Bicho-papão. escrita por Secret


Capítulo 17
Doce.


Notas iniciais do capítulo

Feliz dia das crianças!
Não me matem!



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   —O quê? — Gabriel levou alguns segundos para processar a pergunta e, quando o fez, chegou perto de entrar em pânico. — Ah, não, claro que não. Você me conhece, sabe que eu nunca me interessei por ninguém. — Ele falou um pouco rápido.

Mentir era a melhor opção, certo? Afinal, ele não podia sair por aí falando do bicho-papão, não queria ser chamado de louco! Além do mais, não era completamente mentira. Daniel realmente sempre esteve consigo e sabia com quem ele andava, ou melhor, que ele não andava com quase ninguém. Era algo fácil de acreditar.

—Hm, tá bem. Se você diz. —Ele não teve certeza se Daniel realmente acreditou ou apenas não queria discutir. — Acredito em você. — Completou com um sorriso doce.

Gabriel retribuiu o sorriso o melhor que pôde e os dois começaram a conversas sobre qualquer coisa que viesse a mente, apenas passando o tempo até chegarem à escola. Ainda de mãos dadas. Ninguém parecia se importar muito com aquilo, às vezes havia uma risada daqui ou um comentário sussurrado dali, mas apenas isso. Na verdade, algumas pessoas pensavam que os dois sempre namoraram, já que só andavam juntos, então se “assumirem” não foi algo realmente impactante.

Assim que chegaram à sala, faltando ainda uns bons minutos para o início da aula, eles se sentaram nos lugares de sempre e conversaram... Bem, tecnicamente, Daniel conversou e Gabriel se limitou a responder ou comentar uma parte ou outra, mas suas conversas sempre foram assim, então por que seria diferente agora? Gabriel apenas não era uma pessoa muito comunicativa, e Daniel entendia isso, certo? Por isso se davam tão bem.

Algum tempo depois, os últimos alunos chegaram, entre eles André, que sempre era um dos últimos a entrar na sala. Assim que ele entrou na sala, as conversas cessaram por um instante e todos os olhares se voltaram para o valentão, a má fama tem esse efeito nas pessoas... André pareceu ignorar essa atenção exagerada, provavelmente acostumado com ela, e foi até seu lugar sem dizer uma palavra e mirando o chão. Gabriel estranhou já que, em geral, André lançava um olhar meio... Hostil para ele e Daniel assim que os via. Mas assim era melhor, não? Uma preocupação a menos.

— Ei, tudo bem? — Daniel tocou seu rosto gentilmente. — Você está com aquela cara de novo.

—... Quê? Que cara?

— Ah, você sabe. Você estava meio pensativo, como se não estivesse nesse mundo. — Ele riu. — Eu sei que você se distrai fácil, mas assim é demais! — Brincou e deu um soco de leve no ombro do garoto, como que para deixar claro que não era uma crítica séria.

— Ah, foi mal. Me distraí. — Gabriel sorriu sem jeito, e sem saber ao certo o que mais dizer.

— É, percebi... O André ainda te incomoda? — Perguntou casualmente, ainda sorrindo, e Gabriel não conseguia dizer se havia ou não segundas intenções na pergunta.

— Uh? Não. Claro que não. Está tudo ótimo! — Disse rapidamente, quase por reflexo. Por algum motivo, o garoto não gostava da ideia de reclamar sobre o André com Daniel. O que era estranho, já que ele fazia isso frequentemente quando ainda eram apenas amigos... De alguma forma, algo havia mudado nesse meio tempo.

— Que bom! — Ele exclamou. — Então... Você viu aquele filme na TV ontem? — Mudou de assunto e começou a descrever as cenas de ação e falar da história do tal filme. Gabriel apenas sorriu e assentiu, ele não viu o filme, mas gostava das descrições animadas de Daniel e dos gestos exagerados que ele fazia para descrever as lutas. Esse era um dos motivos para se darem tão bem, Daniel conseguia manter as conversas animadas sem que Gabriel precisasse falar muito ou responder o tempo todo.

Algum tempo depois, o professor entrou na sala e as conversas cessaram. Gabriel tentou se focar na aula, mas seu cérebro insistia em pensar em André. Por algum motivo, o valentão parou de atormentá-lo depois que assumiu seu namoro com Daniel. Isso era bom, certo? Agora ele podia andar pelos corredores sem se preocupar se o encontraria ou não... Mas, quando se lembrava da cena que viu naquela festa algum tempo atrás, acabava se preocupando. Algo parecia errado.

