5. Espinha de peixe            

Nadder sorria para mim, parecia tão irreal, não estávamos em uma missão, não havia riscos ou preocupações pela primeira vez desde que nos encontramos nesse mundo perdido. E como ela me encontrou ou eu a encontrei nesse mundo tão grande não me importa, fora a minha primeira amiga em tanto tempo... Acabou por se tornar alguém especial para mim e uma sensação boa me vinha quando ela estava por perto.

            - Você é mesmo cabeça dura – Ela ria.

            Gostaria de saber o que sequer eu teria dito para fazê-la gargalhar, admito que de uns tempos pra cá parece que estou tendo uma “quedinha” por ela, mas nada que eu não saiba que não vai durar... Estávamos observando Berk do alto, o horizonte tinha o seu tom alaranjado atrás da garota que lhe dava as costas só para olhar para mim. Eu estava sentado sorrindo pra ela já meio sem graça.

            - Então - Nad faz uma pausa sentando ao meu lado - realmente acha que nós seremos parceiros pra sempre?

            - Ora, com certeza. Fúria da Noite e Nadder Mortal foram parceiros durante anos através de várias gerações, por que conosco seria diferente?

            - Minha guardiã também me disse isso... – Ela fita o horizonte.

            Parecia que estávamos conversando há horas, tudo estava tão em paz, eu não tinha nenhum compromisso pelo qual devesse correr ou alguém tentando nos matar, parecia bom demais para ser verdade...

            Nad deita a cabeça no meu ombro enquanto assistíamos o sol se pondo, o barulho das crianças e das pessoas conversando ali perto, rindo como se nada de mal pudesse acontecer, era a nossa pequena melodia.

            - Parceiros... – Sorrimos.

         Bip

         Bip

         Foi tudo um sonho...

         Bip

         Um bom sonho.

         Bip.

         Do qual eu realmente não queria acordar depois de ter passado a noite lutando contra aquele Nanodragão, Skeleton fora complicado e eu ainda estava me sentindo exausto, totalmente dolorido, quase morto de cansaço. Poderia descobrir a identidade da Nadder apenas procurando pela garota mais exausta dessa cidade...

         - Bom dia, Banguela – Bocejo.

         O dragãozinho espreguiça-se sobre meu peito cobrindo os olhos com as orelhas, eu o ponho sobre a cama quietamente e deixo que os pequenos raios de sol da persiana o acordem enquanto eu tomo uma ducha.

         Enquanto me visto noto que não consigo parar de pensar sobre tudo o que está acontecendo, sobre todas as mudanças, chegava a ser repetitivo mesmo tendo a mesma rotina.

         Banguela parecia tão em paz durante as manhãs, detestava ser obrigado a falar quando acordava então eu tinha de esperar até que ele arrumasse coragem de abrir a boca, era engraçado da parte dele. O dragãozinho engatinhava até a minha bolsa em voos baixos e sonolentos enquanto aproveitava o friozinho daquela manhã.

         E antes de dormir dentro da minha bolsa ele finalmente responde:

         - Bom dia, cenourinha.

         Nicole pontualmente bate na minha porta com minha agenda discutindo sobre todas as coisas que eu teria de fazer naquela semana agitada, todas as minhas aulas, mais deveres de casa do que nunca, sem tempo livre... Fiquei desanimado logo de manhã.

         Tomo meu café sozinho, pois meu pai preferira dormir até um pouco mais tarde e vou pra escola onde encontro Asgard já me esperando com Heather na porta da frente como sempre fazia e íamos para aula logo em seguida conversando sobre uma vida normal que eu não tinha.

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Uma semana mais tarde...

— Não enche, Perna de Peixe – Diz Asgard afastando uma de suas mechas loiras dos olhos – Já deu para entender que você é um especialista no assunto, mas preciso me concentrar nessa música, cara!

         Perna de Peixe não parava de compartilhar suas ideias e teorias sobre os heróis que protegiam a cidade, eu mesmo tentei decorar algumas coisas para levar para o laboratório mais tarde, ele realmente parecia feliz com a proteção que nós concedíamos. Aquele tipo de adoração era uma das mais valiosas aos meus olhos.

         - Você deveria compartilhar suas ideias com a Heather, ela não tem um blog sobre os heróis? – Pergunto.

         - Ah... – Perna de Peixe suspira – Ela disse que somente evidencias concreta ou oficial iriam para o público e eles ainda mal foram filmados direito... Seu obtivesse imagens, todo o trabalho seria mais fácil...

