Bicho-papão. escrita por Secret


Capítulo 15
Consequências.


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Nem demorei tanto!
Capítulo nem tão longo, mas bom.



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                —Você não pode passar mais uns dias aqui em casa? — Gabriel tentou forçar um tom casual, que, apesar de ruim, foi convincente o bastante para Lucas. Ambos estavam caminhando juntos até a escola.

                — Foi mal, maninho, mas a mãe volta hoje e eu volto pra casa do pai. Relaxa, a gente se vê por aí. —Ele sorriu, parecendo não perceber a preocupação do irmão.

                — Ah... Tá bom. — Gabriel aceitou. Ele não esperava realmente vencer essa discussão, afinal era sempre assim: quando sua mãe chegava, ele ia embora. Às vezes parecia que o único motivo de Lucas ficar era para se manter de olho no “maninho”.

                Não que Gabriel se incomodasse, em geral ele nem pensava muito no assunto. Seu irmão vinha de vez em quando, o arrastava pela cidade, cozinhava, fazia coisas divertidas e ia embora. Normal. O problema era outro: desde que aceitou o pedido de Daniel, o garoto dormiu todas as noites no quarto do mais velho para evitar o Bicho-papão. Agora, sem Lucas, o confronto era inevitável... E Gabriel tinha a certeza de que não seria nada bom.

                — Não precisa ficar para baixo. — Lucas riu e tentou fazer cócegas no irmão, mas este se esquivou. — Você sabe que eu volto, não consegue se livrar de mim tão fácil! — Mostrou a língua. — Além do mais, podemos ir numa sorveteria ou algo assim depois da escola, antes de a mãe chegar. Topa?

                — Tá, pode ser.

                — Legal. Agora tenho que ir para a sala. Te encontro no pátio. Tchau! — Ele disse rapidamente antes de subir a escada a passos rápidos.

                — Tchau. — Gabriel respondeu e foi até sua própria sala.

Talvez ele estivesse se preocupando demais... Talvez o Bicho-papão nem ficasse sabendo no fim das contas. Por hora, ele se focaria no presente, como no fato de seu melhor amigo — e agora namorado — ter guardado um lugar para ele a sua frente e estar sorrindo gentilmente como que para cumprimentá-lo.

Gabriel devolveu o sorriso do melhor modo que pôde e jogou sua mochila na carteira, sentando-se logo em seguida. Ele e Daniel eram namorados há poucos dias, mas o último já se mostrara bastante prestativo. Ele se oferecia para carregar sua mochila, dividir o lanche e ajudar no dever de casa, além de sempre fazer companhia para Gabriel no intervalo.

— Bom dia, namorado. — Daniel disse com um sorriso feliz e enfatizando a última palavra, como fizera todos os dias desde que o outro aceitou seu pedido, parecia ainda não acreditar que seu amigo havia realmente dito “sim”.

— Bom dia. — Gabriel sorriu. — Como vai?

— Melhor agora que você chegou. — Ele envolveu Gabriel numa espécie de abraço e beijou sua bochecha. — E você? Fez algo interessante?

— Nada demais... Só fiquei em casa com meu irmão. E vamos tomar sorvete hoje depois da escola.

— Que legal! Posso ir junto? Estou com a tarde livre.

— Ir comigo e com o Lucas? Não sei se é uma boa ideia... — O garoto tentou arranjar uma boa desculpa. Ele gostava de Daniel, mas não contou sobre esse relacionamento para o irmão... Aliás, pouca gente sabia de fato. Em maioria, os colegas de sala dos dois, que notavam os toques mais afetuosos e, por que não, os beijos que trocavam entre as aulas quando pensavam que ninguém estava olhando.

— Oh, tudo bem. — Gabriel assistiu a expressão de Daniel mudar de esperançosa para resignada, mas o outro tentou manter o sorriso. — Foi mal, eu devo ter ido rápido demais. É complicado contar para a família, eu entendo.

— É, algo assim... Mas podemos ir juntos outro dia, que tal?

— Parece ótimo. Sem problemas. — Concordou gentilmente, mas Gabriel permaneceu com a sensação de ter chateado o namorado.

