A casa estava quase às escuras, quando regressaram, Teresa estacionou o carro na garagem, entraram, em silêncio, começaram a subir as escadas, quando Mathews apareceu das sombras, pois esperou a noite inteira, impaciente, pelo retorno deles.

— Teresa, eu posso falar com você. – Mathews pediu tranquilo, Teresa parou em dúvida, olhou para Lucas, que assentiu com a cabeça, concordando, e continuou o seu caminho, ela retornou.

— O que você quer falar comigo, Mathews? – Ela perguntou, desafiadora.

— Aqui não. Vamos para um lugar mais reservado. – Ele indicou o caminho e ela o seguiu até um escritório com móveis escuros em mogno, cuja a austeridade era quebrada por alguns quadros de arte moderna nas paredes, e se sentaram em um sofá de couro vinho.

— Diga o que quer comigo, Mathews. – Teresa se voltou para ele, o olhando naqueles olhos azuis, onde tanto gostava de se perder, ele sustentou o olhar.

— Primeiro, eu queria dizer que eu a amo. – Ele começou com a voz suave, Teresa segurou a respiração. – Que eu queria viver o resto da minha vida com você. - Declarou e Teresa se jogou para frente e o envolveu em um abraço apertado e beijou sua boca, com toda a paixão reprimida todo esse tempo de distância, ele retribuiu com a mesma ânsia.

Por um segundo, Teresa achou que estaria tudo resolvido, ele desistiria do casamento e os dois ficariam juntos, outra vez.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. – Teresa sussurrou no ouvido dele. – Vamos embora e começar de novo.

— Não, Teresa, não vai. – Ele retrucou, com a voz sufocada.

Teresa se afastou de Mathews, delicadamente, os braços deles caíram frouxos ao lado do seu corpo, ela o encarou.

— Teresa, essa foi a decisão mais difícil que tomei na minha vida, principalmente, com você aqui perto de mim, porque eu a amo. Mas, apenas, não posso nem consigo voltar atrás, porque eu já estou com Evelyn, há muitos anos, todos esperavam por nosso casamento. Até eu encontrar você, eu estava seguro da minha decisão. – Mathews parou de falar, passou a mão no rosto, para limpar as lágrimas que embaçavam sua visão. - Não devia ter me envolvido, não podia ter me apaixonado, você não imagina como isso é difícil para mim. Perdoe me, Teresa, mesmo amando você, mas não posso voltar atrás. Estão todos aqui esperando por um casamento.

— Eu fui uma tola ter vindo até aqui. Eu achei que seria só vingança, mas na verdade, queria que você olhasse para mim e que visse como nós nos amamos e, talvez, desistisse desse casamento. Mas, só foi pura fantasia e um sofrimento em vão para mim, porque sabia que você não voltaria atrás. – Ela falou, com uma voz estranhamente calma, lutando para não chorar.

— Por favor, Teresa, me xinga, me esbofeteei, grite comigo, mas faça algo! – Ele implorou, mas Teresa enxugou as últimas lágrimas, se levantou e saiu, sem olhar para trás, enquanto se afastava podia ouvir sua respiração lutando para sair e seu coração batendo forte, como se quisesse fugir do seu peito. Decidiu que agora, era hora de partir, esperando nunca mais ver Mathews, novamente.

Abrindo a porta com cuidado, Teresa entrou no quarto na penumbra, iluminado pela luz de um abajur aceso, parou ao lado da cama, onde Lucas dormia, relaxado, só vestido a calça. Ela o olhou por algum tempo, pensando, como poderia se vingar de Mathews, era só tirar a roupa e se enfiar na cama ao lado dele, beijá-lo e transar com Lucas. Mas, talvez, isso não fosse bom para ela, nem para Lucas, só um simples ato de prazer momentâneo, uma vingança inconsequente, não seria a solução para nenhum dos dois sentiam agora. Então, como se chegasse a uma resolução, pegou seus pijamas e foi para o banheiro se trocar, deitando-se no sofá, pensou em Mathews do outro lado da parede.

— Teresa? – Lucas indagou, ainda achando que ela já estivesse dormindo.

— Sim. – Ela murmurou.

— O que você está fazendo? Venha para a cama, hoje é seu dia de dormir aqui. – Lucas falou, sonolento.

— Durma, Lucas, eu estou bem aqui. – Ela respondeu, em voz baixa.

— Você tem certeza? – Ele insistiu, meio entorpecido.

— Sim, eu tenho. Durma, Lucas! – Ela afirmou e ele fechou os olhos e adormeceu.

De volta ao seu quarto, deitado na sua cama, Mathews não conseguia parar de pensar em Teresa, no outro lado da parede, talvez, aninhada nos braços de Lucas. Esse pensamento o consumia, mas queria se magoar e sofrer, pois sabia que tudo era culpa dele.

Teresa acordou bem cedo, na verdade, mal conseguiu dormir, Lucas ainda estava adormecido, assim ela se levantou com cuidado e começou a colocar suas roupas na mala, foi ao banheiro, tomou um banho e se arrumou, quando voltou para o quarto, ele já estava acordado, sentando na cama.

— Aonde você vai, Teresa? – Ele perguntou, intrigado.

— Eu vou embora. Já sei tudo que deveria saber. – Respondeu, guardado seus objetos. – Não, quero mais ficar para esse casamento. Não tem porquê.

— Eu entendo. – Ele disse, se levantando em um pulo. – Vou com você.

— Não, por favor, Lucas, fique ou vá embora, mas eu preciso de um tempo sozinha, depois, de tudo que aconteceu.

— Eu levo você até a estação.

— Não precisa, eu pedirei um táxi.

— Sabe, eu estou me sentindo meio que usado. – Ele brincou, com um sorriso maroto, passando a mão nos cabelos.

— Lucas, desculpe-me se eu fiz você pensar assim, mas não posso continuar aqui, preciso ir embora. Mathews não me quer, foi o que ele me disse ontem à noite, estou fazendo papel de boba, insistindo nessa história. - Teresa não tinha mais coragem para continuar, depois do que ouviu de Mathews.

— Sei, você ficou desiludida, depois da conversa com o meu irmão. – Ele completou, ela abaixou os olhos, não querendo encará-lo.

— Eu fui uma idiota, com essa história de vingança. – Teresa confessou. – Só sai mais ferida com isso.

— Mas, eu gostaria que você ficasse. – Lucas revelou, meio sem-graça. - Pois, eu serei o cara que foi abandonado duas vezes.

— Então, vamos embora nós dois juntos. – Teresa propôs.

— Não, porque vai parecer que eu estou fugindo mais uma vez.

— Jura? É, tem razão. Não seria justo com você. – Teresa ponderou, não queria fazer isso com ele, afinal, foi ela que o colocou nessa situação. – Mas, eu não irei ao casamento. – Completou.

— Tudo bem, nem eu. Ninguém notará a nossa ausência na hora da cerimônia. – Lucas cogitou.

— Também, não quero mais me encontrar com Mathews.

— Isso será difícil de resolver, mas podemos tentar, podemos sair daqui hoje, passar o dia fora. O que acha? – Ele considerou, aceitando as regras. Teresa assentiu com a cabeça.