

–Me admiro você não gritar.

–Assisti muita série pra saber que é inútil.

–Uma patricinha como você... Nunca imaginei que aquela garotinha agora é você e é filha do Ricardo. – Como você sabe o nome do meu pai? Aquela garotinha?

–Como ass... – E é aí que me dou conta de quem é esse homem. Quando eu era mais nova, tipo uns 7 anos, ele aparecia pela noite na minha casa e eu ficava espiando pelas escadas ele conversar, ou brigar, com meu pai. As memórias dele quebrando tudo na minha casa vem a tona, como quando Rafael bloqueou suas memórias da suposta morte de Melanie.

–Tu sabe quem eu sou agora né? Agora me diz: onde você escondeu o meu dinheiro. – Sua boca está próxima do meu ouvido e eu consigo sentir ainda assim o bafo excruciante que dá vontade de vomitar.

–Não sei de que dinheiro está falando.

–Você sabe sim do que estou falando garota. – Ele põe uma mão em uma das minhas coxas e na outra aponta uma faca. Seja forte menina, começo a pensar quando eu voltar pro Rafa.

–Eu. Não. Sei. De. Que. Dinheiro. Você. Está. Falando.

–Mais uma chance mocinha. – Por eu ficar quieta ele passa a lamina afiada fortemente na minha coxa, na qual começa a sangrar compulsivamente. O meu grito sai agonizante, cheio de dor, depois me permito chorar. Como se já não bastasse eu ter perdido meus pais, meu irmão, ver minha melhor amiga entrar em coma, passar oito meses sofrendo por Rafael, as vezes que a gente brigou, com ou sem motivo, ainda tenho que aguentar um psicopata querer me mutilar, ou pior, me estuprar, falando de algum dinheiro que não faço ideia do que é, de quem.

Lágrimas completas, inundadas de dor começam a se misturar com as de remorso, de tristeza, medo, saudade. Cadê o meu idiota, meu príncipe desajeitado e grosso quando eu preciso dele? Sei que nada disso é sua culpa, minhas lagrimas não são causadas por ele, mas me dói e sinto medo de morrer, morrer sem me despedir (algo que também doeria à minha alma) e medo de ir sem dar a certeza de que ele me fez, ainda faz, feliz. 


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Notas finais do capítulo

LEIAM O AVISO ANTES DO CAPÍTULO.



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