De qualquer modo, ele não pôde pensar nisso por muito mais tempo, pois pouco depois a professora entrou na sala já os mandando ficar quietos e abrir o livro na página 132, assim, o assunto acabou sendo adiado. Depois da aula de literatura, veio a de matemática, não que Gabriel tivesse prestado muita atenção nas aulas, ele até tentou, mas lá pela metade da primeira já estava devaneando e encarando o quadro branco sem realmente vê-lo. Quando seu por si, o sinal já estava tocando.

— Então, onde vamos passar o intervalo hoje? — Daniel perguntou depois que a sala esvaziou, ele e Gabriel geralmente eram os últimos a sair.

— Não sei, pode escolher. — Ele sorriu. Daniel sempre perguntava sua opinião primeiro, mesmo que quase sempre a resposta fosse a mesma.

— Hm... Não sei também, que tal só darmos uma volta pelo corredor e depois, sei lá, biblioteca?

— Claro. Parece bom.

                Cada um pegou seu lanche, Daniel tinha um pacote de biscoitos e Gabriel, uma vasilha com bolinhos caseiros de banana e uma garrafinha de suco de melão, pelo visto Lucas ainda insistia no saquinho de papel ridiculamente infantil. Mas isso não incomodou o garoto, afinal, seu irmão cozinhava bem o bastante para compensar o mico.

                Entretanto, antes de chegarem à biblioteca, Gabriel foi parado no corredor por uma voz muito familiar:

                — Oi, Gabriel! Legal te ver por aqui. — Vanessa exclamou enquanto se aproximava dos garotos. — Nunca mais te vi pelos corredores.

                — Ah, oi, Van. — Ele respondeu meio sem jeito. Em parte porque realmente não falava com a garota há muito tempo, em parte pelo olhar curioso que Daniel lançou a ela.

                — Ei, olá você também — Ela voltou sua atenção para Daniel. —, você deve ser amigo do Gabriel, né? Prazer, sou Vanessa.

                — Oi... Sou Daniel. — O outro cumprimentou um pouco sem graça e Gabriel percebeu que ele não a corrigiu quanto ao “amigo”, apenas olhou para si como se esperasse uma reação de Gabriel. Ele devia corrigir Vanessa e apresentá-lo como namorado? Manter o “amigo”? Assumir ou deixar passar...? Era nessas horas que o garoto não gostava de ter a palavra final, mas Daniel sempre o deixava decidir alegando não querer forçá-lo a nada.

                — Uh... Não, Van, ele não é meu amigo... — Insegurança. Essa é a palavra resume tudo que Gabriel sentia; mas, assim que disse isso, Daniel passou os braços pelo seu ombro e o aproximou de si como em incentivo. — Ele é meu namorado.

                Gabriel assistiu o sorriso da garota se desfazer lentamente, e isso o preocupou. Vanessa era sua amiga, certo? Não importa o que acontecesse? Por um momento, ele duvidou disso, mas o que estava feito estava feito... Agora era esperar a reação dela.

                — Ah... Seu namorado. — Ela repetiu lentamente. — Bem, prazer, Daniel. — Ela sorriu forçadamente. — Bem, acho melhor eu ir, não quero interromper nada. Te vejo depois. — Vanessa se despediu sem jeito e saiu apressada.

                Mesmo depois que ela saiu, Gabriel e Daniel ficaram em silêncio. O primeiro preocupado com as consequências, será que Vanessa se afastaria? Contaria para alguém? Pior ainda, contaria para sua família? Não, ela não faria isso... Faria? Já o segundo apenas esperava que o namorado estivesse pronto para conversar de novo e permanecia o envolvendo gentilmente com o braço.

                Após alguns minutos nesse silêncio, eles chegaram à biblioteca, que estava quase vazia. Eles foram até um canto mais afastado e Daniel decidiu quebrar aquela tensão com um beijo casto na bochecha do namorado.

                — Ei, tudo bem? — Ele sorriu reconfortante. — Está quieto demais.

                — Tudo bem... — Mentiu. — A Van não vai me odiar agora, vai?

                — Não se preocupa com ela. Quem realmente gosta de você não vai te deixar por algo assim. — Afirmou com convicção. — Mas não vamos pensar nela agora, que tal focar um pouco na gente? — Completou e aproximou seus rostos, selando seus lábios.

                *

                Assim passaram o resto das aulas, entre conversas bobas e beijos escondidos dos professores. Menos na aula de matemática, ninguém era atrevido o bastante para desafiar a professora de matemática! Era a única aula em que todos realmente prestavam atenção de verdade, sem “conversas paralelas”.

