Corações Partidos(Segredos e Mentiras) escrita por calivillas
Teresa se arrumou com esmero, trocou de roupa no banheiro, longe dos olhares de Lucas. Colocou um vaporoso vestido florido, alegre, mas elegante, perfeito para uma festa durante o dia de primavera, usou os cabelos soltos sobre os ombros, fez uma maquiagem leve.
— Como estou? - Rodopiou para se mostrar, na frente de Lucas.
— Linda! – Ele a elogiou, mais uma vez.
— Você também está muito bem, mas para um rico herdeiro do que para um pobre artista. – Comentou, ao vê-lo vestindo calça e camisa de marcas caras e famosas.
— Estou me esforçando por você. – Respondeu, sorrindo provocador.
Ao descerem as escadas, Teresa notou que havia pouca movimentação dentro de casa.
— Onde está todo mundo? - Perguntou a Lucas.
— Lá fora, no jardim atrás da casa. – Ele respondeu, indiferente.
— Claro, não há lugar melhor para um brunch que o jardim atrás da casa. – Teresa rebateu com ironia.
— É o nosso mundo! – Lucas suspirou, cheio de cinismo. – Vamos, querida! – Ele lhe ofereceu o braço, atravessaram a casa até as portas francesas, que estavam abertas, deixando vislumbrar um lindo jardim luxuriantemente florido pela primavera, Teresa para extasiada pela aquela visão.
— Isso é demais, Lucas! Parece um jardim de contos de fadas! – Ela exclamou, maravilhada com as rosas e outras flores distribuídas, artisticamente, as mesas, cobertas por compridas toalhas brancas de linho e com delicados arranjos de flores coloridas no centro, foram colocadas em volta de um espelho d’água, e muitas delas já estavam ocupadas por convidados. Lilian veio recebê-los, assim que chegaram.
— Bom dia, Teresa e Lucas. Que bom que chegaram! A família de Evelyn já está aqui e Mathews desapareceu. – Ela estava aflita.
— Onde ele está? – Lucas quis saber.
— Foi trabalhar, tinha um assunto urgente no escritório, mas disse que não demoraria. Lucas, vá e dê um pouco de atenção a família de Evelyn! - Lilian ordenou, sem rodeios.
— Você deve estar brincando? Mas, logo eu, mãe? – Lucas estava inconformado com a escolha dela.
— Você é da família, Lucas, por favor. Eles estão na mesa com a sua avó – Ela pediu, e o filho não resistiu.
— E onde eu e Teresa vamos nos sentar? – Indagou, já que os lugares eram marcados, pensando que poderia escapar deles mais tarde.
— Onde? – Ela replicou, como se não entendesse a pergunta. – Na mesa da família, é claro!
— Na mesa da família. – Teresa repetiu a resposta, desanimada.
— O que você esperava? Eu sou da família do noivo – Lucas respondeu o lógico, a arrastando em direção à mesa.
Na grande mesa principal, Teresa reconheceu o pai de Lucas e Mathews, Evelyn e outro casal de meia-idade, provavelmente os pais dela, além de uma senhora bem idosa, elegantemente vestida com um clássico conjunto de uma famosa marca francesa, com arrogantes e sagazes olhos cinzentos, na expressão determinada.
— Vovó, não a vi, ontem? - Lucas questionou, surpreso, se inclinando para beijar seu rosto.
— Estou velha demais para todas essas festas. – A senhora afirmou, em um tom ácido. – Mas, não perderia o casamento do meu neto por nada nesse mundo. – Declarou, orgulhosa. - E eu não o vejo há muito tempo, Lucas. Por onde andou?
— Por aí. – Lucas respondeu, dando de ombros. A senhora não parecia satisfeita com a resposta.
— Como está? Ainda pinta? – Ela indagou, sem muito interesse, porém sua atenção se voltou para Teresa, parada ao lado dele. – Quem é essa moça bonita?
— Sim, vovó, ainda pinto, e essa moça bonita é minha namorada, Teresa.
— Teresa, essa é minha avó Rute, os pais de Evelyn, Otto e Frida. – Lucas os apresentou, seguindo-se uma troca de sorrisos cordiais.
— Aonde está Mathews? – Rute perguntou, olhando ao redor, enquanto Teresa e Lucas tomavam os seus lugares à mesa, um garçom veio servir lhe suco de laranja e champanhe e um pequeno prato de petiscos, que ninguém tocou.
— Foi até o escritório – Comunicou Evelyn, inconformada.
— Esse garoto trabalha demais. – Rute observou, balançando a cabeça.
— Ele vai continuar morando fora depois do casamento? – A mãe de Evelyn quis saber, interessada.
— No princípio, era essa a ideia, ele fala que tem assuntos pendentes importante para resolver por lá, sobre a aquisição da nova indústria. – Evelyn revelou, resignada. – Parece que a situação está mais complicada do que esperava. – Evelyn concluiu, Teresa tomou um gole de champanhe para se acalmar, enquanto Lucas a olhava de soslaio.
— Você vai morar com ele lá? – Teresa perguntou, curiosa, querendo parecer casual.
— Não, Mathews prefere que eu fique aqui, ele que seria muito difícil a minha adaptação e não poderia me dará a atenção necessária. – Assim, Teresa entendeu como ele pretendia manter-se com as duas, tomou um gole de champanhe para esconder sua revolta.
— E você, minha querida, o que faz? – Rute questionou Teresa, com o olhar imperioso.
— Estou me formando em farmácia. – Teresa respondeu.
— Eu não esperava que uma mulher tão bonita, tivesse uma profissão tão masculina, mas isso demonstra que você é muito inteligente. – Rute a elogiou, dissimulada, com um sorriso que não chegou aos olhos.