— Oi... Terra chamando Gabriel. — Ele sentiu Daniel cutucando seu ombro de leve repetidamente.

— Hm? Que foi? Algum problema? — Sussurrou e se virou um pouco para trás, esperando que o professor não percebesse a conversa.

— Me diz você. — Daniel sussurrou de volta. — O professor mandou abrir o livro há uns dez minutos e você ficou aí encarando o nada.

— Ah... — Gabriel não soube mais o que dizer. — Foi mal, tava distraído. Valeu por avisar.

— Sem problemas. Mas tenta ficar nesse mundo, pelo menos durante a aula. — Brincou. — E é melhor começar a fazer o exercício da página 55.

— Ok. Valeu.

                *

Algumas aulas depois, o sinal tocou anunciando o recreio e a sala se esvaziou rapidamente, até que só restaram Daniel e Gabriel. O primeiro já com o lanche em mãos e o segundo procurando o dinheiro na mochila, como Lucas não estava mais cuidando de Gabriel, o garoto recebia dinheiro para comprar algo na cantina em vez de levar lanche de casa. Mas isso não o incomodava, já estava acostumado, afinal, sabia que sua mãe não tinha tempo para preparar algo com antecedência como seu irmão. E a comida da escola  não era ruim.

                — Então, achou? — Daniel perguntou depois de alguns minutos, enquanto Gabriel ainda revirava os bolsos da mochila.

                — Ainda não, mas eu sei que tá aqui em algum lugar! Eu jurava que tinha deixado nesse bolso! — Ele retrucou. Sabia que havia jogado o dinheiro por ali, mas onde? — Sabe, se quiser,pode passar o intervalo sem mim. Eu ainda vou ter que descer e ficar na fila para o lanche, talvez seja melhor ficarmos sozinhos só dessa vez.

— Hm... Tá bem, se é o que você acha melhor. — Daniel sorriu, mesmo parecendo meio contrariado, e se despediu com um beijo na bochecha e um “até logo”.

  Depois de algum tempo mais revirando a mochila, Gabriel encontrou a nota de 10 reias que sua mãe lhe deu.

— Achei! — Exclamou para si mesmo e sai em disparada pelo corredor. Era melhor correr se ele quisesse comprar o lanche a tempo! A essa altura, a fila já devia estar enorme!

— Ei! Parado aí! Você não pode correr nos corredores! — Ótimo! Parado por um dos monitores do corredor! Agora que ele não conseguiria comprar o lanche mesmo! Assim que Gabriel se virou para dar uma desculpa qualquer, se deparou com Vanessa. — Ah! É você. — Ela emendou sem nem dar tempo de ele começar a falar, e Gabriel jurava ter sentido um tom  de decepção em sua voz.

— Oi, Van. — Ele tentou sorrir casualmente. — Vou levar advertência? — Perguntou já estendendo a mão para recebê-la. Por mais que Vanessa fosse sua amiga, ela dizia que “o dever vinha em primeiro lugar” e não costumava aliviá-lo sempre.

— Não. Pode ir. — Ela desconversou, já fazendo menção de ir embora. — Tudo bem.

— Ei! Espera! — Ele exclamou e ela o encarou. — Eu fiz algo errado?

— O quê? Não! Claro que não! — Ela sorriu sem jeito. — Tudo bem , pode ir.— Então porque você está tão estranha co— Gabriel parou de falar ao notar que ela já estava se afastando, balbuciando uma desculpa qualquer que precisava checar outros corredores ou algo assim, e sequer esperou uma resposta. Logo ele estava sozinho de novo.

O garoto suspirou chateado. Vanessa parecia o evitar desde que descobriu seu namoro com Daniel... Será que ela não gostava mais dele? Não queria mais que fossem amigos? Seus pensamentos foram cortados quando ele se lembrou do horário. Faltavam uns cinco minutos para o fim do intervalo e ele ainda não comeu nada! Melhor correr e deixar isso para depois.

Quando Gabriel chegou ao pátio, grande parte dos alunos já estava voltando para a sala, e ainda havia uma pequena fila de pessoas comprando salgados e sucos. Ele foi para o fim dessa fila esperar, mas, pouco antes de chegar sua vez, o sinal tocou. Hora de voltar para a sala! Sem exceções.

Ele resmungou algo para si mesmo, mas acabou se resignando e voltou para a sala de estômago vazio. Isso era para aprender a guardar direito o dinheiro! Ele gastou tempo demais procurando! Assim que voltou à sala, encontrou Daniel sentado na carteira o esperando e, assim que o viu, sorriu docemente para Gabriel:

— Oi! Então, conseguiu comprar seu lanche?