                De canto de olho, Gabriel conseguia ver André sentado na carteira fazendo anotações... Estranhamente, o valentão não incomodou Gabriel desde que ele começou a namorar Daniel. Sem comentários sarcásticos, ameaças ou humilhações. Nada. De certa forma, isso preocupava o garoto. Ele estava apenas dando um tempo para planejar algo ainda pior ou realmente havia desistido de Gabriel?

                Logo a cena que o garoto presenciou naquela festa, esgueirando-se na igreja, passou pela cabeça de Gabriel. Ali ele percebeu que realmente existia uma espécie de “ligação” entre André e Daniel, eles, no mínimo, se conheciam há algum tempo. Ele pensava também em como Daniel tratou André, ele foi bastante rude e ríspido, mesmo que André não tivesse provocado. Mas estava tudo bem, não é? André merecia aquilo... O garoto não confrontou Daniel quanto àquela cena, afinal, ele nem a devia ter visto! Era melhor só esquecer. Daniel era gentil e atencioso, isso é o que importa.

                — No que está pensando? — Daniel sorriu inocente, sem imaginar que era o motivo do outro estar tão pensativo.

                — Em você. — Ele sorriu em retorno.

                — Hm. Coisas boas?

                — Claro. Ótimas. — Exclamou e sentiu Daniel o beijando levemente na testa.

                — Eu te amo, sabia?

                Gabriel apenas selou seus lábios em resposta. Ele ainda se sentia estranho tomando a iniciativa, mas nunca sabia o que responder nessas horas. Daniel era um pouco meloso, mas isso é normal em início de namoro, não era? E Gabriel achava esse lado doce uma graça.

                A última aula passou voando, tanto que Gabriel mal se lembrava do que tinham visto, ou até qual era o assunto... Aliás, qual aula foi mesmo? Quando deu por si, ele estava conversando com Daniel nos corredores enquanto este carregava sua mochila, o que já estava se tornando hábito... Conversa vai, conversa vem, eles chegam ao pátio da escola.

                Lucas estava recostado à parede conversando com um colega de sala enquanto esperava o irmão e, assim que o viu, andou a passos rápidos em sua direção, ostentando seu típico sorriso malandro.

                — Hey, maninho! Demorou. — Ele brincou. — Já estava quase indo pra sorveteria sem você.

                — Foi mal. Vamos? — Gabriel cortou o assunto. Entre os dois, era óbvio que ele era o que falava menos!

                — Bem, tchau, Gabe. Até amanhã. — Daniel se despediu, fazendo Lucas notá-lo.

                — Ei, espera, você é amigo do meu maninho? Ele nunca me apresenta os amigos dele. — O mais velho comentou provocando um pouco o irmãozinho. — Não tá a fim de ir à sorveteria também? Se puder, claro. Seria legal conhecer um amigo dele. — Ele disse rapidamente, emendando uma frase na outra.

                — Uh, claro, seria legal. Se o Gabe concordar. — Daniel decidiu e encarou o namorado, esperando uma decisão. Logo Lucas se juntou e fez sua melhor cara de “cãozinho que caiu da mudança”, ele realmente queria conhecer Daniel, pensava o mais novo.

                — Ah, tá bom. Por mim tudo bem. — Gabriel não via um modo de negar o pedido. E não seria tão ruim ter Daniel para um simples passeio.

                — Legal! Vamos lá então. — Lucas comemorou.

*

                Na sorveteria, o clima estava bem agradável. Daniel mantinha uma conversa leve e educada com Lucas, que parecia gostar do garoto. Gabriel não falava tanto, mas sua preocupação inicial havia se dissipado. Eles falaram da escola, de esportes, TV e outras banalidades.

                Isso até Lucas fazer um comentário inconveniente, claro.

                — Então, Daniel, meu maninho fala com você sobre as gatinhas? Já que você é o melhor amigo dele e tal... — Lucas zombou e Gabriel sentiu vontade de se enterrar.

                — Hm? Não, na verdade não. — O outro pareceu ficar um pouco mais sério. — Por quê? Ele fala muito sobre garotas em casa? — Pareceu interessado.

                — Não, nem tanto, ele não fala muito comigo sobre isso. — Ele riu. — Ah, maninho, ainda não me contou como acabou aquela história com duas pretendentes! Já se resolveu?

