Infelizmente, para Evelyn, sua fuga desesperada e sem destino foi interrompida, alguns quilômetros depois, quando perdeu a direção e bateu violentamente contra uma árvore. Seus ferimentos foram graves, mas não fatais. O resto da ação se passou muito rápido, o desespero de saber se Evelyn estava viva ou morta, a angustiante espera pelo socorro e a remoção para o hospital.

Aquela foi uma longa noite de vigília, na porta da sala de emergência, esperando notícias mais concretas, após a cirurgia de urgência. Lucas, Teresa e Mathews, de algum modo, se sentiam culpados pelo o que aconteceu com Evelyn.

— Alguém quer tomar um café? – Mathews perguntou, não aguentava mais ficar ali parado.

— Eu vou com você, preciso andar um pouco. – Teresa aceitou. – Acho que eu vi uma máquina de café no final do corredor. – Observou.

Assim, eles caminharam pelo lugar silencioso e vazio, no meio da madrugada, até a máquina. Sem perguntar, escolheu o café dela, pois sabia exatamente, como ela preferia.

 - Não se culpe, Mathews. Você fez tudo que estava ao seu alcance para protegê-la. – Ela o confortou, como se adivinhasse seus pensamentos.

— Eu deveria saber que algo assim poderia acontecer, não foi a primeira vez que ela tentou se matar. – Revelou para a surpresa de Teresa e ele continuou. – A primeira, foi logo depois da cirurgia, porque quando houve o aborto, Evelyn teve um sangramento intenso, não conseguiram estacar a hemorragia, por isso a cirurgia foi radical, assim ela não poderia ter filhos. Ela entrou em depressão, tentou se matar, tomando um monte de comprimidos para dormir, mas foi encontrada antes. As amigas delas que já me conheciam, me avisaram. – Mathews fez uma pausa. – Evelyn não queria que a família soubesse dessas histórias, por isso, se apoiou em mim. Eu a ajudei no tratamento e ela ficou muito fragilizada.

— Foi assim que tudo começou? – Teresa questionou, Mathews assentiu com a cabeça.

— Eu acompanhei todo o seu tratamento, ela ficou muito dependente, as pessoas pensaram que era um namoro, então, se tornou, depois veio o noivado e, agora, o casamento. – Mathews estava abatido, com os ombros caídos, olhava para o chão. – Evelyn pretendia ser a mulher perfeita para mim, era seu único intuito. Tudo parecia bem, até eu encontrar você. – Confessou a encarando. – Mas, não sabia como voltar atrás.

Ouviram alguém se aproximar, era o pai de Mathews.

— Evelyn está estabilizada, vão transferi-la de helicóptero para um hospital maior, para continuarem o tratamento. – Ele informou, monocórdio.

— Quem vai com ela? – Mathews quis saber.

— Os pais. – Comunicou. – Acho que depois que ela se for, poderemos voltar para casa e descansar um pouco.

Quando o helicóptero partiu, levando Evelyn e seus pais, uma pequena caravana de carros deixou o hospital em direção a casa dos Bauner, onde todos entraram em silêncio e foram diretos para seus quartos.

Teresa sabia que não conseguiria dormir naquela noite. Lucas foi em direção da varanda, parou junto amurada e acendeu um cigarro, Teresa foi atrás dele.

— Não se sinta culpado, Lucas. Você não sabia que Evelyn sofria de depressão, que seria capaz de um ato extremo como esse. Simplesmente, reagiu impulsivamente depois de todas aquelas revelações. – Teresa tentou consolá-lo.

— Eu fui muito cruel com ela. – Lucas sussurrou e continuou olhando para o horizonte.

— Você só falou o que pensava, no calor da discussão. Nem todo mundo tenta se matar, quando ouve o que não quer, não dava para imaginar isso. – Teresa ponderou, colocando a mão no ombro dele para confortá-lo.