— Não... Demorei demais. — Gabriel deu e ombros, tentando não demonstrar que isso o chateou.

— Ah, que pena... — O sorriso do outro sumiu, mas voltou pouco depois. — Sorte que eu guardei isso para você! — Sorriu e entregou um pacote de biscoito para Gabriel, apesar de estar aberto ainda havia uns três ou quatro biscoitos restantes.

— Uau! Obrigado! — O garoto exclamou agradecido e pegou o pacote. Pelo menos comeria algo!

— Disponha. Sei que é difícil comprar lanche aqui, a fila é enorme! — Riu. — Então... Agora é aula de quê?

— Química, eu acho. — Gabriel respondeu com a boca cheia.

— Ah tá.

*

Depois das aulas acabarem, Daniel se ofereceu para levar a mochila de Gabriel, como sempre, e os dois foram conversando até o pátio. Bem... Gabriel não estava realmente prestando atenção, mas respondia meio mecanicamente. Seus pensamentos estavam em Vanessa e no modo que ela agiu mais cedo no intervalo.

Além de Vanessa, havia Lucas. Eles não se encontraram mais desde que o mais velho voltou para a casa do pai, o que era até comum, já que raramente se viam na escola, mas Gabriel continuava incomodado. Era a primeira vez que ele brigava com seu irmão por tanto tempo... O que devia fazer? Procurá-lo para conversar? Deixar isso para lá e esperar as coisas se ajeitarem sozinhas? Falar sobre isso com alguém? As palavras de Lucas continuavam em sua mente. “Desgosto...” Aquilo foi cruel!

—... E você não está realmente me ouvindo, né? —Gabriel ouviu apenas o fim da frase de Daniel. E foi o bastante para chamar sua atenção.

— Hm? Claro que estou! — Ele tratou de se defender.

— Não, não está. — Daniel não parecia chateado com isso, nem com a mentira. — Tudo bem, qual é o problema? Parece preocupado. — Sorriu de forma doce.

— Não é nada... — Se esquivou, recebendo um olhar cético do outro. — É só a Vanessa.

— Ah, a sua amiga? O que houve? Ela está com algum problema? — Daniel pareceu realmente preocupado, e Gabriel pensou se realmente o merecia como namorado. Daniel se preocupava com os outros, era doce, gentil e confiava nele, e em troca ele mentia e sequer ouvia o que Daniel dizia na maior parte do tempo!

— Não, ela está bem... É só que ela está estranha desde que descobriu nosso namoro. Meio que me evitando, sabe? — Admitiu.

— Que pena. — Gabriel sentiu uma mão em seu ombro. — Mas não se preocupe, se ela realmente é sua amiga, vai te aceitar e superar isso. — Ele sorriu confiante.

— É, tem razão. — Ele sorriu de volta, mesmo que não totalmente sincero. — Mas... E se ela não for? — Sugeriu o pior.

— Ora, se ela não for, não merece sua amizade. — Daniel declarou e envolveu seus ombros numa espécie de meio abraço enquanto andavam.

Quando chegaram ao pátio, Gabriel pegou sua mochila de volta e deu um selinho de despedida em Daniel. Ele já estava saindo quando Daniel o chamou de volta:

—... Ei, Gabe, espera. — Ele parecia hesitante.

— Ah? Que foi? — Gabriel se voltou novamente para ele.

— É que... Eu queria te pedir uma coisa, mas não sei como.

— O quê?

— Bem... — Ele olhou para o chão, sem jeito. — Amanhã meu pai tem um compromisso e vai passar a noite fora, e eu não queria ficar sozinho, então... Será que eu posso dormir na sua casa?

 


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Notas finais do capítulo

Vou começar respondendo o básico:

Você demorou séculos para postar?
Sim!

Você fez a gente esperar por um capítulo com menos de 2000 palavras?
Sim!

Você tem alguma boa desculpa?
Não!

Agora que resolvemos isso, vamos seguir em frente:

Feliz dia das crianças! Se divertiram?
Podem considerar meu presente.
Eu escrevi praticamente tudo hoje!
Sim! Sou irresponsável!

Fanart da Lhulhu.
Capítulo mais voltado na relação do Daniel e do Gabriel, nada mais justo que uma fanart do Daniel!
Que, aliás, ficou show!

Enfim, foi mal pela demora e blá-blá-blá.
Sem grandes tagarelices hoje.
Bye!



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