Mathews, finalmente, chegou, parecia um tanto transtornado, cumprimentou com atenção a avó, a noiva e, depois, os outros à mesa, seus olhos pararam por alguns segundos sobre Teresa, sentada exatamente a sua frente. Assim, o brunch começou a ser servido.
— Problemas no escritório, querido? – Evelyn perguntou.
— O de sempre. – Mathews respondeu, evasivo, Teresa conhecia muito bem aquele jeito.
— Você e Lucas se conhecem há muito tempo? – A mãe de Evelyn perguntou, educadamente interessada, começando uma conversa com Teresa.
— Teresa foi minha modelo. – Lucas se adiantou, instigando o irmão.
— O quadro que ele fez dela é lindo, precisam vê-lo, está na galeria de Laura. – Evelyn comentou, Mathews fez uma careta imperceptível.
— Infelizmente, para o mundo, Teresa se recusar a deixar eu pintá-la nua. – Lucas revelou de modo casual, deixando todos à mesa, sutilmente chocados. Porém, o pequeno brioche nas mãos de Mathews foi a vítima de sua ira, acabando despedaçado.
— Lucas, você tem que respeitar a sua namorada. – Seu pai chamou a atenção, indignado por aquela atitude.
— Não se preocupe, ele só está brincando. – Teresa apaziguou a situação, a conversa prosseguiu falando-se sobre fatos e pessoas, que ela desconhecia, porém não se importava, pois, sua atenção estava voltada para Mathews, que mal abria a boca, se limitando a responder as perguntas que eram feitas diretamente a ele.
Depois do serviço, os convidados se levantaram e circulavam, livremente, pelo jardim, o casal de noivo ia de grupo em grupo como bons anfitriões, na verdade, era Evelyn que puxava Mathews para isso. Até o minuto, que Mathews conseguiu se desvencilhar dela, encurralou Lucas, quando saia do banheiro.
— Eu fui a galeria, hoje, e vi o seu quadro. Por que você o reservou para mim, Lucas? – Mathews questionou o irmão, o encarando.
— Eu tinha certeza, que você ia querer comprá-lo, por isso, como um bom irmão, eu reservei ele para você. Talvez, possa pendurá-lo no seu quarto ou no seu escritório, para que nas suas noites solitárias, possa bater umazinha pensando nela. – Lucas respondeu, com um sorriso sarcástico. Mathews queria socá-lo, porém não podia fazer isso ali, agora, já que teria que se explicar, então, deixou o irmão para trás e foi em direção contrária a festa, se emprenhou pelo jardim de inverno, que sempre fui um refúgio, quando estava aborrecido.
Teresa não suportava mais, tudo aquilo, mentir e atuar o tempo inteiro, precisava sair dali, esconder se em algum lugar por um tempo, relaxar um pouco, tirando a máscara. Lucas havia sumido, então aproveitou a oportunidade, andou, em direção oposta à festa, encontrou um lugar calmo e agradável, sentou em um banco ali, aliviada, tirou os sapatos, liberando seus pés doloridos, reclinou, relaxou e acabou adormecendo.
Mathews estava preste a tirar sua carteira de cigarros do bolso, quando parou surpreso, ao ver Teresa dormindo, serena, sentada naquele banco, a admirou por algum tempo. Alguma espécie de instinto fez com que ela percebesse que estava sendo observada, abriu os olhos e levantou em um pulo, para encarar Mathews a sua frente, que calmamente colocava um cigarro na boca e o acendia, mas para provocá-la do que pela vontade de fumar, pois sabia como ela detestava isso, seguiu–se um instante de silêncio.
— Desculpe, não pretendia acordá-la. – Ele falou, de um modo formal.
— Não, sou eu que peço desculpa por dormir assim, no seu jardim – Respondeu, no mesmo tom, quase como dois desconhecidos.
— Posso? – Ele indicou o lugar ao seu lado, Teresa sabia que tinha que ir embora, fugir de perto dele, mas assentiu com a cabeça e permaneceu para no mesmo lugar, colocou os sapatos. – Você está muito bonita, Teresa. Um novo corte de cabelo, roupas e sapatos novas, está, realmente, impressionante. – Afirmou, sentando-se ao lado dela.
— Graças a você, usei seu cartão de crédito. - Teresa revelou, desafiadora, Mathews a olhou divertido.
— Fico feliz, que meu dinheiro foi tão bem empregado, gosto de fazer bons investimentos. – Ele rebateu, com ironia – Também, fiquei impressionado como está falando bem a minha língua. – Admitiu.
— Eu aprendi em segredo, para fazer uma surpresa para você, Mathews – Teresa revelou, ele a encarou admirado. - Não precisa voltar? Afinal, você é o noivo. – Provocou.
— Meu papel é somente coadjuvante nessa história. – Ele respondeu com cinismo, depois a encarou. – Eu vi seu quadro hoje?
— Viu? – Ela indagou, espantada, porque só ela ainda não o conhecia.
— Há quando tempo, você dorme com Lucas? – Ele perguntou direto, sem rodeios, com dissimulada indiferença.
— Eu não durmo com Lucas. – Teresa respondeu, com tanta sinceridade que ele acreditou.
— Por que você não vai embora, Teresa? Não sabe como é difícil, continuar com isso tudo com você aqui por perto. – Ele revelou abatido.
— Então, não continue. – Teresa propôs, o encarando.
— Eu não posso. – Mathews concluiu, resignado. – Todos estão aqui para isso, pelo casamento. É o que esperam de mim.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!