— Eu não devia ter dito aquilo, que não a perdoaria, nem sei se é verdade. Disse aquilo porque estava com muita raiva por ela não confiar em mim. E, agora, Evelyn pode morrer. – Ele declarou, em tom de desespero.

— Lucas, Evelyn queria ser perfeita, mas ninguém é. Todo mundo erra, só que ela não quis assumir seus erros, não quis desfazer a imagem de perfeição imaculada que você tinha dela, então preferiu perdê-lo e se apoiar em Mathews, que sabia toda a verdade. – Teresa considerou. – Mas, ela também sofria por isso, acho que nunca deixou de amá-lo. – Lucas se voltou para Teresa, sem acreditar.

— Mas, agora, é tarde. – Lucas disse, com lágrimas brilhando nos olhos.

— Pode não ser, não sabemos o que irá acontecer, só podemos esperar e rezar. Porém, acho que nesse momento é bom descansarmos, amanhã deveremos ter mais notícias.

— Eu já vou, só quero terminar esse cigarro. – Ele se desculpou, queria ficar mais um pouco sozinho.

— Claro. – Ela concordou, o deixando sozinho.

Teresa subiu as escadas, passou pelo corredor silencioso, parou na frente da porta e se encheu de coragem, para bater, demorou um pouco a resposta. Já estava quase desistindo, quando Mathews a abriu, a encarando com uma mescla de surpresa e felicidade.

— Só queria saber, como você está, Mathews. – Ela explicou diante do olhar de surpresa dele.

— Eu estou bem. – Ele respondeu, ainda sem acreditar, que ela estava ali bem na sua frente.

— Que bom. Então, boa noite. – Teresa se despediu e se virou para ir embora, porém Mathews foi mais rápido, segurou a sua mão e a puxou para dentro do seu quarto. Ela se deixou levar, sem resistir, ouviu a porta se fechar atrás dela. – Fique um pouco comigo. – Pediu.

— Acho que seria uma boa ideia, pois se me virem saindo do seu quarto ... – Teresa falou reticente. Afinal, para todos, ela era a namorada do irmão do noivo, cujo o casamento foi tragicamente cancelado por um acidente e sua noiva encontrava à beira da morte no hospital.

— Que se dane os outros! – Mathews explodiu. - Eu só quero ficar com você!

— Está bem. – Teresa concordou, preocupada com o estado dele.

— Você pode se deitar um pouco comigo, como fazíamos antes. – Mathews pediu e Teresa assentiu com a cabeça, assim ele a puxou em direção a cama e os dois deitaram juntos, abraçados, ela aconchegada nos braços dele, sentindo o cheiro da sua pele. – Tudo parece um pesadelo, desde que eu voltei para casa. O casamento, você sem dar notícias e aparecendo aqui com Lucas e, agora, Evelyn. Tudo isso por nada. – Desabafou.

— Mas, agora, o desfecho será diferente. Aconteça o que acontecer, você não vai precisar continuar com essa farsa de casamento. – Teresa considerou.

— Você não vai ficar com Lucas? – Mathews a interrogou com um aperto no coração.

— Eu gosto do Lucas como um bom amigo, mas eu amo você, Mathews. – Teresa se apoiou no cotovelo para encará-lo. - Sei que todos nós fizemos bobagens e magoamos uns aos outros, em nome da mentira e da vingança, e acabamos feridos, mas podemos resolver isso, para não nos arrependermos resto das nossas vidas.

— O que faremos agora? – Mathews indagou e Teresa refletiu por alguns segundos.

— Você vai apoiar Lucas, conte toda a verdade para ele, ajude seu irmão superar essa fase ruim e vamos torcer para que Evelyn fique bem.

— E depois? - Mathews perguntou, indeciso.

— Depois, vamos voltar para a nossa casa e para nossa vida juntos, Mathews. – Teresa sorriu, sem saber qual seria a reação dele a proposta dela, mas Mathews lhe devolveu um sorriso aliviado e a puxou para um beijo apaixonado.