                Nesse momento, o mais novo se arrependeu amargamente de ter comentado o assunto com Lucas. Ele era o mais indiscreto possível! E parecia nem notar isso! De qualquer forma, agora os dois o encaravam esperando uma resposta.

                — É, eu me resolvi... Agora estou namorando. — Ele foi direto, mas já pressentia que Lucas não o deixaria parar por aí.

                — Namorando? E nem me conta nada? Quando eu vou conhecer a gatinha?

                Nesse momento, o garoto percebeu um sorriso irônico passar pelo rosto de Daniel. Pelo visto ele já entendeu tudo... Mas o que responder para o irmão? Gabriel olhou para o namorado num pedido mudo por ajuda, e Daniel apenas sorriu docemente. O garoto sabia que isso era uma espécie de “permissão” para mentir para o mais velho e manter o relacionamento escondido. Parecia a escolha sensata.

                Entretanto, quando Gabriel pensava no sorriso compreensivo e gentileza de Daniel, se sentia mal em mentir. O outro não merecia ser negado diante de seus olhos... Gabriel aceitou o pedido de namoro, o mínimo que devia fazer era assumir. Ele simplesmente não conseguia se arriscar a magoar Daniel.

                — Na verdade, você já conhece...

                — Sério? Quem é? A Vanessa? — Lucas arriscou.

                — Não... — Gabriel tomou coragem, sentindo a mão de Daniel segurando a sua própria. — Na verdade, é o Daniel. — Disse de uma vez.

                A expressão sorridente de Lucas foi substituída por uma surpresa, e até chocada. Ele evitou olhar o irmão nos olhos e só murmurou algo como “Ah tá.”, então os três ficaram em silêncio tomando seus sorvetes. Quando acabaram, Daniel se despediu educadamente e sussurrou um “vai ficar tudo bem” para Gabriel antes de sair.

                Lucas se levantou sem dizer uma palavra e pegou o irmão pela mão, eles andaram até em casa num silêncio constrangedor.

                *

                Gabriel já estava enlouquecendo!

                Assim que chegaram, Lucas foi direto para o quarto e jogou algumas roupas na mochila, pois voltaria para a casa do pai dentro de poucas horas. Não olhou para o irmão nem disse uma única palavra durante esse tempo.

                Ok, isso pode não parecer grande coisa. Mas vindo da pessoa que não passa dez minutos sem fazer uma brincadeira ou comentário bobo, era preocupante! E o mais novo já não aguentava mais essa situação!

                — Lucas! — Ele exclamou, ouvindo apenas um grunhido em resposta. — É sério! Pelo menos olha para mim quando eu falo com você!

                O mais velho suspirou e fechou o zíper da mochila, virando-se logo em seguida para encarar o irmão.

                — Tá bem. Pode falar. — Frases curtas e diretas... Isso também incomodava Gabriel, mas era melhor que nada. Nem um vestígio de sorriso no rosto do irmão.

                — Fala comigo! Eu te desapontei? O que eu fiz de errado? — O mais novo estava quase gritando.

                — Calma, Gabriel, tudo bem. Só me dá um tempo para digerir tudo isso. — “Gabriel”, não “maninho”. Esse detalhe também não passou despercebido. — Eu preciso de um favor seu, pode fazer por mim? — Ele suavizou a voz.

                O garoto sorriu de canto e assentiu, se sentindo mais esperançoso. No entanto, isso acabou assim que Lucas completou a frase, olhando Gabriel nos olhos com uma expressão sombria:

                — Não conta isso para a mãe, pelo menos não agora. Ela não merece esse desgosto.

 


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Notas finais do capítulo

Fanart da Lhulhu.
Que eu, pessoalmente, adorei.

Foi mal demorar.

Comentário nada a ver mas que eu quero fazer:

Ontem foi meu aniversário!
(e eu queria ter postado ontem, mas não deu)

Bem, espero que tenham curtido.
Maneirem nas ameaças de morte ao Lucas!

Não posso enrolar demais hoje.
Passei muito da minha hora de dormir e, se alguém me pegar aqui, eu já era!

Bem, agradeço a todo mundo que ainda lê, mesmo que eu demore ou poste capítulos curtos.
Reclamações, sabem onde deixar!

Bye!



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