         - Deixa de ser trouxa, Perna de Peixe! – Melequento interrompe – Nem com todas essas suas anotações e desenhos você seria tão fã quanto eu! Eu e o Fúria da Noite somos praticamente irmãos de outra mãe!

         Eu realmente estava sem paciência com Melequento, mas preferi apenas ficar na minha, caso alguma coisa acontecesse eu poderia interromper.

         - Você por acaso sabe o torna tão especiais, Melequento? Sabe ao menos o porquê de sermos atacados?

         - Se o Fúria da Noite está aqui junto com a parceira que ninguém nem viu direito, por mim já significa que está tudo bem.

         Os dois começaram uma discussão, fiquei feliz por Perna de Peixe parecer calmo e superior à situação e não uma criança boba como Melequento.

         Asgard me chama a atenção e faz um sinal para nos afastarmos.

         - Eu os chamaria de malucos se minha namorada não estivesse na mesma situação que eles.

         - Heather?

         - É – ele confirma – Ela está atrás de respostas também, assim como todo mundo. Tento ajudar ela como câmera às vezes, mas filmá-los ou vê-los parece impossível, quase ninguém sabe como eles são direito, parecem riscos quando estão lutando – Asgard dá de ombros.

         Nunca tinha parado para pensar nisso, realmente parecia que o mundo passava mais lentamente quando estávamos lado a lado, eu e Nadder salvando as pessoas... É bom saber dessas coisas...

         - Que sorriso bobo é esse, cara? – Asgard me dá um empurrão leve para me chamar atenção – Uma garota?

         Não evito rir.

         - Você sabe que sãos os primeiros amigos que eu já tive na vida, não conheço nenhuma garota, Asgard.

         - Heather me apresentou sua amiga nova, ele acabou chegar de fora. O que diz? Vou te apresentar a ela e daí nossa panelinha vai estar mais equilibrada.

         - O que foi Heather está se sentindo meio sozinha por acaso?

         - Você ainda não a viu? As aulas já começaram a duas semanas! Você anda realmente focado na aula, hein?

         Conversamos por um bom tempo e, antes que eu pudesse pensar, vejo Melequento com o livro dos heróis de Perna de Peixe que corria atrás dele recolhendo os papéis que caiam deste.

         Acidentalmente, a brincadeira acaba indo longe demais e o livro acaba caindo no bebedouro e o material que Perna de Peixe havia escolhido para o caderno não era nada resistente à água, nem mesmo a tinta que ele usara para escrever escapou do bebedouro.

         - Melequento! – Perna de Peixe gritou – Eu demorei meses para confeccionar isso, perdi muitas coisas para me dedicar a esse livro!

         Eu e Asgard trocamos um olhar já sabendo o que fazer. Tentamos nos aproximar da briga enquanto Perna de Peixe gritava totalmente frustrado, mandamos Melequento ir passear recolhendo os papéis que ainda restavam no chão, mas quando vimos, Perna de Peixe havia desaparecido.

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Eles não entendem o seus sentimentos... Não entendem o que você sabe, o poder que tem, meu jovem.

Eu posso lhe conceder poder necessário para que, juntos, sabemos de tudo sobre os heróis... O que me diz? Temos um acordo? Poderes em troca de sua sabedoria?

— Quem é você?

Não há o que temer, eu também sou um grande fã do Fúria da Noite, sabe? O trabalho dele simplesmente me fascina...

O que me diz?

— Eu aceito.

A partir de agora você se tornará “Encyclopedium” e eu, Drago Sangue Bravo, serei seu mestre.

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         - Eu a conheci ontem, nós três conversamos um bom tempo – Dizia Asgard enquanto esperávamos Heather e sua amiga na saída.

         Ele me contava como a conhecera, mas não mencionou sequer o nome dela ainda. Aquilo era meio estranho, parecia que ele aprontava alguma coisa, posso sentir isso...

         Mas algo ao longe nos chamou atenção, muitas pessoas correndo numa mesma direção e os repórteres corriam na direção oposta ao que o povo fugia.

Drago atacou novamente!

Heather apareceu na saída com uma câmera e um microfone puxando Asgard pela mão, não teve tempo de falar nada.

— SIMBORA, ASGARD!

Levei um susto diante daquela cena.

— Ei, garoto! Não temos pessoas para salvar? – Banguela fala de dentro do meu bolso.

— Ah, é!

— Seres humanos...

Corro para o vestuário vazio da escola.

Banguela sai do meu bolso mastigando sushi que ele deve ter pegado da minha bolsa enquanto eu estava distraído.